quinta-feira, abril 29, 2010

O estudo de Carnegie-Melon sobre os automóveis eléctricos.

A Universidade de Carnegie-Melon (CMU), um dos suportes do projecto "MIT-Portugal" decidido pelos nossos grandes líderes como eixo da internacionalização que eles acham que faltava à nossa Investigação Universitária, tem-se entusiasmado a fazer protótipos de carros eléctricos. Porém, um grupo de investigadores seus de Engenharia Mecânica publicou há cerca de um ano um excelente trabalho sobre a estrutura que terão de ter os automóveis híbridos carregáveis eléctricamente (PHEV) e as respectivas implicações em autonomia, consumos e dimensões - note-se, de passagem, que nem sequer se põe a hipótese de automóveis puramente eléctricos, na I&D internacional...

O estudo nota que para que um PHEV tenha uma autonomia da ordem dos 170 km (100 milhas), precisa de ter uma bateria enorme (de iões de lítio), e todo o carro tem depois de ter uma dimensão proporcional - o chassis, e os motores necessários para carregar o peso da bateria e do chassis. Além disso, os consumos serão também consideráveis, dada a massa do carro determinada principalmente pela bateria.
Naturalmente, trata-se de uma concepção integrada do automóvel, como é natural, e não a anedota que há tempos andou por cá e que até teve honras de TV, de adaptar os carros actuais a essa aplicação (o que, como na altura ironizei, era uma ideia similar à dos construtores dos primeiros automóveis do sec. XIX, que basicamente montavam motores em carruagens de cavalos).
Num automóvel normal, 38 litros de gasolina pesam 28 kg e contêm 360 kWh de energia; uma bateria de iões de lítio com 30 kWh (8% daquela energia) pesa uns 300 kg a que se soma outro tanto de reforço da estrutura que a suporta e que têm de continuar a ser transportados mesmo depois da bateria descarregada, ao contrário do depósito de gasolina, que se vai tornando mais leve à medida que esta é consumida.
Por outro lado, para manter as características dinâmicas deste automóvel (aceleração e travagem), dado o aumento de peso da bateria e da estrutura, o PHEV tem também de ter motores e travões mais potentes, o que lhe aumenta ainda mais o peso.
O estudo desenvolveu assim modelos de vários PHEV em que variava a capacidade da bateria e portanto a autonomia do veículo, com um custo estimado para a bateria de 700 €/kwh (cerca de 20 mil € para uma bateria de 30 kWh, a preços de 2008). Com estes modelos estudaram-se os custos de diversos modos de funcionamento, assumindo uma vida útil de 12 anos para o automóvel com uma mudança de bateria a meio dessa vida (cenário optimista, visto que 7 anos é a máxima duração conseguida para as baterias de iões de lítio em condições ideais de laboratório, sendo mais de esperar uma vida útil de 4 anos nas condições reais de utilização).
O resultado do estudo é que para PHEV com autonomias acima de uns 30 km, eles ficarão sempre muito mais caros, incluindo o custo da electricidade, que os automóveis actuais - considerando que os preços da electricidade, mas também os da gasolina, são nos EUA metade do que são cá.
Para pequenos PHEV com autonomias de uns 20 km o custo reduz-se consideravelmente, porque requerendo baterias menores todo o carro pode ser mais leve e também o custo de substituição da bateria terá menor peso no custo total do automóvel ao longo da sua vida.
Ou seja: os PHEV tenderão a distinguir-se entre pequenos, para os pobres, e grandes, para os ricos. Mas, enquanto nos automóveis normais hoje em dia a diferença mecânica principal está na potência, nos PHEV estará na autonomia.
Os pequenos PHEV com autonomias de 20 km exigem, porém, a existência de imensos parques de estacionamento urbano com carregadores de electricidade, além dos sistemas de carga em casa, porque não terão autonomia sequer para ir e voltar de casa ao trabalho.

A Toyota, a pioneira criadora dos primeiros híbridos (de que o Prius continua a ser a referência) acha que, face a esta previsão de custos, é duvidosa a adesão que os PHEV virão a ter dos automobilistas e a rapidez com que virão a penetrar no mercado. E, por tudo isto, o "National Research Council" norte-americano, um Departamento da Academia de Ciências dos EUA, publicou recentemente um outro estudo em que conclui que a penetração dos automóveis híbridos carregáveis electricamente irá ser muito lenta, ao longo dos próximos 30 anos, enquanto a tecnologia de baterias for a existente e a menos que haja uma subsidiação macissa por parte dos Governos. O que coincide exactamente com a previsão que tenho feito por aqui.

