sábado, agosto 22, 2009

Notas da América: a promoção à troca de carros

Está aceso o debate nos EUA sobre o "cash-for-clunkers", a medida da Administração Obama pela qual são dados 3500 a 4500 dólares por carros velhos poluidores em troca de novos mais eficientes. O valor para cada comprador depende da eficiência dos carros comprados, em termos de consumo e CO2 emitido, e só se aplica se o carro a trocar for pior que um certo limite nestes critérios. O Congresso aprovou primeiro 1 e depois 3 biliões de dólares para esta medida, prevista para durar 4 meses, mas o fundo esgotou-se em 3 semanas, devido ao enorme sucesso que teve. A medida visa também ajudar a indústria automóvel americana em crise, embora na verdade tenha aumentado ainda mais a quota de mercado dos carros japoneses, sabidamente mais eficientes. O debate divide republicanos e democratas, com os republicanos a acharem que é dinheiro mal gasto e os ecologistas a acusarem a medida de ser insuficientmente green.

Para ter uma melhor ideia da medida, convém começar por notar que nos EUA os carros são muito baratos, porque não existe o "Imposto sobre veículos" que nós temos. Um Honda Civic, por exemplo, custa aproximadamente tantos dólares lá como euros em Portugal, mas o dólar vale 0,7 euros. Por isso, a quantia em jogo em cada carro é muito apreciável.

Ora vale a pena comparar esta medida com a bonificação acrescida na compra de carros que o actual Governo propôs e o Parlamento aprovou recentemente em Portugal. Esta bonificação consiste num desconto de 1250 € para carros com 10 ou mais anos, que sobe para 1500 € se o carro a trocar tiver mais de 15 anos, no Imposto Sobre Veículos (ISV) do carro novo.

Em primeiro lugar, como não consumimos automóveis produzidos em Portugal, economicamente esta medida só pode incrementar o comércio importador dos mesmos e beneficiar alguns comerciantes, mas à custa do défice externo.

Porém, importa notar que a referida bonificação tem a forma de um desconto sobre o ISV, e que a fórmula deste é tal que beneficia (correctamente) os automóveis menos poluentes e mais eficientes. Significa isto que, na realidade, a medida tem pouca aplicação prática para os carros mais baratos e/ou eficientes, e que promove é a aquisição de veículos gastadores e poluidores. Um exemplo demonstra isto.
Supunhamos que se pretende adquirir um Honda híbrido Insight, que custa cerca de 20 mil €: o seu ISV é de 857 €, pelo que de facto esse é o desconto máximo que se poderá ter na sua compra, e não os 1250 ou 1500 € anunciados pelo Governo! Mas conjecturemos que quem tem um carro com 15 anos para trocar é provavelmente pobre e procurará antes um carro de gama baixa, por exemplo um Honda Jazz de 14 mil €: o ISV deste é de 797 €, pelo que é esse de facto o desconto "oferecido" pelo Governo ao referido pobre. Para que ele aproveite melhor a "oferta" do Governo, deverá antes comprar um Mazda 2, carro de preço similar mas que, por ter um motor mais antigo e menos eficiente, paga 1264 € de ISV...
E, continuando a fazer contas, é fácil de ver que para se aproveitar integralmente os 1500 € se terá de trocar o tal "chasso" com 15 anos por um carro novo de gama média, bastante gastador de gasolina e nunca híbrido!
Para quem promove o carro eléctrico como a salvação ecológica do mundo, há aqui uma contradiçãosinha...

domingo, agosto 16, 2009

Mais mentiras sobre os empregos verdes em Portugal!

