sexta-feira, novembro 27, 2009

Mais um negócio renovável, desta vez em convergência central

E não é que o Eng.º Ângelo Correia, Presidente da Foment Invest, converge com a política energética do Governo não só por opinião expressa, como pelo arrecadar de alguns euros aos portugueses, através do défice da EDP?
Pois é verdade. Acaba de ser assistido pelo Primeiro-Ministro em pessoa na inauguração da sua central solar urbana, a "maior do mundo" no seu género (que bom pertencer-se a um país de vanguarda assim!), uma central de 6 MW de " pico" cujo investimento orçou em 31 milhões de €, portanto a 5,15 mil € /Kw de "pico".
Central que, como a da Igreja de Fátima (que custou quase o mesmo por kw de "pico") só produzirá em média 15% desses 6 MW, ou 900 kW, sobretudo no Verão e só de dia, claro. Pelo que o custo da unidade de energia assim gerada superará os 40 ç/kwh, quase o triplo do que o próprio consumidor paga à EDP, mas que esta é obrigada por Lei a comprar!

Diz a notícia que esta energia dá para "abastecer 12 mil portugueses" - por uma vez, as contas estão certas. Só que não os abastece quando eles precisam, à noite...
E qual a incorporação portuguesa na central? O montá-la, o que demorou poucos meses! Quantos empregos criados? 100 durante a montagem, de Janeiro a Agosto.
Quanto à independência energética (eléctrica) assim obtida, convém não esquecer que os 31 milhões de € vieram certamente da Banca (quiçá em empréstimo politicamente bonificado), que por sua vez se financiou na Europa, a quem ficámos a dever; uma simples troca de dependências, mas se medida em €, para muito pior!...

segunda-feira, novembro 23, 2009

Quando a ciência comanda a política, a política comanda a ciência

De um modo geral, os cientistas gostam da ideia de que a política seja conduzida pela racionalidade e a objectividade da Ciência. Pensam que, com isso, se reduzirá ou mesmo eliminará a irracionalidade que tem conduzido repetidamente a História às grandes catástrofes das guerras e dos regimes baseados em fés totalitárias.
Presentemente, a teoria do Aquecimento Global antropogénico e os seus derivados políticos, nomeadamente o protocolo de Kioto de 1997 e a Cimeira de Copenhaga do mês que vem, são considerados por muitos, com satisfação, como um exemplo de como a Ciência pode conduzir boas políticas.
No caso do Aquecimento Global antropogénico há mesmo o sentimento de se estar perante a missão de salvar o Mundo!
Os europeus, em particular, sentem-se de novo na vanguarda da História, arautos desta nova e nobre missão de salvação da Humanidade, já que têm sido eles, conduzidos pela "verde" Alemanha (nunca suficientemente penitenciada dos seus crimes irracionais passados), quem tem procurado liderar o Mundo nesta nobre missão baseada na Ciência. Liderança da Europa que contribui para alimentar uma auto-estima muito abalada pela sua irrelevância político-militar e pelo imparável declínio da sua economia, da sua tecnologia e da influência da sua cultura.

