Uma corrente ideológica domina hoje em Portugal as estratégicas opções energéticas do país: o ecologismo utópico, ou ecotopia!
A ecotopia fantasia um futuro romântico que combina a vida frugal e saudável com a magia tecnológica.
A ecotopia visiona um quotidiano bucólico, cheio de pastos verdes com ovelhinhas "biológicas" e painéis fotovoltaicos nos telhados das casas rurais, acolhedoras e floridas.
A ecotopia imagina multidões a deslocarem-se calmamente de bicicleta pelas ruas das cidades coloridas a caminho dos escritórios.
A ecotopia devaneia com as paredes das suas futuras casas rurais decoradas com gravuras de torres eólicas em horizontes verdes, muito verdes e soalheiros.
Na ecotopia, não haverá engarrafamentos de automóveis, porque a magia tecnológica e a reformatação do homem novo terão abolido a necessidade de deslocações de automóvel.
Na ecotopia não haverá doenças, porque "a vida saudável" eliminará a poluição, os pesticidas e os adubos que as causam.
A ecotopia tem uma utopia: um mundo ecológico. Verde. Muito verde e feliz.
Os ecotópicos querem-nos cobrir os telhados das casas com painéis solares, mesmo que a electricidade daí resultante seja 10 vezes mais cara que a que actualmente pagamos e os painéis deixem de funcionar ao fim de 3 anos.
Para os ecotópicos só haverá energias renováveis: sol, vento e água.
Os ecotópicos querem-nos fazer comprar carros eléctricos para depois os deixarmos em casa a carregar e a descarregar as baterias para estabilizar a energia eléctrica que só haverá quando houver sol, ou vento, ou água nos rios.
Os ecotópicos depois vendem-nos as baterias desses carros eléctricos que teremos de mudar de 3 em 3 anos, mas retomam as baterias velhas para reciclar.
Os ecotópicos vão proibir a circulação de carros nas cidades, pelo menos a quem não possa pagar os altos preços dos parquímetros, por causa das alterações climáticas.
Os ecotópicos querem-nos fazer levar os nossos filhos à escola de metro.
Os ecotópicos querem-nos instalar contadores de energia "smart" com tarifas variáveis a cada momento e que estarão sempre mais caras à hora em que precisarmos de ligar a máquina de lavar roupa, ou as luzes do escritório à noite, ou a torradeira de manhã. Para nos encorajar a sermos homens novos.
Os ecotópicos já mandam no Mundo Ocidental e estão a proibir que se estudem outras soluções contra a emissão de CO2, como o nuclear seguro e o carvão limpo.
Os ecotópicos são fortes e conseguiram chegar subrepticiamente ao poder. Surgiram nos anos 80 e têm a sua base principal na Alemanha, mas os herdeiros dos hippies americanos também são ecotópicos.
Todos os dias vários canais da TV nos martelam programas de propaganda ecotópica dizendo-nos que é o que já se faz "lá fora".
Os ecotópicos apresentam-se sempre com propagandistas jovens, para nos fazerem sentir que é com eles que está o futuro.
Os ecotópicos querem fazer de nós homens novos compatíveis com os amanhãs que cantam com que eles sonham.
Para nos mudar, os ecotópicos precisam de nos vigiar.
Os contadores "smart" vão saber tudo sobre os nossos hábitos caseiros de consumo energético.
E os chips que vamos ter nos carros vão permitir saber tudo sobre as nossas deslocações.
O que se vai somar ao que já sabem sobre como, onde e em quê gastamos o nosso dinheiro.
E a todas as conversas que temos ao telemóvel e que ficam gravadas durante um ano.
E quem não for ecotópico não terá direito a nada por parte do Governo.
E tudo o que se fizer dependerá da concordância do Governo.
E isso será verdadeiramente o Admirável Mundo Novo, mas em verde!
O Governo é ecotópico e tem nisso a sua melhor bandeira.
A oposição critica o Governo em muitas coisas, mas concorda que ele age bem no que diz respeito "ás energias renováveis e às tecnologias", ou seja, à ecotopia.
Marcelo Rebelo de Sousa elogia no Governo a ecotopia.
O "Compromisso Portugal" elogia no governo a ecotopia.
Até Pacheco Pereira já louvou no Governo a ecotopia.
