quinta-feira, julho 09, 2009

Provincianos q.b.!

Quando 1/5 (20%) da energia eléctrica for de origem eólica no nosso país, como planeou o actual Governo, haverá ocasiões em que o conjunto das eólicas produzirá mais que o consumo nacional.
Que fazer a essa energia excedente?
Pode-se exportá-la, mas a Espanha vai ter o mesmo problema, e de Espanha para a restante Europa há poucas linhas de Alta Tensão por onde escoar excedentes.
Há, na verdade, duas soluções.
A primeira é o que estão a fazer países como a Alemanha, a Irlanda e os EUA (e até, em segredo, a Espanha), que é exigir aos fabricantes das turbinas que as munam da capacidade de reduzirem temporariamente a potência gerada e de pilotarem a que estiverem a produzir em função do consumo da rede, como fazem as centrais eléctricas clássicas. Exceptua-se a Dinamarca que resolve o problema com a sua forte interligação à rede eléctrica alemã, muito maior.
A segunda solução são as ideias "iluminadas" que se propõem em Portugal: as eólicas trabalharem sempre à máxima potência como até aqui, e arranjar-se alguma coisa que "armazene" a energia excedente.
Do MIT-Portugal ouvi ontem na TV a extraordinária "inovação" para os Açores (elevados a "green islands") de as pessoas comprarem carros eléctricos e, quando houver excesso de energia na rede, deixarem os carros em casa a carregar as baterias (para escoar a energia em excesso) e irem para o trabalho e levarem os filhos à creche de autocarro ou a pé! :-)
O Governo arranjou também uma solução altamente inovadora para o Continente (ninguém ainda teve esta ideia lá fora para resolver o excesso pontual de energia das eólicas, a não ser alguns académicos): as novas centrais hidroeléctricas que vão agora ser construídas serão de bombagem: isto é, terão albufeiras com previsão de armazenamento e serão capazes de funcionar ao contrário, como motores de bombagem de água, levando-a de baixo para cima de volta às albufeiras. Quanto ao que estas hidroeléctricas custarão a mais por causa disto e quanta energia se perde neste processo ainda não vi contas...
Mas porque não começamos por ver o que fazem os outros?

6 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Na realidade, o armazenamento de energia eléctrica por bombagem de água (quando há excesso de energia na rede ou ela é barata), já existe por cá há dezenas de anos - pelo menos nas barragens do Alto Rabagão, Aguieira, Torrão, Alqueva.

Claro que se trata de barragens já feitas, limitando-se as turbinas a inverter o sentido de rotação, funcionando como bombas (que tiram água de jusante para montante).

O post fala de albufeiras a criar para as eólicas, que é algo muito diferente e parece absurdo. Será isso que se anuncia?!

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Há ainda outro aspecto a considerar:

As fontes de energia eléctrica são variadas (gás, carvão, água, fuel, vento, etc - o solar não conta).

Assim, no caso improvável de as eólicas fornecerem energia a mais, e como a rede está toda interligada, poderá bastar reduzir a produção das outras.

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Chamo, no entanto, a atenção para um erro:

Quando se fala em potência eólica em Portugal, os "interessados" no negócio referem a potência INSTALADA, levando-nos a crer que essa é a FORNECIDA habitualmente.
Nem pouco mais ou menos!

Esses tais 20% seriam, pelo que sei, potência INSTALADA.

Pinto de Sá disse...

Não, caro Engº Medina Ribeiro, não se trata de potência instalada mas, como está escrito (não foi lapso), de ENERGIA. A ENERGIA consumida de origem eólica é, neste momento, de cerca de 1/8 (12.5%) do total.
Como bem nota, e dado que o factor de utilização médio da eólica anda pelos 25% por cá, quando a ENERGIA atingir 20% do total (uma meta do Governo), haverá ocasiões em que a POTÊNCIA será 80% da total em média. Mas nas horas vazias, quando a potência consumida é inferior à média, ultrapassará os 100%. Para 20% da energia de origem eólica essas ocasiões serão pouco frequentes, já que as eólicas não trabalham à potência máxima mais que 5% do tempo - e nunca são todas, mas no máximo 90% delas. Mas a meta do Governo está para além dos 20% de ENERGIA de origem eólica!...
Um abraço!

Pinto de Sá disse...

Já agora: as centrais de bombagem não são exactamente como as outas hidroeléctricas - se o fossem, TODAS as hidroeléctricas poderiam trabalhar como centrais de bombagem.
Encontra-se uma breve introdução ao tema aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Pumped-storage_hydroelectricity.
No processo de bombagem e depois de novo a turbinagem da água, perde-se de 15 a 30% da energia.

Pinto de Sá disse...

Uma explicação mais detalhada da complexidade adicional que a bombagem requer a uma hidroeléctrica encontra-se aqui:
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/609552/turbine/45673/Pumped-storage

Pinto de Sá disse...

... e ainda melhor aqui, onde se faz uma exposição detalhada sobre as diferenças das turbinas Francis usualmente empregues nas centrais de bombagem:
http://books.google.pt/books?id=GMS_aVPWOugC&pg=PT445&lpg=PT445&dq=reversible-pump+turbines+Francis+type&source=bl&ots=I7-bkPhqCD&sig=KY7e4P_n49gi_k25SQfDBWoOgbg&hl=pt-PT&ei=cB9XSvTQBdqhjAfAjsnNDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2

Anónimo disse...

"irem para o trabalho e levarem os filhos à creche de autocarro ou a pé! :-)"

Já alguém se lembrou de fazer umas contas para ver quanto é que este ato de altruísmo compensaria?

Muito provavelmente estaremos a falar de um euro. Vamos admitir que esta pessoa vende 12,5kWh (já uma potência muito razoável) por 0,2€/kWh (sensivelmente o dobro do actual) e os volta a comprar por 0,1€/kWh, 100% de diferença de preços. Bem, o retorno final será de 1,25€. A este dinheiro teremos de deduzir o custo do autocarro para 2 (a pessoa e o filho) pessoas pelo menos que deverá ser de 3,2€ (ida e volta). Neste momento já estamos a perder 1,95€.

Mas a verdadeira pergunta é: Será que alguém vai perder um pouco de conforto por 1,25€? Sobretudo depois de ter gasto 20.000€ num carro eléctrico (que supondo que dura 10 anos custa cerca de 5,5€/dia)?

Não convém esquecer que para aproveitar este beneficio o carro tem de estar parado.

Basta fazer umas contas. Será que é assim tão difícil?