sexta-feira, dezembro 04, 2009

De novo as patentes: a propaganda e a triste realidade

Num entusiasmado editorial do Expresso, o jornalista Nicolau Santos manifesta a sua felicidade pelo grande salto em frente que o nosso país estará a dar, com o presente Governo, em matéria de Investigação & Desenvolvimento, o que seria tanto mais admirável quanto o nosso país seria avesso ao risco e à Inovação, segundo ele.
Nicolau Santos alinhava os grandes números a que já estamos habituados e que eu já desmontei aqui e aqui e noutros posts anteriores, mostrando que não passam, no que respeita às empresas, de pura mistificação contabilística.
Porém, e contradizendo o que eu notara no último dos posts para que hyperlinko acima, a dado passo Nicolau Santos afirma, certamente porque alguém lhe mentiu isso (ao estilo da propaganda de Goebels), que com este Governo face a 2004 Portugal aumentou 3 vezes o número de patentes registadas na União Europeia!

As patentes registadas na Europa por país de residência na última década podem ser consultadas aqui. São as patentes provenientes de um enorme número de países, totalizando uma população de cerca de 2200 milhões de habitantes. Junto o gráfico construído a partir destes dados, que mostra que:
  1. A linha a encarnado é a evolução da totalidade das patentes. Como é visível, há um crescimento geral mas com irregularidades, com grande probabilidade devidas ao próprio funcionamento do Gabinete de Registo de Patentes. Assim, a partir de 2003, inclusivé, há quase uma duplicação do número de patentes anuais registadas provenientes de todo o Mundo. Essa quase duplicação que ocorreu em 2003 e depois se manteve, também afectou as patentes portuguesas (a verde) e as espanholas (azul) e, portanto, deve ser vista como um bias do próprio processo de registo de patentes, e não tirar dali nenhuma conclusão para cada país particular.
  2. As linhas representando Portugal (verde) e Espanha (azul) foram normalizadas por mim para as respectivas populações, para se terem termos comparáveis. Concretamente, os números portugueses foram multiplicados por 220 e os espanhóis por 58, para ter em conta as respectivas populações.. Os gráficos mostram, assim, o número de patentes per capita.
  3. Como é evidente, e em relação a Portugal:
  • O nosso número de patentes per capita é uma ordem de grandeza inferior ao da média dos países registados;
  • É também significativamente inferior ao de Espanha, na verdade apenas cerca de 1/5 (per capita, note-se!);
  • Portugal estagnou, desde 2003, que foi o melhor ano de sempre; não houve aumento desde 2004 e muito menos uma triplicação!
  • O aumento que se verificou em 2003 relativamente ao passado resulta de alterações no processo europeu de registo de patentes, visto que o mesmo aumento beneficiou toda a gente. Pelo que se pode concluir que, descontando esse bias, de facto Portugal está estagnado desde 1999.

2 comentários:

Miguel Carvalho disse...

Eu não percebo como diz que desmontou o que quer que seja no que toca aos números da I&D.

Não ponho em causa que haja valores que eu não classificaria como I&D, ou seja não ponho em causa que a I&D seja mais baixa em Portugal, mas o que me interessa é a comparação com outros países.
Nada me diz que a mesma maquilhagem não seja feita em todos os países. Aliás, se o Eurostat aprova os números, só posso concluir que o tratamento é igual em todos.

Quando está em causa a comparação com outros países, dizer que há um exagero nos números portugueses, sem nunca explicar por que raio este exagero seria maior cá do que nos restantes 26, não vale de muito.

Pinto de Sá disse...

Faça o favor de ler com atenção os dados da Eurostat para que coloquei o hyperlink.
As referidas estatísticas abarcam 41 países, incluindo a China, os EUA, a Coreia, a Australia, o Canadá e, claro, os 27 europeus da União. Acha realmente credível que se tenham entendido todos para aumentarem o número de patentes registadas? Com que objectivo? Acha que a China, a Alemanha ou os EUA precisam de forjar estatísticas de patentes? Para quê?
Quem precisa de as forjar são Governos que querem mentir às próprias populações sobre o sucesso sócio-económico da sua política de I&D! E que Governos vê com essa preocupaçã e, portanto, com a motivação para a fraude?