Entretanto, nos últimos dias o escândalo resultante da divulgação dos emails trocados entre climatologistas defensores da teoria do Aquecimento Global antropogénico, com as confissões neles contidas das perplexidades existentes perante alguns dados empíricos e das manipulações da respectiva apresentação, veio revelar ao Mundo um facto pouco conhecido e perturbador: o de que o Aquecimento Global antropogénico não é um consenso na Ciência do clima!
Quem frequente o cyberespaço já sabia que existe uma corrente científica que nega a evidência das origens antropogénicas do Aquecimento Global. É uma corrente que não tem eco nos media e que, portanto, é desconhecida do grande público e que quase não tem aceitação nas revistas científicas da especialidade. São conhecidos por "cépticos" ou "negacionistas" e o seu "apagamento" da ribalta é muito ajudado por o negacionismo ter sido adoptado pelo Presidente Bush, cujos erros políticos muito contribuíram para desacreditar até a  simples expressão de tais posições.
De um ponto de vista estrito da História da Ciência, a existência de "cépticos" é natural e irrelevante a longo prazo, dado que a evolução da Ciência acaba sempre por resolver as dúvidas cientificamente legítimas e por estabelecer o consenso. Einstein, que enterrara de vez a fantasia do éter, também recusou a Física quântica com o argumento de que "Deus não jogava aos dados" e, até, recusara antes a consequência que o jesuíta Lemaître tirara da sua própria teoria da relatividade quanto à ocorrência de um Big Bang e, portanto, do facto do Universo não ter existido sempre!...
Os cépticos quanto às origens antropogénicas do Aquecimento Global têm, por vezes, motivações suspeitas, mas do mesmo acusam eles os "verdes", acusações a que a recente revelação dos interesses financeiros de Al Gore nas energias renováveis veio dar mais credibilidade. O certo é que, como esta revelação dos emails veio revelar, o estado da climatologia tem ainda muitas lacunas e incertezas quanto ao que, de facto, se está a passar com o clima.
Pode-se acusar os "cépticos" de, simplesmente, não quererem aceitar a novidade (como sucedeu a Einstein), mas algumas das suas críticas e teorias são, pelo menos, cientificamente curiosas. Uma delas, recente e elaborada por um Engenheiro nuclear reformado (é verdade que muitos dos "cépticos" são gente já de certa idade, o que se associa bem com a resistência à novidade) defende, por exemplo, que as alterações climáticas são essencialmente explicadas por fenómenos gravitacionais, como as marés, os ventos , a tectónica das placas e movimentos no núcleo líquido do planeta, resultantes do efeito gravitacional de natureza periódica dos astros circundantes - especialmente, na sua análise, a alteração da excentricidade da Terra pelo efeito ressonante de Saturno e de Júpiter, e o aumento de radiação solar recebida em consequência. É uma teoria curiosa porque sem dúvida que tais dinâmicas devem ter algum efeito no clima, e elas são quase universalmente ignoradas pelos climatologistas que quase sempre se limitam ao estudo da atmosfera e da superfície planetária. Pode ser uma perspectiva errada, mas o certo é que está por aprofundar.
Entretanto, no que todos os advogados da antropogenia do Aquecimento Global concordam é que há um Aquecimento inexplicável por causas naturais e que ele se correlaciona bem com o aumento do CO2 na atmosfera, e este com o crescimento explosivo da população humana ocorrido desde a revolução industrial. Mas, como não é totalmente clara a relação de causa-efeito, o que diz o último relatório (2007) do Painel Inter-governamental da ONU para as Alterações Climáticas (IPCC) é apenas: "increases in anthropogenic greenhouse gas concentrations is very likely to have caused most of the increases in global average temperatures since the mid-20th century". Para além disso são quase tudo incertezas, e mesmo o mencionado Aquecimento é questionado por muitos "cépticos" (e é aí que entram os dados e manipulações revelados pelos referidos emails). Curiosamente, já Benjamin Franklin, o inventor do pára-raios e interessado climatologista, mantinha acesas discussões epistolares com outros cientistas da época (1763) sobre as alterações climáticas então em curso, muito antes da sociedade de consumo e da explosão demográfica...
Mas mesmo aceitando a origem antropogénica de um eventual Aquecimento Global, entretanto, a determinação da importância relativa das actividades humanas que o produzirão é muito especulativa, segundo os relatórios mais recentes do próprio IPPC. As simples actividades de uso dos solos e em particular a desflorestação estimam-se como responsáveis por 1/3 do referido aquecimento, mas com uma incerteza admitida para os valores estimados de + ou - 50%!...
Obviamente, as consequências políticas internacionais de tal estimativa são enormes. Geralmente os "verdes" mais radicais tendem a ignorar, de entre as invocadas causas do Aquecimento Global, tudo o que não seja o consumo energético e os automóveis do Ocidente desenvolvido; mas, segundo o próprio IPPC, tal consumo não será responsável por mais de 40% do referido Aquecimento, como tenho divulgado aqui; ora sem uma redução das outras causas, muitas das quais resultam de tecnologias primitivas como os fogões de lenha ou o metano libertado pelas lixeiras a céu aberto do 3º Mundo, além da desflorestação criada pela necessidade de terrenos cultiváveis pelo explosivo crescimento da sua população, pouco adiantarão os sacrifícios do Ocidente desenvolvido. E, sabendo isso, é improvável que a aceitação desses sacrifícios seja consensual nos países do Ocidente onde há discussão pública destes assuntos com consequências eleitorais (o que não acontece em Portugal, como é sabido). Para já não falar na improbabilidade de grandes povos que iniciaram finalmente a saída de misérias ancestrais, como os da China, Índia ou Brasil, aceitarem qualquer sacrifício dos seus desenvolvimentos económicos.
O tempo e o aperfeiçoamento dos dados empíricos e dos modelos hão-de acabar por resolver as dúvidas científicas e criar consensos. Um grande problema, porém, poderão tornar-se as políticas que se assumem como iluminadas por esta Ciência climática.

