Enquanto alguns ecotópicos tentam fazer passar a ideia de que a energia nuclear é uma coisa do passado e fora de moda, a I&D nos reactores de 4ª geração, ou de neutrões rápidos, prossegue, nos países com os pés na terra e ambições de futuro.
Como em tempos expliquei, os reactores de neutrões rápidos "queimam" o urânio 238 e não o 235, assim como o plutónio resultante da desintegração de ambos. Assim, não só usam recursos centenas de vezes mais abundantes que o "combustível" das centrais nucleares actuais de neutrões lentos, como dão destino útil ao principal resíduo radioactivo destas centrais, e de maior longevidade, bem como ao imenso stock de Urânio 238 resultante do enriquecimento do "combustível" actual.
Um dos projectos futurísticos desta tecnologia é o reactor de ondas móveis da TerraPower e Bill Gates de que já dei notícia, mas há muito que se faz investigação experimental em reactores de 4ª geração - na verdade, os primeiros começaram a ser testados há mais de 50 anos!...
Vem isto a propósito de que há uma semana a China ligou à rede eléctrica, começando a gerar electricidade, o seu primeiro reactor de neutrões rápidos, de 4ª geração.
É um reactor experimental, produzindo apenas 20 MW de electricidade (65 MW de calor), mas os dois próximos, de 800 MW cada, começam a ser construídos no mês que vem, ao abrigo de um acordo de cooperação com a Rússia, e um outro de fabrico inteiramente chinês está já previsto, pela joint-venture Sanming Nuclear Power Co Ltd constituída em Abril de 2010.
Os dois reactores de 800 MW agora em construção são de concepção russa, os BN-800, e resultam do aperfeiçoamento dos BN-600 (na foto ao lado) de que há um (e único no mundo...) em exploração comercial em Beloyarks. Porém, a Índia terá também o seu, de 500 MW, em exploração no próximo ano...
É por estas e por outras que ontem mesmo o Público noticiava a contra-gosto (tanto que "contaminou" o mais que pôde a notícia...), que o Director da Agência Internacional de Energia Atómica da ONU afirmou que a produção de electricidade a partir da energia nuclear vai continuar a crescer no mundo, apesar do acidente de Fukushima (onde, recorde-se, ocorreram zero mortos e feridos). “Alguns países, como a Alemanha, reviram a sua política em matéria de energia nuclear. Mas muitos outros pensam que precisam dos reactores nucleares, especialmente para lutar contra as emissões de gases com efeito de estufa e o aquecimento global”, argumentou o referido Director.
Vendo isto, talvez compreendamos melhor o vaticínio de Robert Fogel, prémio Nobel da economia em 1993, segundo quem em 2040 o nível de riqueza per capita dos países da Ásia Oriental e do Sudeste será muito superior ao dos actuais países desenvolvidos...
quarta-feira, julho 27, 2011
terça-feira, julho 26, 2011
Este Verão os ecotópicos estão caladinhos.
No ano passado, em que o Verão foi quente, foi intensa a campanha mediática dos ecotópicos ao serviço do nacional-ecologismo alemão e dos seus representantes portugueses, culpando o "efeito estufa" causado pelo desmedido consumismo humano de ser a causa disso.
Dei nota disso aqui.
Este ano, porém, em que Julho está a ser o mês mais fresco dos últimos 27 anos, e que em Cuba até se vivem as temperaturas mais baixas dos últimos 50 anos, os ecotópicos estão caladinhos.
Claro que há Verões mais quentes e Verões menos quentes, como sempre houve, e como é normal dentro da variabilidade natural do clima. Nada se pode deduzir das temperaturas de um dado Verão, pese embora a tendência ancestral para nos culparmos dos males do clima e que os nossos ecotópicos acicatam.
Entretanto, neste mesmo hyperlink acima, dei conta, há meses, das investigações em curso no CERN sobre o papel das nuvens e dos raios cósmicos no comportamento do clima. Para os interessados, aponto aqui um excelente documentário (52 minutos) sobre esta teoria climática alternativa e que, por enquanto, está tanto sobre a mesa da ciência em aberto como a do efeito estufa de origem antropogénica.