As empresas também são todas ecotópicas, agora.
A EDP é ecotópica e tem como seu grande projecto tecnológico o que o Governo lhe mandou fazer: o Inovgrid ecotópico.
A EFACEC é ecotópica porque o Governo lhe deu a construção dos pontos de abastecimento dos ecotópicos carros elécticos.
A Novabase é ecotópica porque vai desenvolver o sistema de gestão desses pontos de abastecimento.
A Critical software também lá está e por isso é ecotópica.
Os "empresários do norte" almoçam com o ex-ministro da Ecotopia Manuel Pinho, e são todos ecotópicos também.
Por causa da Martifer e das fábricas de componentes eólicos de Viana do Castelo.
E da força que foi dada ao INESC-Porto na justificação da política ecotópica do Governo.
E de outras razões com que o Governo, ecotopicamente, escolhe a quem distribuir as receitas dos impostos que pagamos.
As Universidades também são todas ecotópicas, agora.
Há dinheiro a rodos para I&D em temas ecotópicos, como as "smart grids".
E há muitas revistas onde publicar temas ecotópicos.
E os media também são ecotópicos, ou porque estão a mando, ou porque simplesmente há muito que deixaram de ter gente conhecedora a escrever lá.
Por isso, não há uma única voz que se erga a questionar a ecotopia. Exceptuando uma curta coluna quinzenal no Expresso do cavaleiro solitário Mira Amaral...
Mas os ecotópicos não mandam e jamais mandarão na China!
Nem na Índia!
Nem na África!
E haverá sempre quem resista à ecotopia.
Este blog publicará uma série de artigos desmontando a visão ecológica utópica da tecnologia e da energia, nos próximos tempos.
Porque acredito na racionalidade da modernidade e me assumo como adversário do pensamento mágico pós-moderno que suporta a ecotopia.
E porque prezo o direito dos mais fracos à verdade e à liberdade.
12 comentários:
Força com esse propósito.... é um serviço prestado à Nação. Talvez os ecolorpas deixem de o ser...
A decisão de excluir a energia nuclear do "mix" nacional só pode conduzir à libertação de mais CO2 e aumento do preço da electricidade a médio e longo prazo em Portugal.
Não queria deixar de referir que os Franceses parecem estar a escapar à ecotopia. Pelo menos vão investir em mais centrais nucleares.
Tenciono vir a falar do nuclear e também do carvão limpo, as duas futuras fontes de energia eléctrica não-poluentes capazes de a longo prazo complementarem racionalmente as eólicas e as hídricas (a curto prazo temos as de ciclo combinado, prouvera que os russos ou os muçulmanos não nos cortem o gás).
Mas é verdade que a França está numa excelente posição para tentar liderar o inevitável "boom" do nuclear.
Porém, mesmo nos campeões das renováveis, como a Alemanha, a Dinamarca ou até a Espanha, há que ver que eles têm apostado nelas sempre com o objectivo de com isso alavancarem uma poderosa indústria exportadora e líder de mercado - vd. o meu post sobre "Portugal, a Albânia do ecologismo".
Pode até ser que sejam de facto ecologistas, esses países, mas ao mesmo tempo o certo é que procuram ganhar dinheiro com isso e têm-no conseguido, ao contrário de nós que fazemos figura de completos parvos!
Só uma precisão adicional, que não me expliquei bem:
A curto prazo, o ciclo combinado resolve o problema técnico da necessidade de centrais de produção estável, contra a intermitência das eólicas e das hídricas.
Mas, obviamente, não resolve o problema do CO2, embora emitam menos que as a carvão (mas a custo superior).
Centrais estáveis e sem CO2, só de facto o nuclear, que está testado, e a "descarbonização" - tando do carvão como do gás, e também das outras indústrias que emitem muito CO2, como as cimenteiras, a siderurgia e as refinarias.
Ainda ontem vi o actual presidente da câmara de Lisboa a defender com "unhas e dentes" o suposto "progresso" nas energias renováveis.
Fez-me lembrar um artigo deste blog sobre a comparação entre a Albânia e as renováveis portuguesas.
Subscrevo!
Parabéns pelo blog.
Ecotretas
Passei por este blog por acaso, redireccionado de "ecotretas". Achei as ideias do autor claras e interessantes, pelo que o vou recomendar aos meus amigos.