Na verdade, quem desconhece a História está condenado a repeti-la e, por isso, é conveniente lembrar que o século XX teve dois grandes movimentos políticos que pretenderam salvar o Mundo seguindo a luz da Ciência.
Um deles ocorreu numa época em que a maioria dos cientistas acreditava que a "lei da selva" era a luta do mais forte pela supremacia e, em particular, das espécies mais fortes. Era uma convicção arreigada por todo o lado e que encontrou na Alemanha, como se sabe, a sua expressão política mais determinada e consequente: o nazismo. Poderá parecer de uma irracionalidade inconcebível, hoje em dia em que a Natureza é vista como um sistema ecológico que ilustra a "complementaridade das diferenças", o facto dos dirigentes nazis pensarem que salvavam a Humanidade ao exterminarem as "raças" inferiores, mas a eugenia era generalizadamente vista á época como um supra-sumo científico.
O outro movimento político iluminado pela Ciência foi o do socialismo científico, que pretendia construir uma nova sociedade toda ela baseada numa visão científica das relações humanas (os crentes que me perdoem o uso do pretérito).
Como é sabido, em ambos os casos as supostas Ciências transformaram-se em ideologias quando foram assumidas pelos respectivos movimentos políticos, ideologias que por sua vez passaram a Inquisições de todos os desvios ideológicos e, assim, a comandar a Ciência.
Um dos exemplos mais expressivos deste comando da Ciência pela política foi a negação da genética de Mendel e a defesa de que o meio exterior podia induzir a "adaptação" dos genes por Lyssenko (na fotografia) o que, como se sabe, além da eliminação dos melhores agrónomos russos da época causou danos profundos à produtividade agrícola soviética.
A época em que Lyssenko orientou a política de Estaline para a genética ficou famosa como exemplo das políticas científicas de apadrinhamento de incondicionais e de exclusão de desalinhados, mas qualquer analogia que se possa encontrar entre tal política e a actual promoção da Ciência e Tecnologia "para um futuro sustentável" é, naturalmente, pura coincidência.
O certo é que é preocupante a sobranceria com que na Europa os media vêm as dificuldades do Presidente Obama em convencer o Senado a apoiar a sua política climática de inspiração europeia, assim como as distâncias que os grandes países asiáticos que são a China e a Índia mantêm para com o radicalismo destas ideologias.  E se, por aquelas bandas, se vier a verificar que os rumos escolhidos são outros, esperemos bem que a Europa se não crispe e que não inicie um novo grande conflito ideológico como os que ocorreram no século XX - para afinal, daqui a 10 ou 20 anos (a perda recente do satélite que visava medir as temperaturas oceânicas atrasará esta data), as dúvidas sobre a origem antropogénica do Aquecimento global terem sido definitivamente debeladas - ou, pelo contrário, se terem revelado afinal acertadas.

sábado, novembro 21, 2009

Espanto!

