domingo, agosto 28, 2011

Steve Jobs, start-ups e o ADN da inovação

Steve Jobs acaba de se reformar da Apple, que ele fundou com um amigo há perto de 30 anos, o que provavelmente reflecte um agravamento terminal do cancro de que sofre há já uns anos.
Para os da minha geração entusiastas da inovação tecnológica, Steve Jobs foi o herói-modelo, mais que Bill Gates ou os amigos Hewlett e Packard, os criadores que fizeram das Start-ups tecnológicas e dos parques à Sillicon Valley as quimeras de muitas políticas tecnológicas.
Há 25 anos era em Macintosh que escrevíamos relatórios e artigos. O que o Macintosh tinha de original era o uso do rato e as "windows", com um grafismo excepcional, quando na época os outros computadores só permitiam a escrita de texto (nos PC só havia DOS).
Foi esta inovação dos Macintosh que veio a tornar tão popular o computador pessoal, e no entanto não foi Steve Jobs quem inventou o "rato", as "windows" e a computação gráfica. Esta fora desenvolvida pela Xerox, onde Steve Jobs a vira a funcionar em 1979, e de onde trouxe a ideia para a casar com outra ideia essencial que suportava os Macintosh: o uso de um dos novos microprocessadores de 16 bit acabados de surgir, o 68000 da Motorola, como única base de todo o PC, reduzindo em muito o restante hardware - conceito este que levara uma quinzena de anos a amadurecer!...
Na época esta ideia era-me tão excitante que foi adaptada para a realização do "Autómato de Subestações" com que me doutorei nessa década de 80 e a que, muitas vezes, chamava de "Macintosh das Subestações"...
Steve Jobs ficou também famoso por outro acontecimento muito instrutivo sobre as start-ups: viria a ser despedido da própria empresa que criara, em 1985, no auge do sucesso desta, ilustrando um dos grandes paradoxos da criação de Start-ups tecnológicas: quando a respectiva inovação tecnológica tem sucesso, requerem um salto de dimensão que obriga ao recurso de capital externo e a uma gestão profissionalizada que quase invariavelmente é incompatível com o espírito contestatário frequente nos seus criadores e com a sua gestão informal. Daqui resultam em regra três opções para esses criadores: ou sabem e aceitam esta lei da vida e desde o início pensam a empresa para a virem a vender com grande lucro (o que muitas vezes as mata, como sucedeu com a nossa emblemática ChipIdea), ou mantêm a empresa pequena, desistindo de dimensões internacionais mas garantindo o seu controlo (opção de várias que conheço por cá e que em tempos foi bem caracterizada num estudo da IEEE Transactions on Engineering Management), ou esses criadores abandonam a tecnologia e transformam-se em gestores, em homens de negócios, como precisamente Bill Gates, Hewlett e Packard.
Steve Jobs não fez nenhuma destas cedências e, por isso, foi simplesmente despedido da Apple que criara, e por isso ele é um herói para os verdadeiros inovadores tecnológicos!
Foi despedido mas era tão bom, tão extraordinariamente criativo, que depois disso a Apple entrou em declínio (perante a emergência da Microsoft de Bill Gates, em particular), até que a Apple o recontratou de novo em 1997, e com isso renasceu, graças ao iPod, ao iPhone e ao iPad que mais uma vez foi Steve Jobs quem inventou! Mas os Steve Jobs são tão raros como as supernovas!...
O New York Times de hoje dedica a Steve Jobs uma boa crónica, cuja leitura recomendo.
A propósito do processo de inovação tecnológica que Steve Jobs melhor que ninguém popularizou, o NYT menciona um livro recente, "o ADN do inovador", baseado num extenso estudo sobre alguns milhares de inovadores, e que identifica 5 traços nos "inovadores disruptivos" que "fazem as coisas acontecer": "questioning, experimenting, observing, associating and networking. Their bundle of characteristics echoes the ceaseless curiosity and willingness to take risks noted by other experts. Networking, ..., is less about career-building relationships than a search for new ideas. Associating, ..., is the ability to make idea-producing connections by linking concepts from different disciplines — intellectual mash-ups".
Claro que há algo do paradigma biológico na inovação tecnológica: as novas soluções e produtos nascem da fertilização entre ideias e conhecimentos vindos de áreas diferentes, o que requer, evidentemente, conhecimentos e ideias de áreas diferentes. Essa é outra das razões para defender uma base curricular diversificada para os doutoramentos, como defendi aqui em Janeiro. Mas é a própria experiência e atitude perante a vida que muitas vezes produz essa fertilização - Jobs, por exemplo, quando criou o Macintosh, acabara de fazer uma viagem de "iluminação espiritual" pela Ásia, no final dos anos 70. Não é que recomende uma viagem dessas, própria daqueles tempos de contestação hippy, mas o que quero realçar é a atitude contestatária quanto à vida em geral que animava Steve Jobs. E que também é frequente nos artistas. Mas rara entre os às vezes adolescentes tardios que hoje em dia tiram cadeiras de "inovação e empreendedorismo" nas nossas Universidades...
Mas, mesmo não tendo o génio de Steve Jobs, há outros bons exemplos de inovação tecnológica útil e criadora de riqueza, como este realizado na FEUP há uns anos, para a construção de pontes, e presentemente em plena exploração comercial.
Claro que, à falta de um Steve Jobs, terão de ser multiplicadas por muito as inovações mais modestas como esta para que Portugal se venha a tornar merecedor de pertencer ao Euro sem que haja dúvidas sobre esse merecimento nos mercados de crédito.