Dei nota disso aqui.
Este ano, porém, em que Julho está a ser o mês mais fresco dos últimos 27 anos, e que em Cuba até se vivem as temperaturas mais baixas dos últimos 50 anos, os ecotópicos estão caladinhos.
Claro que há Verões mais quentes e Verões menos quentes, como sempre houve, e como é normal dentro da variabilidade natural do clima. Nada se pode deduzir das temperaturas de um dado Verão, pese embora a tendência ancestral para nos culparmos dos males do clima e que os nossos ecotópicos acicatam.
Entretanto, neste mesmo hyperlink acima, dei conta, há meses, das investigações em curso no CERN sobre o papel das nuvens e dos raios cósmicos no comportamento do clima. Para os interessados, aponto aqui um excelente documentário (52 minutos) sobre esta teoria climática alternativa e que, por enquanto, está tanto sobre a mesa da ciência em aberto como a do efeito estufa de origem antropogénica.
segunda-feira, julho 25, 2011
A construção naval portuguesa e o salto em frente... no vazio!
Os jornais de ontem publicavam uma notícia que dá conta que a indústria naval portuguesa chegou a empregar 26 mil trabalhadores, em meados dos anos 70, e que hoje tem... menos de mil! E em risco de mesmo estes desaparecerem, com os despedimentos agora programados para os estaleiros de Viana do Castelo!...
O Público, em particular, publica extractos de uma interessante entrevista com um conhecedor do sector, um homem com uma visão estratégica a que talvez não seja alheia a sua condição de militar, e que explica como toda a Europa, e Portugal em particular, foram perdendo competividade para a indústria asiática, ao longo deste último terço de século, até se chegar ao ponto onde se está hoje.
"As crises económicas cíclicas desde 1973 fizeram reduzir a procura e desviar a indústria da construção naval desde a América do Norte e Europa para a Ásia. Mais recentemente a China e outros países vizinhos tornaram-se construtores com elevada quota de mercado”, explica o Contra-almirante Gonçalves de Brito. "Maior produtividade, menores custos de produção e condições de mercado distorcidas”, aponta este responsável como causas desta evolução, explicando que “A importação de soluções desenvolvidas no Ocidente permitiram a implantação da Ásia como principal centro da indústria naval de grandes navios e de embarcações de serviços”. A Europa foi relegada para “nichos de navios específicos de alta tecnologia, incluindo navios militares e equipamento para plataformas de exploração oceânica”.
E, quanto a Portugal especificamente, diz:"Portugal apenas deverá aspirar à construção de navios em nichos dentro dos nichos, aproveitando situações pontuais de ocasião, potenciando a diplomacia económica e valorizando a entrada na construção de navios militares de tecnologia média, marítimo turísticas e mais algumas outras oportunidades que aparecem esporadicamente”, e que “neste momento a indústria naval portuguesa debate-se com o problema adicional de falta de profissionais qualificados”. “Mesmo que ocorresse uma viragem nas perspectivas de mercado de procura, a incapacidade de resposta seria um facto face à dita falta de recursos humanos qualificados e à descapitalização dos estaleiros que limita a respectiva actualização tecnológica e a inovação”, assume, resumindo:“Portugal deixou de ser competitivo”. "O país não tem custos de produção baixos, produtividade ou sequer capacidade de gestão adequadas. E não dispomos de centros de excelência que disponibilizem rapidamente projectos técnicos inovadores e atractivos para os armadores, por total descapitalização das poucas estruturas de engenheiros e projectistas existentes."
Este retrato é comum a outros importantes ramos da indústria portuguesa, e é por isso surpreendente que o nosso contra-almirante, depois de enunciar com sabedoria a falta de especialistas, de tecnologia, de inovação e de centros de excelência no sector, que nos capacitem para competir nos nichos de mercado de alta tecnologia ainda possíveis, alvitre como solução o salto para... as energias renováveis! Concretamente, propõe ele: "Sobretudo grandes estruturas oceânicas de energia, investigação e recolha de matérias primas para as águas sob controlo nacional, onde seja importante minimizar a distância do local de construção ao local de utilização"!
