quarta-feira, setembro 02, 2009

Alta do petroleo, Regulação e energia eólica - com comentário

Dia 5, na SIC-Notícias, o Dr. Eng.º Costa e Silva, meu colega no IST e Presidente da PARTEX, a petrolífera que sustenta a Gulbenkian, deu explicações muito interessantes sobre as razões da actual alta de preços do petróleo e das suas perspectivas futuras.
Entre outras causas para esta alta de preços está, como factor determinante, a especulação financeira no mercado mundial de futuros.
A situação é de tal modo alarmante que o Regulador norte-americano do mercado de futuros defendeu recentemente a aplicação de limites mais apertados aos valores de investimento permitidos aos investidores não comerciais no mercado do petróleo e do gás. Referia-se essencialmente à Banca e a certos fundos de investimento.
Será certamente difícil limitar esta especulação, dado o caracter internacional do capital financeiro, mas o certo é que, como disse Costa e Silva, 1/3 da frota petroleira mundial está presentemente parada no mar, com os porões cheios de petróleo, à espera que o preço deste suba para o descarregar.
A própria indisponibilidade destes petroleiros contribui para a alta dos preços do petróleo, ao dificultar o seu transporte (Costa e Silva mencionou, nomeadamente, o estrangulamento do transporte de gasóleo da América para a Europa e da gasolina no sentido inverso - os americanos não usam Diesel e os europeus usam-no cada vez mais).
A base desta especulação é a expectativa de que os preços do petróleo venham a subir. Esperar que eles subam leva a guardá-lo para vender mais tarde, e esse mesmo açambarcamento reforça a rarefacção que lhe faz subir os preços.
No fundo, trata-se do mesmo tipo de especulação que acontece nas Bolsas nas épocas de euforia, e que aconteceu no mercado imobiliário até recentemente. Já tem acontecido também no mercado das obras de arte e até no dos selos de colecção. Baseia-se sempre na expectativa de uma subida futura dos preços e alimenta-se a si própria disso, geralmente até que alguma coisa quebre o ciclo e a bolha rebente.
No caso das Bolsas, dos imóveis e dos selos, porém, esta especulação tem um fundamento muito subjectivo e, portanto, o rebentamento das bolhas é sempre garantido e uma questão de tempo. Os últimos ficarão arruinados mas a tentação de jogar neste Casino enquanto os preços sobem é grande.
E no petróleo?
À primeira vista ele é um bem físico limitado e cuja produção será incapaz de acompanhar o previsto crescimento mundial da procura. Portanto, aparentemente a sua rarefacção futura parece garantida e a consequente subida de preços também. E, neste contexto, o mercado de futuros e a respectiva especulação poderá até parecer razoável e prestando um serviço necessário, ao assumir ele o risco dos preços futuros.

