quinta-feira, setembro 23, 2010

As forças das trevas mascaradas de cruzados ambientalistas

Um curioso artigo de opinião foi há dias publicado no NYT, descrevendo as tácticas das companhias promotoras de parques eólicos para conseguirem a anuência dos proprietários de terrenos à respectiva instalação, nos EUA. A história ali contada lembra as daqueles filmes que romanceiam conspirações de malévolas corporações para enganarem os cidadãos apenas por causa do lucro, e a que o autor do artigo chama de "forças das trevas mascaradas de cruzados ambientalistas" (parece que partilha o ponto de vista do meu manifesto anti-ecotópico)!...
E, no entanto, esta descrição de como os cidadãos do Midwest se vão dando conta com alguma impotência da instalação de torres nos seus quintais que lhes estragam a paisagem e que fazem um ruído insuportável para sempre, mostra que a opinião pública americana não é nada favorável à proliferação destas ventoinhas. Pelo menos no seu quintal...
Vale a pena e a propósito acrescentar que há outra tecnologia energética que está a fazer crescer as genuínas preocupações ambientais nos EUA: a da extracção do gás natural dos jazigos xistosos. Com efeito, essa tecnologia recente que mereceu a distinção pelo MIT, em 2009, da maior descoberta do ano em tecnologias energéticas, e que de repente multiplicou por uma ordem de grandeza as reservas mundiais de gás natural economicamente extraível, tem alguns senãos: baseia-se na injecção a alta pressão de uma mistura de água e de alguns produtos químicos que desfazem ("crackam") os xistos, libertando o gás. O problema, já detectado e que pode vir a tomar proporções alarmantes, é a contaminação dos veios de água subterrâneos por esses "químicos"...
Este estado de espírito popular soma-se à resistência do Congresso americano em fazer subir o custo da (barata) electricidade americana com subsídios às renováveis, a que se junta a escassez de crédito que, em conjunto, fizeram já cair a pique neste 2010 os investimentos americanos em eólicas, como noticiei aqui. Tanto mais que nos EUA a imposição governamental de tarifas para a produção de electricidade, tão praticada por cá, é proibida por lei...
E isto leva-me a deduzir que são precisamente estes sinais de uma possível catástrofe eminente para os biliões investidos pela EDP em eólicas nos EUA que explicam o extraordinário esforço de marketing português nos EUA nesta matéria - e que tem incluído desde a "encomenda" de artigos de opinião favoráveis à política energética portuguesa no NYT e ao próprio embaixador americano (no Público, em Agosto), ao curso de Manuel Pinho na Columbia University pago pela EDP, e finalmente à deslocação do próprio 1º Ministro de Portugal a Nova Iorque para uma sessão de marketing destes investimentos...
Oxalá me engane, mas suspeito que no próximo Verão não haverá vento!

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