Acabo de ler uma notícia no Público on-line que me deixou varado de espanto! De espanto por pertencer a um país cujo Primeiro-Ministro é capaz de dizer publicamente uma asneira como a que acabo de ler!
Transcrevo a notícia:
"José Sócrates lembrou os “progressos notáveis” dos últimos quatro anos, concretamente no caso da energia eólica, passando de cerca de 500 para três mil megawatts instalados. “Fizemos nestes quatro anos investimentos nas energias eólicas que significam duas ou três centrais nucleares em termos de produção de electricidade. E vamos fazer mais. E estamos hoje a apostar como nunca se apostou na construção de barragens”, afirmou".
É que, como já expliquei desenvolvidamente aqui, há uma fraca relação entre "megawatts instalados" e electricidade produzida, nas fontes renováveis. Em Portugal, como na maioria dos países, são precisos 4 Mw instalados de eólicas para se produzir em média 1 Mw de electricidade. Essa média é ao longo do ano - há mais vento à noite que de dia, mais no Inverno que no Verão, e em regra uma eólica passa metade do seu tempo a produzir menos de 5% da sua capacidade, embora haja algumas ocasiões em que produza acima de 90%. Em média, úma eólica produz em Portugal 25% da sua potência "instalada!
No final de Agosto, Portugal já tinha mais de três mil megawatts instalados; tinha 3430 MW. E, neste momento (Novembro), até já deve ter 3500 MW. A questão é: quanta electricidade produzem esses cerca de 200 parques eólicos e perto de 1900 aerogeradores?
Ao longo de um ano, produzem o equivalente à geração contínua de 1/4 disso, ou seja, 875 Mw (x as 8760 horas que tem um ano).
E quanto custaram os 3500 MW de potência instalada nos tais cerca de 200 parques eólicos? É fácil fazer um cálculo: o investimento das eólicas foi até ao ano passado de 1,1 milhões de € por MW instalado, estando agora mais caro por os aerogeradores terem subido de preço. Pelo que, no total, temos um investimento realizado de cerca de 3,8 biliões de € (milhares de milhões) só nas eólicas, das quais 70% para os aerogeradores e o resto para "outros custos", segundo a EWEA (a Organização Europeia das Indústrias Eólicas).
Ora precisamente por este preço podia-se ter construído uma central nuclear de 1650 MW, como se pode verificar pelos valores actuais estimados pela DOE, a Agência Americana para a Energia e que eu já citei aqui.
Em "potência instalada" tal nuclear teria menos de metade da das eólicas existentes por cá, mas com uma primeira enorme diferença: uma central nuclear funciona à sua potência nominal quase permanentemente! Descontadas as paragens para manutenção, em média uma nuclear funciona à sua potência instalada 91% do tempo. Portanto, uma nuclear de 1650 MW geraria em média anual o equivalente à produção contínua de 1500 MW, +70% de electricidade que os 200 parques eólicos já instalados em Portugal!
Uma segunda grande diferença é que o tempo de vida estimado para um aerogerador é de 20 anos, mas para uma nuclear é de 40 anos. Porém, como noticia hoje a Scientific American, nos EUA está-se a chegar à conclusão que as centrais nucleares lá instaladas podem de facto, depois de fazerem os 40 anos de idade como muitas já estão a fazer, fazer mais 50 com actualizações relativamente menores!
Ou seja, o tempo de vida de uma nuclear é incomparavelmente superior ao de uma éólica, na verdade semelhante ao de uma hidroeléctrica. Pelo que o seu custo, distribuído por todo esse tempo, acaba por produzir energia uma ordem de grandeza mais barata. Claro, há que contabilizar os 8% de custo extra para o urânio (presentemente em saldo no mercado mundial, proveniente das ogivas desmanteladas pelos acordos de desarmamento), mas tal custo extra também existe nas eólicas - em rendas pelos terrenos ocupados.

terça-feira, novembro 17, 2009

Energia e negócios

No passado sábado, o Expresso conteve uma extensa publicação sobre os investimentos em curso em energias renováveis, e também algumas notícias sobre um alegado problema das centrais nucleares francesas que poderia acontecer cá, se também tivéssemos uma nuclear.
E, no contexto da notícia, o Expresso fez-se eco das posições anti-nuclearistas do "lobby eólico", nomeadamente de algumas afirmações pouco simpáticas da parte do Eng.º Aníbal Fernandes, líder do "consórcio ENERCON" (o coração do lobby eólico), fazendo também menção a interessantes posições do ex-Presidente da República Ramalho Eanes sobre o assunto.
Não vou, hoje, fazer uma análise técnica da questão, que carece de um post prévio detalhado sobre o nuclear que ainda não tive oportunidade de escrever.
O que me traz aqui hoje é um outro aspecto que foi aflorado numa troca de comentários de outro post e que merece agora algum desenvolvimento, a propósito destas notícias do Expresso.

Como já mostrei, quando o investimento planeado pelo Governo (com o aparente alheamento de toda a oposição, aliás), para a energia "verde" estiver terminado, todo esse investimento produzirá a mesma energia que produziria uma central nuclear típica.
Com efeito, teremos 5600 MW instalados de parques eólicos em terra, mais 4640 MW de hidroeléctricas reversíveis cuja capacidade de armazenamento permitirá regularizar a intermitência do vento, solução que produzirá a potência MÉDIA (a que é proporcional a energia) de 1500 MW, sensivelmente o mesmo que uma central nuclear de 1650 MW - ou 1/4 do consumo actual de energia eléctrica nacional.
A primeira questão que quero colocar é: quanto terá custado essa capacidade de produção energética?