Ora, como já notei aqui, presentemente no nosso país 2/3 do preço da gasolina é de impostos, enquanto pelo contrário a electricidade é subsidiada com um IVA de apenas 5% e um défice tarifário que lhe esconde o custo real. Não se vê onde poderá o Governo, a braços com um grave défice de contas públicas, vir a prescindir dos impostos dos combustíveis e a trocá-los pela subsidiação à electricidade, e o mesmo para os próprios automóveis, de uma forma sustentada.
Claro que os militantes da ordem nova ecotópica e os demagogos dos respectivos negócios invocarão que, com a subida do preço do petróleo, não haverá outra alternativa. Mas, ao mesmo tempo, escamoteiam a subida do custo da electricidade que a opção fundamentalista pelas energias renováveis irá acarretar.
Pode ser que com o domínio dos media transformados em máquinas de propaganda contínua, o silenciamento das vozes desalinhadas e, mais tarde ou mais cedo, a "recolha" dos dissidentes em suas casas pela calada da noite, estes desígnios se venham a conseguir realizar por cá e até talvez na União Europeia.
Mas no que não acredito é que o Mundo fora de Europa vá nisso. E, se a História nos ensina alguma coisa, receio que mesmo na Europa isso não aconteça sem sangue.

Oxalá que me engane...

quarta-feira, abril 28, 2010

Os comentários soezes

Em O Público de ontem:

Dirigente do Manifesto critica cluster eólico

Nos termos do n.º1 do artigo 24.º da Lei n.º 2/99, de 13 de Janeiro, venho requerer a V. Ex.ª a seguinte resposta e rectificação à notícia publicada na edição impressa de O Público, na passada Quinta-feira, dia 8 de Abril de 2010.

O Público considerou que, na Conferência de Imprensa de apresentação do Manifesto para uma Nova Política energética em Portugal, eu teria “desvalorizado o peso económico do pólo industrial eólico criado em Viana do Castelo” considerando-o “um cluster que faz umas montagens”, e afirmado que a Enercon tem um “problema de exportações por um litígio de patentes com a General Electric que a proíbe de exportar para os EUA”.
A resposta que o Público transcreveu do responsável do projecto industrial da Enercon em Portugal, Aníbal Fernandes, a estas minhas alegadas afirmações, foi a de que “não aceita comentários soezes de um ex-PIDE/DG-S” e que a minha pessoa “não merece credibilidade”, mencionando “a minha ligação à polícia política durante o movimento estudantil”, que “considera assumida no livro Conquistadores de Almas publicado pela Guerra e Paz em 2006” de que sou autor.

Ora estas afirmações são difamatórias, porquanto, como o próprio livro citado documenta, fui de facto militante do movimento estudantil há quase 40 anos, mas sem nenhuma ligação à polícia política e, pelo contrário, por causa do que fui preso, torturado, julgado e condenado pela PIDE/DGS em Tribunal Plenário (processo-crime contra a Segurança do Estado nº 76-A/73).
Há 35 anos, durante o PREC, fui vítima pela extrema-esquerda das mesmas falsas acusações agora repescadas pelo Sr. Aníbal Fernandes, conforme é narrado no livro citado, que, ao contrário do afirmado, até inclui cópia das decisões proferidas pelos poderes militares da época que comprovam a falsidade destas afirmações.

José Luís Pinto de Sá, Professor do IST

O texto foi limitado a 300 palavras, nos termos da lei e por exigência do jornal.

terça-feira, abril 27, 2010

O cluster da ENERCON e as exportações do Pimentinha

Há dias, no verdadeiro massacre a que o programa do Miguel Sousa Tavares sujeitou o Eng.º Henrique Neto, um não-especialista em energia, pela mão do perito em demagogia e mentira convicta Eng.º Carlos Pimenta, este afirmou que em matéria de renováveis Portugal exportava "produtos e serviços".
Logo na altura pensei para comigo que "serviços" de facto sim, mas serviços financeiros! Ou seja, que a EDP investe em parques eólicos no estrangeiro subsidiados pelos Governos estranjeiros e equipados com equipamentos estrangeiros.
E também já aqui implorei por uma prova, uma informação que seja, de que exportamos alguma coisa do que se fabrica no cluster do Eng.º Aníbal Fernandes e que o que ele vende se não esgotará quando o mercado nacional se esgotar em breve.

E eis que aí está uma notícia deveras extrarodinária: a EDP Renováveis, no âmbito dos seus negócios financeiros pelo mundo fora e em especial nos EUA, acaba de fazer um contrato de aquisição por grosso de 2100 MW de eólicas, a maior encomenda de sempre feita a um fabricante de aerogeradores!
Fantástico, pensarão! Excelentes notícias para o cluster nacional da ENERCON e os trabalhadores de Viana do Castelo! Porque foi à ENERCON nacional que a encomenda da "Energias De Portugal" foi feita, não?
Não! Foi à VESTAS dinamarquesa!...

segunda-feira, abril 26, 2010

O mar, uma boa aposta para Portugal, dizem.

