sexta-feira, setembro 25, 2009

Coisas que é bom saber

Como já notei por aqui, o carvão é a fonte de energia eléctrica mais barata, e por isso é também a mais utilizada no Mundo, gerando 40% de toda a electricidade que se produz no planeta. Em Portugal temos duas centrais a carvão, em Sines e em Abrantes (Pego), capazes de gerarem só elas 30% de toda a electricidade portuguesa, cada uma mais que todas as eólicas que temos.
Infelizmente, as centrais a carvão são também uma terrível fonte de Gases de Efeito de Estufa (GEE), estimando-se que produzam, só elas, 1/4 de todo o CO2 gerado pela actividade humana.
Por causa disto, e porque há muito carvão no planeta, há muito que se estudam técnicas de captura (ou sequestro) do CO2 das centrais a carvão. A ideia é extrair o CO2 dos fumos da central, liquefazê-lo e injectá-lo no sub-solo.
Não se trata de um problema para o qual exista alguma dificuldade tecnológica que não se saiba resolver, ao contrário do que acontece com as baterias dos carros eléctricos ou com os painéis fotovoltaicos. Existem soluções que se sabe (em laboratório) perfeitamente como funcionam, que podem vir ainda a ser muito aperfeiçoadas e, por isso, o único problema que subsiste à sua aplicação generalizada é vontade política. Vontade política de fazer os investimentos necessários à escala de centrais reais, porque a captura do CO2 vai encarecer significativamente essas centrais e reduzir-lhes o rendimento (parte da energia produzida vai ter que ser usada para a própria captura do CO2). Mesmo assim, todos os cálculos mostram que o carvão ainda continuará a ser mais barato que todas as fontes de energia renovável, apenas mais caro que o nuclear, relativamente ao qual é agora mais barato, e que as grandes eólicas em terra (on-shore) em locais de muito bom vento.
A EDP, e muito bem ainda que quase secretamente, considera vir a substituir a actual Central de Sines, que já leva 25 anos de vida e não durará muito mais anos, por uma dessas futuras Centrais a carvão com captura de CO2, embora com uma potência instalada menor que a actual - o que se justifica por, como disse, parte da energia do carvão se ter de gastar na própria captura do CO2 gerado.
Com a preparação dos novos acordos climáticos e a nova política da Administração Obama, os EUA - e a Ásia - preparam-se para lançar finalmente em força esta tecnologia incontornável, como se pode ver aqui. Em futuros posts hei-de voltar a este assunto, até porque esta tecnologia vai ser campo de batalha com os ecotópicos.

Outra coisa que é bom saber é que este ano de 2009 será o ano, desde a descoberta das gigantescas reservas do Casaquistão em 2000, em que mais reservas novas de petróleo foram descobertas. Claro que convém continuar a ser poupado e a não ter carros desnecessariamente gastadores mas, cada vez se vai confirmando mais que, parafraseando Mark Twain, as notícias do esgotamento para breve do petróleo poderão ser grandemente exageradas.
Leonardo Maugeri, um especialista da petrolífera italiana ENI e que é também professor do MIT, a cujo conselho consultivo em energia pertence, publica no número de Outubro da Scientific American (uma revista insuspeita de negacionismos climáticos) um artigo em que defende que o fim do petróleo não está, de facto, para breve, e por duas razões: a) por estarem em desenvolvimento tecnologias de extracção que permitem aumentar os actuais 30% que se conseguem extrair do sub-solo para 50%; b) por tudo indicar que ainda há muito petróleo por encontrar.
Eu já falei disto aqui, e Maugeri também considera que o "pânico" do fim breve do petróleo serve apenas para estimular a especulação financeira com o mesmo e que, a haver alguma falta de petróleo no mercado internacional, é por falta de refinarias, o que aliás o Presidente da GALP e antigo jovem catedrático da FEUP, o Prof. Doutor Eng.º Ferreira de Oliveira também afirmou numa entrevista dada à Televisão em 2008 e de que me lembro muito bem.

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Professor,
Não consigo partilhar do seu entusiasmo pela tecnologia de CSC, ainda está muito longe da maturidade, e apesar do elevado esforço da UE até 2020 apenas existirão no terreno instalações experimentais. E existirão no mundo assim tantos sites com as condições geológicas adequadas para que a tecnologia possa ser facilmente replicada?

Mas concordo consigo num aspecto, o carvão é demasiado abundante e não poderá ser desperdiçado. Não acredito que as economias que o têm o vão abandonar, a prova é que, aqui ao lado, a Espanha prepara-se para obrigar os produtores de electricidade a consumir o pouco e caro carvão nacional, colocando a produção das centrais a carvão com prioridade e fora do mercado.

Francisco

Pinto de Sá disse...

