quarta-feira, abril 07, 2010

Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal

E pronto! O Manifesto foi finalmente apresentado ao público!
Temos site próprio e tudo, onde podem encontrar alguns documentos de suporte.
O documento em si podem lê-lo aqui.
A apresentação parece-me que correu bem, mas claro que os jornais dão a sua própria interpretação. Esta, por exemplo, é muito enviezada, mas já sabíamos de antemão em que trincheira nos iríamos encontrar depois. A Luísa Ferreira, por exemplo, queria que tivéssemos um programa integrado para a energia, o desenvolvimento tecnológico e o económico, como se fôssemos Governo, mas neste momento do que se trata é de desmontar as mistificações daquilo que se apregoa existir, e que não existe. Claro que temos as nossas próprias ideias sobre isso tudo, cada um de nós com as suas, mas não nos compete discutir isso agora.
O que pretendemos é que se discuta de forma aberta e transparente TUDO o que está em curso, que é o que não se tem feito.
Gostei de ver no grupo de subscritores o entusiasmado engenheiro Demétrio Alves, antigo Presidente da Câmara de Loures e conhecido militante do PCP, mas nao me safo de ser apontado como o tipo que escreveu um texto no Instituto Sá Carneiro (querendo com isso, obviamente, "provar" o caracter partidário da iniciativa), apesar de todos sabermos que foi aquele Instituto que veio buscar esse texto a este blog (com minha autorização, com certeza), e não o contrário...
Mas os ataques  já tinham começado há dias, mesmo antes da publicação do Manifesto, com Manuel Pinho no Expresso e Vasconcelos no Público e, como já esperávamos, depressa escalaram para a argumentação ad hominem,  como esta aqui. Que Mira Amaral e o Carlos pensaram em experimentar uma eólica off-shore há 5 anos; e depois? Os nossos adversários querem à viva força transformar esta disputa num pugilato ente a tribo pró-renovável e a tribo pró-nuclear, mas não vão ter sorte.
Eles querem "provar" que nós somos os lobbistas do nuclear para tornar normal o eles serem assumidamente lobbistas das eólicas e dos negociantes de fotovoltaicas.
Mas sós não somos "contra" as eólicas ou contra as renováveis. Somos contra a subsidiação sem sentido, a mentira com que se tem mascarado tudo isto e contra a falta de estudo, de ENGENHARIA em toda esta política (na verdade, este é um Manifesto de ENGENHEIROS). E não somos "pelo" nuclear.
Somos é por Portugal e pelo seu povo, e pela nobre arte da Engenharia!

10 comentários:

Misugi disse...

Caro Professor,
parabéns pelo Manifesto, está na altura dos especialistas em energia falarem de sua justiça. Chega desta fraude de que as energias renováveis são a salvação para o deficit energetico do país. Não sou especialista em politica energética, sou apenas um tipo interessado no assunto, mas entendo que um país não pode estar dependente do sol, da chuva ou do vento. Potencia instalada é uma coisa, disponível é outra e esta gente mistura tudo...enfim !
Mais uma vez parabens pela coragem de alguem ir contra a corrente e parabens pelo blogue. Deixo-lhe uma pergunta:
Quais as potencialidades do hidrogénio ? Como utiliza-lo ? Estado liquido ou gasoso ? E em que condições ? (Desculpe se for pedir muito). Um bem haja.

Anónimo disse...

Professor,

Pode me esclarecer uma dúvida que tenho já há alguns anos. Os preços contratualizados para as eólicas/solar, são fixos ? Ou seja, atendendo que a energia é injectada no mercado ibérico a preços que variam ao longo do dia, os produtores são remunerados a o preço do mercado ou ao preço de uma tarifa fixa ?

Por exemplo, tenho visto muitas vezes no site a energia a preço zero. Se a mesma for eólica, e o preço for fixo, quem suporta a diferença ?

Outro exemplo. Se existe excesso de produção de distintas fontes, e uma delas é a eolica e a outra, imaginemos nuclear, que energia é consumida preferencialmente ? A mais barata ou as "verdes" tem prioridade ? E quem toma essa decisão ?