Volta e meia há um político que diz que Portugal deve apostar no mar, como desígnio de desenvolvimento.
Ontem foi o Presidente da República, mas tem havido outros, recorrentemente.
Esta ideia do mar dever ser a nossa aposta central de desenvolvimento deixa-me sempre com a estranha sensação de ter um problema grave de visão.
É que não consigo ver em que medida o mar poderá constituir uma coisa em que Portugal tenha alguma vantagem competitiva, tecnológica, industrial, científica ou o que seja!
Não temos marinha mercante. Somos irrelevantes no transporte marítimo internacional.
Não temos construção naval de envergadura. Os estaleiros de Viana do Castelo estão aflitos com falta de encomendas.
Nem sequer já somos um estaleiro preferencial de reparações, como no tempo em que a Lisnave e a Setenave estavam sempre cheias de grandes petroleiros.
Temos uma pesca sem tecnologia nem barcos.
Não temos marinha de guerra. Nem sequer um par de submarinos!
Não temos Império ultramarino nem nenhuma possibilidade de o recuperar.
Nem temos uma indústria de caça aos tesouros das naus afundadas aqui ao largo.
E, quando a energia eólica offshore, temos uma costa em que o mar se afunda brucamente, ao contrário do mar do norte, o que inviabiliza a instalação de torres a uns 10 a 15 km de terra, que é como são mais produtivas - tirando algumas pequenas zonas no litoral centro e norte.
A única coisa que temos é o mar aqui mesmo mas, se isso bastasse, o Taiti também era uma potência marítima.
É por isso que, intimamente, às vezes me ocorre a inebriante esperança de que talvez haja um segredo que eles sabem e eu não.
Um segredo que explicaria o interesse de Portugal em estender a sua zona marítima para além do alcance das motas de água que ensurdecem as praias.
Petróleo!
Será que há petróleo off-shore ao largo da nossa actual zona marítima exclusiva, e que isso é um segredo de Estado?
Só se for isso...

domingo, abril 25, 2010

Praga de cérebros

Hoje o jornal O Público traz um conjunto de artigos elogiosos do alegado sucesso da política do Governo em matéria de promoção de Investigação e Desenvolvimento, incluindo até um Editorial laudatório, sob o lema de "Portugal está a travar a fuga de cérebros".
Sobre o que de concreto se pode encontrar nestes artigos não vale a pena eu escrever porque isso acaba de ser feito, e bem, por David Marçal no Rerum Natura.
Mas ainda assim vale a pena perguntar: para que se tem de alardear que Portugal está a travar a fuga de cérebros, se isso é coisa que não existia?
Noa anos 70 doutoraram-se muitos investigadores no estrangeiro, graças à visonária política de bolsas do INIC de então, e quase todos esses investigadores voltaram, a tempo de promover a grande Reforma que a Universidade conheceu nos anos 80.
Depois, nos anos 80 e boa parte dos 90, houve a grande vaga de doutoramentos nacionais, promovida pelos que se haviam doutorado lá fora, mas como é sabido ficaram quase todos na Universidade.
Até há cerca de 10 anos, "fuga de cérebros" era coisa de que não se falava em Portugal. O "brain drain" era uma coisa de asiáticos e de gregos, que há muito enchem os corpos docentes das Universidades de língua inglesa, mas não acontecia cá.
Porque dizer agora, então, que "Portugal está a travar a fuga de cérebros", a não ser... precisamente porque essa fuga existe?

sexta-feira, abril 23, 2010

A subsidiação das energias renováveis e os estudos contraditórios

Na Conferência de Imprensa de apresentação do Manifesto para uma Nova Política Energética, a jornalista Lurdes Ferreira de O Público perguntou o que tínhamos a dizer dos estudos contraditórios aos trabalhos alemão e espanhol que o Manifesto invoca como testemunho do impacto negativo da subsidiação às energias renováveis nesses países-exemplos.
A questão era muito lateral ao Manifesto para ter ali uma discussão exaustiva mas agora, com mais tempo, vale a pena voltar a este assunto - tanto mais que Lurdes Ferreira, cujo entusiasmo pela política de Bruxelas caninamente seguida em Portugal é diariamente demonstrada na sua coluna ecotópica no Público, se apressou a publicar que os subscritores do Manifesto não tinham respondido satisfatoriamente à sua pergunta sobre as críticas aos tais textos (em vez de dar notícia, como seria de esperar numa reportagem sobre a apresentação do Manifesto, dos próprios argumentos do Manifesto).

Comecemos então pelo estudo espanhol, que tem sido largamente debatido nos EUA e que, por causa disso, é mais conhecido.
Dei notícia deste estudo aqui no início de Fevereiro, resumindo-o na sua conclusão de que por cada emprego criado eram destruídos 4. Logo na notícia que dei sobre o referido estudo eu próprio lhe apontei algumas imprecisões de dados, e escrevi expressamente então: "O referido estudo considera a criação em Espanha de 15 mil empregos pelas energias renováveis, mas baseia-se para isso num trabalho prospectivo europeu de 2003. Os dados mais recentes da EWEA mostram que esse número está subestimado e que, se for considerado o emprego efectivamente criado, se pode afirmar o seguinte: por cada emprego temporário criado pelas energias renováveis, será destruído duradouramente outro quando os respectivos sobre-custos se repercutirem nas tarifas e na correspondente retracção do poder de compra da população".
Dado o impacto político que este estudo espanhol teve nos EUA, o National Renewable Energy Laboratory (NREL) da Administração americana sentiu-se na obrigação de se pronunciar sobre ele, para lhe encontrar um conjunto de erros metodológicos semelhantes aos que eu próprio detectara, e que questionam a precisão dos resultados numéricos obtidos (como eu próprio fiz) mas não o método geral seguido. Tanto assim é que o próprio parecer do NREL cita, a dada altura, o estudo alemão de 2006 que o Manifesto invoca: "Work focused on Germany, conducted in 2005, found that feed-in tariff (FIT) policies in their country would result in a surge in employment between 2004 and 2008 as deployment proceeded rapidly; but net employment would turn negative in 2010 as construction of new facilities declined and the higher costs of renewable energy impacted the broader economy (Hillebrand et al. 2006)".
O parecer do NREL invoca dois estudos mais recentes que contrariariam as conclusões do referido estudo alemão de 2006: um feito por encomenda do Comissariado de Bruxelas, sobre cuja independência do lobby eólico-fotovoltaico germano-dinamarquês-espanhol estamos conversados (já lá volto), e outro realizado por vários centros universitários alemães incluindo um de energia solar, de 2007, e que é claramente uma resposta ao estudo de 2006.