A partir dos números que já apresentei noutros posts, pode-se estimar que o custo será de 13,5 biliões de €: 6,5 biliões das eólicas + 5 biliões das hídricas (dos quais 2 espanhóis), e cerca de +1 bilião no investimento da REN necessário para ligar tudo em rede. Importa ainda lembrar que as hídricas poderão operar por mais de 60 anos, mas que às eólicas se atribui um tempo de vida de 20. Para pôr tudo na mesma base de tempo, admitamos os 20 anos de duração das eólicas, e com este tempo só se terá de amortizar 1/3 do valor das hídricas (aproximadamente), o que conduz ao valor de 9,4 biliões de € para a referida energia (à potência média de 1500 MW durante 20 anos).
Quanto teria custado uma nuclear que produzisse a mesma energia? Com os dados mais recentes da Administração dos EUA que já citei noutro lado, 2,7 biliões de €, tendo em conta que uma nuclear dura cerca de 40 anos e que portanto em 20 anos só há que amortizar metade do custo inicial de 3,8 biliões, +30% a amealhar para o custo do desmantelamento final, +8% para o custo do urânio e tratamento dos resíduos nesses 20 anos.
Temos, pois, que o custo extra da solução "renovável" adoptada será, para a energia dos primeiros 20 anos, de +6,7 biliões de €, não muito menos que o custo estimado do TGV, ou 2700 € por família portuguesa.

Há muitos aspectos que se podem discutir sobre isto mas hoje, e por causa do Expresso de sábado, só pretendo falar de um:
Em 2001 a Direcção-Geral de Energia, organismo integrado no Ministério da Economia, encomendou ao Instituto Superior Técnico (IST) uma proposta de regulamentação técnica para as condições de ligação à rede das renováveis, que estavam prestes a iniciar a sua instalação em larga escala em Portugal. E o IST elaborou uma proposta legislativa, acompanhada de um guia técnico de aplicação, que se limitava a conter o que de melhor, na altura, se fazia nos outros países e que se adaptava ao nosso.
Esta proposta continha prescrições que a tecnologia da época permitia cumprir e regras de cálculo para definir em que pontos da rede já existente se poderiam vir a ligar os novos produtores, de modo a lograr-se sempre a solução mais económica para todos - mas especialmente para a rede pré-existente. Estas regras de cálculo, neutras por natureza, eram essencialmente copiadas das praticadas na Alemanha, um dos países com a regulamentação técnica mais completa nestas questões.
Em todos os países da União Europeia existem regulamentos destes, a que foi dada forma de lei. O mesmo sucede nos EUA, China, etc, sendo a Espanha de todos esses países o que tem a regulamentação mais pobre, mas mesmo em Espanha tal regulamentação foi publicada em "Decreto Real".
Em 2003 a União Europeia emanou uma Directiva, a 2003/54/EC, cujo artigo 5º manda explicitamente que "Member States shall ensure that technical safety criteria are defined and that technical rules establishing the minimum technical design and operational requirements for the connection to the system of generating installations, ...are developed and made public. These technical rules ...shall be objective and non discriminatory".
Esta directiva é de 2003, e a referida proposta legislativa de regulamentação técnica elaborada no IST ficou pronta no final de 2002, mas... nunca foi publicada!
Portugal é, pois, o único país do 1º Mundo sem legislação nem regulamentação técnica sobre o assunto.
Não havendo legislação que estabeleça as normas técnicas de ligação à rede das renováveis, como são então essas coisas decididas?
Por Comissões nomeadas pelo Governo, a partir de 2003, no que respeita à selecção e aceitação dos concorrentes que são preferidos, e depois basicamente pelos critérios discricionários e casuísticos da REN, no que diz respeito a pormenores operacionais. As únicas regras que existem publicadas são comerciais.
Já por aqui postei como isto nos encaminha, do ponto de vista técnico, para prováveis "apagões", mas a dúvida que quero partilhar hoje é a seguinte: com tantos biliões de € envolvidos nisto, não seria do interesse do Governo que, cumprindo a Directiva Europeia, houvesse uma regulamentação técnica "objectiva e não-discriminatória" (nas próprias palavras da UE) que não permitisse imaginar os fantásticos negócios privados que poderá proporcionar este modus operandi que se adoptou?