Quanto aos automóveis eléctricos penso que serão um falhanço pela simples razão de que as pessoas comuns não os comprarão. Eu tenho um carro híbrido, mas não ganhei grande coisa em termos de consumo. As baterias esgotam-se rapidamente e não há controlo manual sobre o sistema. Assim, o sistema começa a recarregar automaticamente usando o motor a gasolina, de modo que é frequente ter as baterias completamente carregadas antes de uma descida em que poderiam ser carregadas. O peso das baterias é um peso morto que tenho que carregar sempre, de modo que o pouco que se recupera nas travagens é desperdiçado carregando esse peso extra. Feitas as contas, não ganhei nada, e o ambiente (supondo que o CO2 é um problema, o que não está demonstrado!) também não!
Resta-me a "vaidade" de conduzir um híbrido!!!
Espero que esta onda verde seja apenas uma moda passageira até que as pessoas comecem a pensar pela própria cabeça e não pelos comentários que vêm na TV, encomendados e feitos com o propósito de atingir essas pessoas e as levar a aceitar impostos sem protestar.
Porque os subsídios que se pagam saem dos bolsos dos contribuintes.
Não sou contra o aproveitamento das energias renováveis, mas não percebo porque se exclui a energia nuclear. Afinal temos centrais em Espanha, bem perto de nós, e importamos energia produzida por centrais nucleares em Espanha e França. Não vejo qual a lógica! Mas os deuses têm os seus segredos, inacessíveis a nós, pobres mortais ignorantes.
Caro "José",
Espero que não me tenha interpretado mal até aqui e que leia MELHOR o que tenho escrito, porque não concordo com a maioria do que diz. Senão, vejamos:
1) Claro que o carro híbrido poupa. É das mais elementares leis da Física - que eu já expliquei como funciona - e a questão do peso das baterias é irrelevante. O peso só aumenta a inércia e, com ela, a energia cinética, mas se é precisa mais para acelerar também se recupera mais na travagem, pelo que globalmente é irrelevante, dada a travagem regenerativa que caracteriza os híbridos. Se a si não lhe adianta muito é porque, também como já expliquei, ele só poupa nas travagens, portanto no pára-arranca urbano. Se faz sobretudo auto-estrada, aí a solução mais eficiente é o Diesel, que tira mais energia da combustão por ter uma maior taxa de compressão nos cilindros.
2) O problema do CO2 está demonstrado. Já percebi que o "José" (falso anónimo) é um militante extremista anti-climático. Pensa mal se considera que temos alguma coisa em comum nessa matéria.
A minha divergência com os ecotópicos é contra o lado UTÓPICO da sua ecologia, não contra a ecologia propriamente dita.
E nisso eu e o "José" estamos nos antípodas.
O que me distingue dos ecotópicos é que o que distingue um reformista dos revolucionários, perante o problema das alterações climáticas. O "José", neste contexto, está do outro lado, dos que negam o problema. Isso já aconteceu antes na História com muitos problemas: a segregação racial, a discriminação das mulheres, os direitos dos trabalhadores, etc. A prazo, ganharam sempre os reformistas.
3) Na "onda verde" há modas passageiras (a ecotopia) mas há mudanças que vêm para ficar. A Conferência internacional prevista para o fim deste ano será decisiva.
4) As suas observações relativas ao nuclear são destituídas de sentido. A sua discussão ainda nem começou, mas há-de começar em breve. Pessoalmente, porém, tanto me faz o nuclear como o eólico; o que me interessa é saber qual deles cria mais emprego e mais riqueza para os portugueses. E por enquanto, não vejo diferença.
portanto, pode-se depreender pelo ultimo comentario que o senhor acredita no aquecimento global de origem antropogenica?!
cumprimentos
Caro "João Pedro", aliás "José", aliás "Anónimo": não sou um homem de "acreditar". Sou um homem de Ciência.
Leia o meu post aqui:
http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/2009/07/alteracoes-climaticas-e-o-g8-porque-vao.html
Concordo com a crítica à ingenuidade utópica de algum discurso ambientalista que acompanha normalmente os discursos comodistas típicos da racionalização do reaccionarismo do outro lado da bancada.