Mais uma vez, os ecotópicos vêm anunciar os imensos empregos verdes que as "renováveis" vão criar. No futuro.
Portugal está já a 2/3 da capacidade total de energia eólica instalável, é um país que por muitas décadas teve nas hidroeléctricas a sua principal fonte de energia eléctrica, mas é no futuro exaltante que aí vem que a renováveis vão criar muitos empregos entre nós!
É sempre algo que vai acontecer no futuro, esta economica empregadora!
E isto é assim para esconder, obviamente, que ATÉ AGORA as renováveis, ou mais exactamente a eólica, apenas criaram em Portugal 1300 empregos ao todo, 800 directos e 500 indirectos! Os quais com grande probabilidade desaparecerão quando o 1/3 que falta estiver instalado, já que as eólicas são quase sempre monitorizadas directamente do estrangeiro, pelos seus fabricantes, por tele-comunicação!
E que, tendo destruído em grande parte a antiga capacidade nacional na engenharia das barragens com a sua substituição pelas integralmente importadas eólicas, agora que a construção destas foi retomada, quase 20 anos depois da última ter sido projectada, 2/3 delas foram doadas a Espanha. Muito em particular à Iberdrola, que nunca escondeu o seu apetite pela posse do sistema hidroelétrico português e que tem agora em Pina Moura a influência que sempre desejou sobre o poder em Portugal! E, naturalmente, a Iberdrola dará é emprego a espanhóis, como nós fariamos no lugar deles!
Um negócio como este que ontem os jornais explicavam, vejam bem: se vocês instalarem "microprodução" de energia em casa, a EDP é obrigada a comprar-vo-la a 0,65 para depois vo-la revender a 0,11! Quem paga a diferença? Para que serve tal política, se não temos em Portugal nenhuma indústria empregadora que faça nada nestas tecnologias?
Na verdade, a economia que as renováveis estão a criar em Portugal é apenas a de uma classe social que um antigo dirigente político designava por "burguesia burocrático-compradora": uma economia que se limita aos negócios da importação e que é suportada pela burocracia do Estado, cujo papel é apenas o de criar os subsídios e as leis que permitem os lucros da importação.
Tudo isto começou com o Prof Oliveira Fernandes, actual dirigente do MIT-Portugal para a Energia, no tempo de Guterres, atingiu o clímax com Castro Guerra, neste Governo, mas também deve muito a Manuel Lencastre do Governo de Durão Barroso!...

terça-feira, agosto 04, 2009

Coreia do sul aderiu à salvação do planeta? Sim, mas...

Uma notícia de hoje dá conta que a Coreia do Sul decidiu definir metas de limitação do CO2 emitido para 2020.
A Coreia, que emitia em 2005 11,1 toneladas de CO2 per capita (mais 25% que nós), duplicou as suas emissões nos 15 anos anteriores, sinal do excelente desenvolvimento económico que teve. Notável, para um país que há 55 anos tinha o mesmo rendimento per capita do Gabão!
Segundo a notícia, "O Governo estima que esta meta custará entre 0,3 e 0,5 por cento do PIB e conta reduzir as emissões ao promover os carros híbridos, as renováveis, o nuclear e a eficiência energética."
Alguns ecologistas utópicos pensarão, talvez, que a Coreia assim se sacrifará, gastando uma % do PIB, em prol da salvação do planeta.
Mas há algo que falta à notícia para se ter um quadro mais completo desta aposta coreana.
É que a Coreia do Sul tem em construção, até essa data, 12 centrais nucleares de projecto sul-coreano, e é mesmo hoje em dia um dos únicos 4 países (juntamente com a Rússia, a China e o Japão) capazes de forjarem as gigantescas caldeiras de alta pressão das centrais nucleares com mais de 1 GW!...
Ora sabendo-se como o grande problema económico da energia nuclear é a incerteza quando às taxas de juro e ao preço futuro da energia, este anúncio do Governo sul-coreano é um compromisso de estabilidade para a sua indústria nuclear, sem dúvida uma inteligente opção estratégica na antevisão de que vai haver muita procura internacional para o nuclear e que há agora já poucos que as saibam fazer.
Não nos devemos por isso admirar muito se, um dia destes, além de importarmos Hiunday híbridos, também lhes comprarmos uma centralsita nuclear...

segunda-feira, agosto 03, 2009

Gestão da procura, "smart grids" e quem paga a factura

Muito a propósito do momento eufórico que vivemos, cheio de propaganda ao futuro radioso só com energias renováveis e "redes eléctricas espertinhas" (smart grids) que adaptem o consumo à produção, acaba de chegar aos nossos media uma notícia que já andou pelo New York Times e que mobilizou as hostes ecotópicas contra a "conspiração do grande capital monopolista". Concretamente, contra a EDF, a EDP francesa.
Comentei a notícia no Público on-line e a jornalista, a Senhora D. Lurdes Ferreira, uma esfusiante entusiasta da ecotopia, corrigiu-a e bem, aqui e aqui. Mas com novos erros, que também já lá comentei e que vou discutir convosco no seguimento.