Mas será mesmo assim? Pode ser que sim.
E pode ser que não.
Em primeiro lugar há a questão de saber ao certo que reservas existem. E, para além das reservas existentes, há a questão da possível evolução da tecnologia de extracção que, presentemente, apenas é capaz de extrair cerca de 30% do petróleo existente.
Mas, em segundo lugar e quiçá com muito maior impacto, há o efeito que terá uma redução da procura, motivada pelo aumento da eficiência no seu consumo! Não é precisa uma eliminação da procura; basta uma redução consistente, para que os pressupostos quanto ao futuro em que se baseia a especulação possam ficar subvertidos e a bolha rebente, como as outras!
Ora, como disse Costa e Silva e eu já referi aqui, nos EUA os automóveis primam pela ineficiência. O carro médio americano gasta 10 litros aos 100 km, contra uma média de 7 na Europa e Japão. E, como os americanos vivem em geral longe dos empregos, o consumo de gasolina dos EUA é, só ele, cerca de 35% do total mundial, o dobro do de toda a Europa e mais do quádruplo per capita. Costa e Silva disse que bastava que o rendimento dos automóveis americanos aumentasse 15%, com a adopção generalizada dos híbridos e dos Diesel, para que o panorama da procura se alterasse radicalmente a relativamente curto prazo. Convém notar que adoptar híbridos e Diesel não requer apostas em tecnologias inexistentes, ao contrário dos automóveis eléctricos...
Mas, além da estratégia americana para os automóveis, há também nos EUA propostas sólidas para a adopção do TGV eléctrico em certos circuitos com distâncias apropriadas (a distância tecnicamente apropriada para o TGV é a de Lisboa-Madrid; abaixo disso o automóvel é mais prático, e acima é preferível o avião), como é o caso dos trajectos San Francisco-Los Angeles, Dallas-Santo Antonio-Houston e Boston-New York-Washington. E a melhoria de eficiência dos aviões comerciais, responsáveis por uma parcela importante e crescente do consumo mundial de combustíveis, também já se faz sentir.
Tudo isto significa que, a um horizonte de 10 anos, digamos, não é certo que se mantenha a actual tendência de subida do preço do petróleo.
Existe, claro, o problema do aquecimento climático e das emissões de CO2.
Porém, convém ver que, até agora, essa preocupação e as medidas limitadoras associadas resultantes do protocolo de Kyoto deixam de fora os dois maiores poluidores industriais, os EUA e a China, para já não referir que os problemas da desflorestação e do mau uso dos terrenos agrícolas, responsáveis por de 1/3 a metade das emissões e na sua maioria da responsabilidade de países não-industrializados, nem sequer começou a ser encarado pró-activamente.
Ora no fim deste ano ocorrerá a cimeira de Copenhague, e pela primeira vez existe um empenho activo dos EUA nessas negociações e, com maiores reservas geo-políticas, da China. Se houver um acordo que englobe esses dois gigantes, o panorama mundial relativo às emissões de gases de efeito de estufa poderá modificar-se radicalmente, reforçando o empenho mundial na redução da dependência do petróleo (de que a China tem pouco, no seu sub-solo).
Tudo isto para dizer que não se justifica uma pressa excessiva no abandono do petróleo e dos combustíveis fósseis, e que há tempo para delinear estratégias sustentáveis a 10 ou 20 anos, esperando para ver o que vão decidir os EUA e a China.

Entretanto, Costa e Silva reconheceu o que toda a gente sabe: que as petrolíferas nacionais acompanham a subida internacional dos preços do petróleo ao momento, mas para a descida esperam umas semanas...
E disse outra coisa que também toda a gente sabe: que a Entidade Reguladora de Manuel Sebastião é mais uma Reguladora da "falta de concorrência" do que da Concorrência, em matéria de combustíveis.
Ora, é bem sabido que o actual Governo deu cabo das Entidades Reguladoras, enquanto entidades independentes para a defesa dos consumidores. Transformou-as em Direcções-Gerais do Estado. E, curiosamente, se o Governo fecha os olhos à especulação existente sobre o preço dos combustíveis, já relativamente ao preço da electricidade e ao défice que o antigo Regulador Vasconcelos queria repercutir nos preços desta, foi intransigente.
Temos que é muito claro que o Governo tem uma estratégia de encorajamento de subida do preço dos combustíveis, e de congelamento do preço da electricidade. E também é claro que isto alimenta uma retórica de aposta nas "renováveis" que, espremida de tudo o que são meras palavras ou fantasias, se traduz apenas numa única aposta: a da energia eólica.
Energia eólica cuja potência de ponta ultrapassará em breve o consumo nacional a certas horas de vazio, como já expliquei aqui, e por causa da qual parte das 8 novas hidroeléctricas a construir vai ter capacidade de bombagem, um custo extra que se deve atribuir ainda às eólicas, porque é a intermitência e irregularidade destas que requer essa capacidade às hídricas.
A quantidade de turbinas eólicas instaladas e em instalação levar-nos-á aos píncaros no uso da mesma, o que é extraordinário tendo em conta que não incorporam qualquer know-how nacional, quase nenhuma construção nacional, e muito poucos empregos no país!
E, como entretanto o Governo se deu conta de que não pode invocar a aposta nas eólicas como medida contra a dependência do petróleo importado, inventou a aposta na fantasia do carro eléctrico para ligar uma coisa à outra!

Dizia o Expresso da semana passada que a subsidiação das eólicas custava ao país perto de 500 milhões de € por ano. 50 € anuais por residente. E está-se a subsidiar o quê? Essencialmente as indústrias de turbinas alemã e espanhola!

