sábado, outubro 31, 2009

As declarações do Eng.º Penedos - actualizado

Num evento com empresários de Coimbra no passado dia 23, o Presidente da REN e destacado militante do Partido do Governo, Eng.º Penedos, anunciou o advento de um "novo paradigma energético", em que "a procura irá condicionar a oferta". Num discurso que, tal como foi transcrito pela imprensa, terá sido bastante confuso, falou de um futuro a cinco anos em que o consumidor, então também microprodutor, "irá estar em casa e poder ver os preços daquela hora no mercado e decidir se vai consumir energia ou se vai pura e simplesmente prescindir e passar o consumo para outra hora que seja mais económica"!...
A confusão deste discurso é que, desde sempre, foi a procura que condicionou a oferta de energia. Um consumidor liga o interruptor e as centrais eléctricas ajustam a produção a essa procura. Isto é como funciona e sempre funcionou o sistema de energia! Se foi isto que ele disse, não se entende onde está a novidade!
Porém, o que o Eng.º Penedos quis sem dúvida dizer foi o oposto e que, como eu já aqui alertei, é o que de facto os ecotópicos nos preparam: será a oferta que condicionará a procura!
O que o Eng.º Penedos nos anuncia é, por outras palavras, claras e sem confusão, o seguinte: como as energias renováveis são intermitentes e incontroláveis, ao contrário das fontes tradicionais, vai acontecer haver horas e dias em que não haverá energia para todos - o que se vai traduzir em preços exorbitantes que, muito simplesmente, deixarão de fora da civilização de que usufruímos há um século quem não for muito rico! E que, provavelmente, enriquecerão em muito empresas monopolistas como a REN...
Certamente para parecer moderado e equilibrado, o Sr. Eng.º Penedos mostrou-se também aberto à opção nuclear - com uma condição: desde que sejam centrais de uma tecnologia que ainda não existe! Centrais nucleares como as 435 que existem presentemente a funcionar em 31 países, incluindo as 8 que existem em Espanha, que produzem 15% da electricidade mundial e quase 80% da barata electricidade francesa, de que se constroiem novas em grande quantidade por toda a Ásia (há presentemente 52 em construção, mais de metade das quais na China), estão fora de causa! Aceitáveis, só as que "não produzam resíduos", estando sem dúvida a referir-se às centrais de IV geração de cuja disponibilidade se fala lá para 2040...
O Eng.º Penedos dirige uma empresa em que a margem de lucro é proporcional aos investimentos feitos. Por isso, e ele sabe isso perfeitamente, a REN investe com uma lógica completamente contrária à da eficiência - quanto mais investir em redes e equipamentos desnecessários, mais lucros tem. A chamada lógica burocrática.
Foi contra isto que, vai para 30 anos, Reagan decretou a "purple", liberalizando o acesso às redes e à produção de energia nos EUA, o que foi no seguimento copiado por todo o mundo. E, porque havia largo excesso de equipamento de rede, na década seguinte à promulgação da "purple" não foi preciso investir mais apesar do crescimento dos consumos, o que permitiu uma grande redução dos preços da energia nos EUA, ainda hoje a 55% dos nossos.
Infelizmente a História muitas vezes dá um passo em frente para depois dar dois passos atrás...
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Dias depois de ter "postado" isto, apareceu nos media uma notícia deveras triste: a de que o Eng.º Penedos seria arguido, juntamente com o seu filho, de um esquema de favorecimento de um certo grupo empresarial de Aveiro que terá a seu cargo. nomeadamente, o tratamento dos resíduos industriais das nossas empresas "energéticas".
Francamente, estou pouco interessado em saber se o Eng.º Penedos cometeu algum crime ou não. O que deveras me preocupa é outra coisa.
De há uns tempos para cá, quer a EDP quer a REN deixaram de tratar os resíduos industrais dos seus equipamentos, nomeadamente cinzas (algumas com teores de mercúrio) e óleos (portadores dos cancerígenos pcb). Esses resíduos passaram a ser tratados em "outsourcing", por empresas como a O2 - Tratamento e Limpeza Ambientais, SA, que surge agora no cerne desta triste história.
Ora, há uns meses, muito antes desta investigação criminal ser conhecida, um quadro de uma destas empresas manifestou-me a sua preocupação quanto ao desconhecido destino que estariam a ter os referidos resíduos industriais. No meio da conversa, surgiram referências jocosas à máfia italiana e aos crimes ambientais que o "negócio do lixo" tem causado por todo o lado e de que a filmografia é pródiga a romancear.
Sabemos agora que a referida empresa de Aveiro está envolvida em avultados esquemas de corrupção e em enormes fraudes fiscais, nomeadamente com a emissão de facturas falsas. Será que o tratamento dos resíduos industriais propriamente ditos foi feito como deve ser, sabendo-se como por todo o lado esse negócio é frequentemente mafioso? De facto, e conforme o Eng.º Oliveira me chamou a atenção depois de publicar uma versão anterior deste post, a TVI mostrou há semanas uma reportagem sobre a "máfia lusa dos lixos" que é verdadeiramente aterradora! E, no entanto, os medias e aparentemente a justiça parecem muito mais interessados na identificação de corruptos do que em identificar se a empresa que está por detrás de tudo isto comete ou não crimes ambientais!
Seria verdadeiramente triste vir a saber-se, entretanto, o que sinceramente desejo que não aconteça, que a liminar rejeição da opção nuclear para Portugal, em nome do seu alegado "problema dos resíduos", andasse a par da cumplicidade com negócios mafiosos no tratamento dos outros resíduos industriais da produção de energia e nos eventuais crimes ambientais associados...!

