quarta-feira, junho 01, 2011

Os biólogos de Chernobyl e o novo emprego dos engenheiros nucleares alemães

Após o post que escrevi ontem sobre o destino da população de Pripyat, algumas questões de leitores levaram-me a uma busca mais detalhada sobre as investigações levadas a efeito na zona de exclusão de Chernobyl (um círculo com 30 km de raio) por biólogos internacionais.
Existe um estudioso ucraniano lá, o Dr. Sergej Gashak, que colaborou com várias equipas internacionais de cientistas, uma delas de cientistas da Universidade do Texas que publicaram vários trabalhos de invulgar rigor, como este aqui.
Outro paper deles de rara honestidade intelectual, publicado em 2007, adquiriu grande notoriedade e merece especialmente ser lido: Growing up with Chernobyl.
Estes investigadores tinham sido responsáveis pela atribuição de certas variações genéticas em animais de Chernobyl a mutações causadas pela radioactividade, publicada na Nature em 1996, e vieram mais tarde a concluir que se haviam enganado e que essas mutações não existiam, coisa que narram neste paper e de que se retrataram com rara honestidade intelectual na própria Nature em Novembro de 1997.
Basicamente, os trabalhos deles apontam para a conclusão de que, efectivamente, baixas doses de radiação prolongada são pouco absorvidas e não causam danos patológicos visíveis na fauna, embora causem efeitos detectáveis no ADN mitocondrial.
Após a redução da radioactividade inicial que "pintou de vermelho" a floresta da zona, a vida tem florescido saudável em Chernobyl e o sarcófago do malfadado reactor está agora cheio de ninhos de pássaros (na figura, fotos da fauna actual de Chernobyl).

Alguns outros biólogos que andaram por Chernobyl tiraram conclusões diferentes, como uns que concluíram por uma redução do tamanho da cabeça de certos pássaros em 5%, que atribuíram a uma mutação radioactiva. Mas os texanos questionam os métodos deles, e Dr. Gashak, que os ajudou no terreno e viu o seu nome incluído nos papers deles sem sua autorização, contesta essas medições de cabeças e o rigor com que foram feitas.
Entretanto, como se sabe, a Alemanha anunciou que os seus reactores nucleares serão definitivamente fechados em 2022. Apesar disto ser uma medida reversível e sem efeitos práticos imediatos, o Secretário Geral da Agência Atómica chinesa, Xu Yuming, apressou-se de imediato a oferecer emprego aos engenheiros e cientistas nucleares alemães: ‘We invite the German specialists to research for us in China and to work. The German nuclear plants are among the best in the world, the engineers and scientists have a great reputation’.
O vento sopra do Oriente e a "Europa" que se cuide!

3 comentários:

vials disse...

Tem que haver uma solução!

Anónimo disse...

em 1º lugar os meus parabens pelo excelente blog.

mas ha aqui uma tendencia em arranjar e mostrar os factos alinhados de forma a aferir a segurança das centrais nucleares.

não o são e nunca o serão

quanto a chernobil, você já visitou o museu de chernobil? o "freak show" de bichos anormais em frascos de alchool é impressionante.

por favor não diga que so aumentaram os niveis de cancro da tiroid em garotos

ps: eu apoio o nuclear, mas com consciência dos riscos, enquanto não chegarmos à fusão nuclear qq processo de fissão é roleta russa

Pinto de Sá disse...

Os factos que apresento sobre Chernobyl baseiam-se estritamente em informação das entidades internacionais mais credíveis, tais como a Organização Mundial de Saúde, ou as próprias autoridades sanitárias ucranianas.
Se digo que só houve aumento de cancro da tiróide, é por que isso é o que essas autoridades concluíram, ao fim de 25 anos de observação, com dados e estudos para que postei os respectivos links.
E você, baseia-se em quê, para sustentar o contrário?
Quanto às suas expectativas relativas a centrais de fusão nulcear, é o mesmo que atirar para "o dia de são nunca" a energia nuclear, além de que nada garante que venham a ser mais seguras, quando existirem, que as actuais de 3ª e as próximas de 4ª geração (de cisão).