Caro Francisco,
Eu não tenho nenhum entusiasmo pelo CSC (Carvão com Sequestro do Carbono). Não alinho por esta ou aquela tecnologia por razões emocionais. Aliás, não tenho clube de futebol e a única equipa por que torço incondicionalmente é pela selecção nacional...!
Não alinho nos futebóis das renováveis, nucleares, hídricas ou carvão limpo; o que me interessa é clarificar o que é melhor para Portugal e o povo português!
Acontece, precisamente, que as paixões (e interesses) estão praticamente reduzidos ao pró-renováveis e ao pró-nuclear. E é por isso que se faz crer que o CSC está demasiado atrasado, e se possível nem se fala nele!
Ora, pelas razões que expus (tecnologia sem problemas) e por as forças políticas pró-carvão serem demasiado poderosas, dado o facto incontornável dele ser A FONTE DOMINANTE DE ENERGIA ELÉCTRICA NO MUNDO e de não ter nenhum problema de abastecimento e/ou preço, é que estou convencido que o carvão limpo vem aí e vem muito depressa.
Se seguir o hyperlink que postei, verá que todos os construtores de centrais a carvão planeiam que dentro de cinco-dez anos, no máximo, TODAS AS NOVAS CENTRAIS A CARVÃO SERÃO COM CAPTURA DE CARBONO!
Acresce a isto outro facto que não abordei e que reservo para outro post especialmente dedicado a estas centrais: é que a China, cuja energia eléctrica também vem principalmente do carvão, já faz de longe as melhores centrais (de alto rendimento, super-críticas) e está também fortemente empenhada no assunto - aliás, se reparar, a notícia do hyperlink fala da roda-viva de visitas asiáticas a esta central americana!...
Eu acho que isto é o tipo de facto que há muita gente interessada em esconder, por cá, e embora eu não tenha a certeza de se será melhor que o nuclear nas muitas vertentes a considerar, nem de se será um facto que se resolverão todos os problemas técnicos, penso ser provável que sim.
A questão do sub-solo para enterrar o CO2: eis precisamente o que acho ser um tema crucial para um bom projecto de Investigação em Portugal!
Investigação a arrancar JÁ, para daqui a 5/10 anos se saber com precisão qual a situação do nosso território e os interesses dos lobbies das renováveis não poderem depois invocar que essa é uma tecnologia de que não se sabe nada, como fazem hoje com o nuclear (embora de renováveis também se não saiba nada, debaixo da espuma da propaganda).

Anónimo disse...

Mais uma vez o velho problema. Como não temos tecnologia própria de produção de energia (com honrosa excepção feita à hídrica de outros tempos) somos obrigados, enquanto país, a comprá-la ao estrangeiro.

Estando na posição de comprador devemos optar pela melhor relação custo/beneficio e não descartar qualquer hipótese por motivos sentimentais.

Os nossos políticos ainda não se aperceberam que as decisões que tomam têm um impacto duradouro de várias gerações (neste caso na forma de dívida externa).

E as pessoas ainda não se habituaram (nem muitas vezes têm a informação necessária) a julgar os políticos pelas decisões que tomam e cujo impacto não é imediato.

Jorge Oliveira disse...

Caro Prof. Pinto de Sá

A propósito da tecnologia de captura e sequestro do carbono (CCS, na sigla inglesa), não sei se terá conhecimento da opinião do reputado colega, Prof. Delgado Domingos:

1 - Trata-se de uma solução altamente centralizadora e perversa, defendida em nome das gerações vindouras, mas às quais apenas pode vir a deixar ameaças sob a forma de resíduos.

2 - Ainda que a CCS fosse uma solução economicamente viável, exigiria que os biliões de toneladas que ficariam armazenados nunca se libertassem para a atmosfera nas próximas centenas de anos.

3 - A CCS apenas se preocupa com o CO2 (que não é um poluente), consumindo de 15 a 40% da energia produzida só para o separar e liquefazer.

Qual é o seu comentário, se é que tenciona partilhá-lo com os seus leitores?

Cumprimentos
Jorge Pacheco de Oliveira

Pinto de Sá disse...

Caro Eng.º Jorge Oliveira,
Espero dedicar um post desenvolvido a esta tecnologia, quando tiver tempo. Aliás como ao nuclear...
Mas respondendo:
Eu tenho em muita consideração as opiniões do Professor Delgado Domingos, que são em geral cuidadosamente fundamentadas, mas nem sempre isentas de erros.
Neste caso, porém, concordo com os factos que ele enumera mas não com a perspectiva que ele tem deles.
Certamente, o carvão terá sempre resíduos, sejam as cinzas, seja o CO2 no ar ou enterrado. O nuclear também. Tudo tem.
O facto é que a própria vida produz resíduos. Nenhum mamífero, para já não falar nos seres humanos, pode existir sem defecar e urinar. É sujo e poluente? É. Mas é inevitável.
O que a Civilização faz é gerir esses resíduos de forma que não causem dano aos Homens e ao ambiente. Criámos esgotos. Fazemos aterros sanitários. Saneamento básico. Sem esgotos, por exemplo, os dejectos humanos criam cólera, como na Idade Média criavam epidemias. Agora sabemos evitar isso.
O mesmo se passa com os resíduos industriais que, a meu ver, não passam de uma extensão dos dejectos humanso, produzidos pela inevitabilidade da vida. E, portanto, o mesmo se passa com os resíduos do carvão e do nuclear.
Diz o Professor Delgado Domingos que ninguém garante que, daqui a centenas de anos, o CO2 não se desenterre. O mesmo se pode dizer quanto ao nuclear.
Mas aqui penso que estamos perante um raciocínio "mecanicista".
Daqui a centenas de anos, se porventura isso acontecer, a Humanidade já não estará neste grau de Civilização mas muito mais adiante, e se agora conseguimos resolver o problema provisoriamente, daqui a centenas de anos, se for o caso, muito melhor saberemos dar conta dele!
Por isso, qualquer problema que fique resolvido para mais de cem anos, para mim está resolvido!
Cumprimentos!

Jorge Oliveira disse...

Caro Prof. Pinto de Sá

Uma sábia resposta.

Embora suspeite de que os detractores da solução nuclear (entre os quais se encontra, como sabe, o próprio Prof. Delgado Domingos) não apreciem muito a sua conjectura respeitante ao período de cem anos...

Em todo o caso, fico a aguardar o seu oportuno desenvolvimento das perspectivas colocadas pela tecnologia CCS.

Cumprimentos