sábado, agosto 27, 2011

Provas experimentais da relação entre os raios cósmicos e a formação de nuvens

Como sabem os meus leitores, tenho feito aqui algum eco da teoria climática alternativa que atribui uma importância crucial sobre o clima ao mecanismo de formação de nuvens determinado pela radiação cósmica.
Convém desde já notar que não tenho posição definida sobre teorias climáticas (sou nesta matéria, digamos, agnóstico). Não sei do assunto, cuja complexidade me é evidente, o suficiente para tomar esta ou aquela posição.
O que combato é toda uma ideologia proto-fascista associada à teoria do aquecimento global de origem antropogénica (vulgo "efeito de estufa"), que mente sobre coisas como as posições da ONU sobre a contribuição da produção de energia e dos transportes para o referido aquecimento, e que tem servido para justificar, sem qualquer razoabilidade mesmo à luz dessa teoria, a aposta em energias renováveis de tecnologia imatura ou suportando interesses económicos anti-portugueses (dados os excessos cometidos). Na rúbrica sobre "clima" deste blog podem encontrar as minhas reflexões sobre isto, se porventura vos interessarem.
Foi há cerca de 6 meses que aqui mencionei, pela primeira vez e por a ter descoberto havia pouco tempo, a teoria da radiação cósmica como criadora de nuvens e, portanto, como determinante da temperatura média do planeta.
Duas coisas nesta teoria motivaram a minha atenção: a primeira é a excelente correlação empírica entre os registos mineralógicos em rochas antigas da radiação cósmica com as estimativas das temperaturas das mesmas épocas, o que relativamente à teoria do "efeito de estufa" me parece muito mais especulativo (que nas épocas quentes passadas teriam sido grandes libertações de metano que teriam causado o arrefecimento global, coisa muito menos comprovável que os registos da radiação cósmica em certas rochas); a segunda é a concepção de uma comprovação experimental da teoria da formação de nuvens por radiações de alta energia como as cósmicas, a realizar numa câmara apropriada no CERN.
Há cerca de um mês "roubei" ao Ecotretas um link para um excelente filme que explica toda esta teoria, e que inseri num post sobre o Verão excepcionalmente fresco que este ano temos ( e que esta teoria explica facilmente).
Ora hoje mesmo, regressado de férias, dou com esta notícia na Scientific American, uma revista que até é decididamente pró-aquecimento de origem antropogénica: a notícia, de facto obtida da Nature, informa que... os primeiros resultados das experiências do CERN confirmam preliminarmente a teoria (do papel da radiação cósmica no mecanismo da criação de nuvens).
O Ecotretas, sempre atento a estas coisas, já dera ontem notícia do facto, augurando até a atribuição do prémio Nobel ao dinamarquês que tem sido incansável nesta pesquisa!
No entanto, os resultados são preliminares e os próprios autores reconhecem que as partículas criadas pelos raios gerados experimentalmente são demasiado pequenas para servirem de "sementes" das nuvens. Mas vão no sentido da confirmação da teoria, que, segundo os investigadores envolvidos, requererá mais 5 anos de experiências e interpretação dos resultados. Seja qual for o resultado final desta investigação, as suas conclusões hão-de ser fundamentais para a progressiva compreensão científica do clima.
Ah, e há um português na equipa do CERN que publicou o artigo da Nature: João Almeida, como colaborador do SIM da Faculdade de Ciências de Lisboa que participa no CLOUD (aparentemente apenas com um bolseiro, que não consegui confirmar, mas presumo que seja o João Almeida, embora ninguém com esse nome conste da lista de colaboradores do SIM)...
As implicações políticas desta investigação científica são evidentes. O que não significa que não se defenda a descarbonização da economia - mas essencialmente por razões de esgotamento dos combustíveis fósseis - como faz a China. O que impõe timings completamente diferentes, compatíveis com as expectativas de evolução da exequibilidade técnico-económica.
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Nota extra: um leitor chamou-me a atenção para o facto de que há mais portugueses na lista de autores do artigo da Nature. Não me tinha dado conta mas, com efeito, "clicando" no "et al" que aparece no fim da lista de autores visíveis, esta estende-se e aparecem muitos mais, incluindo o Prof. António Amorim. As minhas desculpas pelo lapso involuntário.