Em França, uma empresa resolveu oferecer uma caixinha que desliga os consumos nas horas de ponta ou, mais exactamente, quando as tarifas estão caras por carência de produção disponível na rede. É exactamente este tipo de serviços que os "contadores espertinhos", ou smart meters, nos irão oferecer (ou impôr?) quando os ecotópicos tiverem reduzido toda a produção de energia a fontes renováveis e, em vez de haver produção que se adapte às nossas necessidades de consumo como hoje em dia, passarmos a ser nós que teremos de adaptar o nosso consumo às vicissitudes do estado do tempo.
Do ponto de vista do consumidor e neste momento, em França, que fazem de facto essas caixinhas? Desligam consumos como o ar condicionado (de longe o principal consumidor numa casa ou escritório, quando está ligado). Obviamente, isto significa que o ar ambiente vai aquecer, e é precisamente por não querermos isso que instalámos e ligámos o ar condicionado!
Se não quisermos gastar a energia do ar condicionado, o melhor é termos ventoinhas ou tirar as gravatas, como já aqui aconselhei. Mas se o quisermos, uma alternativa menos má será aceitar a referida desligação do ar condicionado apenas por uns minutos, digamos meia hora. E depois voltar a ligá-lo. Porquê?
Porque os interiores de edifícios têm uma inércia térmica considerável. Uma vez desligada a climatização, a temperatura evolui devagar, e ao fim de meia hora apenas terá subido alguns graus, o que pode ser suportável se durar pouco tempo. Mas depois, quando se voltar a ligar o ar condicionado, o termostato de regulação vai levar o aparelho, que normalmente trabalha por curtos períodos e depois se desliga por alguns minutos, a trabalhar ininterruptamente até repôr a temperatura no valor regulado inicialmente. Pode também fazer-se o inverso pouco antes de chegar a hora de ponta: arrefecer um pouco demais o ambiente, para depois se poder aguentar o aparelho desligado uma meia hora no início dessa hora de ponta.
Obviamente, a energia que se poupou durante a meia hora de desligação é inteiramente dissipada de novo durante o arrefecimento posterior (ou anterior) do equipamento. Nenhuma energia se poupa, no total. Então, onde está o negócio?
O negócio existe se o consumidor tiver uma tarifa bi-horária (no futuro ecotópico, a tarifa estará permanentemente a variar, sendo comunicada pela net aos tais "contadores espertinhos"). O negócio consiste em desligar o consumo à horas da tarifa mais cara, que são as horas de ponta, para o voltar a ligar quando a tarifa tiver mudado para mais barata, por terem passado as hora de ponta - ou antes desta, também.
Ora, porque é a tarifa mais cara nas horas de ponta?
Porque, para a satisfazer, a rede tem que ter centrais só para produzir energia nessas horas de ponta, e isso é um investimento pouco rentável para todos, razão porque é a própria dona da rede que desincentiva esse consumo encarecendo a tarifa nessas horas.
A principal vantagem das grandes redes interligadas é, aliás, precisamente a poupança de centrais de ponta, porque numa grande rede, como a europeia toda, quando o consumo atinge a ponta aqui não o está a atingir na Áustria, e vice-versa. Nos EUA o mesmo sucede entre as costas Leste e Oeste, que é onde reside a maioria da população e dos consumos.

Presentemente e no caso da França, as centrais de base, que trabalham permanentemente ao mesmo ritmo (a potência constante) são as nucleares. Por cá, são as a carvão. As centrais de ponta, capazes de variar facilmente a sua produção em função da procura, são essencialmente as hidroeléctricas, e em menor grau as de ciclo combinado a gás natural. As eólicas são quase totalmente imprevisíveis e, por isso, têm de ter outras hídricas e, sobretudo, a gás, permanentemente prontas só para lhes fazer reserva, caso falhe o vento. Portanto, reduzir as pontas de consumo deslocando-a para as horas de vazio não só não reduz energia nenhuma, no total, como aumenta a porção desta que vem das centrais nucleares e a carvão, em prejuízo da das renováveis hidroeléctricas!
Acontece que por cá, em Portugal, os fornecedores da energia são pagos pela encomenda, ou seja, mesmo que não cheguem a vender a energia das horas de ponta para as quais fizeram as centrais, recebem à mesma! Adivinhem quem paga? Não, não são só vocês! É também o défice, essa invenção maravilhosa que permite gastar sem ter com que pagar...! :-)
Mas em França não é assim, e os donos das centrais de ponta só recebem mesmo se venderem. Ora terem feito uma hidroeléctrica para satisfazer as pontas, e depois não haver consumo para ela por que não houve ponta, e não haver o mecanismo português de receber quer se venda quer não, é natural que tenha indisposto a EDF e que a ERSE lá do sítio lhe tenha dado razão!

