sábado, março 06, 2010

Vender energias renováveis a Moçambique

Na sua recente visita à ex-colónia portuguesa de Moçambique, um país com 9 vezes a dimensão de Portugal e quase 2 vezes a nossa população, mas com um PIB igual a 10% do nosso e do qual a comunidade internacional subsidia a fundo perdido metade do Orçamento Geral do Estado, foi anunciado que o nosso Primeiro-Ministro ia vender energias renováveis, dada a alegada posição de vanguarda portuguesa nas respectivas tecnologias.

Moçambique tem um povo amável e pacífico, contrastante com o de outros países de África, mas onde as novas gerações já raramente falam português. Quase tudo o que lá funciona é obra de estrangeiros, de ONG, de alguns portugueses e de muitos sul-africanos, razão porque o inglês é a língua estrangeira dominante e porque Moçambique decidiu há anos aderir à CommonWealth.
Uma coisa que não existe em Moçambique é uma rede eléctrica nacional.
Na realidade, Moçambique produz 30% da electricidade produzida em Portugal, bastante mais que o seu PIB relativo, mas a grande maioria é para exportação. Na realidade, quando no final dos anos 60 Portugal construiu a grande barragem de Cabora Bassa, ainda hoje uma das maiores do Mundo, o seu intuito foi desde o início a exportação de energia para a África do Sul, ideia que levou décadas a pôr-se em prática devido às longas guerras que o impediram por muitos anos.
Moçambique produz 30% da electricidade gerada em Portugal mas só consome 3%. O resto é exportado para a África do Sul.
Maputo, por exemplo, é abastecida de energia por linhas de Alta Tensão que vêm da África do Sul, acompanhando uma estrada por onde passa um fluxo constante de carrinhas e camionetas carregadas de produtos alimentares e de quase tudo o resto que se consome na capital.
Mas, no resto do país, onde há electricidade predomina a "microgeração" dos grupos electrogéneos a gasóleo e, em algumas cidades de província, energia produzida por turbinas a gás montadas em contentores e importadas - como quase tudo - da África do Sul. De facto, Moçambique tem gás natural, e as reservas de gás natural de Moçambique estão já a escoar-se para aquele país vizinho.
As incipientes redes eléctricas das cidades de província são de estrutura tipicamente sul-africana, com um funcionamento intermitente e precário, de modo que fiquei com curiosidade em saber que energias renováveis iria Portugal vender a Moçambique.
Claro: a notícia foi dada no início da visita, com toda a probabilidade para consumo interno do pagode português de modo a alimentar a fantasia de que até exportamos tecnologias de energias renováveis, e depois nunca mais se falou do assunto.
Como não podia deixar de ser.
As energias renováveis exigem redes eléctricas potentes com grandes centrais convencionais que assegurem o controlo das redes, e muito dinheiro, porque são caras. Nunca será por aí que os países pobres de África irão, a menos que os dadores internacionais paguem tudo e fiquem lá a manter as instalações a funcionar, isto é, a menos que o colonialismo volte.

7 comentários:

Margarida Batista Pereira disse...

Sim Sr.,continuação de parabéns.

Só queria acrescentar que para um país tão grande a montagem de uma rede de distribuição irá ter elevados custos, não esquecendo o pib tão baixo.Embora esses dados devamrepresentar apenas 15 a 25% da economia real.

Ao que parece os locais que tem electricidade tem uma pequena rede local de distribuição alimentada por geradores a gasolina/diesel ou gás. Supostamente alguns desses locais já devem ter, também, grupos de baterias.

Em locais de vento a instalação de micro ou médios aerogeradores são viáveis economicamente, considerando também as despesas do transporte dos combustíveis e as futuras taxas de carbono, se delas não estivessem isentas.

Mais “liricamente” pensando, o consumo de electricidade está quase tão associado às pessoas como a necessidade de água, ainda mais com consumos tão reduzidos. Se a energia eólica for utilizada para extrair e elevar a água a um nível superior das habitações, presumo que nas aldeolas e vilas não hajam muitos arranha céus, e na sua descarga para um segundo tanque de distribuição aos consumidores, for utilizada para geração de energia podiam excluir parte das baterias e rentabilizar o investimento.

O Fotovoltaico, sim talvez inviável, mas se for pela via dos concentradores de calor que passam a água a vapor para a geração de energia, já existem centrais destas em funcionamento nos states, Israel e Austrália, (eu considero-as as sucessoras da do Padre Himalaia), poderão fazer um sistema misto/hibrido complementado com os geradores de gás natural.

Mas dado os cenários, é mais certo investirem em parques eólicos e numa rede nacional com empréstimo dos Portugas que mais tarde será perdoado. É mais que provável, daqui a uns anos os filhos dos governantes de Moçambique virem a tornarem-se sócios de relevo em grandes empresas Nacionais, cá e lá.

F.P.

Pinto de Sá disse...

Caro Fernando,
Receio que não tenha bem a noção das condições de vida em África, e em particular em Moçambique.
A rede que existe são restos da que ficou do colonialismo, embora haja em curso investimentos em novas redes, numa ou noutra cidade, com $ doado, sempre!
Água tem-na nos canos quem tem casa, um poço e/ou furo e bomba de água. Geralmente estrangeiros. Mas a maioria da população vive em musseques e não tem nada disso!
Nas cidades sim, mas aí é claro que não se pode alimentá-las com umas ventoinhas pequenas. Ai é que vivem das tais turbinas a gás pequenas montadas em contentores - ou de alguma derivação da barragem de Cabora Bassa.
Aliás, ou muito me engano ou a nova barragem que foi anunciada será para gerar energia também para exportar para a África do Sul...

Anónimo disse...

O que vale é que nunca ninguém pergunta ao sr. primeiro ministro o que é que ele está a pensar vender no domínio das energias renováveis.

Margarida Batista Pereira disse...

O que conheço muito pouco de Africa é a zona francófona.

Decerto a parte lusa deve ser ainda muito mais inferior. No entanto, com mais ou menos palhotas, tb essas pessoas vão acabar por serem consumidores de electricidade, nem que seja pela via do consumo.
O custo da uma rede nacional de um País gigantesco com tão baixa densidade populacional (extra as grandes cidades) pode ser atenuado e gradual se optarem por uma rede integrada de fonte mista (gás natural, eólica, hídrica, solar, etc).
Não esquecendo, que foi mais a norte que existiram os primeiros equipamentos de aproveitamento de energias renováveis e que todos, ao que parece, provimos de um pouco mais a sul.

Vender?? - Se calhar é a TURBAN… - Espero que eles não sejam tão pelermas (de pelamis) a esse ponto…

F.P.

Anónimo disse...

Vender?? - Se calhar é a TURBAN… - Espero que eles não sejam tão pelermas (de pelamis) a esse ponto…

Ora aí está uma coisa de que nunca mais se ouviu falar. Possivelmente foi esquecida nesta onda de propaganda fácil.

Mas já cumpriu o seu objectivo de dar umas notícias de jornal e promover alguns políticos.

Levy disse...

o autor deste artigo! so mostrou a sua ignorancia total e completa
em relacao a africa d em particular a mocambique...

Pinto de Sá disse...

... e veja lá, caro Levy, que o autor deste artigo até nasceu e cresceu em África, é filho e neto de africanos, tem parentes e amigos em África, e até vai lá de vez em quando!
E mesmo assim tem uma "ignorância total e completa" em relação a África...
Mas nem todos podem ser tão conhecedores como o Levy, que se há-de fazer!...