sábado, agosto 27, 2011

Provas experimentais da relação entre os raios cósmicos e a formação de nuvens

Como sabem os meus leitores, tenho feito aqui algum eco da teoria climática alternativa que atribui uma importância crucial sobre o clima ao mecanismo de formação de nuvens determinado pela radiação cósmica.
Convém desde já notar que não tenho posição definida sobre teorias climáticas (sou nesta matéria, digamos, agnóstico). Não sei do assunto, cuja complexidade me é evidente, o suficiente para tomar esta ou aquela posição.
O que combato é toda uma ideologia proto-fascista associada à teoria do aquecimento global de origem antropogénica (vulgo "efeito de estufa"), que mente sobre coisas como as posições da ONU sobre a contribuição da produção de energia e dos transportes para o referido aquecimento, e que tem servido para justificar, sem qualquer razoabilidade mesmo à luz dessa teoria, a aposta em energias renováveis de tecnologia imatura ou suportando interesses económicos anti-portugueses (dados os excessos cometidos). Na rúbrica sobre "clima" deste blog podem encontrar as minhas reflexões sobre isto, se porventura vos interessarem.
Foi há cerca de 6 meses que aqui mencionei, pela primeira vez e por a ter descoberto havia pouco tempo, a teoria da radiação cósmica como criadora de nuvens e, portanto, como determinante da temperatura média do planeta.
Duas coisas nesta teoria motivaram a minha atenção: a primeira é a excelente correlação empírica entre os registos mineralógicos em rochas antigas da radiação cósmica com as estimativas das temperaturas das mesmas épocas, o que relativamente à teoria do "efeito de estufa" me parece muito mais especulativo (que nas épocas quentes passadas teriam sido grandes libertações de metano que teriam causado o arrefecimento global, coisa muito menos comprovável que os registos da radiação cósmica em certas rochas); a segunda é a concepção de uma comprovação experimental da teoria da formação de nuvens por radiações de alta energia como as cósmicas, a realizar numa câmara apropriada no CERN.
Há cerca de um mês "roubei" ao Ecotretas um link para um excelente filme que explica toda esta teoria, e que inseri num post sobre o Verão excepcionalmente fresco que este ano temos ( e que esta teoria explica facilmente).
Ora hoje mesmo, regressado de férias, dou com esta notícia na Scientific American, uma revista que até é decididamente pró-aquecimento de origem antropogénica: a notícia, de facto obtida da Nature, informa que... os primeiros resultados das experiências do CERN confirmam preliminarmente a teoria (do papel da radiação cósmica no mecanismo da criação de nuvens).
O Ecotretas, sempre atento a estas coisas, já dera ontem notícia do facto, augurando até a atribuição do prémio Nobel ao dinamarquês que tem sido incansável nesta pesquisa!
No entanto, os resultados são preliminares e os próprios autores reconhecem que as partículas criadas pelos raios gerados experimentalmente são demasiado pequenas para servirem de "sementes" das nuvens. Mas vão no sentido da confirmação da teoria, que, segundo os investigadores envolvidos, requererá mais 5 anos de experiências e interpretação dos resultados. Seja qual for o resultado final desta investigação, as suas conclusões hão-de ser fundamentais para a progressiva compreensão científica do clima.
Ah, e há um português na equipa do CERN que publicou o artigo da Nature: João Almeida, como colaborador do SIM da Faculdade de Ciências de Lisboa que participa no CLOUD (aparentemente apenas com um bolseiro, que não consegui confirmar, mas presumo que seja o João Almeida, embora ninguém com esse nome conste da lista de colaboradores do SIM)...
As implicações políticas desta investigação científica são evidentes. O que não significa que não se defenda a descarbonização da economia - mas essencialmente por razões de esgotamento dos combustíveis fósseis - como faz a China. O que impõe timings completamente diferentes, compatíveis com as expectativas de evolução da exequibilidade técnico-económica.
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Nota extra: um leitor chamou-me a atenção para o facto de que há mais portugueses na lista de autores do artigo da Nature. Não me tinha dado conta mas, com efeito, "clicando" no "et al" que aparece no fim da lista de autores visíveis, esta estende-se e aparecem muitos mais, incluindo o Prof. António Amorim. As minhas desculpas pelo lapso involuntário.

