sábado, abril 03, 2010

A defesa do curto-prazo e do não-planeamento energético é a demissão do interesse pátrio

Alguns media noticiaram esta semana a apresentação próxima de um Manifesto pedindo a revisão da Política Energética Nacional e criticando os incomportáveis custos da subsidiação corrente à política pró-eólica e pró-fotovoltaica do Governo. O Manifesto ainda não foi apresentado, mas já começaram as vozes críticas ao mesmo.
Num blog ambientalista acusa-se o anunciado e por-apresentar Manifesto de ser pró-nuclear encapuçado e de não discutir a eficiência energética e uma data de outras coisas de que se pode sempre reivindicar a inclusão conforme bem se entenda, e no Expresso o ex-ministro da Economia Manuel Pinho diz que embora não tenha visto no tal Manifesto (ainda por publicar) nenhuma referência ao nuclear, também não vale a pena discutir esse nuclear porque ele só daqui a muito tempo estaria pronto (10 anos) e porque a Agência Internacional de Energia diz que a actual política energética portuguesa é do melhor que há.
É sobre esta posição de Manuel Pinho que quero deixar um par de comentários, já que quanto à Agência Internacional de Energia, como não é ela quem tem de pagar os custos da energia portuguesa nem todos os outros prejuízos para Portugal da ausência de uma estratégia energética, industrial e tecnológica integradas, a sua opinião vale zero. Todos sabemos como opiniões gratuitas destas se obtêm com um convite para uma visita a este país de boas praias e melhor mesa...
O que me indigna na posição de Manuel Pinho não é o que ele diz sobre o nuclear de que o tal Manifesto não fala, e que aliás é a repetição de um argumento que já outros arvoraram.
O que me indigna é a própria natureza do argumento: o de que qualquer coisa que seja para Portugal ter daqui a 10 anos não interessa considerar!
É que isto equivale, pura e simplemente, a recusar a actividade de planeamento como princípio, e é algo inconcebível num Estado que deve ter por razão de ser, precisamente, além da regulação dos interesses privados a defesa do que é o interesse da Nação, uma entidade que já tem quase 9 séculos de História e que há-de ser legada aos nossos filhos e netos!
Ora é precisamente por náo se ter feito este planeamento que enchemos o país de eólicas e só perto do fim nos lembrámos de criar alguma actividade produtiva e emprego à conta desse negócio para alguns! Obviamente, demasiado tarde! Coisa que nenhum, mas nenhum outro país fez!!!
O que me indigna neste argumento é, antes de mais, o ele ter sido aplicado à própria opção pelas energias renováveis e à forma como ela tem sido feita! E que tem sido, a meu ver, a pura demissão do interesse pátrio! 

2 comentários:

Anónimo disse...

Li o artigo do ex-ministro Manuel Pinho no Expresso.

Parece-me um pouco provinciana essa atitude de achar que está tudo bem só porque um estrangeiro ou um organismo internacional o diz. Quando muitas vezes estes apenas fazem um "favorzitos" em troca de apoios políticos.

De qualquer forma o tal artigo deixa muitas questões por responder. A maior das quais é o previsível aumento do preço da energia eléctrica.

Tal como foi referido neste "post" existe uma admissão indirecta (por parte desse ex-ministro) que não há planeamento energético em Portugal. Ou pelo menos planeamento energético com um horizonte mais prolongado que as próximas eleições.

Mais um factor que conduzirá à pobreza financeira do povo português...

Misugi disse...

Caro Prof.
Passo sempre pelo seu sitio, onde consigo aprender alguma coisa. Não percebo o medo do nuclear por parte de algumas gentes. A infra-estrutura pode ser cara, mas o custo da energia é bastante competitivo qd comparado com o fotovoltaico, que não é nada competitivo. E podemos ver o caso da França cuja energia é (ao q julgo saber) 80% de origem nuclear e não se queixa.
Por outro lado, este alarido todo em volta das hidricas, eolicas e afins é só conversa para entreter o povo. Tenho visto muito senhor com responsabilidades neste tema a confundir potência com energia o que torna o facto ainda mais triste.
Um bem haja