terça-feira, novembro 30, 2010

Consumos comparados do Nissan Leaf e do Prius, em Euros fiscalmente neutros

Há cerca de ano e meio publiquei aqui umas contas comparativas dos custos de combustível do automóvel eléctrico versus os híbridos. Agora actualizei esse post mas, como estamos a presenciar uma grande campanha publicitária do Nissan Leaf, carro de que já falei aqui, será interessante actualizar aqui rapidamente essa comparação, por exemplo entre o Nissan Leaf e os melhores híbridos do mercado, os Toyota Prius e Auris. Temos, portanto:

para os Toyotas híbridos:
- Consumos médios: 4,5 l/100 km (3,9 anunciados, mas os 4,5 são os valores reais verificados por ensaios independentes);
- custo actual da gasolina sem impostos: 0,568 €/l (40% do actual preço para o público de 1,42€);
Total: 2,55 €/100 km.

para o Nissan Leaf:
- Consumos médios: 16 kWh/100 km (a Nissan indica a autonomia de 165 km para os 24 kWh de capacidade da bateria, mas ensaios independentes mostram que ela varia entre 200 km em condições perfeitas de estrada, a menos de 100 km em circuitos urbanos);
- custo médio actual do kWh para as famílias, sem impostos nem défices tarifários: 0,166€/kWh (incluindo o aumento de 10% calculado pela DECO para compensar o défice);
Total: 2,65 €/100 km.

Uma comparação complementar se poderia fazer entre o consumo dos híbridos e o dos Diesel. Em geral, as revistas da especialidade mostram que, entre nós, apenas nos híbridos da Toyota os híbridos gastam menos que os Diesel, mas essas análises não descontam o peso dos impostos no preço dos combustíveis. Ora, sem impostos o gasóleo é mais caro em cerca de 10% que a gasolina, cá como em todo o Mundo, porque o gasóleo é também mais rico energeticamente que a gasolina em cerca de 10%.
A Europa há muito que adoptou uma política de subsidiação fiscal ao gasóleo que tem promovido o desenvolvimento e a opção generalizada pelo Diesel, mas convém entender que isso não é universal - nem, em particular, é a política americana.

5 comentários:

Man disse...

Falta o custo comparado dos veiculos sem impostos.

Anónimo disse...

Professor,
quero felicita-lo pelo magnifico blog. mas sobre o VE ainda nao fiquei convencido... coloco-lhe algumas questões:
- existe ou não maior eficiência energética (do poço (que seja) à roda) no carro eléctrico?
- existe ou não a necessidade de diminuir os níveis de poluição nas cidades?
- existe ou não necessidade de diminuir a dependência do preço do petróleo?
- existe ou não a necessidade de potenciar o desenvolvimento e instalação de novas centrais abastecidas por matéria não importada?
- existe ou não a necessidade de potenciar o desenvolvimento e instalação de novas centrais abastecidas por matéria barata?
- existe ou não mais-valia por ser pioneiro? (no Atlântico... pq Japão já lá está!)

Parece-me que existe.

Rui NC disse...

Faz muito bem em abrir os olhos para o problema dos impostos, ninguém se lembra disso quando compara preços!

O problema agrava-se quando reparamos onde é que vai haver agravamento de impostos para compensar a perda do imposto da gasolina: na electricidade! Não só na que é usada pelos carros... em TODA: Vai-se estar a agravar o que já é uma das despesas mais significativas da classe média e baixa!

A alternativa seria o governo abdicar mesmo disso mas... socialistas a abdicarem de impostos? Não me cheira...

Pinto de Sá disse...

Caro Rui NC,
Evidentemente que os custos têm de ser comparados sem impostos, porque a fiscalidade actual está dirigida para cobrar nos automóveis ACTUAIS - quer nos combustíveis, quer nos próprios automóveis - mas isso porque ainda não existem os outros!
Ora numa fase de lançamento até é possível a um Governo oferecer incentivos fiscais para a compra do automóvel eléctrico (5 k€ no Leaf, quase a "doação" do IVA, e electricidade quase á borla), enquanto continua a penalizar os automóveis convencionais, mas é evidente que isso não seria sustentável se o automóvel eléctrico se generalizasse mesmo!
Portanto, numa óptica de sustentabilidade os custos do automóvel eléctrico têm de ser comparados sem impostos, e a conclusão óbvia é que: a) quanto a combustíveis, custam o mesmo que os actuais a gasolina optimizados, isto é, híbridos; b) quanto ao carro em si são muitíssimo mais caros (o Nissan Leaf custa, sem impostos, o mesmo que um BMW da série 5 sem impostos)!
E já nem estou a falar do problema crucial da autonomia...
Pelo que considerando a ECONOMIA - coisa de que esta gente se esquece sempre - o automóvel eléctrico ainda terá de esperar umas décadas para ser viável.

Ao Anónimo que me pergunta se existe ou não mais-valia em ser pioneiro, respondo: sim, existe, desde que não seja ser pioneiro no disparate e na vigarice!

Lura do Grilo disse...

Belo Post. É assim que se desmontam mitos: contas simples e incontestáveis. Tenho falado com pessoas que montam e compram instalações solares fotovoltaicas. Mostro-lhe as contas e não acreditam mas não me desmentem.

Uma tecnologia não se impõe à força: conquista o mercado pelo facto de ser economicamente vantajosa ou trazer alguma vantagem ao utilizador. O bom coração não consegue isso nem compete ao Estado promover tecnologias imaturas: quando muito deve apoiar a investigação fundamental. O desenvolvimento e implementação fica com os privados: um bom negócio terá retorno em impostos.

Lembro a máquina fotográfica digital que venceu paulatinamente o fotografia analógica.

Lembro a telefonia móvel: as chamadas são mais caras mas ganhou grande popularidade pelas vantagens.