10 comentários:

Eduardo Freitas disse...

Se, no âmbito das ciências naturais, ninguém se atreve, em voz alta, a negar o princípio da falsificação que Popper enunciou, o certo é que só quando a nova "massa de conhecimento" atinge o ponto crítico, o paradigma muda (Kuhn) e é aceite pela generalidade dos pares. Ora, não creio que a ciência venha alguma vez a ser capaz de antecipar esses pontos críticos.

De qualquer modo, é sempre de saudar o "regresso" da ciência. Science is never settled. It wouldn't be science otherwise. Para que esse "regresso" seja mais frequente, também em ciência precisamos de mais mercado.

Anónimo disse...

Caro professor:

Encontrei um link interessante sobre este assunto que mostra algumas evidências que os raios cósmicos de facto não estão correlacionados com alterações no clima nos passados 40 mil anos.

http://www.skepticalscience.com/ConCERN-Trolling-on-Cosmic-Rays-Clouds-and-Climate-Change.html

Cumprimentos

Pinto de Sá disse...

Caro Anónimo,
O link que inseriu é de um blog, não de uma revista ou site científico. Como tal, nada do que lá se escreva é prova científica. Nem todas as fontes na net têm o mesmo valor.
No entanto, esse link está correcto quando diz que o artigo publicado pelo pessoal do CLOUD não prova que os raios cósmicos sejam a fonte do aquecimento global. É verdade - o artigo é muito mais concreto e específico, e eu também o mencionei no meu post, e não invoca tal coisa.
Porém, esse link passa depois a dizer que nunca se provará que os raios cósmicos têm efeito significativo no clima, e aí é que já entra em divagações que nada têm a ver com os resultados do CLOUD mas com a própria teoria geral sobre o clima, divagações que estão em contradição com a opinião de outros cientistas (e não de blogs), como já dei notícia noutros posts. Como eu próprio não sou perito no assunto, vou observando e não quero que me privem de ouvir contraditórios.
Chegará o dia em que a acumulação de provas calará de vez os opositores desta teoria ou da sua contrária, como sucedeu muitas vezes no passado (o evolucionismo é dos melhores exemplos). Até lá, não quero apenas que me impinjam como verdade definitiva que há raças superiores e outras inferiores que merecem ser escravizadas, ou que as espécies evoluem por adaptação não-genética (exemplos de teorias passadas que se mostraram erradas mas por causa das quais, na altura, se matava quem as contradissesse).
Cumprimentos,

Anónimo disse...

Professor,

O link que lhe disponibilizei contém uma série de referências cientificas externas, em que o autor do texto se baseou para o redigir. Se por ser um blogue retira-lhe credibilidade, então o mesmo aplicar-se-ia a todos os outros blogues, incluindo o seu e o EcoTretas.

No entanto partilho da sua opinião que acima de tudo se deve perseguir o caminho da verdade científica e testar todo o tipo de teorias.

Cumprimentos

Pinto de Sá disse...

O link contém por sua vez links para estudos que poderão ser científicos (não sei o suficiente para lhes avaliar a qualidade), mas a escolha desses links é do autor do blog, e essa escolha depende das suas opiniões. Como tal não tem o mesmo valor que um site ou uma instituição científicos.
Mas claro que o meu blog também não! Nunca pretendi escrever aqui artigos científicos. Quando os quero fazer, nas áreas da minha especialidade, escrevo para revistas com "peer-review".
Um blog é um blog! Podemos gostar as suas opiniões ou não, mas o que um blog nunca é é uma fonte de certezas científicas! Nunca pretendi o contrário...

Anónimo disse...

