quarta-feira, maio 18, 2011

Bill Gates e a Terrapower

Tenho vários amigos que são incondicionais admiradores de Bill Gates, o criador da Microsoft e que tornou os PC tão vulgares como os sapatos.
Além do seu papel na popularização dos computadores, Bill Gates é também conhecido por ser um dos homens mais ricos do Mundo, por ser um comunicador despretensioso, e um benemérito mundial.
O que talvez seja menos conhecido é o interesse de Bill Gates pela energia e os seus investimentos e patrocínios neste sector.
Há 2 semanas, mais uma vez, ele expressou em Nova Iorque a sua opinião sobre as opções energéticas mundiais: "“We get sloppy” in the rich world, because we can afford to pay extra for solar or wind power. But in order to make a real impact, the costs have to become competitive with current fossil-based energy. “In 80% of the world, energy will be bought where it is economic.” says Gates. “You have to help the rest of the world get energy at a reasonable price.”"

Bill Gates mantém investimentos em praticamente todas as tecnologias energéticas, das baterias ao solar e aos biocombustíveis, e muito em particular na Terrapower, porque, diz ele: "We should pursue them all. The amount of IQ working on energy today and the tools they have to simulate compared to 20 years ago is night and day, but it is unpredictable whether we will get a breakthrough."
Porém, é conhecido que relativamente à microgeração ele é muito céptico: "What about distributed energy where every house generates their own and feeds it back into the grid? Gates thinks that is a “cute” idea, but “it’s not gonna happen.” Bigger power generation facilities, such as solar fields in the desert, are necessary. “If you are going for cuteness, go after the those things at the home. If you want to solve the energy problem go after the big things in the desert.”

Pelo contrário, o seu projecto energético preferido é a Terrapower, uma start-up sua mas dirigida por um amigo seu. E que projecto é este?
Um reactor nuclear de IV geração, que usa um princípio patenteados em 1990 e denominado de "onda móvel" (travelling-wave reactor). O seu autor explica aqui sucintamente a ideia, considerada pelo MIT como uma das "10 tecnologias emergentes de 2009". O reactor é carregado com urânio normal (por exemplo remanescente dos processos de enriquecimento usados para a separação dos 0,7% de U235), e vai-o transformando em plutónio e consumindo este. A "onda móvel" assim gerada tem uma velocidade de propagação, dentro do reactor, de... 1 a 2 cm/ano!
Eis um projecto de Investigação com que eu, se fosse Físico, sonharia!
E é por estas e outras que quando me dizem que "em 2050 toda a produção energética mundial poderá ser descarbonizada" fico a pensar: a tal horizonte, tudo é possível, tanto tudo vir a ser solar ou eólico, ligado em super-redes continentais, como nuclear de 4ª geração com reactores de ondas móveis...
Claro que eu preferiria os últimos, já que com um reactor desses tanto se poderia viver numa cidade das actuais, como em Marte, na Antártida, num mundo submarino ou em Gliese 581 g...

5 comentários:

Anónimo disse...

Há urânio suficiente até 2050? Até quando será competitiva a extração de urânio - não subsidiada?

Pinto de Sá disse...

@Anonimo,
O urânio que uma nuclear de IV geração consome não é do mesmo tipo que o de uma das gerações anteriores e/ou acrtuais. Resumindo: o urânio natural vem com isótopos, o U235 (0.7%) e o U238 (99.3%); os reactores nucleares actuais só consomem o U235, o que requer que se filtre o urânio natural para aumentar a sua % - geralmente para 3 a 5%. O U238 que assim sobra não se aproveita.
Mas a Terrapower, como qualquer nuclear de IV geração, consome é o U238, muito mais abundante.
Para começar, pode trabalhar séculos só a reutilizar o U238 que sobrou do tratamento das centrais actuais e do fabrico das bombas atómicas.
Depois, estas nucleares usam o U238 e transformam-no em plutónio, e é isso é que é consumido. Ora o plutónio é o principal lixo radioactivo das nucleares actuais, e isto quer dizer que essas futuras nucleares vão usar este lixo como combustível delas.
Assim, ao mesmo tempo que nos desfazem dos resíduos das actuais centrais, produzem IMENSA energia.
Portanto e em resumo, as reservas de "combustível" dessas futuras nucleares são praticamente infinitas.

Anónimo disse...

Seria possível reconverter as centrais nucleares tradicionais em outras deste tipo? Quanto duraria o processo de transição? Esta tecnologia está comprovada? Que riscos associados existem?

Anónimo disse...

Pelo que percebi do que li na internet o problema aqui é parar a reacção.

As turbinas necessitam de manutenções. Isto, para além do restante equipamento da central. Isto além de possíveis falhas de energia da rede.

A existência de um sistema de refrigeração para a potência nominal da central parece-me extremamente caro.

Gonçalo Aguiar disse...

Adorei a frase de conclusão!

Esta sim parece-me uma ideia muito mais viável do que a micro-imaginação (micro-geração) ou da ideia utópica de 100% renovável com sistemas de armazenamento distribuídos, nomeadamente veículos elétricos parados a dar energia para a rede ou sistemas de armazenamento centralizados a ar comprimido ou com albufeira.

Obrigado pelo post professor. Este blogue está cada vez melhor!