terça-feira, junho 22, 2010

27% dos alunos do Técnico não sabe calcular 1/2+1/2...

Diz hoje o Público que 27% dos alunos do Técnico não sabem calcular 1/2+1/2...
"Em algum lado têm de começar a ser responsáveis. Têm uma preparação de uma pessoa de início de secundário ou pior. São ensinados a não pensar e isso em Matemática é desastroso. Foram treinados como um cãozinho para um exame”, diz a minha colega Luísa Ribeiro.
Subscrevo.
Também não tenho nenhuma dúvida que a actual geração juvenil não fará parte da solução do problema do atraso de Portugal. Pelo contrário, faz parte do problema.
E eles sabem.
Por isso ou não querem pensar na vida, preferindo festas e cerveja, ou vão-se embora, os bem orientados, ou se agarram ansiosos uns à propaganda segundo a qual tudo se consegue com "espírito positivo", "inovação" e "gestão", ou seja, com truques de xico-esperto, outros à esperança de que alguma coisa mude e que o seu trabalho os recompense.
Todos merecem o nosso esforço, mas os últimos são quem nos encoraja...

11 comentários:

Anónimo disse...

É muito mau.

Mas temos de pensar positivo. Certamente hoje, o número de portugueses que é capaz de realizar essa conta é bem superior ao de há 20 anos.
É mau, mas não acredito que seja só um problema português, estes números devem ser semelhantes nos restantes países.

RF

João Paulo Magalhães disse...

É o resultado da ideia de que em primeiro lugar o ensino deve ser "divertido". É evidente que esta ideia é totalmente disparatada. Consequentemente, temos que nos perguntar: como é que tal ideia pôde ser adoptada, causando tantos danos ao país?

Os mais incautos podem argumentar que os burocratas do Ministério da Educação são maus, e que se se tivessem escolhido melhores burocratas, ter-se-ia implementado a "ideia certa". Mas nada impede que vão para lá outros que tivessem concluído que o ensino deve ser em primeiro lugar "chato", agindo em conformidade e obrigando à adopção de currículos e manuais "chatos". Duas ideias más de sinal contrário. (O que também não quer dizer que a ideia certa esteja no meio!)

Eu argumento que o verdadeiro disparate está na organização centralizadora e uniformizadora do sistema de educação, onde todas as escolas (até as privadas) têm que adoptar os currículos e manuais ditados pelo Mi(ni)stério da Educação. O que é importante aqui é como é que construímos um sistema de educação que é vulnerável aos delírios dessa gente.

E, compreendendo isto, chegamos à única conclusão possível: o sistema não pode ser centralizado, o que implica que não pode ser gerido a partir de um ministério. Como consequência, a organização e gestão das escolas deve ser deixada a cargo (e responsabilidade) de cada escola, assumindo cada escola os riscos e colhendo os proveitos das decisões que tomar, dentro de um sistema sem regulação central.

Outra consequência é que não devem haver escolas públicas. O modelo descentralizado é incompatível com escolas públicas, pois dar o dinheiro e total discrição para decidir como gastar é receita certa para o despesismo. Por isso é que estas não devem existir: se são descentralizadas vulnerabilizam o orçamento de Estado com despesas enormes; se são centralizadas funcionam mal porque vulnerabilizam gerações inteiras com mau ensino.

Note-se que isto não impede que a educação não possa ser (parcialmente ou totalmente) paga pelo Estado. Adoptando por exemplo o sistema de vouchers confere-se aos pais liberdade de escolha da escola. E pode-se usufruir das vantagens do modelo privado: maior qualidade de ensino a menores custos.

Pinto de Sá disse...

Ao Anónimo: tenho dúvidas de que o nº de portugueses que saibam fazer a tal conta seja hoje superior ao que era há 20 anos; agora estão é no Técnico, e antes não...
Quanto ao João Paulo Magalhães: sem o querer melindrar, noto que a facilidade com que opina sobre este assunto sem citar os muitos estudos e reflexões já feitas por especialistas sobre o assunto, é ainda em si mesma uma demonstração de como o facilitismo se entranhou na juventude...
Cumprimentos a ambos!

João Paulo Magalhães disse...