Ora se já nem navios sabemos construir, como poderemos resolver isso saltando para a inovação em tecnologias que ainda não existem? Pergunta que associo à de como poderá o mar, esse grande desígnio que por vezes nos apontam, passar de uma miragem a alguma realidade?
Na verdade, este salto no vazio como resposta ao nosso atraso tecnológico foi apanágio da nossa governação nos 15 anos terminados, e o seu maior expoente foi o "momento em que se fez História" com a inauguração da central das ondas da Póvoa do Varzim pelo inacreditável ministro Manuel Pinho, como noticiei aqui em tempos!
A verdade, infelizmente, é que a nossa construção naval nunca soube muito da ciência moderna dessa construção.
Presentemente, coordena esta licenciatura um velho amigo meu e colega do liceu que se me queixa da pouca aplicação que encontra em Portugal para a I&D em que se especializou (doutorou-se há muito na Holanda, com que depois colaborou por muitos anos). E, por isso, ele também tem procurado novas áreas de aplicação dos seus conhecimentos, como as energias renováveis.
Temos, pois, uma construção naval agonizante e sem know-how, e uma tecnologia universitária que não encontra aplicação industrial.
E há quem imagine resolver isto, tanto do lado da indústria como da Universidade, saltando para novas áreas que não existem...!
O Público, em particular, publica extractos de uma interessante entrevista com um conhecedor do sector, um homem com uma visão estratégica a que talvez não seja alheia a sua condição de militar, e que explica como toda a Europa, e Portugal em particular, foram perdendo competividade para a indústria asiática, ao longo deste último terço de século, até se chegar ao ponto onde se está hoje.
"As crises económicas cíclicas desde 1973 fizeram reduzir a procura e desviar a indústria da construção naval desde a América do Norte e Europa para a Ásia. Mais recentemente a China e outros países vizinhos tornaram-se construtores com elevada quota de mercado”, explica o Contra-almirante Gonçalves de Brito. "Maior produtividade, menores custos de produção e condições de mercado distorcidas”, aponta este responsável como causas desta evolução, explicando que “A importação de soluções desenvolvidas no Ocidente permitiram a implantação da Ásia como principal centro da indústria naval de grandes navios e de embarcações de serviços”. A Europa foi relegada para “nichos de navios específicos de alta tecnologia, incluindo navios militares e equipamento para plataformas de exploração oceânica”.
E, quanto a Portugal especificamente, diz:"Portugal apenas deverá aspirar à construção de navios em nichos dentro dos nichos, aproveitando situações pontuais de ocasião, potenciando a diplomacia económica e valorizando a entrada na construção de navios militares de tecnologia média, marítimo turísticas e mais algumas outras oportunidades que aparecem esporadicamente”, e que “neste momento a indústria naval portuguesa debate-se com o problema adicional de falta de profissionais qualificados”. “Mesmo que ocorresse uma viragem nas perspectivas de mercado de procura, a incapacidade de resposta seria um facto face à dita falta de recursos humanos qualificados e à descapitalização dos estaleiros que limita a respectiva actualização tecnológica e a inovação”, assume, resumindo:“Portugal deixou de ser competitivo”. "O país não tem custos de produção baixos, produtividade ou sequer capacidade de gestão adequadas. E não dispomos de centros de excelência que disponibilizem rapidamente projectos técnicos inovadores e atractivos para os armadores, por total descapitalização das poucas estruturas de engenheiros e projectistas existentes."
Este retrato é comum a outros importantes ramos da indústria portuguesa, e é por isso surpreendente que o nosso contra-almirante, depois de enunciar com sabedoria a falta de especialistas, de tecnologia, de inovação e de centros de excelência no sector, que nos capacitem para competir nos nichos de mercado de alta tecnologia ainda possíveis, alvitre como solução o salto para... as energias renováveis! Concretamente, propõe ele: "Sobretudo grandes estruturas oceânicas de energia, investigação e recolha de matérias primas para as águas sob controlo nacional, onde seja importante minimizar a distância do local de construção ao local de utilização"!