Entretanto, e esta é a questão mais interessante, se este sistema em França efectivamente não reduz nenhum consumo de energia e até aumenta a porção proveniente das centrais nucleares em prejuízo das hidroeléctricas, porque se movimentam com tanta virulência os ecotópicos contra esta decisão da ERSE francesa?
Por uma questão de princípio que nada tem a ver com o actual sistema francês! Porque de facto eles querem poder controlar-nos o consumo de energia, pela verdadeira razão de quererem que o sistema produtor seja integralmente composto de fontes renováveis e, como tal, dependentes do estado do tempo, de se é dia ou noite, de se choveu ou não!!!
Só que, quando tudo provier de fontes renováveis, não haverá horas de ponta nem de vazio - tudo será altamente variável e imprevisível. E portanto, os tais mecanismos que se baseiam na antecipação das horas das tarifas serão em geral incapazes de "gerir a procura", e o que vai acontecer é que teremos mesmo de pagar as altas tarifas de quando não há vento, é noite e os rios estão secos. Isto se formos ricos, senão teremos de passar sem a electricidade.
Como já expliquei aqui!

Fogos de Verão e lixo: da limpeza como alternativa ao carro eléctrico

Como já referi aqui, a desflorestação e o mau uso dos terrenos agrícolas e de pastagens são responsáveis, à escala mundial, por entre 1/3 e metade da emissão de gases de efeito de estufa (GEE). O lixo, por outro lado, é responsável por cerca de 3%, segundo o Painel Inter-governamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU.

No que respeita à desflorestação e ao uso agrícola da terra, o problema está quase todo no 3º Mundo o que, obviamente, o torna num problema político difícil, considerando os complexos de culpa ex-coloniais do 1º Mundo e a política "correcta" das boas consciências que acham que a culpa de tudo é nossa, os ocidentais.

Provavelmente quando se lê "desflorestação" pensa-se nos fogos da Amazónia. Mas a desflorestação no hemisfério Sul é muito mais que isso.

Nasci e cresci em África, a 1200 km do mar, na savana, e havia uma coisa que me maravilhava nas noites estreladas do cacimbo: o céu vermelho das queimadas no horizonte e o esplendor do fogo na savana. O fogo era tão belo que ainda hoje tenho na sala um quadro enorme a óleo de uma queimada nocturna africana, herança de família, pintado há quase 50 anos!

Depois, às vezes de dia, chuvia cinza durante horas, e era preciso refugiarmo-nos nas casas para não ficarmos todos enfarruscados. A administração colonial não gostava muito destas práticas, mas tolerava-as enquanto tradição indígena e deixava fazê-las umas quantas vezes por ano.

As queimadas eram a forma dos tchokwes caçarem. Faziam uma larga meia-lua de chamas na savana e os homens postavam-se na boca do fogo a apanharem toda a bicharada que fugia espavorida. Claro que era um método bárbaro: as queimadas matavam tudo o que não conseguia fugir, crias e rebentos de vegetação e, quando ainda eram a única forma de vida, passado algum tempo as tribos tinham que se deslocar para novas savanas ainda vivas, e eventualmente disputá-las pela força. Depois os colonos limitaram as queimadas e os tchokwes sedentarizaram-se, aprendendo a plantar a mandioca que os portugueses trouxeram do Brasil e que lá chegou com os caçadores de escravos do litoral, ainda antes da chegada dos colonos.
Ora com a descolonização e as guerras civis subsequentes, é claro que as queimadas voltaram em força. A diferença é que a morte da caça agora é feita com kalashnikovs, e já não com canhangulos de carregar pela boca e zagaias.

Outra diferença essencial é que agora sabe-se quão nociva é a prática das queimadas para o aquecimento global. Não é só o CO2 emitido durante a combustão da vegetação; é também a morte desta e o fim da função clorofila por uns tempos largos, após o fogo.

