sábado, agosto 01, 2009

Contra o pós-modernismo energético: II - esclarecimento de posições

Para que não me interpretem mal e não pensem que tenho interesse em fazer propaganda partidária, esclareço que embora o actual Governo seja o responsável pelas actuais opções, ainda não vi ninguém da oposição levantar a mais pequena voz contra a actual política energética nem a política tecnológica do Governo, com a excepção solitária e incansável de Mira Amaral que, no entanto e tanto quanto sei, também já não representa nenhuma posição partidária. Aliás e como já referi, aparentemente toda a classe política vê com benevolência o ecologismo utópico dominante!...
Penso ser também oportuno recordar que não ponho em causa a relação entre emissão de CO2 e alterações climáticas, nem a competitividade económica, sob certas condições, da energia eléctrica de origem eólica!
Tenciono, aliás, voltar a esse tema (o das condições em que a energia eólica é competitiva), mas o desastre é que a sua proliferação em Portugal foi, e é, altamente subsidiada, sem que se tenha acautelado a prévia aquisição do respectivo know-how e a criação de uma indústria nacional com tecnologia própria (e portanto sustentável) de turbinas, produtora de grande valor acrescentado, de empregos e de exportações, como fizeram todos os outros países que apostaram fortemente nesta fonte de energia! De um ponto de vista do interesse nacional tal subsidiação é um perfeito desastre e uma autêntica anedota perante os outros países, exceptuando alguns ecotópicos que nos vêm como heróis da salvação do planeta enquanto os nossos importadores esfregam as mãos de contentamento!
A questão é simples: que subsidiam os países que apostaram no eólico antes de nós e que imitámos, como a Alemanha, a Dinamarca ou a Espanha? A salvação do planeta? Não! Subsidiam as respectivas indústrias de fabricação de turbinas, que em todos esses países exportam mais de metade da sua produção e que empregam muita gente!!!
Importa sublinhar que a única fonte de energia eléctrica cuja tecnologia em tempos dominámos era a hidroeléctrica, fruto da única vez em que foi formulada e executada uma estratégia nacional correcta em matéria de aprovisionamento de energia!
Porém, quando há 15 anos o "filósofo" Manuel Carrilho do PS se insurgiu no Parlamento contra o "barbarismo" da construção da barragem de Foz Coa, precipitou-se o grande desastre energético nacional. O projecto e construção das barragens, uma coisa que sabíamos fazer e que ocupava efectivamente mão-de-obra e matérias-primas nacionais, foi suspensa e trocada pouco depois pela estratégia eólica, em que a única incorporação nacional é o negócios dos terrenos e das autorizações para a sua construção! E isto quando, se havia tecnologia energética com condições para virmos a dominar pela sua relativa simplicidade, era precisamente a eólica, dado que quanto a centrais térmicas ninguém bom da cabeça pode imaginar que venhamos algum dia a riscar alguma coisa!
Mas como desenvolver tal know-how e respectiva capacidade industrial é coisa para levar de 5 a 10 anos, isso teria exigido visão e capacidade política, coisa de que a nossa classe dirigente parece carecer como se fosse africana (sem ofensa para os africanos, entre os quais aliás me incluo)!
Ora, entretanto e nestes 15 anos, a engenharia nacional de barragens, que já em 95 se ressentia de haver poucos projectos, praticamente desapareceu! Os especialistas reformaram-se ou mudaram de ramo (vi com os meus olhos isso a acontecer numa das empreas especialistas) e muita da indústria nacional de componentes foi abandonada: na mesma altura em 94 em que Carrilho atacava Foz Coa, ainda antes de Guterres ganhar as eleições, a Sorefame que fabricava as comportas das hidroeléctricas era comprada pela ABB, por exemplo.
As barragens têm ainda um outro enorme valor: o de constituirem reservas de água, uma provisão que há-de ser cada vez mais imprescindível à medida que a água se tornar o recurso do planeta mais disputado como algumas secas que temos tido em anos recentes já nos permitem antever.
Só agora é que o actual Governo, de repente, decidiu a construção de dez barragens, mas 2 delas ninguém as quiz e 2/3 das restantes deu-as aos espanhóis, em particular à Iberdrola de Pina Moura!
Ora se, em vez disto, os Governos pós-95 tivessem decidido fazer as 10 barragens mas há 15 anos e, ao mesmo tempo, tivessem então apostado seriamente na I&D nacional (predominantemente em empresas) em tecnologia eólica, poderíamos estar agora a lançar em força a sua produção com know-how nacional, e a sua subsidiação ajudaria de facto alguma actividade produtiva sustentável! Seria tarde para entrarmos no eólico? Não! Os indianos também apanharam o comboio com a Suzlon, os EUA garantiram atempadamente a tecnologia espiando-a aos alemães, e os chineses para isso se preparam também!...
Mas nós entrámos foi em delírio com o automóvel eléctrico, o solar e outras fantasias congéneres! Até que o dinheiro para os subsídios se acabe e seja preciso começar a pensar em produzir alguma coisa!...

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