quinta-feira, novembro 12, 2009

Os apagões, o nuclear e as eólicas

Há uns dias o Expresso publicou on-line um vídeo mostrando uma visita ao reactor nuclear que Portugal tem perto de Lisboa, em Sacavém, há quase 50 anos, e que a maioria da juventude desconhece que existe.
Trata-se de um reactor experimental que Portugal comprou com o intuito de adquirir know-how na matéria, e que justificou até, então, a criação da defunta Junta de Energia Nuclear, onde trabalharam alguns dos melhores "cérebros" que Portugal tinha antes da queda do regime em 1974.
Na sequência da publicação da notícia proliferaram os comentários on-line sobre o reactor e surgiu um argumento contra a opção de instalação de uma central nuclear em Portugal que fora defendido há 30 anos, na última vez que tal opção foi discutida em Portugal. Esse argumento é que uma central nuclear é tão grande que a sua avaria repentina pode "mandar abaixo" toda a rede eléctrica, provocando um "apagão".
Ora e a propósito de apagões, houve ontem um no Brasil que deixou 50 milhões de pessoas às escuras (1/4 da população brasileira), havendo quem argumentasse que tal se deveu "à falta de investimento na rede de distribuição" devida "à ganância dos accionistas". Mas, na realidade, o apagão de ontem no Brasil nada tem a ver com redes de distribuição, e ilustra precisamente o que pode acontecer quando uma grande central "salta fora" repentinamente de uma rede eléctrica.
De facto, foi a central de Itaipu, que fica na fronteira do Brasil com o Paraguai e com a Argentina, que "saltou fora". Itaipu é umas maiores centrais hidroeléctricas do mundo, de facto a maior do mundo em produção de energia, produzindo uma potência média de 11 GW, o que é quase o dobro do consumo médio de Portugal! Fornece 90% da energia consumida pelo Paraguai e quase 1/5 da consumida pelo Brasil, mas está muito longe dos centros de consumo deste país, com linhas especiais de Alta Tensão com mais de 900 km de comprimento.
Foi uma sequência (rara) de incidentes que desligou essas linhas de Transmissão e levou a central a "saltar fora" e, no seguimento, a rede "partiu-se" (algumas linhas de Muito Alta Tensão terão desligado por não aguentarem a sobrecarga pedida ao norte) e as poucas centrais que havia na rede que ficou a Sul não aguentaram o pedido de energia que lhes caiu em cima repentinamente e saltaram fora também. É aliás assim que acontecem quase todos os apagões.
Uma vez ocorrido o apagão, a reposição da rede em serviço, ligando-se uma central de cada vez enquanto se procura a causa do incidente, leva tempo - neste caso levou 6 horas, provocando o caos e obrigando a cantora Madonna, que estava no Rio de Janeiro a visitar umas favelas, a ter de ir jantar à luz das velas.
Ora uma central nuclear não pode ser pequena, em termos da potência que fornece, para ser rentável. 1,35 GW é uma potência típica. E, naturalmente, pode-lhe sempre acontecer o que aconteceu agora com Itaipu.
Porém, hoje em dia o consumo médio de Portugal é de 6,0 GW, variando entre cerca de 3,5 GW de mínimo pela madrugada, e 9,0 GW de ponta pelas 20 horas, o que é muito mais do que o que acontecia há 30 anos, quando os consumos de electricidade eram de pouco mais de 1/4 dos actuais, em Portugal. Nessa altura, o consumo nas horas de vazio (madrugada) era inferior à produção de uma tal central, cerca de apenas 1 GW, o que criava um problema ao excedente e o grande risco de, caso a nuclear se tivesse de desligar inopinadamente, toda a rede "ir abaixo" e se ter um apagão. Mas isso já não é assim hoje, e o disparo de uma nuclear teria efeitos semelhantes, na pior hipótese, aos do disparo da central de Sines (1,2 GW), que aliás já tem acontecido e "mandado abaixo" o Sul do país - mas a fiabilidade de uma nuclear é muito superior à de uma central a carvão, e por isso o risco de tal acontecer é bem menor, menos de metade. E depende muito da concepção da rede em que se insira.