Preço desculpa pelas perguntas, massão dúvidas de coisas que ainda não consegui perceber apesar dos meus esforço em procurar respostas. Isto a propósito de um texto que li em Espanha em que se defendia que as eólicas estavam afinal a fazer baixar os preços, pois nunca no mercado até hoje se viram tantos períodos nocturnos com o preço da energia a zero ou próximo disso, o que obviamente me baralhou bastante.

Obrigado desde já por qualquer ajuda.

Anónimo disse...

No seguimento do seu, e vosso, manifesto tenho debatido num fórum o tema.

Ao estudar os Docs. Existentes sobre o défice tarifário do ano de 2009, constatei vários dados que puderam ser relevantes ao estudo.

Dos 447 469 000, do défice do Regime especial de produção só 50% dizem respeito às eólicas, segundo:
http://www.erse.pt/pt/desempenhoambiental/rotulagemenergetica/pre/Paginas/default.aspx
A que corresponde a cerca de € 4,16 de encargo mensal, do ano de 2009, distribuídos por cerca de 5000 000 clientes, (INE em 2008 haviam 5.707.961 fogos, considerando 707.961 fogos sem ligação à rede electrica).
Mesmo que sejam mais € 8,32 mensais que tenha de pagar não me importo, embora não sirva de desculpa para banir os despesismos e a ineficiência eléctrica.

Já o défice tarifário do Serviço EDP Universal corresponde a uma média mensal de € 28,72 (só de 2009) se relacionar-mos só a eólica temos uma diferença de cerca de 1/7 da potencia do serviço universal.

Segundo a ERSe em 2008 o regime especial de produção alimentou 23% do consumo anual. Considerando um aumento de 2% em 2009 tivemos cerca de 25%
Conforme se verifica o Reg. Especial ficou em € 8,32, logo 8,32 X 4= 33,28.
33,28 – 28,72=4,56.
Conclusão: não me importava de pagar + 4,56 (além do défice que de uma ou outra maneira vou acabar por pagar) pelo total da energia produzida de fontes renováveis.

È evidente que fica mais barato comprar energia a Espanha durante a noite ou horas de baixo consumo, fica até mais barato que o preço KW da nuclear. E devia ser rentável bombear para as albufeiras e descarregar em horas de alto consumo (como acho que já o fazem), incluindo as perdas de 50% e custos de distribuição. Os cerca de € 0,06 por KW, remanescentes, deviam ser suficientes para lucrarem.

Penso que não me enganei muito a fazer as contas, estou com muita pressa e muito longe de ser Professor Universitário.

Carlos Santos

Pinto de Sá disse...

Misugi: quanto ao hidrogénio, encontra aqui um post meu sobre o assunto: http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/2009/09/o-carro-hidrogenio-ainda-se-lembram.html

Ao Anónimo: sim, a energia eólica (e das restantes renováveis, excepto as grandes hídricas) é paga a preço fixo, toda a que tiverem para vender. A comparação com o nuclear não faz sentido porque este não funciona assim, mas sim como as outras térmicas: vendem a preço de mercado e se o valor que o mercado lhes atribuir for nulo, obviamente desligam-se, porque quer dizer que não fazem falta.