Ora se já nem navios sabemos construir, como poderemos resolver isso saltando para a inovação em tecnologias que ainda não existem? Pergunta que associo à de como poderá o mar, esse grande desígnio que por vezes nos apontam, passar de uma miragem a alguma realidade?
Na verdade, este salto no vazio como resposta ao nosso atraso tecnológico foi apanágio da nossa governação nos 15 anos terminados, e o seu maior expoente foi o "momento em que se fez História" com a inauguração da central das ondas da Póvoa do Varzim pelo inacreditável ministro Manuel Pinho, como noticiei aqui em tempos!
A verdade, infelizmente, é que a nossa construção naval nunca soube muito da ciência moderna dessa construção.
No tempo em que dividíamos os mares com Espanha e a Ribeira das Naus era um imenso complexo fabril, a técnica da construção naval, que dominávamos mas em que pouco inovávamos, era muito empírica e baseada em princípios de simetria pouco científicos, como Franklin Guerra nos recorda na sua História da Engenharia em Portugal. Quando a engenharia naval veio a ganhar raízes na matemática e na física modernas, no sec. XVIII, dando origem aos velozes brigues do sec. XIX que faziam de Lisboa à Índia em 3 meses, contra os 6 meses das nossas naus, já há muito que Portugal deixara de dominar os mares ao mesmo tempo que viria a passar ao lado dessa revolução industrial...
O boom da construção naval em Portugal no início dos anos 70 (na verdade, essencialmente reparação naval), resultou de duas circunstâncias: a excelente posição geográfica do país, que faz com que todos os petroleiros que abastecem a Europa passem ao largo da nossa costa, e o fecho do canal do Suez de 1967 a 1975, em resultado da guerra dos 6 dias e do bloqueio egípicio decorrente. Este bloqueio promoveu a construção, com destaque para o Japão, de superpetroleiros que passaram a ter de fazer a rota do Cabo, contornando a África, para trazerem do Médio Oriente o precioso líquido. Os estaleiros, cujos operários bem pagos eram baluartes apetecidos da esquerda revolucionária dos anos 70, chegaram a ter de facto um peso económico relevante mas, surpreendentemente, Portugal só veio a ter a sua primeira licenciatura em Eng.ª Naval em 1981, quando os estaleiros já tinham entrado em decadência acentuada!...Presentemente, coordena esta licenciatura um velho amigo meu e colega do liceu que se me queixa da pouca aplicação que encontra em Portugal para a I&D em que se especializou (doutorou-se há muito na Holanda, com que depois colaborou por muitos anos). E, por isso, ele também tem procurado novas áreas de aplicação dos seus conhecimentos, como as energias renováveis.
Temos, pois, uma construção naval agonizante e sem know-how, e uma tecnologia universitária que não encontra aplicação industrial.
E há quem imagine resolver isto, tanto do lado da indústria como da Universidade, saltando para novas áreas que não existem...!
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educação,
política científica
sexta-feira, julho 08, 2011
Novidades de Fukushima: NENHUM morto pelo acidente!
Os media de dia 24 de Junho noticiaram que o Japão estima em 147 biliões de € (biliões brasileiros, ou americanos) a reconstrução das infra-estruturas danificadas pelo terramoto e, sobretudo, pelo maremoto de 11 de Março passado. Ao mesmo tempo, foi anunciado que serão gastos 0,87 na monitorização dos 2 milhões de habitantes da região próxima de Fukushima nos próximos 30 anos...
Esta quantia é 0,6% da outra, mas mesmo assim os media falam dos gastos na reconstrução do Japão lembrando sempre que "não incluem a central nuclear de Fukushima".