E, claro, alguns negociantes nacionais de concessões e de "pontos de injecção" de energia!
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Um distinto engenheiro conhecedor do assunto enviou o seguinte comentário:

A factura agora divulgada (447 M€) corresponde às contas da ERSE feitas em 2008 para as tarifas de 2009 e são relativas a toda a produção em regime especial e não apenas às eólicas. Só que estas contas têm um problema: já estão muito desactualizadas! A ERSE estimou para 2009 o custo do MWh de referência (no mercado diário e intradiário OMIE) em 70 €/MWh, mas na verdade o seu preço médio real até 31 de Julho foi de 39 €/MWh, e não dá indicações de subida (pode ver os preços no mercado a prazo OMIP).
Daqui resulta que, o que podia ser uma boa notícia para os particulares e para as empresas, na realidade não o é, bem pelo contrário. Os 447 M€ passam para o dobro, como passo a explicar: a diferença do preço médio das renováveis (101 €/MWh) face ao mercado não é de 31 €/MWh (101-70 = 31), mas sim de 62 €/MWh (101-39 = 62). A ERSE vai ter que corrigir estas contas, e não é difícil de calcular uma boa aproximação ao custo final das renováveis: só no ano de 2009, serão 14.540 MWh (produção estimada dos PRE, o real pode até ser superior) x 62 €/MWh, e o verdadeiro número será muito aproximadamente 900 M€, e não os 447 M€ anunciados na imprensa.
Mas se juntarmos a este valor o investimento obrigatório da REN e da EDP para a ligação das renováveis, o valor é ainda superior, muito perto dos 1.000 M€.
E isto a pagar num único ano, veja agora quando tivermos que pagar o resultado do visionarismo em voga!

8 comentários:

Lowlander disse...

1 - A especulacao nao aparece por obra e graca do Espirito Santo... existe especulacao porque a producao de petroleo nao esta a acompanhar o aumento de procura. Dito isto a especulacao e um problema e deveria ser combatida.

2 - "há a questão da possível evolução da tecnologia de extracção que, presentemente, apenas é capaz de extrair cerca de 30% do petróleo existente."

Reservas comprovadas ou estimadas? Outra coisa, mesmo nas reservas comprovadas como e que voce valida a informacao que vem dos paises produtores de petroleo que sao na maioria ditaduras muito desconfiadas na divulgacao de qualquer tipo de informacao?
Outra coisa ainda, no caso das baterias electricas voce diz que os avancos tecnologicos sao miragens utopicas e no entanto propoe a mesmissima miragem utopica na extraccao petrolifera para justificar que nao ha/havera escassez?

3 - "E, como os americanos vivem em geral longe dos empregos, o consumo de gasolina dos EUA é, só ele, cerca de 35% do total mundial, o dobro do de toda a Europa e mais do quádruplo per capita."

Pois e, mas entretanto temos a China, a India e o Brasil a entrar no barulho, o grosso do aumento da procura mundial foi nestes paises e ai nao ha forma de adoptar estrategias de conservacao ou eficiencia energetica porque sao paises que estao a adquirir uma frota de automoveis e nao a renovar uma frota existente, logo, o consumo de petroleo tera necessariamente de aumentar se o sector transportes continuar baseado no motor de combustao interna.

4 - "Tudo isto significa que, a um horizonte de 10 anos, digamos, não é certo que se mantenha a actual tendência de subida do preço do petróleo."

A Agencia Internacional de Energia discorda frontalmente. Ha quem argumente o Peak Oil mundial foi atingido em 2008, se bem que aqui so o saberemos depois da retoma economica mundial porque o peak oil, pela sua definicao so pode ser determinado a posteriori.
Em cima disto temos os BRIC a sairem da pobreza e sedentos de energia. com todo o respeito mas, nao e certo, o tanas!

5 - "já não referir que os problemas da desflorestação e do mau uso dos terrenos agrícolas, responsáveis por de 1/3 a metade das emissões e na sua maioria da responsabilidade de países não-industrializados, nem sequer começou a ser encarado pró-activamente."

Quem compra os produtos da desflorestacao tropical? Vai-me dizer que sao Indonesios e Brasileiros so usam mogno na construcao civil?
Quem e que esta a comprar os biocombustiveis? E o arroz? E a soja?
Esta semana tambem havia toneladas de residuos solidos prontos a serem depositados em territorio brasileiro, de onde veio?
Por fim, o CO2 que esta neste momento a mais na atmosfera e ja a causar alteracoes climaticas foi produzido por quem? Vai-me dizer que foi a revolucao industrial invisivel do Congo no sec XIX?
Sejamos um pouco mais serios, proponho.

Por fim os subsidios a eolicas:
Entao e as termoelectricas que estao a receber licencas de emissao de CO2 de borla ou a custo simbolico? Isso nao e subsidio?
Tanto quanto saiba, só há uma central de carvão, que entrou em funcionamento o ano passado, que pode ser considerada minimamente limpa, em Spremberg, na Alemanha. Os custos de instalacao e funcionamento sao tao altos que poe o carvao, com CCS, menos competitivo que as eolicas

Pinto de Sá disse...