Ora em Portugal os fogos florestais de Verão têm o mesmo efeito. Qual a sua contribuição para o total de GEE emitidos, não está quantificado. Aparentemente isso interessa muito menos os ambientalistas do Estado do que os negócios dos terrenos e das concessões para as eólicas, visto que todos os estudos existentes e consultáveis sobre a emissão de GEE em Portugal bem como sobre as medidas para a sua mitigação reconhecem que lhes falta esse dado, mas não parecem preocupar-se com isso.
No entanto, já mencionei um estudo rigoroso que calculou, para 2003, o valor emitido pelos fogos florestais e que terá acrescido 9% às cerca de 85 Megaton de CO2 equivalente reconhecidamente geradas no país.

2003 foi um ano mau em fogos (400 mil hectares), mas a àrea ardida tem vindo regularmente a crescer, com máximos cada 5 anos, a uma média anual de 120 mil ha. Isto corresponde, portanto, a pelo menos 3% do total de GEE emitidos em Portugal, cerca de 1/7 do valor gerado pela totalidade do parque automóvel em circulação.

Os fogos florestais em Portugal resultam sobretudo da falta de limpeza das florestas, além da sua má ordenação. Não há incentivos para a limpeza da vegetação seca e morta que junca o solo das florestas, a biomassa, e que é o grande propagador do fogo.
Tem, por isso, muito interesse ambiental a ideia de promover a queima dessa biomassa para a produção de energia eléctrica (e de calor, na forma de cogeração). E foi, portanto e em princípio, louvável a iniciativa do Governo de pôr a concurso a construção de 15 centrais eléctricas a biomassa em 2006, totalizando uma potência de 100 MW. Não tanto pela pouca energia eléctrica a obter com isso, mas por criar um incentivo económico aos madeireiros e às empresas de celulose para apanharem também a biomassa dos eucaliptais, além da madeira. Nas centrais de biomassa, algumas poucas centenas de MW de potência eléctrica podem significar a redução de 2 a 3% de GEE emitidos, pelo efeito indirecto que elas têm na limpeza da floresta e, portanto, na prevenção dos fogos. Claro que a queima em si da biomassa nas centrais também produz CO2, mas muito menos que os incêndios florestais!

Porém, a ideia estava tecnicamente mal fundamentada, como infelizmente é habitual, e por isso falhou. Das 15 centrais a concurso, uma única está em construção, e das restantes a maioria nem sequer teve concorrentes. Em Abril passado, Marques Mendes indignou-se com a situação, mas ninguém lhe ligou. Provavelmente tinha razão quando disse: "O Governo nem quer saber disso, dá pouco nas vistas". E porque é que ninguém se interessou pelo "oportunidade" oferecida pelo Governo?
Porque o subsídio às tarifas era demasiado baixo e as centrais demasiado grandes. Porque para produzir alguns MW numa central de biomassa são precisas imensas àreas de floresta e muitas toneladas de biomassa, porque o poder energético desta é muito baixo. E portanto, as tarifas têm de ser pensadas para pagarem a apanha e transporte da biomassa. Mas não foram! Em Espanha paga-se 159 €/MWh pela energia assim produzida, quando em Portugal se oferecem apenas 108 €. Podem acusar-me de estar a defender maior subsidiação, quando tenho vindo a criticar os subsídios; mas neste caso é para poucos MWh, uma ínfima fracção da energia de origem eólica, e os benefícios indirectos são enormes! Não se trata apenas de evitar fogos e a emissão de GEE; a apanha da biomassa dá emprego, enquanto a do vento, não! Sem falar nos prejuízos evitados pelos incêndios que deixam de haver...!

Mais grave ainda do que passa com o desleixo em matéria de fogos florestais, é o desleixo em matéria de tratamento dos lixos. Toda a gente que viaja sabe que Portugal é um país sujo. Todos os turistas que nos visitam o afirmam, também. E por isso não admira que em Portugal o lixo seja responsável pelo espantoso valor de 8,5% dos GEE, sobretudo por causa do metano, que é 20 vezes mais nocivo que o CO2. Trata-se de um valor típico de países do 3º Mundo onde, mais uma vez, se encontra o principal crescimento desta forma de poluição atmosférica - sobretudo por via dos aterros.

O IPCC considera sensatamente que a melhor forma de reduzir a contribuição do lixo para os GEE é a reciclagem, que é também uma actividade economicamente rentável e geradora de empregos.