Ora neste último estudo, embora o NREL afirme dele que "finds that, in Germany, net employment remains positive for all renewables deployment scenarios across a variety of sensitivities, and growing export markets greatly increase the net employment impact", a verdade é que esta conclusão assenta em algumas hipóteses muito interessantes que importa enunciar.
Começo por reconhecer que este trabalho é de boa qualidade, não fugindo a nada do que o estudo crítico de 2006 que o Manifesto invoca teve em conta, nomeadamente a redução de emprego causada pela subida dos custos da energia e pela redução das formas tradicionais da sua produção, e distinguindo-se por conter um modelo de emprego de Input-Output baseado nas estatísticas oficiais alemãs e, sobretudo, por ter em conta o comércio externo, isto é, o impacto para o emprego na Alemanha das exportações das suas indústrias de equipamentos de energias renováveis (aerogeradores e painéis fotovoltaicos) e das importações de componentes.
De facto, e como este estudo mostra, a manutenção da liderança industrial no mercado mundial de equipamentos de energia renovável é a questão chave para o sucesso económico da política alemã, e é muito interessante que o estudo articule 4 aspectos: a existência de um consenso mundial sobre as alterações climáticas (que cria o mercado), a cópia pelos países estrangeiros da política de subsidiação tarifária alemã, a deslocalização para esses países das parcelas de baixa tecnologia das indústrias de equipamento (mantendo a Alemanha a produção dos componentes críticos em tecnologia), e o foco nas energias eólica e solar, dada a menor capacidade exportadora das de biomassa ou hídrica.
Quando da realização deste estudo, a Alemanha produzia 40% dos aerogeradores e 30% dos painéis solares mundiais, mas 2/3 do seu mercado era europeu, e o estudo sublinha a necessidade dos outros países da UE continuarem a manter a sua política de subsidiação às renováveis para se garantir o futuro da indústria alemã.
Relativamente ao emprego existente em 2004, o complexo modelo de Input/Output utilizado conduz à quantificação de 157 mil empregos, dos quais 64 mil na indústria eólica e, destes, 43% directos (o que nos fornece um 1º multiplicador fiável para os empregos indirectos na indústria eólica: 1.3, um valor plausível e até inferior ao de 2.0 que eu estimara por alto aqui). A biomassa empregaria 52 mil pessoas, pouco menos que a indústria eólica mas com apenas cerca de 1/3 do investimento, e seriam empregos centrados na Operação & Manutenção (O&M), portanto sustentáveis.
As projecções para o futuro deste estudo dependem, entretanto, de 2 hipóteses fundamentais:
  • A redução tendencial dos sobre-custos das energias renováveis relativamente às  fontes tradicionais, nomeadamente fósseis (carvão e gás natural) e nuclear, e que o estudo espera que aconteça por via da inibição do nuclear na Alemanha a partir de 2022 e do crescimento da "multa" do CO2 pago pelas centrais a carvão e a gás - ou seja e em qualquer destes casos, por determinações políticas - e também pelo aumento dos preços internacionais do gás e do carvão e pela redução esperada do consumo energético, que se irá repercutir exclusivamente nestas fontes tradicionais de energia e, por essa via, nas respectivas importações de carvão e gás natural;
  • A contínuo crescimento das exportações alemãs de aerogeradores, painéis solares e, em menor grau, centrais de biomassa.
De facto, o estudo reconhece (na última página) que se estas duas hipóteses se não verificarem, o saldo de criação de emprego será negativo para a Alemanha, como o estudo de 2006 que este pretende contraditar previa. E convém notar que o estudo ignora completamente a questão de como se resolverá tecnicamente e a que custo o problema da intermitência das energias eólica e solar...
Fica assim claramente assumida a importância que tem para a economia alemã a continuação da política de subsidiação às energias renováveis eólica e solar de países como Portugal, embora no caso do solar se tenha entretanto tornado clara a incapacidade das exportações alemãs competirem com as chinesas.
Quanto ao estudo de 2009 encomendado pela Comissão Europeia é evidente que toma o que acabei de descrever como referência mas que o "retoca" convenientemente: basta notar que, onde o estudo alemão que descrevi afirma que havia na Alemanha em 2004 157 mil empregos (directos e indirectos) associados às renováveis, este diz que havia o dobro, 320 mil! E diz que em Portugal já havia então mais de 50 mil, o que até faz empalidecer os 30 mil recentemente alegados para o presente pelo nosso Governo...
Em todo o caso, estes trabalhos têm um dado muito útil: uma boa estimativa do "multiplicador de emprego" das renováveis, ou seja, o quociente do número de empregos directos + indirectos sobre o de directos, o qual se no estudo alemão de 2007 é de 2.3, no europeu é menor que 2 - o que vem, portanto, comprovar as colossais fantasias que nesta matéria têm sido propaladas pela APREN, pelo Governo e sobretudo pelo Sr. Aníbal Fernandes!...