Ao Carlos Santos: apresenta alguns números certos, mas noutros faz confusões.
É verdade que o peso das eólicas era responsável por só cerca de 50% do défice que menciona em 2008. O problema que o Manifesto ataca não é esse défice, mas o que vem aí, porque se no fim de 2008 tínhamos 2800 MW de eólics, no de 2009 já tínhamos 3500 e o plano do Governo é chegar aos 5700 e até mais! Ou seja, em breve esse défice resultante das eólicas será muito superior ao de 2008, em que em média houve menos que os tais 2800 MW. O Manifesto pretende actuar é sobre o futuro, e não desfazer o passado, porque para encaixar as novas eólicas há que ter barragens para bombagem, que não vão profuzir energia nenhuma (ou mais exactamente: a que vão produzir só dá para compensar as perdas da bombagem), e essas barragens também têm que ser pagas pelo consumidor - assim como a expansão da rede da REN para ligar os parques eólicos às barragens.
Já os números que apresenta para o custo de todo o Regime Especial estão confusos, porque o Regime Especial inclui diversas fontes que têm tarifas diferentes.
Quanto ao preço barato da energia de Espanha, não é mais barata que o nuclear; é precisamente o preço que lhes compensa ter, áparte o problema as eólicas deles.
Mas claro que o Sr Santos está no direito de não se importar de pagar o sobrecusto disso. Isso não deve é ser imposto aos portugueses subrepticiamente e enganando-os!

Anónimo disse...

Sim de facto enganei-me, neste caso contra as energias renováveis.
Passo a explicar, em 2008 a Produção do Regime Especial foi de 23%:
http://www.erse.pt/consumidor/ambiente/energiasrenovaveiscogemicro/Paginas/default.aspx
desses 23% 49% foram de eólica:
http://www.erse.pt/pt/desempenhoambiental/rotulagemenergetica/pre/Paginas/default.aspx

Correcto?
O Sr. Professor diz que a produção de eólica de 2009 cresceu para 28% (5/2=2,5) o que se reflecte num crescimento do regime especial para cerca de 25%.
Então temos 75% de défice da EDP universal a que corresponde a 1.723.151.000,00 e um défice de 25% do Regime Especial a que corresponde a 447.469.000,00.
1.723.151.000,00/75= 22.975.347,00 e 447.469.000,00/25= 17.898.760,00
Confirmável na ultima folha de:
http://www.erse.pt/pt/electricidade/tarifaseprecos/tarifasreguladasem2009/Documents/CImprensaTarifas2009FINAL16Dez08.pdf

Então se lá para 2014, ou proximamente, quando houver o tal aumento de 66% de energia eólica, sem considerar crescimento dos consumos e por efeito do aumento da eficiência, esses 66% de eólicas representarão 15% do défice que deverá descer para 2.094.471.200, relativamente ao défice total do regime universal e regime especial de 2009 que foi de 2.170.620.000,00.

Economicamente seria mais viável importar a energia de Espanha, mas eles tb tem um défice alto (acho que por volta dos 30%) vão ter de fazer alguma coisa, vender energia ao desbarato para PT não lhes deve reduzir o défice.

Também não sei se tecnicamente e contratualmente estão impedidos de colocarem interruptores automáticos e de fazerem duas tarifas para as eólicas (bio-hária), no entanto, só nada é que é imutável.

Se tiver errado nas contas, não seria a 1ª e muito menos a ultima vez, confirmem por favor?

Carlos Santos

Pinto de Sá disse...

Carlos Santos,
Esqueceu-se de contabilizar o sobrecusto que as novas barragens vão acarretar, barragens necessárias para viabilizar as novas eólicas...
Por outro lado, os 5/3 são relativamente às eólicas existentes no fim de 2009 (3540 MW), e não às existentes em média durante 2009 (umas 3100) e que produziram o défice desse ano.
Também falta o défice associado aos 1500 MW previstos de solar...
E ninguém defende a importação de Espanha como alternativa.

Anónimo disse...

Sim, mas acho demasiado estranho as barragens só produzirem pelas eólicas, bombagem.

Então elas, as barragens, não acrescentam nenhuma produção sem as eólicas, ou seja se for efectuada uma descarga na barragem anterior, sem ser proveniente das eólicas, essas novas barragens ou aumento de potencia das já existentes não produzem nada??

Então o défice da EDP Universal é todo do Regime de Produção especial, solar, eólica, minihidricas ou hídricas especiais, cogeração e microprodução PRE e outras. O resto funciona impecavelmente??
- Tenho as minhas dúvidas, o Sr. Prof. Sabe qual é o peso do défice do Regime especial no défice do Serviço Universal??