Entretanto, porém, a mesma energia que produziria uma tal nuclear será produzida, já no fim de 2010, pelos 5,1 GW de centrais eólicas que estão em instalação (e de que neste momento já estarão instalados uns 3,5 GW). Ou seja, a mesma potência média de 1,23 GW que uma central nuclear de 1,35 GW produz anualmente, serão produzidos por um conjunto de parques eólicos de 5,1 GW.
Acontece, porém, que a energia eólica é intermitente. Na maior parte do tempo, não produz mais que 5% (0,25 GW) da potência instalada, mas há ocasiões, sobretudo no Inverno e à noite, em que podem produzir 90%, ou seja, 4,5 a 5 GW. E isso é muito mais que os 3,5 GW que Portugal estará a consumir nessa altura e que é a razão de ser do projecto das 8 hidroeléctricas adjudicadas, como já mostrei , que trabalharão como estações de bombagem para dar consumo a essas eólicas.
É evidente, portanto, que vamos estar, com estas eólicas a superarem o consumo das madrugadas, precisamente na situação que há 30 anos levou a excluir a instalação da nuclear de Ferrel!
Há quem argumente que a situação é diferente porque no caso de uma nuclear se perderiam 1,35 GW de uma vez, enquanto que agora temos muitas turbinas eólicas pequenas e que, portanto, o risco de se desligarem todas simultaneamente é muito menor.
Ora isto é falso, e é precisamente a principal razão de ser deste meu post hoje: o risco de "saltarem fora" de uma só vez 3 a 4 GW de eólicas é maior do que o de saltar a tal nuclear (de 1,35 GW)! E porquê? Porque:
  1. Os parques eólicos estão concentrados, na sua maioria, em zonas restritas, especialmente no Minho;
  2. As eólicas que temos não foram concebidas para suportarem perturbações na rede eléctrica a que estão ligadas, desligando-se à menor perturbação; isto acontece porque o Estado português não previu nem publicou normas técnicas que o exigissem (ao contrário de todos os outros países com eólica em quantidade significativa, e apesar delas terem sido elaboradas no Instituto Superior Técnico no início desta década). Ou seja, cada eólica e cada parque eólico dos que temos suporta muito menos perturbações na rede eléctrica do que qualquer central tradicional, incluindo uma nuclear!
Há uns anos o Instituto Superior Técnico fez um estudo da situação e verificou que, muito antes de se atingirem os 5,7 GW planeados pelo Governo, se estará numa situação em que um incidente na rede de Muito Alta Tensão da REN na região do Minho fará "saltar fora" todas as eólicas da região. E o estudo mostrou que as linhas de ligação a Espanha aguentariam o "solavanco", mas que seria a própria rede espanhola que o não aguentaria (ela própria com eólica em excesso), vindo a ser as linhas de interligação a França que disparariam por sobrecarga, verificando-se de seguida o que aconteceu agora no Brasil: desligação das centrais remanescentes, por não aguentarem a energia subitamente pedida, e "queda" de toda a rede... ibérica!
Ou seja: quando ocorrer o inevitável apagão ibérico que tudo isto prepara, já sabem o motivo! E lembrem-se que a nuclear de há 30 anos foi rejeitada em parte por isto poder acontecer, na altura, mas que agora para o eólico nenhum responsável quis saber disso...