Entretanto e voltando ao NREL, um Laboratório cujas publicações técnicas sobre renováveis consulto há muitos anos com agrado pelo seu rigor e qualidade, é evidente que as conclusões que retira das referências feitas aos estudos económicos europeus que acabei de descrever são polarizadas, por induzirem uma ideia sobre o que eles contêm que não é a que realmente lá está.
Não admira, por isso, que este relatório tenha suscitado fortes suspeitas de venalidade, algo que os americanos não toleram num organismo público sustentado pelos seus impostos, e isso conduziu à criação de uma Comissão de investigação sobre ligações do NREL ao lobby eólico que pediu, até, aos Tribunais, acesso aos emails trocados com empresas deste sector.
A acesa batalha que se trava nos EUA em torno desta questão pode ser seguida em vários blogs e jornais, como por exemplo neste blog aqui e neste jornal.

Entretanto e significativamente, ninguém menciona o demolidor estudo dinamarquês, do país campeão da energia eólica, onde esta nasceu há já quase um século e sede do maior fabricante mundial de aerogeradores...

quarta-feira, abril 14, 2010

Urânio a preço de saldos - II

Há pouco mais de 2 semanas saudei o novo acordo de desarmamento nuclear entre os EUA e a Rússia com a observação, admito que um pouco cínica, que isto ia transferir mais urânio para re-empobrecimento e uso pacífico em produção de energia e pô-lo a preços de saldo.
Mas o meu cinismo não era descabido: os EUA e a Rússia assinaram hoje novo acordo sobre como vai ser processada essa utilização de 68 toneladas de Plutónio, e vai efectivamente ser para a produção de energia!
Entretanto, simultaneamente, a Cimeira de 47 países para o Nuclear acaba de concordar nos termos requeridos para evitar que "os terroristas tenham acesso ao plutónio e ao urânio enriquecido necessários para fazer armas". Trata-se de um acordo há muito encarado como pré-requisito para o renascimento mundial do nuclear. Ou seja, e retomando a veia cínica: chegaram a acordo sobre como controlar o comércio mundial das 68 toneladas de Plutónio que entretanto a Rússia e os EUA acordaram converter em energia barata.
Sinal inequívoquo do que há meses anunciei, no rescaldo da Cimeira de Copenhaga: os EUA  e a Rússia vão apostar é na tecnologia da energia nuclear (com o Japão, a Coreia, o Brasil e a África do Sul se esta se não desconjuntar), e vão deixar a Alemanha (e os "verdes" europeus) a enfrentarem a sua Estalinegrado eólica/solar contra a China!
Querem apostar?

segunda-feira, abril 12, 2010

Em O Público de hoje

Manifestamente necessário

Jorge Vasconcelos, que foi Presidente da ERSE entre 1996 e 2006 e que preside hoje a uma empresa de consultoria para as energias renováveis, publicou no passado dia 5 um artigo de opinião em que critica o anunciado “Manifesto por uma nova política energética em Portugal“ (com o título "Manifestamente errado").

A primeira injusta acusação que Vasconcelos dirige é a de ser um debate partidário, no sentido de partido político ou no de partido desta ou daquela forma de energia. Ora a múltipla ou ausente coloração política dos signatários do referido documento não justifica a alusão a inscrições partidárias!

Porém, o desejo manifestado por Vasconcelos de um debate sem partido quanto às formas de energia é que se afigura deveras curioso: um tal debate teria sido perfeitamente justificado em 1996 e até 2001, antes do famoso “programa E4” e da decisão do Governo de Guterres de encher o país de instalações eólicas sem a mínima promoção de estudos sistémicos nem de planeamento estratégico, nem de precaução quanto à incorporação sustentável de valor nacional nessas instalações. Nessa altura, porém e infelizmente, não se ouviu ao então Presidente da ERSE a manifestação desse desejo de debate nacional do assunto! E agora, que são patentes as impossibilidades técnicas e as desastrosas consequências económicas que tal política causou, agora que, como o próprio Vasconcelos reconhece, o actual Governo apresentou a “Estratégia Nacional para a Energia 2020”, sem que sejam conhecidos quaisquer estudos que a fundamentem e em que as metas anunciadas se configuram como o multiplicado desvario do que tem vindo a ser praticado, agora não é justo pedir um “debate sem partido”!

Os signatários do Manifesto têm, de facto, partido, em política energética! Não um partido anti-eólico ou anti-fotovoltaico como afirma Vasconcelos, mas um “partido” contra a falta de planeamento e contra a ideologia como guia de uma política em que a consideração das consequências técnicas e dos custos económicos estão ausentes! Ou seja, por uma base energética capaz de na prática poder contribuir para assegurar a competitividade e sobrevivência da Economia de Portugal. Aparentemente, uma preocupação que Vasconcelos nunca teve enquanto presidiu à ERSE!

