sexta-feira, maio 28, 2010

Como o sobrecusto das renováveis foi metido sem dor

Na definição da factura da electricidade para 2010, a ERSE mostrava, nos seus relatórios, que o sobrecusto das renováveis que, até 2009, fora escondido do povo remetendo-o para um défice tarifário em explosão, deixava em 2010 de ser remetido para esse défice e era finalmente metido na factura.
Como ainda assim o aumento da tarifa eléctrica anunciada só subiu 3.9%, alguns críticos mais impacientes da política governamental continuaram a clamar "Défice! Défice!...", o que na verdade não corresponde à realidade pura. Em 2010, o sobrecusto previsto para as renováveis já não foi remetido para o défice.
Quer então isto dizer que afinal o sobrecusto das renováveis é pequeno e aceitável?
Não.
O que isto quer dizer é que os responsáveis pala definição da tarifa eléctrica foram espertos como ratos, e aproveitaram a queda drástica que em 2009 se verificou no custo internacional dos combustíveis fósseis para, em troca dessa descida, enfiarem o sobrecusto das renováveis na tarifa.
Pode-se então é questionar: mas se houve uma queda dos preços desses combustíveis, nos países onde tal marosca não foi feita o preço da electricidade deve ter baixado, enquanto cá subiu; ou não?
E é verdade. Aí estão os primeiros dados do Eurostat relativos a 2010 por que eu esperava. A nossa tarifa eléctrica "só" subiu 3.9% relativamente ao ano anterior, mas na restante Europa o que houve foi uma descida generalizada das tarifas. Pelo que cá a tarifa subiu "pouco" se comparado com o ano anterior, mas muito se comparada com os valores internacionais, que obviamente os portugueses não sentem. Concretamente: em termos relativos, a nossa tarifa eléctrica subiu 6%, exactamente o necessário para cobrir o sobrecusto das renováveis instaladas até agora. Até agora - porque quando vier o que o governo planeou de renováveis, será muito mais!
O pior, entretanto, vai ser em 2011, porque entretanto os preços internacionais dos combustíveis fósseis voltaram a subir. Mas provavelmente o actual Governo já cá não estará então e os seus apoiantes poderão, então, culpar o novo Governo por essas subidas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Saudações ilustre.

Então quanto é que o Sr. acha que o défice tarifário da electricidade iria aumentar se fosse construída uma central nuclear em Portugal.
Essa realidade tem mais a haver com a politica da treta PT, se analisar-se-mos as auto-estradas e outras grandes obras em que o utilizador paga constataríamos, decerto, disparates bem maiores e muitos barrigudos de coisas boas por via déficie, está na moda...

Com a desculpa de investimento a longo prazo, concertesa, que um investimento de volume de uma central nuclear iria servir de pretexto para encher os bolsos a uns tantos rapazitos.
Não quero dizer com isto que um mal deve ser justificável com outros males, nada disso.
De referir que a produção de energia de fontes renováveis alivia a balança comercial, mesmo com a importação dos equipamentos enquanto que o gás natural ou carvão a agrava.

Fernando Pereira

Pinto de Sá disse...

Exmo Sr. Fernando Pereira,
Certamente está a comentar alguma coisa dita noutro lado, porque neste blog todas as contas e posições têm sido claramente expostas, e tenho sido muito claro quanto às condições que penso deverem ser cumpridas para uma opção nuclear em Portugal - o que nada tem a ver com o presente post.
Mas sempre lhe recordo um b,a, ba da economia, que é que, quanto à balança comercial, ela é apenas uma parte da balança mais geral de pagamentos.
Ora o que importa, pois, não é o défice comercial mas sim o défice externo total, e aí não preciso de dizer mais nada do que já disse no passado porque temos agora as agências de rating internacionais e a Srª Merckel a falar por mim...
Saudações ilustres!