Caro Prof. Pinto de Sá:

Em resposta à sua crítica, gostaria de respeitosa e amigavelmente fazer os seguintes pontos:

1-O comentário que fiz não passa disso mesmo; não pretende ser nem um estudo nem um artigo. Consequentemente, não é necessário suportar as minhas afirmações com referências a estudos ou artigos que substanciem pressupostos ou métodos meus.

2-Mais, o comentário não faz nenhuma prescrição sobre o tipo de ensino a ser adoptado pelas escolas; apenas argumenta que devem ser as escolas a fazer esta escolha, como forma de reduzir a vulnerabilidade da educação ao diktat arbitrário de burocratas pretensamente "iluminados" pela leitura de muitos estudos especialistas. Adicionalmente, os estudos de especialistas que refere versam em grande grau sobre as decisões que estes burocratas devem tomar, e não sobre o que aqui falo - a razoabilidade em haver alguém com poder para tomar essa decisão impondo-a a todos.

3-Assim, pode concordar ou discordar do que afirmo, mas não o deve invalidar com base na ausência de citações, tal como não o poderia validar pela mera presença de citações. Pode invalidá-lo apontando defeitos, erros factuais ou lógicos na argumentação ou ainda a adopção de pressupostos desadequados. A ausência de citações não invalida o comentário, nem pode ser considerada um sintoma de facilitismo.

4-Como é que conclui que pertenço à "juventude"? Não será também isso "facilitismo", visto objectivamente não possuir dados para tal conclusão?

Cumprimentos cordiais do
João Paulo Magalhães

Eduardo Freitas disse...

De há muito que defendo não a reforma (como reformar o irreformável?) mas o desmantelamento do Ministério da Educação. E sim, estou a bem medir as minhas palavras.

Num programa a 10 anos, a proposta de João Paulo Magalhães parece-me não só possível como desejável.

O "aparelho central" só teria de produzir um currículo mínimo nacional e um serviço de inspecção. A uma entidade independente caberia a elaboração das provas de exame a que todos os alunos seriam sujeitos no fim de cada ciclo, até ao final do secundário.

Relativamente ao acesso ao ensino superior, caberia a cada universidade a elaboração das respectivas provas de admissão.

Pinto de Sá disse...

Caro Magalhães: não precisa, de facto, de fundamentar as suas propostas, mas como o blog é meu tento manter nele um certo nível de luminosidade intelectual, e a sua proposta é demasiado radical para se sustentar sem argumentos. É também por isso que adivinho a sua juventude (radicalismo pouco responsável).
Acontece que a sua proposta quanto aos vouchers é conhecida e toda a gente sabe que é a do Paulo Portas. Quanto ao seu fundo, até concordo, isto é, quanto à liberdade que os pais devem ter de escolher a escola que acham melhor. Mas depois discordo quanto aos detalhes, porque tal como não há mercados perfeitos, também raros são os pais bem informados, ainda por cima perante uma colectânea de escolas a competirem pelo $ dos seus vouchers numa sociedade onde facilmente se arregimentam os media e se pervertem os pareceres, como na nossa.
A escola pública é uma conquista da revolução francesa e mantém a sua necessidade como modo de permitir a ascensão social pelo mérito. Em países como a China, a tradição confucionista e a milenaridade da tradição de se ser escolhido para mandarim por exame garantem a valorização do estudo e do saber como status. Cá, pelo contrário, tivemos séculos de perseguição inquisitorial a quem sabia demais, o que molda as coisas num sentido oposto.
Por isso sou mais moderado. Antes de ser liberal sou patriota.
Além de que já escrevi sobre isto neste blog. Vou pôr esses posts na classe da "educação" que criei hoje, para mais fácil consulta...
Cumprimentos.

Pedro Boavida disse...

"Franceses querem que selecção perca e regresse a casa

Devido à vergonha provocada pelo folhetim da crise da selecção francesa, 75% dos franceses querem que a equipa perca esta terça-feira com a África do Sul.

A sondagem, divulgada pelo canal televisivo France2, é esclarecedora. Dois terços dos franceses acham que a sua selecção deve ser eliminada já amanhã no jogo com a África do Sul"

in: http://aeiou.expresso.pt/franceses-querem-que-seleccao-perca-e-regresse-a-casa=f589499

E então 75% é igual a Dois terços?