Porém, e no que respeita ao problema maior dos aterros e do metano que emitem, a co-incineração do lixo reduz a massa a enterrar deste para 1/4 e a àrea dos aterros para 1/10, reduzindo na mesma proporção os GEE emitidos. Embora emita CO2, a incineração queima o metano, que é muito pior que o CO2, e pode também ser utilizada para a produção de energia eléctrica, tal como a biomassa das florestas.

Em Portugal os ecologistas utópicos têm movido uma oposição encarniçada à co-incineração, sendo de reconhecer a correcta tendência do Governo nesta matéria. Porém, o progresso tem sido lento, e deve fazer parte de uma estratégia multi-facetada que contemple a reciclagem e o devido esclarecimento público.

Os relatórios do IPCC mostram que uma política de tratamento dos lixos correcta com a devida implantação da co-incineração, como é feita por exemplo na Alemanha e no Japão, pode reduzir muitissimo os GEE emitidos. A directiva europeia 1999/31/EC estipulou que até 2016 os Estados membros deverão reduzir em 2/3 (relativamente a 1995) o lixo orgânico aterrado. Não conheço medidas do Governo que tenham em conta tal objectivo.

Porém, a redução em 2/3 dos GEE emitidos em Portugal pelo lixo corresponderá à redução em 6% do total de GEE emitidos, o equivalente a 2/7 dos GEE emitidos pelo parque automóvel.

Pelo que, a simples limpeza do país (das florestas e do restante lixo ) poderá reduzir os gases de efeito de estufa emitidos em Portugal em quase metade do que emite todo o parque automóvel. De certeza que é muito mais sensato e produtivo limpar o país do que delirar com a rápida substituição do nosso parque automóvel por viaturas eléctricas!

sábado, agosto 01, 2009

Incêndios de Verão, lixeiras e carros eléctricos.

Como já mencionei aqui, a percentagem de gases causadores de "efeito de estuda" que são emitidos pelos fogos florestais e pela agricultura "descarbonizante" é responsável por entre 1/3 a metade do total de gases emitidos pela Humanidade, segundo o IPPC (Painel Climático Inter-governamental). A dúvida sobre o valor exacto resulta da dificuldade que ainda existe na contabilização desse efeito, que tem uma margem de erro de 50%.
A maioria destes agentes das alterações climáticas provêem do 3º Mundo mas, em Portugal, os especialistas em ambiente estimam em de 10 a 30% a sua parcela - 20% sendo o valor mais provável.
A parcela destas emissões que é proveniente dos incêndios de Verão é algo que está mal estudado em Portugal, e algumas estranhas manipulações de dados não contribuem para a credibilidade das estimativas existentes. No entanto, e conforme os anos, alguns estudos pontuais sérios mostram que estes incêndios contribuem com de 5 a 10% para o total.

Ora os automóveis contribuiem, em Portugal, com cerca de 20% da emissão de gases.

Pelo que resolver o problema dos incêndios de Verão em Portugal seria equivalente, em termos de CO2 não-emitido, a substituir quase metade de toda a frota automóvel actual por carros eléctricos...

Se, além disso, se acabasse com as lixeiras portuguesas e o metano que emitem (20 vezes mais forte que o CO2 a gerar efeito de estufa), e que são responsáveis por mais 8,5% das emissões nacionais, ter-se-ia o equivalente à substituição da outra metade da frota automóvel por carros eléctricos!
Nota: os valores numéricos aqui indicados foram afinados num post subsequente, depois de ter consultado mais dados. A conclusão dessa afinação é que, em média, o tratamento do lixo e a prevenção dos fogos florestais não equivaleria à eliminação da totalidade das emissões do parque automóvel existente, mas apenas a cerca de metade. Mesmo assim...