Obrigado e continuação de bom trabalho, é a estudar/pesquisar que as gentes se entendem.

Carlos Santos

Pinto de Sá disse...

Tenho essas contas das barragens sobejamente explicadas neste blog.
As centrais vão produzir, de origem hídrica, da água vinda dos rios, uma média anual de 175 MW.
E vão dissipar em perdas, na bombagem de 700 MW de origem eólica, 25% disto, ou seja, 175 MW.
175 MW - 175 MW = 0.

Pinto de Sá disse...

Quanto ao défice: de facto só parte é das renováveis. Em 2009, a maior parte ainda era de: a) rendas pagas às autarquias; b) compensações tarifárias à Madeira e aos Açores.

Anónimo disse...

Ok, seguindo os dados existentes, incluindo as suas preciosas informações, consegue-se apurar que afinal o défice do Regime Especial de Produção (solar, eólica, minihidricas ou hídricas especiais, cogeração e microprodução PRE e outras) é mais barato do que o défice do Serviço Universal, em 2009.
1% do défice do Serviço Universal = 22.975.347,00 (1.723.151.000,00/75)
1% do défice do Regime especial de produção = 17.898.760,00 ( 447.469.000,00/25).
Considerando a sua informação, e que o défice do serviço universal também custeia as eólicas, mas em 2009 a maior parte era de rendas pagas às autarquias, compensações tarifárias à Madeira e aos Açores.

O manifesto assenta na preocupação do aumento de potência instalada de eólicas que, devido a isso estão a ser construídas barragens e a ser aumentada a potência de outras.
Segundo O Sr. Prof. Pinto de Sá o acréscimo de potencia originada pelos caudais do rios vai ser próxima dos 175 MW que é a mesma potencia que se vai perder pela bombagem (25%) das eólicas. Tudo correcto se não fosse mutável a situação técnica e contratual que impede, actualmente, a colocação de “interruptores” e fazerem duas tarifas (bi-horária) para as eólicas. O que obriga a exportar, espalhafatosamente, energia para Espanha a preço zero (paga ao produtor a cerca de € 0,09) para não danificar a “nossa” rede.

Baseando-me no seu tópico “Explicando as contas da energia que vão produzir as hidroeléctricas como se fossem muito burros” e refazendo as contas, sobre a produção e aumentos ZERO de potencia dessas novas barragens, temos então:
- se e só produzirem dos Rios temos 175 MW.
- se só produzirem das eólicas 525 MW, com percas de 25%.
- se produzirem dos Rios e eólicas 525 MW+175MW = 700MW.

Embora se percam 175 MW da bombagem das eólicas há um acréscimo real de aumento de produção de 525 MW por via das eólicas.

Ok, é verdade, enquanto não se alterar a situção técnica e contratual que impede, actualmente, a colocação de “interruptores” e fazerem duas tarifas (bi-horária) para as eólicas vai-se perder € 0,0225 (0,09x0,25), quando a geração de energia eólica for superior á capacidade da rede.

Esses 700 MW equivalem a cerca de 12% da potencia prevista de 5700 MW e devem ser uma margem de segurança para não danificar a rede.
Presumindo-se então que em 2009 “exportou-se” (transmissão intra-comunitária), para Espanha 429,8 MW a preços zero. Esses 429,8 MW, pagos ao produtor a 0,09, resultaram num saldo negativo de 38.682,00, brutos de outros défices extra Regime Especial de Produção.
Com o aumento previsto da potencia eólica, total, a 5700 MW aplicando os cerca de 12% teremos 699,96 MW de possível excesso. Como essa energia vai ser vendida ao preço do consumo nacional, os tais 25% perdidos na bombagem traduzem-se em saldo negativo de € 15.749,10, brutos de outros défices extra Regime Especial de Produção.

O Sr. Prof. Continua a ter todo o direito de não querer pagar, mas se dividir-mos esses défices anuais pelos 5000.000 de clientes dá € 0,00314982 e € 0,0077364.

Carlos Santos