O caso das hidroeléctricas

É interessante (e triste) verificar que a Comissão Europeia acaba de publicar uma dura crítica ao Plano Nacional de Barragens, centrando-se sobre a (invocada) violação de normas ambientais relativas às águas, mas onde o Plano também "é criticado por não ter apresentado alternativas que permitissem uma mais clara relação entre os custos e benefícios do projecto, pelo que face aos dados disponíveis os autores do relatório consideram que "não se compreende esta decisão" do Estado português".
Exactamente, neste aspecto, isto é o que demonstrei detalhadamente aqui há cerca de dois meses!

No meio da crítica e contra-crítica que de imediato se seguiram, desde ontem, entre nós, os "verdes" no Parlamento criticam o Governo por este não ter preferido apostar no eólico off-shore em vez de nas barragens, não percebendo que o fito das barragens é precisamente o armazenamento da excedentária energia eólica que vamos ter.
E o Presidente do INAG, em resposta, descansou-nos dizendo que o investimento iria ser feito por privados e não pelo Estado, e que se os privados o fariam com certeza era porque os investimentos seriam rentáveis. Esqueceu-se foi de dizer que esses privados, a EDP, a Iberdrola e a Endesa, têm tarifas reguladas pela ERSE e definidas pelo Governo, e que portanto os tais investimentos só serão rentáveis porque o Governo garantiu a sua repercussão no défice e na tarifa que todos nós, consumidores, iremos pagar! Ou seja: os investimentos poderão ser rentáveis para essas empresas; não o serão de certeza é para Portugal e os portugueses!

sábado, novembro 07, 2009

Um Físico português que dá cartas sobre a estranha gravidade do Universo

A matéria negra que permeia as galáxias é uma hipótese éxplicativa que até hoje ninguém conseguiu identificar.
O problema resulta de, observando a forma das galáxias, se constatar que ela é incompatível com a quantidade de massa visível nas mesmas. Resumidamente, as zonas mais distantes dos seus centros rodam a uma velocidade tal que mantém as galáxias como se fossem, no seu todo, um corpo relativamente rígido, o que significa que, para essas zonas mais periféricas, que rodam mais depressa que as interiores, existirá uma atracção gravitacional para o interior muito grande - de facto, muito maior que a explicável pela quantidade de massa existente nesse interior. Pelo menos da massa visível.
Feitas contas, calcula-se que o referido fenómeno só é possível se a massa existente no interior das órbitas dessas zonas periféricas for pelo menos 6 vezes maior que a observável (e até 20 vezes, se se considerarem efeitos mais afastados!). Mas, como tal massa não é observável, diz-se que provém de uma misteriosa matéria negra (há quem a diga "transparente").
Há muito que há quem suponha que essa massa seria constituída por neutrinos, mas a contagem destes tem-se mostrado elusiva.
Outra teoria, mais especulativa mas mais fascinante, considera a possibilidade de esse efeito gravitacional extra provir de universos paralelos, existentes nas outras dimensões que a teoria das membranas conjectura existirem, e que o campo gravítico seria capaz de "atravessar" a separação entre universos. Convém notar que essas dimensões extra da teoria das membranas (ou das cordas) são muito pequenas, pelo que tais Universos existiriam quase sobrepostos ao nosso, uma espécie de mundos de espíritos, onde poderão até estar o Céu e o Inferno...
Mas há outra hipótese explicativa para o referido efeito gravitacional.
Essa hipótese é a de que lei da atracção universal de Newton está incompleta. Faltam-lhe termos quadráticos e de ordem superior, mas com constantes tão pequenas que tais termos só se fazem sentir para distâncias muito grandes, precisamente as das ordens de grandeza das distâncias galácticas e inter-galácticas.
Ajustando valores nesses termos de ordem superior, consegue-se explicar quase tudo (mas não tudo) dos fenómenos observados que geralmente se atribuem à elusiva matéria negra.
Porém, se a lei da atracção universal contém de facto termos de ordem superior, então há outras teorias da Física que têm de ser revistas. E a principal delas é a teoria da relatividade.
Pedro Gil Ferreita é, talvez, o Físico mundial que melhor tem estudado esta questão - e isto não é uma opinião da propaganda do "Portugal positivo", mas sim da Scientific American. E, como a Scientific American reconhece, uma conlusão essencial do Pedro Ferreira é a de que é possível ajustar a teoria da relatividade para uma lei da atracção gravitacional diferente da de Newton, mas á custa da consideração, nessa teoria, de campos de forças... negros! Ou seja, de campos de forças adicionais aos que conhecemos, de uma natureza tão elusiva como a da matéria negra.
A Física tem acumulado nas últimas décadas uma grande quantidade de dados observados para os quais não existe explicação teórica satisfatória e muito menos comprovada.
Na última década, à estranha forma das galáxias que levou à ideia da matéria negra, juntou-se a constatação de que a expansão das galáxias, em vez de estar a desacelerar como era suposto, pelo efeito da atracção gravitacional, está a ...acelerar! O que é explicado pela existência de um campo de forças, ou energia... negra! Ou seja: pura e simplesmente não há explicação!
Se a História permite extrapolações, a Humanidade está á beira de um salto revolucionário na Física.
E, seja quem for o próximo Einstein, Pedro Ferreira terá sempre sido um contribuinte importante dessa revolução que se avizinha.