No seu artigo, Vasconcelos cita alguns excertos do “Manifesto” para explicar “os erros” que, segundo ele, atestam a “falta de rigor” do mesmo mas que, de facto, demonstram é uma surpreendente incompreensão do comportamento sistémico de uma rede eléctrica por parte de quem foi o Regulador. É o caso, em particular, das suas observações sobre as consequências técnicas da intermitência das energias eólicas e fotovoltaicas, que têm obrigado a dissipar ou a exportar a preço nulo a produção renovável em excesso, ao mesmo tempo que exigem o continuado recurso frequente a importações de Espanha (e à disponibilidade de fontes complementares de energia, em particular de centrais de ciclo combinado que operam com gás natural importado). Vasconcelos afirma que estas afirmações “constituem um completo curto-circuito cerebral” e que se as exportações ocorrem a preço nulo é por ser esse o preço marginal do mercado a essa hora. Ora isto é uma verdade de La Palisse, mas é Vasconcelos que curto-circuita cerebralmente a verdadeira questão: porque se exporta essa energia, então? Porque se exporta uma energia que é paga ao produtor ao elevado preço médio de 9 ç/kWh, se o preço que o mercado está disposto a pagar por ela é nulo? Porque se faz este ruinoso negócio? É esta questão que Vasconcelos curto-circuita, esamoteando que tal ocorre porque a produção dessa energia, a certas horas e certos dias, excede a capacidade de consumo nacional mas não pode ser pura e simplesmente desligada nem se pode reduzir a tarifa subsidiada que desde 2001 é paga aos respectivos produtores, que estão assim completamente imunes às vicissitudes do mercado!
Aliás, Vasconcelos também curto-circuita na sua argumentação o facto desse excesso de energia eólica nem sempre ser exportado a preço nulo e ser pura e simplesmente dissipado (mas pago sempre aos respectivos produtores ao preço fixo referido), como aconteceu por exemplo em Dezembro passado, onde esse excesso de produção alimentou bombagens na central do Alqueva para depois esta ter de abrir as comportas e deixar vazar sem préstimo essa água, e com ela a energia armazenada (e bem paga)!

Por outro lado, além de mostrar não compreender que relativamente às necessidades do diagrama de consumos as mesmas fontes de energia renovável que por vezes produzem em excesso, outras vezes não produzem quase nada e é preciso recorrer a importações ou ao uso de novas e subutilizadas centrais termoeléctricas, o que é um problema técnico de desadaptação da produção intermitente ao diagrama de consumo, Vasconcelos escamoteia que a parcela importada de energia eléctrica anualmente consumida no país tem vindo cronicamente a crescer, contrariando a apregoada independência energética que estas formas de energia proporcionariam. A importação crónica resulta efectivamente da insuficiência da produção renovável nacional, e não de “razões económicas”, como afirma Vasconcelos. Estas determinam é a que horas do dia é essa importação preferencialmente feita, e não o seu saldo global anual!

Finalmente merece resposta a acusação de que “os subscritores do Manifesto não digam uma palavra sobre a ineficiência do Mercado Ibérico de Energia”. Este Mercado poderá não ser eficiente, mas a semelhança das mesmas políticas de subsidiação ruinosa à eólica e à fotovoltaica em ambos os países ibéricos é clara!

Pelo que, à acusação de que o Manifesto é “manifestamente errado”, estes subscritores respondem: que ele era manifestamente necessário!

José Luís Pinto de Sá
Luís Mira Amaral

quinta-feira, abril 08, 2010

De como mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo e da argumentação ad hominem...

A versão impressa do Público de hoje noticia que "desvalorizei ontem o peso económico do pólo industrial eólico criado em Viana do Castelo" e que o considerei "um cluster que faz umas montagens", sublinhando, segundo o Público, "que a Enercon, o parceiro alemão que liderou o projecto com a EDP, tem um problema de exportações por um litígio de patentes com a General Electric, que a proíbe de exportar para os EUA".
Confrontado sobre isso, o responsável pelo projecto industrial da ENERCON em Portugal Aníbal Fernandes, afirmou o seguinte, segundo o Público: "não aceito comentários soezes de um ex-PIDE-DGS". E diz que "considerou ofensivas" as minhas declarações, e que apenas entende "a desvalorização da importância do núcleo de Viaba do Castelo, com 2100 postos de trabalho qualificados directos e cinco mil indirectos, vinda de uma pessoa que não merece credibilidade", citando "a sua ligação à polícia política, durante o movimento estudantil, e que considera assumida no livro Conquistadores de Almas, editado pela Guerra e Paz em 2006".

Vamos então aos factos e deixemos as conclusões (e os julgamentos) para o leitor.