Na verdade, o maior problema decorrente do efeito do sismo sobre as centrais nucleares japonesas é a falta de energia que assola o país, e que levou há dias o Ministro do Economia a reclamar o regresso ao serviço de todas as centrais nucleares em boas condições.
Naturalmente, o custo do desmantelamento da enorme central de Fuskushima-Dachai (6 reactores!...) não será pequeno: 8,7 biliões de € (12 biliões de USD) é o preço estimado pelo consórcio Hitachi-Toshiba-Areva para o fazer, ao longo de 15 anos. A TEPCO já pôs de parte 1,7 biliões de € para isso. É o custo de construção aproximado de uma central e meia daquela potência (esta já estava amortizada, dados os seus 40 anos de vida), 6,5% a incluir no custo geral de reconstrução do Japão pós-sismo, incluindo os 0,87 biliões de monitorização das populações...
Considerável, certamente, mas não o principal problema da reconstrução do Japão! E uma quantia que, se não fora antecipada por inclusão no preço de venda da energia dessa central, o devia ter sido, pelo menos parcialmente.
Entretanto, informação técnica detalhada e permanentemente actualizada sobre a situação em Fukushima-Dashai pode ser encontrada aqui.
Está fotograficamente documentado que os danos foram causados pelo maremoto de 14 metros que afogou as instalações e penetrou meio km naquela zona da ilha, e que só foi igualado por outro que ocorrera há mais de um milénio e de que só há relativamente poucos anos de adquirira toda a noção do impacto tido.
Naturalmente, isto ensina que é preciso prever o imprevisível, razão das "margens de segurança" que os engenheiros conhecem tão bem e que ali permite tirar uma conclusão geral que não era considerada na época do projecto daquela central: há incidentes que podem afectar simultaneamente todos os meios de controlo da temperatura da reacção nuclear numa central nuclear! Coisa que as novas de 3ª geração agora em projecto e construção já prevêm (como no projecto de aviões, em que se vai aprendendo com a experiência dos que caem, para o que existem as "caixas negras"), mas que ainda não sucede com muitas das existentes, projectadas há 40 anos e mais (como Fukushima)...!
No caso de Fukushima-Dashai, os quase 4 meses decorridos desde o acidente têm permitido clarificar a situação e a sua sequência. Depois das explosões de hidrogénio, poucos dias depois do tsunami, e que libertaram para a atmosfera cerca de 10% das emissões radioactivas verificadas em Chernobyl, a injecção de água de arrefecimento tem mantido as coisas sob controlo. É verdade que tudo indica haver fendas nas canalizações de água ou nos contentores dos reactores, mas isso só afecta a água de arrefecimento, que tem estado a verter dos circuitos fechados a que se devia limitar e a inundar caves com água altamente radioactiva. 110 mil toneladas dela!...
Mas é um problema localizado à central e em resolução. Foram instalados sistemas de limpeza da água (retenção do césio), que está já a ser reinjectada nos reactores, depois de limpa e dessalgada, e o nível da água nas caves estabilizou. O césio assim extraído é depois vitrificado, impregando a zeolite usada no processo.
Entretanto, os nossos media fizeram amplo eco da decisão do Governo alemão de fechar os seus reactores quando chegarem ao fim da vida (logo se verá, porém...), de igual decisão da Suíça e do referendo italiano que recusou o retorno da Itália à energia nuclear.
Porém, nenhuma notícia foi ouvida sobre a decisão do Governo inglês de renovação do seu parque de centrais nucleares, sobre a do regulador francês prolongar em mais 10 anos a vida da mais antiga central nuclear francesa, sobre o decreto saído hoje mesmo do Governo russo declarando a tecnologia nuclear como uma tecnologia prioritária para o país, ou sobre os progressos da Lituânia na encomenda dos seus novos reactores...
É que, sabem, ... não morreu ninguém no Japão, nem adoeceu, por causa do acidente em Fukushima-Daichi!
----
29 de Agosto: um extra, para os preocupados:
Esta quantia é 0,6% da outra, mas mesmo assim os media falam dos gastos na reconstrução do Japão lembrando sempre que "não incluem a central nuclear de Fukushima".
