terça-feira, junho 22, 2010

Minority Report e os chips nos carros

No filme de ficção científica Minority Report, à medida que as personagens se deslocam pelos centros comerciais, os plasmas de publicidade personalizam as suas propostas de acordo com quem vai a passar. "Eles" sabem quem vai a passar porque toda a gente anda com um chip que o identifica, no filme.
A ideia não tem nada de inexequível. O Google "aprende" os nossos hábitos e gostos e antecipa-se a escrever por completo o nome do que queremos procurar na net. E todos sabem como é fácil hoje em dia cruzar toda a informação do que compramos por meios electrónicos para nos fazer os "profiles" comerciais. O Fisco também já o faz.
No filme, um dia a polícia aparece de surpresa em casa do "herói" para o prender porque sabe, pelo seu perfil, que ele vai cometer um crime. E assim, antecipa-se, evitando esse crime.
Vem isto a propósito da ideia deste Governo de montar chips em todos os automóveis. Para quê, ainda não acharam sequer precisarem de o explicar. As SCUT deram-lhes agora um pretexto para tentar justificá-los.
É claro, tenho quase a certeza, que por detrás da ideia está essencialmente mais um negócio "decretino". Alguém fez as contas de como ficaria rico se vendesse uns milhões de chips em Portugal, provavelmente feitos na China, e nada melhor que um Decreto governamental para obrigar os cidadãos a comprá-lo!
Mas a ideia de um dia a polícia me aparecer em casa ou onde eu estiver, sabe-se lá se por bons motivos ou se apenas porque me querem tramar (como no filme), não me agrada.
Por isso, eu jamais usarei esse chip! E se vier a ser incorporado nos carros novos, quando comprar o próximo hei-de arrancá-lo!
E se vier a ser obrigatório, o máximo que me imagino a fazer é levá-lo comigo só nas viagens em que tenha de passar pelas tais portagens electrónicas, se não houver outras, e depois voltar a pô-lo numa gaveta de uma cave funda!
Mas para não ter mais uma coisa que me aborreça, espero bem que o Parlamento chumbe liminarmente essa ideia na quinta-feira - e de modo a que ela não renasça tão cedo!

7 comentários:

Eduardo Freitas disse...

Muito bem!

Carlos Portugal disse...

Subscrevo inteiramente. Para além da história do chip violar uma série de artigos da Constituição e do Código Civil. Para além de violar o princípio da igualdade, pois os automobilistas estrangeiros não o terão, nem pagarão para circular em SCUTS e outras vias onde instalem os pórticos de mau agoiro.E ninguém é obrigado a comunicar o NIB de uma conta bancária para que uma qualquer entidade - estatal ou privada - possa ter acesso ilimitado a ela. Nem sequer se é obrigado a ter conta num banco...

Força e honra, como dizia o general romano Maximus no filme «o Gladiador» (embora na verdade a saudação patrícia romana fosse «Sangue e Honra»).

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Boa tarde Carlos Portugal.
(Veja alguma ironia nas papalvras)
Portaria n.º 314-B/2010, 14 de Junho.
Eles não dormem!
Artigo 18º - Veículos de matrícula estrangeira. No seu número 3: "Os condutores dos veículos com matrícula estrangeira devem utilizar para o pagamento de portagens o sistema automático previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 16º, utilizando para o efeitio cartão de crédito com conta bancária válida associada"
Quanto à não obrigatoriedade de ter conta bancária, tenho dúvidas, muitas dúvidas.
A não ser que eles andem a dormir!!

Carlos Portugal disse...

Caro Anónimo:

Um pequeno problema legal: uma portaria não tem força de lei, mesmo quando é regulamentar e remete para uma lei. Estes filhos da mãe têm a mania de legislar (?) por portarias, tentando assim ultrapassar votações na Assembleia.
Só que as portarias não nos vinculam, a nós, cidadãos portugueses, e muito menos a cidadãos estrangeiros.

Quanto à obrigatoriedade de conta bancária, se tal vir a tentar ser imposto por portaria - como é costume - «chapéu»...

As gentes do Norte, no caso destes criminosos desgovernativos continuarem com as ilegalidades, podem simplesmente destruir os sensores dos pórticos de portagem automática, como fizeram a muitos dos radares fixos acoplados a estações meteorológicas, estrategicamente colocadas logo após sinais de limitação de velocidade na A23 (de 120 para 100 Km/h, sem razão aparente). Ilegalidade por ilegalidade...

Cumprimentos.

depatasproar disse...

Apesar de concordar consigo, antevejo dois problemas:

1) quando um sistema semelhante ao que descreve for novamente proposto/imposto, creio que o será num contexto de maioria absoluta, e a quem o não possuir se-lhe-á apreendido o veículo, como creio suceder actualmente aos possuidores de detectores de radares activos;

2) a atávica propensão do "portuga" -- perdoe-se-me o termo -- para ir a correr atrás da última inovação tecnológica: eles vão explorar essa faceta e creio que, infelizmente, com altas probabilidades de sucesso.

Anónimo disse...

Proponho que tamanha quantidade de chips seja utilizada para implantes cerebrais nos «políticos» que inventaram e apoiam a medida. Atenção: que não estou a afirmar que após a cirurgia ficam competentes!...

:-)))

secameca disse...

Existem sistemas de reconhecimento automático de chapa de matrícula. Por exemplo a polícia pode usar uma câmara digital com resolução suficiente para ver os caracteres da matrícula dos carros que passam, um computador faz o reconhecimento dos caracteres e armazena a informação.

Esta notícia faz-me lembrar um bocado a moda do RFID para substituir os códigos de barras. A verdade é que o identificador único de veículo já existia.

A polícia também já cobra as multas no local (longe vão os tempos em que se podia recorrer antes de pagar hein!). Isto é só mais um empurrão na direcção para que já se estava a ir.