Não me lembro de ter afirmado ontem que o "cluster" "fazia umas montagens" (na verdade acho que foi outro membro da mesa que disse essas palavras), mas admito que desvalorizei o "cluster" e que mencionei a história do litígio de patentes com a General Electric.
Ora este litígio existe, e já contei neste blog detalhadamente a sua história aqui, e que pode ser consultada aqui. Contei a história com links para as suas fontes, como faço sempre que falo de factos destes, e é algo que qualquer pessoa pode confirmar com uma busca na wikipedia.
Resumindo os factos, nos anos 80 a tecnologia de velocidade variável desenvolvida pela ENERCON e que permite aproveitar muito melhor o vento e que não exige a problemática caixa de velocidades das turbinas de velocidade fixa que havia até então, terá sido roubada usando o Echelon, e patenteada pela Keneteck Windpower que depois foi comprada por outra que faliu e foi comprado por outra até acabar nas mãos da General Electric. E isso deu origem a um litígio, em que os americanos acusaram a ENERCON de ser quem violou a sua patente, o que terminou em 1994 numa decisão judicial que proíbiu o acesso da ENERCON ao mercado americano até 2010. Está tudo documentado e comentado na Internet.
Ora eu nunca coloquei em causa a qualidade técnica da ENERCON! O que afirmo é que para uma estratégia industrial de exportação, sendo o mercado americano um dos de mais rápido crescimento, é obviamente um handicap ter um parceiro estrangeiro com estes contrangimentos comerciais. Ou não é verdade?

Por outro lado, e quanto ao valor do cluster eólico de Viana do Castelo, é de deitar foguetes por Aníbal Fernandes ter finalmente dito um número verdadeiro! 2400 empregos directos, diz agora, e deve ser um número certo, porque é congruente com os números do relatório da APREN/Delloitte. Ainda bem para esses trabalhadores! Porém, ainda não há muito tempo Aníbal Fernandes afirmou na TV que em breve teríamos 36 mil empregos nesse cluster, há ano e meio prometeu 20 mil empregos para agora, e trata-se de algo que tenho seguido atentamente, tanto mais que Aníbal Fernandes deve ser um dos principais mentores dos 30 e tal mil empregos que a APREN e o Governo têm apregoado sobre a criação de emprego nos tais "clusters"...
Porém, o que tenho questionado é principalmente a falta de incorporação tecnológica própria que, conjugada com a exigêngia de montagem local dos países que estão a instalar eólicas em quantidade, me leva a duvidar muito da sustentabilidade desta produção quando se esgotar o mercado nacional. Bem sigo as notícias a ver se encontro algo sobre eólicas fabricadas em Portugal e exportadas, mas ainda não tive a sorte de encontrar dessas boas novas...

Finalmente e quanto ao livro Conquistadores de Almas; agradeço a publicidade de Aníbal Fernandes e recomendo-o a todos os interessados na nossa História de há 40 anos, quando eu e ele tínhamos 20 anos: pode-se encomendá-lo pela Wook e custa só 17 €. Mas para quem tiver muita pressa em lê-lo, voltei a abrir ao público um blog que em 2006 fiz sobre o assunto e que contém largos resumos do livro. Podem lê-los aqui.

quarta-feira, abril 07, 2010

Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal

E pronto! O Manifesto foi finalmente apresentado ao público!
Temos site próprio e tudo, onde podem encontrar alguns documentos de suporte.
O documento em si podem lê-lo aqui.
A apresentação parece-me que correu bem, mas claro que os jornais dão a sua própria interpretação. Esta, por exemplo, é muito enviezada, mas já sabíamos de antemão em que trincheira nos iríamos encontrar depois. A Luísa Ferreira, por exemplo, queria que tivéssemos um programa integrado para a energia, o desenvolvimento tecnológico e o económico, como se fôssemos Governo, mas neste momento do que se trata é de desmontar as mistificações daquilo que se apregoa existir, e que não existe. Claro que temos as nossas próprias ideias sobre isso tudo, cada um de nós com as suas, mas não nos compete discutir isso agora.
O que pretendemos é que se discuta de forma aberta e transparente TUDO o que está em curso, que é o que não se tem feito.
Gostei de ver no grupo de subscritores o entusiasmado engenheiro Demétrio Alves, antigo Presidente da Câmara de Loures e conhecido militante do PCP, mas nao me safo de ser apontado como o tipo que escreveu um texto no Instituto Sá Carneiro (querendo com isso, obviamente, "provar" o caracter partidário da iniciativa), apesar de todos sabermos que foi aquele Instituto que veio buscar esse texto a este blog (com minha autorização, com certeza), e não o contrário...
Mas os ataques  já tinham começado há dias, mesmo antes da publicação do Manifesto, com Manuel Pinho no Expresso e Vasconcelos no Público e, como já esperávamos, depressa escalaram para a argumentação ad hominem,  como esta aqui. Que Mira Amaral e o Carlos pensaram em experimentar uma eólica off-shore há 5 anos; e depois? Os nossos adversários querem à viva força transformar esta disputa num pugilato ente a tribo pró-renovável e a tribo pró-nuclear, mas não vão ter sorte.
Eles querem "provar" que nós somos os lobbistas do nuclear para tornar normal o eles serem assumidamente lobbistas das eólicas e dos negociantes de fotovoltaicas.
Mas sós não somos "contra" as eólicas ou contra as renováveis. Somos contra a subsidiação sem sentido, a mentira com que se tem mascarado tudo isto e contra a falta de estudo, de ENGENHARIA em toda esta política (na verdade, este é um Manifesto de ENGENHEIROS). E não somos "pelo" nuclear.
Somos é por Portugal e pelo seu povo, e pela nobre arte da Engenharia!