Na verdade, o maior problema decorrente do efeito do sismo sobre as centrais nucleares japonesas é a falta de energia que assola o país, e que levou há dias o Ministro do Economia a reclamar o regresso ao serviço de todas as centrais nucleares em boas condições.
Naturalmente, o custo do desmantelamento da enorme central de Fuskushima-Dachai (6 reactores!...) não será pequeno: 8,7 biliões de € (12 biliões de USD) é o preço estimado pelo consórcio Hitachi-Toshiba-Areva para o fazer, ao longo de 15 anos. A TEPCO já pôs de parte 1,7 biliões de € para isso. É o custo de construção aproximado de uma central e meia daquela potência (esta já estava amortizada, dados os seus 40 anos de vida), 6,5% a incluir no custo geral de reconstrução do Japão pós-sismo, incluindo os 0,87 biliões de monitorização das populações...
Considerável, certamente, mas não o principal problema da reconstrução do Japão! E uma quantia que, se não fora antecipada por inclusão no preço de venda da energia dessa central, o devia ter sido, pelo menos parcialmente.
Entretanto, informação técnica detalhada e permanentemente actualizada sobre a situação em Fukushima-Dashai pode ser encontrada aqui.
Está fotograficamente documentado que os danos foram causados pelo maremoto de 14 metros que afogou as instalações e penetrou meio km naquela zona da ilha, e que só foi igualado por outro que ocorrera há mais de um milénio e de que só há relativamente poucos anos de adquirira toda a noção do impacto tido.
Naturalmente, isto ensina que é preciso prever o imprevisível, razão das "margens de segurança" que os engenheiros conhecem tão bem e que ali permite tirar uma conclusão geral que não era considerada na época do projecto daquela central: há incidentes que podem afectar simultaneamente todos os meios de controlo da temperatura da reacção nuclear numa central nuclear! Coisa que as novas de 3ª geração agora em projecto e construção já prevêm (como no projecto de aviões, em que se vai aprendendo com a experiência dos que caem, para o que existem as "caixas negras"), mas que ainda não sucede com muitas das existentes, projectadas há 40 anos e mais (como Fukushima)...!
No caso de Fukushima-Dashai, os quase 4 meses decorridos desde o acidente têm permitido clarificar a situação e a sua sequência. Depois das explosões de hidrogénio, poucos dias depois do tsunami, e que libertaram para a atmosfera cerca de 10% das emissões radioactivas verificadas em Chernobyl, a injecção de água de arrefecimento tem mantido as coisas sob controlo. É verdade que tudo indica haver fendas nas canalizações de água ou nos contentores dos reactores, mas isso só afecta a água de arrefecimento, que tem estado a verter dos circuitos fechados a que se devia limitar e a inundar caves com água altamente radioactiva. 110 mil toneladas dela!...
Mas é um problema localizado à central e em resolução. Foram instalados sistemas de limpeza da água (retenção do césio), que está já a ser reinjectada nos reactores, depois de limpa e dessalgada, e o nível da água nas caves estabilizou. O césio assim extraído é depois vitrificado, impregando a zeolite usada no processo.
Entretanto, os nossos media fizeram amplo eco da decisão do Governo alemão de fechar os seus reactores quando chegarem ao fim da vida (logo se verá, porém...), de igual decisão da Suíça e do referendo italiano que recusou o retorno da Itália à energia nuclear.
Porém, nenhuma notícia foi ouvida sobre a decisão do Governo inglês de renovação do seu parque de centrais nucleares, sobre a do regulador francês prolongar em mais 10 anos a vida da mais antiga central nuclear francesa, sobre o decreto saído hoje mesmo do Governo russo declarando a tecnologia nuclear como uma tecnologia prioritária para o país, ou sobre os progressos da Lituânia na encomenda dos seus novos reactores...
É que, sabem, ... não morreu ninguém no Japão, nem adoeceu, por causa do acidente em Fukushima-Daichi!
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29 de Agosto: um extra, para os preocupados:
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