Alguns pontos para debate:
1. Viver no mundo rural como empreendedor e com gosto é um bucolismo disparatado? Pergunto como investidor e empresário do mundo rural- com preocupações ambientais- no campo da agricultura biológica (exportadora, já agora, para outros palermas "ecotópicos" do Norte). Há muito espaço e mercado para muito mais gente aparvalhada como eu, que queira viver bem e no interior, cá com as "ovelhinhas". Provavelmente também serei frugal para os seus padrões (?), mas sinto-me milionário, mesmo que imbecil "ecotópico".
2. Não conheço muitos no ambientalismo que apoiem carros eléctricos, fantasia imaginada por políticos à procura de credenciais ambientais. Conheço por outro lado muitos que apoiam esse veículo eléctrico de que ninguém fala e que definha em Portugal- o comboio. É bastante mais eficiente do qualquer carro e a manutenção e construção da sua infraestrutura é uma fracção da rodovia. Aconselho-o a fazer umas contas neste campo.
3. Parabéns por conseguir desmontar habilmente as falácias da microgeração e dos carros eléctricos. Agora pergunto porque que é o "bébé" das renováveis vai com a "água do banho" da microgeração? Ou é preferível encomendar ad infinitum gás argelino ou petróleo dos Chavez e Ayatollahs deste mundo para co-geração(o petróleo está em 90$ e a subir, já agora).
4. Essa do acusar alguém (o "homem de palha"?) de impedir os carros de entrar nas cidades por causa das alterações climáticas é bombástica. Os carros devem ser impedidos de entrar em algumas zonas específicas das cidades (que cidade impediu todo o trânsito, a "cidade de palha"?) em que a vivência é posta em causa pelo carro, normalmente centros históricos ou ruas comerciais pedonais. Nas restantes bastava eliminar o estacionamento gratuito, por outras palavras, a ocupação privada do espaço público.
5. Usar os transportes públicos, o meio de transporte seguro, económico e eficiente no meio urbano? Para levar crianças impressionáveis? O Horror! Tem um talento inquestionável a fazer contas comparativas, compare lá então o carro individual com o metro em segurança (mortos e feridos no meio urbano por km percorrido), gastos energéticos e economia. Ponha esse pragmatismo científico a trabalhar.
6. Querem encorajar a desperdiçar menos energia em casa? O Horror! É um sacrifício não desperdiçar mais energia do que a necessária, isto porque estamos num país opulentamente rico e que não importa 90% da sua energia, claro. Deve sem dúvida sair mais barato construir uma central nuclear, barragens e eólicas para produzir os 20% que podíamos poupar sem sacrifícios. Qualquer outra coisa é de um fascismo irracional, obviamente.
7. Os ecologistas proibiram a investigação nuclear, pois claro. Então os ecologistas não controlam a sociedade? Tantas vitórias legislativas que tiveram os ecologistas, todos os seus desejos são satisfeitos e já vivemos num mundo em que ninguém desperdiça nada, todos os PIN em zonas protegidas foram evitados, RAN e REN são respeitadas, a biodiversidade prospera sem excepções e temos um sector pesqueiro, florestal e agrícola completamente rentável e sustentável. Tudo por causa do gigantesco poder opressivo e sem oposição dos ambiento-fascistas. Querem pôr-nos uma câmara no wc para verem se fazemos compostagem e mandam-nos para a prisão se não comermos o bróculo biológico, através dos violentos "Camisas Verdes".Topou-os bem o blogger-herói.
(cont.)
(cont.)
Confunde-se aqui a canalha monopolista empresarial e política que faz do ambiente um chavão de marketing sem sentido com ambientalismo. Quantos são ou foram ambientalistas? Que comportamentos têm?
Seria justo compará-lo da mesma forma a um teórico da conspiração da falsa aterragem lunar e dizer que está aqui a soldo das petrolíferas?
Vou arriscar e dizer que nunca foi a uma reunião de uma associação ambientalista- pode vir, são totalmente abertas. É esta a nossa ética ditatorial particular- estamos abertos a todos e reunimo-nos em locais que saiam baratinhos.
Continue o bom trabalho no ataque à manipulação tecno-utópica (não tem nada a ver com "eco")de uma certa classe empresarial e política!
Pedro M.
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