'Linko' este vídeo com uma entrevista ao cientista por de trás do projecto CLOUD:

http://www.youtube.com/watch?v=gXx62NhSkt8&feature=feedu

melhores cumprimentos

Anónimo disse...

O coordenador da participação portuguesa é o Prof. António Amorim, FCUL. O seu nome consta da lista de autores do artigo juntamente com mais 2 Portugueses :

http://www.nature.com/nature/journal/v476/n7361/full/nature10343.html

Alex disse...

Olá
Também não sei muito de clima, mas do que entendo, o grande consenso que existe à volta da teoria do aquecimento global com origem em libertações antropogénicas de gases com efeito de estufa vem do facto de que os modelos climáticos que incorporam essas variáveis darem resultados mais próximos das observações do que os modelos que não os incorporam.
A minha pergunta é: em que é que uma influência dos raios cósmicos na formação de nuvens (mais precisamente, na nucleação de aerossóis, em conjunto com o ácido sulfúrico e a amónia, levando consequentemente - e possivelmente, já que esta parte ainda não foi demonstrada - à formação de nuvens) põe em questão o modelo do dito aquecimento global?

Outro reparo: o dito modelo do aquecimento global não pretende explicar o verão mais fresco quetemos tido, já que se refere ao clima e não à meteorologia.

espero que me esclareçam porque já vi isso escrito em mais que um local e não entendo o alarido. Daquilo que entendi do artigo, o potencial de se confirmar o papel dos raios cósmicos na ionização, e o subsequente aumento da taxa de nucleação do H2SO4/NO3, é um complemento à teoria mais amplamente aceite.

melhores cumprimentos

Pinto de Sá disse...

Nos links que coloquei no post em que pela primeira vez falei desta teoria (e para o qual, por sua vez, fiz aqui um link), isso é explicado.
A questão primeira é saber se a produção de gases com efeito de estufa é o único determinante do aquecimento supostamente verificado desde os anos 40. A teoria "consensual" (o que não a torna correcta, e que de consensual não me parece tenha muito), diz que sim. A teoria da produção de nuvens pelos raios cósmicos diz que pelo menos estes TAMBÉM determinam aquele aquecimento.
A questão segunda é saber se, havendo então vários factores que determinam a temperatura média da atmosfera, qual a importância de cada parte. Nisto, naturalmente, e dada a imperfeição dos modelos actuais da teoria das nuvens, há mais dúvidas, mas alguns estudos preliminares (alguns, repito, e para os quais já poste links anteriormente), apontam para que a formação de nuvens seja responsável pelo menos por 45% (salvo erro) dessa temperatura.
Quanto ao "Verão mais fresco": tem razão, em que metereologia não é o mesmo que clima. Mas decerto sabe que há uma larga corrente, que inclui o Prof. Delgado Domingos do IST, por exemplo, que considera que desde há uma década (e não apenas este Verão) que a temperatura média está a descer, e não a subir como a teoria do efeito de estufa prevê. E que essa descida se correlaciona bem com a redução (cíclica) da actividade magnética do Sol que, ao "deixar passar" mais raios cósmicos, conduz à produção de mais nuvens e, consequentemente e de acordo com esta teoria, ao arrefecimento que se estará a verificar.
É certo que sei pouco ou nada disto tudo, mas tudo isto me parece ter uma certa lógica, e reconheço que vozes como a de Delgado Domingos (Catedrático do IST) me merecem uma razoável credibilidade.

Alex disse...

Muito obrigado pelos esclarecimentos, irei pesquisar a informação que apontou.
A minha dúvida inicial prendia-se principalmente com o facto de que (tanto quanto sei), as nuvens arrefecem o clima (por fazerem sombra) em vez de o aquecerem. Então a teoria da influência dos raios cósmicos está de facto de acordo com as observações de que a temperatura média tem vindo a decrescer (ou a estabilizar-se, ou a crescer a um ritmo mais lento, já li várias versões) nos últimos anos.
Vou pesquisar para tentar entender o que as nuvens influenciam no aquecimento.

cumprimentos