sábado, abril 03, 2010

A defesa do curto-prazo e do não-planeamento energético é a demissão do interesse pátrio

Alguns media noticiaram esta semana a apresentação próxima de um Manifesto pedindo a revisão da Política Energética Nacional e criticando os incomportáveis custos da subsidiação corrente à política pró-eólica e pró-fotovoltaica do Governo. O Manifesto ainda não foi apresentado, mas já começaram as vozes críticas ao mesmo.
Num blog ambientalista acusa-se o anunciado e por-apresentar Manifesto de ser pró-nuclear encapuçado e de não discutir a eficiência energética e uma data de outras coisas de que se pode sempre reivindicar a inclusão conforme bem se entenda, e no Expresso o ex-ministro da Economia Manuel Pinho diz que embora não tenha visto no tal Manifesto (ainda por publicar) nenhuma referência ao nuclear, também não vale a pena discutir esse nuclear porque ele só daqui a muito tempo estaria pronto (10 anos) e porque a Agência Internacional de Energia diz que a actual política energética portuguesa é do melhor que há.
É sobre esta posição de Manuel Pinho que quero deixar um par de comentários, já que quanto à Agência Internacional de Energia, como não é ela quem tem de pagar os custos da energia portuguesa nem todos os outros prejuízos para Portugal da ausência de uma estratégia energética, industrial e tecnológica integradas, a sua opinião vale zero. Todos sabemos como opiniões gratuitas destas se obtêm com um convite para uma visita a este país de boas praias e melhor mesa...
O que me indigna na posição de Manuel Pinho não é o que ele diz sobre o nuclear de que o tal Manifesto não fala, e que aliás é a repetição de um argumento que já outros arvoraram.
O que me indigna é a própria natureza do argumento: o de que qualquer coisa que seja para Portugal ter daqui a 10 anos não interessa considerar!
É que isto equivale, pura e simplemente, a recusar a actividade de planeamento como princípio, e é algo inconcebível num Estado que deve ter por razão de ser, precisamente, além da regulação dos interesses privados a defesa do que é o interesse da Nação, uma entidade que já tem quase 9 séculos de História e que há-de ser legada aos nossos filhos e netos!
Ora é precisamente por náo se ter feito este planeamento que enchemos o país de eólicas e só perto do fim nos lembrámos de criar alguma actividade produtiva e emprego à conta desse negócio para alguns! Obviamente, demasiado tarde! Coisa que nenhum, mas nenhum outro país fez!!!
O que me indigna neste argumento é, antes de mais, o ele ter sido aplicado à própria opção pelas energias renováveis e à forma como ela tem sido feita! E que tem sido, a meu ver, a pura demissão do interesse pátrio! 

sexta-feira, abril 02, 2010

Obama legisla para que os carros americano gastem menos e o Nissan Leaf.

Acaba de ser publicada nos EUA uma lei que finalmente, após 30 anos de resistência dos 3 grandes de Detroit, obriga a melhorar o rendimento dos motores dos automóveis americanos: terão, dentro de 6 anos, de só gastar 8 litros aos 100kmo que ainda é mais que o consumo médio dos automóveis na Europa e Japão desde que o choque petrolífero de 1973 induziu o aperfeiçoamento dos motores, em vez dos 10 que ainda gastam presentemente na América. O progresso nos motores tem sido, de facto, extraordinário: o Honda Jazz da minha filha, com os seus 90 cavalos, gasta só 6 litros, enquanto há 30 anos o meu primeiro carro, um pequeno Fiat 126 de 2 cilindros e 23 cavalos concebido antes de 1973, gastava 7...
Como o parque automóvel americano é responsável, só por si, por 1/3 do CO2 emitido pelo parque mundial, esta medida tem um impacto significativo nessas emissões. Além disso reduzirá a procura de petróleo e contribuirá para combater a respectiva alta de preços. Preços que, aliás, há já um ano que estão estáveis quando cotados em USD, mas que quando o câmbio do € subia se mantiveram estacionários por cá, e agora que o € está a desvalorizar têm subido em flecha...
Esta legislação é uma daquelas em que todos ganham.
Entretanto, o Nissan Leaf eléctrico estará brevemente à venda nos EUA. Não vem nada barato, mas pelo menos nos EUA faz publicidade honesta: sobre a sua bateria e a alegada capacidade para 165 km de autonomia: avisa que esta se reduz com o uso do carro (veja o víídeo até ao fim e leia as letras pequeninas). Como as dos portáteis e telemóveis e como eu bem tenho avisado...
A Nissan corre um risco considerável com esta aposta. E não será por acaso que é a Nissan, um fabricante de qualidade mas má estratégia de fabrico que a levou à falência e a ter de se deixar comprar pela Renault quem aposta nesta fuga para a frente. Nem a Toyota nem os outros grandes fabricantes com boa saúde financeira vão nesta fantasia. Esses, apostam é nos híbridos e já há muitos anos! Híbridos que se preparam agora para evoluirem para os híbridos também carregáveis electricamente (Plug-In Hybrid Electric Vehicles = PHEV), que é o que toda a I&D internacional com os pés na terra está a considerar...