Há uns tempos dei aqui notícia de um estudo feito por Professores da Universidade de Carnegie-Melon sobre os automóveis eléctricos, em que se notava que uma bateria de iões de lítio de 30 kWh, necessária para garantir uma autonomia de 100 milhas (165 km), pesaria uns 300 kg, o que requeria outro tanto de reforço da estrutura do carro e, portanto, um veículo que nunca poderia ser pequeno - o que ainda aumentaria mais o consumo. Contas feitas, e a 700 €/kWh da bateria, um automóvel desses seria sempre extremamente caro.
Entretanto, os nossos media têm-se multiplicado em propaganda mentirosa sobre isto tudo, num delírio que me faz sentir, como a Medina Carreira, estar a reviver os tempos de Goebbels. Há semanas era o Expresso que trazia uma lista de automóveis pequenos com autonomias previstas completamente delirantes, e ontem ainda era a SIC que, num daqueles programas de propaganda oriundos de Bruxelas, mostrava um carrito mais pequeno que o Smart a passear-se pela cidade e no fim a parquear numa bela vivenda com garagem e dizia que ele tinha uma autonomia de 150 km, escondendo que o filme se tratava de uma construção digital e que tal carro não existe...
Sem excepção, toda esta propaganda mostra automóveis construídos com o "paint shop pro" e outros meios digitais e que, realmente, não existem materialmente! Tanto Estaline como Goebbels teriam delirado com esta capacidade das novas tecnologias para não só "apagarem" fotografias, como para as construirem! Mas, para quem viu o Avatar, não é surpresa...
A questão que se coloca é: com tanta opinião contraditória, como saber a verdade? Como sempre: atentemos à realidade experimental, palpável! E quanto a esta aí temos o primeiro verdadeiro automóvel eléctrico comercializado: o Nissan Leaf!
Custa 30 mil € sem impostos nem subsídios e a sua bateria, de 24 kWh, pesa 200 kg. O Governo dá de subísio praticamente a isenção de IVA, ou seja, de quaisquer impostos, aos 5000 primeiros automóveis, o que obviamente não será sustentável.
Só a bateria custa uns 15 mil €, um valor muito em linha com o calculado no estudo de Carnegie-Melon e, quanto à sua duração, ainda não há, naturalmente, experiência prática, mas a regra é, nestas baterias, a perda de 20% da sua capacidade por ano. A autonomia anunciada, quando novo, é de 160 km, mas em condições ideais de utilização; em condições médias deverá andar pelos 140km - enquanto a bateria for nova!...
O carro pesa perto de 1600 kg (3500 libras, e diz quem o conduziu que "é pesado"), um peso que era previsível para poder suportar o peso da bateria e os reforços estruturais associados e, feitas as contas, gastará uns 2.6 €/100 km de electricidade - ao custo a que ela está hoje em dia. Como um híbrido gasta quiçá 2,5 vezes isso em gasolina, (mas que seria na verdade o mesmo, se a gasolina pagasse tantos impostos como a electricidade), o custo extra do carro poderá ser compensado, para os primeiros compradores, pelo baixo custo da sua condução para quem fizer muitos km por ano.
Mas, com esta autonomia, quem é que pensa fazer regularmente grandes viagens com este carro?
Quanto aos carrinhos tipo Smart, é o que diz o estudo do Carnegie-Melon: autonomias de 20 km será o que se deverá esperar! E, por isso e ainda como diz aquele estudo, faria muito mais sentido que os políticos apostassem na promoção era destes carros, mas sem mentirem - ou seja, não propagandeando micro-carros baratos como se pudessem vir a ter a autonomia do caríssimo Nissan Leaf, cujo preço, sem impostos, iguala o de um BMW!...
3 comentários:
Eis-nos, uma vez mais, em pleno reino da propaganda da "modernidade". Vinte e cinco milhões de euros (5000€ X 5000 veículos) de subsídios (ou isenção de impostos correspondentes) àqueles que mais podem pagar.
Racionalidade? Nenhuma! Equidade fiscal? O que é isso?
Mas acaso pensarão que somos todos parvos?
Não é bem assim...
Eu tenho uma scooter eléctrica e faço em circuito urbano no PORTO - 55 kms, com bateria de 60V40Ah e motor de 3000W... e por vezes vão dois em cima da "burra".
Quando quiser comprovar é só avisar... e se precisar de mais autonomia, também se arranja...
Quanto ao preço, ele é inferior a muitas motinhas que para aí se vendem, de marca... "of course".
Francisco, diz que "não é bem assim", mas não fornece nenhuns dados que contrariem os que eu apresentei, pelo contrário.
Uma scooter eléctrica tem tipicamente uma bateria de 2 kWh de capacidade, pesa uns 100 kg e tem uma velocidade máxima de 55 km/h.
Carregada, desloca uma massa de cerca de 200 kg (scooter+pessoa), e gasta em média 3.5 kwh/100km - pelo que a sua autonomia será, de facto, de uns 55 km.
Mas se quiser transportar um automóvel de 1600 kG em vez desses 200, como o Nissan Leaf, chega aos mesmos números que eu apresentei (e que não são inventados por mim).
Entretanto, verifico que uma scooter dessas não é barata.
A conclusão principal que defendi, e que também não é inventada por mim mas pela Universidade de Carnegie-Melon, é que em matéria de carros eléctricos só carrinhos com autonomias de uns 20 km.
Ora com isso precisa depois de comprar outro carro a sério se quiser fazer viagens nele.
Como você precisa, Francisco! Não é com a sua scooter que vai de férias ao Algarve ou ao Gerês!
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