Contra o pós-modernismo energético: II - esclarecimento de posições

Para que não me interpretem mal e não pensem que tenho interesse em fazer propaganda partidária, esclareço que embora o actual Governo seja o responsável pelas actuais opções, ainda não vi ninguém da oposição levantar a mais pequena voz contra a actual política energética nem a política tecnológica do Governo, com a excepção solitária e incansável de Mira Amaral que, no entanto e tanto quanto sei, também já não representa nenhuma posição partidária. Aliás e como já referi, aparentemente toda a classe política vê com benevolência o ecologismo utópico dominante!...
Penso ser também oportuno recordar que não ponho em causa a relação entre emissão de CO2 e alterações climáticas, nem a competitividade económica, sob certas condições, da energia eléctrica de origem eólica!
Tenciono, aliás, voltar a esse tema (o das condições em que a energia eólica é competitiva), mas o desastre é que a sua proliferação em Portugal foi, e é, altamente subsidiada, sem que se tenha acautelado a prévia aquisição do respectivo know-how e a criação de uma indústria nacional com tecnologia própria (e portanto sustentável) de turbinas, produtora de grande valor acrescentado, de empregos e de exportações, como fizeram todos os outros países que apostaram fortemente nesta fonte de energia! De um ponto de vista do interesse nacional tal subsidiação é um perfeito desastre e uma autêntica anedota perante os outros países, exceptuando alguns ecotópicos que nos vêm como heróis da salvação do planeta enquanto os nossos importadores esfregam as mãos de contentamento!
A questão é simples: que subsidiam os países que apostaram no eólico antes de nós e que imitámos, como a Alemanha, a Dinamarca ou a Espanha? A salvação do planeta? Não! Subsidiam as respectivas indústrias de fabricação de turbinas, que em todos esses países exportam mais de metade da sua produção e que empregam muita gente!!!
Importa sublinhar que a única fonte de energia eléctrica cuja tecnologia em tempos dominámos era a hidroeléctrica, fruto da única vez em que foi formulada e executada uma estratégia nacional correcta em matéria de aprovisionamento de energia!
Porém, quando há 15 anos o "filósofo" Manuel Carrilho do PS se insurgiu no Parlamento contra o "barbarismo" da construção da barragem de Foz Coa, precipitou-se o grande desastre energético nacional. O projecto e construção das barragens, uma coisa que sabíamos fazer e que ocupava efectivamente mão-de-obra e matérias-primas nacionais, foi suspensa e trocada pouco depois pela estratégia eólica, em que a única incorporação nacional é o negócios dos terrenos e das autorizações para a sua construção! E isto quando, se havia tecnologia energética com condições para virmos a dominar pela sua relativa simplicidade, era precisamente a eólica, dado que quanto a centrais térmicas ninguém bom da cabeça pode imaginar que venhamos algum dia a riscar alguma coisa!
Mas como desenvolver tal know-how e respectiva capacidade industrial é coisa para levar de 5 a 10 anos, isso teria exigido visão e capacidade política, coisa de que a nossa classe dirigente parece carecer como se fosse africana (sem ofensa para os africanos, entre os quais aliás me incluo)!
Ora, entretanto e nestes 15 anos, a engenharia nacional de barragens, que já em 95 se ressentia de haver poucos projectos, praticamente desapareceu! Os especialistas reformaram-se ou mudaram de ramo (vi com os meus olhos isso a acontecer numa das empreas especialistas) e muita da indústria nacional de componentes foi abandonada: na mesma altura em 94 em que Carrilho atacava Foz Coa, ainda antes de Guterres ganhar as eleições, a Sorefame que fabricava as comportas das hidroeléctricas era comprada pela ABB, por exemplo.
As barragens têm ainda um outro enorme valor: o de constituirem reservas de água, uma provisão que há-de ser cada vez mais imprescindível à medida que a água se tornar o recurso do planeta mais disputado como algumas secas que temos tido em anos recentes já nos permitem antever.
Só agora é que o actual Governo, de repente, decidiu a construção de dez barragens, mas 2 delas ninguém as quiz e 2/3 das restantes deu-as aos espanhóis, em particular à Iberdrola de Pina Moura!
Ora se, em vez disto, os Governos pós-95 tivessem decidido fazer as 10 barragens mas há 15 anos e, ao mesmo tempo, tivessem então apostado seriamente na I&D nacional (predominantemente em empresas) em tecnologia eólica, poderíamos estar agora a lançar em força a sua produção com know-how nacional, e a sua subsidiação ajudaria de facto alguma actividade produtiva sustentável! Seria tarde para entrarmos no eólico? Não! Os indianos também apanharam o comboio com a Suzlon, os EUA garantiram atempadamente a tecnologia espiando-a aos alemães, e os chineses para isso se preparam também!...
Mas nós entrámos foi em delírio com o automóvel eléctrico, o solar e outras fantasias congéneres! Até que o dinheiro para os subsídios se acabe e seja preciso começar a pensar em produzir alguma coisa!...