Com largos recursos, o EPRI faz ele próprio I&D, mas também financia muita feita por terceiros, sob contrato. No entanto, a sua ligação às empresas e à economia real dá-lhe um pragmatismo económico e um bom senso social muitas vezes ausentes nos académicos.
Nos últimos anos, o EPRI tem procurado avaliar e prever as tecnologias que permitam reduzir as emissões de CO2, juntando-lhe as dimensões sócio-económicas, e realizou dois estudos de que publicou recentemente um relatório actualizado.
Infelizmente o relatório completo só é acessível às empresas sócias do EPRI, mas um resumo do mesmo pode ser consultado aqui.
Nesse relatório são projectados dois cenários de futuro para os EUA quanto às tecnologias energéticas desenvolvidas para a redução das emissões de CO2. Considera-se que se pretende uma redução das emissões de CO2 para 60% do seu valor recente dentro de 20 anos (2030), e para 20% vinte anos depois (2050).
No primeiro cenário, em que se decide a exclusão do carvão limpo e do nuclear, verifica-se, a partir do presente (2010), um abandono progressivo do carvão e do nuclear (não instalação de novas centrais e desmantelamento das antigas à medida que atinjam o fim da sua vida útil), e um grande crescimento das energias renováveis, com a solar a fazer o seu aparecimento em força dentro de 20 anos. Porém, as medidas mais significativas serão a redução do consumo, em parte devido ao aumento da eficiência energética, e a curto prazo um grande aumento do consumo de gás natural, em substituição do carvão.
A previsão da evolução de preços da electricidade é que, seja como for, estes vão subir significativamente!
Mas, enquanto no cenário com todas as opções, os preços subirão para 180% nos próximos 30 anos, e depois estabilizarão, no cenário sem nuclear nem carvão limpo os preços dispararão até serem mais do triplo do que são hoje, em boa parte devido à subida dos preços do gás natural à medida que se aproximar o seu esgotamento e à necessidade de reduzir ainda mais o CO2 emitido, que passará a ter nas centrais de ciclo combinado a sua principal fonte, uma vez eliminado o carvão. E é essa mesma subida dos preços que conseguirá a redução adicional de consumos sobre o cenário com todas as opções - mas, com toda a probabilidade, essa redução de consumo não será equitativamente distribuída; serão os pobres quem deixarão de poder aceder à energia!
Como não tenho o relatório completo do EPRI, não conheço em detalhe os seus modelos. Porém, estou em crer que a evolução das coisas será muito mais rápida do que o que o EPRI prevê, quiçá em metade do tempo - o que ele prevê para 2030 talvez ocorra já em 2020, e o que prevê para 2050 ocorrerá provavelmente até 2030.
Por outro lado, convém notar que isto são previsões para a América, onde os preços da energia são 55% dos actuais na Europa; com o cenário de mais 80% nos preços da electricidade, a América terá atingido os preços que vigoram presentemente na Europa...! Quanto ao que acontecerá por cá...
Nota o EPRI: a decisão sobre qual dos dois cenários de futuro se materializará, é uma decisão política, e tem de ser tomada agora. A "limpeza do carvão" (captura do CO2 emitido e seu enterramento no sub-solo) é, neste contexto, o tema de I&D que mais necessita de uma decisão política, porque existem soluções técnicas mas falta testá-las em grande escala e aprender com isso, e tais testes requerem investimentos que ninguém fará se os "ventos" político-ideológicos estiverem contra. O mesmo se passa em grande medida com o nuclear, que se "desaprendeu" de fazer devido a esses "ventos". Pelo menos fora da Ásia.
2 comentários:
Uma gralha no texto: 180% deve ler-se 80% de acordo com o último gráfico.
Parabéns pelo blog. É lamentável que os media não façam o seu papel de informar o público sobre esta área tão essencial da sociedade.
Caro "sLx": não, não é gralha. Eu não digo que os preços irão subir 80%, mas sim que irão subir PARA 180%. Acho que assim o leitor inumerato "sentirá" melhor o que significa o aumento. É também por isso que digo depois que, na outra alternativa, os preços triplicarão, em vez de dizer que aumentarão 210%.
Quanto aos media: o problema começa pela sua ignorância e, consequentemente, na sua completa dependência do que os centros de propaganda lhes vendem.
Enviar um comentário