Ao Lowlander:
Como me propõe que "sejamos um pouco mais sérios" mas entretanto se acoberta no anonimato, esta será a última vez que lhe publico um comentário, mas faço-o pela oportunidade de esclarecer alguns dos pontos que levanta e para aviso à navegação.
Respondendo, pois, ponto por ponto:
1 - A questão da origem da especulação está explicada no próprio post. Se a produção está a acompanhar a procura é discutível e, em todo o caso, pode não o estar por razões especulativas, sabendo-se como a OPEP procura reduzir a oferta logo que os preços caiem e de como são presentemente companhias nacionais que controlam a sua comercialização. Mas, como afirmei no post, limitando-me a transcrever um especialista que toda a gente ouviu na TV, 1/3 da frota petroleira está parada no mar com os porões cheios! Se isto não é especulação...
Se a especulação devia ou não ser combatida não é assunto que interesse ao que expus. Procurei analisar factos, e não a moral humana.
2 - A questão de quais as reservas de petróleo realmente existentes seria matéria, só por si, para um blog! Não pretendI esgotar o tema na breve referência que fiz ao assunto, estando no entanto consciente desses pontos que levanta.
Mas, quanto às baterias, o que diz é um acervo de parvoíces, como qualquer leitor do blog poderá constatar.
Do petróleo sabe-se o que existe comprovadamente, e quanto ao que não é provado há estimativas. O que não está provado inclui o que não se sabe se existe, mas também o que se sabe que existe mas que não é rentável extrair com as presentes tecnologias.
Ora o que eu questiono é se, daqui a 50 anos, quando as reservas provadas se prevê que se esgotem, a tecnologia então existente (daqui a 50, ou a 20, ou a 10 anos) não permitirá extrair aquilo que hoje não é possível de forma económica. Poderia começar por discutir os petróleos betuminosos do Canadá e passar aos do Ártico e da Gronelândia mas, como disse, não pretendo esgotar esse tema, que aliás está bastante documentado na net.
Outra coisa muito diferente é discutir se em 2011, ou seja, daqui a 2 anos, teremos carros eléctricos com baterias duráveis! Daqui a 20, ou talvez mesmo a 15, ah, isso sim! Mas eu já discuti isso em posts específicos sobre os carros eléctricos!
Não há nenhuma relação entre um futuro que se discute para daqui a 1, a 5 ou a 15 anos, como o da tecnologia das baterias, e um que se discute para daqui a 40, 50 ou a 80 anos, como o das tecnologias de extracção do petróleo!!!
Além de que quanto às baterias tenho a certeza da sua indisponibilidade a curto prazo, e quanto ao petróleo questiono a certeza da sua indisponibilidade (a médio prazo).
3 - Uma coisa é o aumento da procura, outra coisa é a procura. Este Governo é que é especialista em jogar com as derivadas das funções, em vez de falar das funções (em sentido matemático). Mas tiram-se quaisquer dúvidas vendo o gráfico que está no post para que linkei sobre isso.
Se eu consumir 1% e aumentar para 2%, tive um aumento de 100%; se eu consumir 50% e aumentar para 51%, tive um aumento de apenas 2%. Mas o aumento absoluto foi o mesmo. Já percebeu como se enganam os inumeratos?
Além disso a China, a Índia, etc, entram no automóvel com carros poupadinhos. Mas vá ver o gráfico, que é de um relatório do IPCC, vá!...
Em todo o caso, interpreta-me mal se lê no que escrevi alguma acusação aos EUA. Limitei-me a expôr FACTOS!
4 - Tem razão quanto à Agência Internacional de Energia e à previsão por ela do aumento do preço do petróleo. O Prof. Costa e Silva também falou disso na TV e deu claramente a entender que ela "está feita" com os especuladores e que devia falar menos. Sendo ele presidente da PARTEX...
Há muitos interesses em jogo, e convém não ser ingénuo quanto a essas instituições - não que as considere todas corruptas, mas alguma dúvida metódica é prudente.
5 - Leu o meu post sobre a limpeza como alternativa ao carro eléctrico? Lá, falo das queimadas africanas... já ouviu falar?
(continua)

Pinto de Sá disse...