Se nem os jornalistas sabem fazer contas...

João Paulo Magalhães disse...

a sua proposta é demasiado radical para se sustentar sem argumentos.

Aceito que seja considerada radical, pelo que sim, devem-se usar argumentos para a sustentar. Mas foi isso mesmo que fiz no primeiro comentário.

Ademais, uma posição ou proposta não se torna defeituosa por ser radical. Se um problema estiver mal posto, a resposta certa não será necessariamente a melhor. De igual forma, se o problema for "1+1=?" e as alternativas consideradas forem apenas "3" e "4", a resposta moderada "(3+4)/2=>3.5" está errada, sendo que a resposta radical "2" (fora das alternativas) está certa.

Por outras palavras, estou a tentar colocar o problema de uma forma mais abrangente, tentando oferecer uma resposta plausível a esta forma de colocar o problema. Chama-se a isto tentar ir à raiz do problema - daí o termo radical - e não me parece que isso seja necessariamente mau. Posso estar a cavar ao lado, e nesse caso pode apontar onde. Não estou aqui para estar certo, mas a discutir humildemente, e estou sempre pronto a reconhecer objecções quando correctas.

tal como não há mercados perfeitos, também raros são os pais bem informados

Certíssimo. Mas será que os preconceitos e ignorâncias que alguns pais apresentam não estarão também presentes em quem faz as regulações a que as escolas têm de obedecer? A objecção que faz é um argumento a favor da liberdade de escolha com responsabilidade pela plena assumpção do risco. No máximo, é um argumento a favor da disseminação de informação. A propósito, faço agora uma citação:

"And the study shows that consumers learn lessons: they made better decisions as the experiment progressed. The best remedy, it seems, is for consumers to be better informed and wary about special deals."

Infelizmente, refira-se, tal como Haeyk demonstrou, a centralização das instituições leva à eliminação de informação e conhecimento. Misturar várias soluções aquosas em diferentes concentrações resulta numa solução irreversível, de onde não consegue recuperar as soluções originais.

numa sociedade onde facilmente se arregimentam os media e se pervertem os pareceres, como na nossa.

Por isso é que deve haver total liberdade de expressão: para que haja uma pluralidade de opiniões independentes.

A escola pública é uma conquista da revolução francesa

A guilhotina também é uma conquista da revolução francesa e deve-se precisamente à impossibilidade de impôr a alguém algo que não deseja.

e mantém a sua necessidade como modo de permitir a ascensão social pelo mérito.

Infelizmente aqui discordo. A ascenção social pelo mérito consegue-se com a obtenção de uma boa educação, e a escola pública não é a única possibilidade de o fazer. De facto, como é agora plenamente evidente, a escola pública nem sequer é uma possibilidade para obter uma boa educação. Se o seu ponto fosse "a educação gratuita mantém a sua necessidade como modo de permitir a ascensão social pelo mérito.", eu já não faria esta observação.

Antes de ser liberal sou patriota.

O que não quer dizer que um liberal não possa ser patriota. De facto se, por hipótese, as posições liberais são mais ajustadas à situação do país, então ser liberal é ser patriota. O mesmo se passa com qualquer outra posição. Eu defendo a minha e o Prof. Pinto de Sá defende a sua, em discussão amena e produtiva. Aliás, a própria discussão é patriótica, pois subentende um interesse em melhorar os destinos do nosso país. Portanto, ser ou não ser patriota não ilumina muito a discussão; apenas os méritos e defeitos de cada uma das posições envolvidas.

Misugi disse...

Julgo não ser mau copiar os bons exemplos. Conheço a realidade da Escola Alemã de Lisboa, pois bem, o Ministerio que lá vá e copie. Aquilo funciona bem e todos saem de lá a saber somar 1/2 + 1/2...e sem maquina de calcular que é proibido.
Cumprimentos a todos.

Pinto de Sá disse...

Por acaso também conheço bem a Escola Alemã, onde o meu filho estudou...
Mas para quem quiser saber o que penso da política educativa, acho que o expliquei com detalhe aqui: http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/2009/09/avaliacao-dos-professores-as-ciencias.html

Anónimo disse...

Curiosamente parece que é lá que o PM tem os filhos a estudar...