6 - Quais subsídios às termoeléctricas? Em Portugal, o kWh das centrais a carvão custa 0,03€, e leva com mais 0,02€ de penalização pelo CO2 emitido, ficando a 0,05€. Nos EUA o carvão é ainda mais barato: 0,025€. Já escrevi sobre isso por aqui
A eólica, pelo contrário, recebe 0,10 € (agora ligeiramente menos, 0,0954€)! E a central solar da Amereleja, importada "chaves na mão", recebe 3,30 € - fica 33 (!!!) vezes mais cara que o kwh pago pelo consumidor!
Ora eu até não me importaria com esse subsídio se essas centrais eólicas e solares fossem de concepção e fabrico portugueses - estar-se-ia a subsidiar o lançamento de uma indústria nacional para um futuro exportador. É o que fazem TODOS os outros países que subsidiam as energias renováveis, a começar pelos espanhóis aqui ao lado!!!
Leia os meus posts sobre isso, baseados EM FACTOS com links para as referências, e não em "bocas"...

Pinto de Sá disse...

Entretanto, e a propósito de uma notícia de hoje, em que se justificava (de novo) o aumento em curso do preço do petróleo com o estafado argumento do aumento da procura pela China, e em que Costa e Silva discordava que fosse o jogo da oferta e da procura que explicasse este aumento, lembrei-me do simples facto da procura nos EUA ter caído 5,8% e de no resto do mundo ter também caído ou, no mínimo estagando (China), e ainda assim o petróleo estar a subir em flecha...!
E para que falaria na questão o Regulador dos EUA do mercado de futuros, se ele não tivesse a certeza sobre o que estava a falar - isto é, a especulação em curso por agentes financeiros que nada têm a ver com o comércio petrolífero?

Sier disse...

Quero aqui deixar o meu agradecimento pelo seu blog. Neste espaço tenho ficado esclarecido de assuntos que de outra forma não teria conhecimento. Força, continue a expor as verdades.

J Aguiar disse...

Leio sempre com atenção este blog que é dos poucos, em português, que se atreve a contrariar o "politicamente correcto" e mostrar números na discussão dos assuntos.
Obrigado por isso e por permitir comentários aos leitores. É sempre bom ter a visão das duas faces da moeda!

Pedro M. S. Monteiro disse...

Falando de energias renováveis e visto isto não ser sequer a minha área (a física ensinou-me que devemos falar só sobre o que conhecemos e mesmo assim com muita cautela!). Sobre o problema das energia renováveis e visto que o armazenamento da energia é muito caro e difícil tenho uma simples pergunta. Sendo Portugal um país da União Europeia não seria interessante se existisse um regime de troca de energia a fim de um Alemão usar a energia feita em Portugal e vice-verça? Continuaríamos a ter o mesmo problema, mas com alguma regulação dava para atenuar os efeitos da produção excessiva de pico. O que acha?

Pinto de Sá disse...

Caro PM: isso que sugere já é praticado desde há cerca de 30 anos, quando Portugal e Espanha criaram a primeira linha de Muito Alta Tensão que interligou as respectivas redes eléctricas. Desde então foram construídas mais algumas linhas dessas e agora a interligação entre as duas redes é razoável.
As trocas de Energia eléctrica entre Portugal e Espanha conforme os picos de cada lado foram a regra por muitos anos, e por essa via tivemos mesmo um contrato de compra de energia francesa, envolvendo a Espanha como passagem, dado a electricidade francesa ser muito barata (80% dela é produzida por centrais nucleares, em França). Importávamos energia eléctrica de origem nuclear e exportávamos de origem renovável (hídrica).
Nos últimos anos, entretanto, tornámo-nos importadores crónicos.
O problema com a energia eólica, entretanto, é que a Espanha tem exactamente o mesmo problema que nós (temos praticamente a mesma energia eólica, em termos relativos), com a diferença que a deles é produzida por turbinas de fabrico espanhol.
Por conseguinte, ocasionalmente quando temos excesso de energia eólica os espanhóis também têm, e a solução passa pela península no seu conjunto exportar para França. Porém, os Pirinéus têm poucas linhas de Muito Alta Tensão, e por isso a península territorial funciona também como península eléctrica. Há limites estreitos para o que se pode exportar pelas linhas de ligação da Espanha a França.
A agravar a situação, a França já é também quem encaixa muitas vezes o excesso de energia eólica da Alemanha, nas horas de pico de produção, e para rematar há uma forte oposição de certas franjas a que se construam novas Linhas de Muito Alta Tensão, que ninguém quer no "seu quintal"...