sexta-feira, outubro 23, 2009

Nada que não seja sabido, mas que há quem prefira não saber!

O Fundo Mundial para a Natureza avisa, numa notícia nos jornais de hoje, que ardem por minuto 36 campos de futebol de florestas, no mundo. E que essa desflorestação contribui com 20% da totalidade os Gases de Efeito de Estuda (GEE) de origem antropogénica! É assunto para que tenho chamado a atenção diversas vezes, até porque há muito quem apregoe que os combustíveis fósseis são responsáveis por 85% dos GEE, quando na verdade o serão por apenas uns 50% e, destes 50%, só 40% (portanto uns 20% do total) resultam da soma da produção de energia eléctrica com o transporte rodoviário...e atenção: limito-me a citar dados do próprio Painel Climático da ONU, e não de algum blog negacionista...! Estes dados mostram ao mais inumerato dos ecotópicos que os fogos florestais emitem tantos GEE como todas as centrais a carvão e todos os automóveis e camiões do mundo juntos!!!

Diz o Fundo que é preciso compensar a floresta ardida com reflorestações, de modo a atingir-se um equilíbrio. Vale a pena notar que o que se tem passado é que onde as florestas ardem é no Sul, nos países subdesenvolvidos, e que onde são plantadas é no norte, nos países desenvolvidos.
Além da modificação do tipo de floresta que tal acarreta, isto mostra como o mito do bom selvagem original que os ecologistas utópicos (ou ecotópicos) gostam de acalentar, o mito de que é preciso regressar ao "equilíbrio natural" do homem primitivo, é mesmo um mito.
A verdade é que só o homem muito civilizado é que sabe que as actividades humanas perturbam o ambiente e é capaz de tomar medidas para o proteger; que é nos países civilizados que há parques naturais onde a fauna e a flora originais são preservadas, e mesmo os parques que existem a Sul só se mantêm por grande pressão dos povos do Norte.
Na Gorongoza, mal os colonos abandonaram Moçambique os nativos acabaram com os animais de "vida selvagem" que lá havia - sobretudo comendo-os.
Os maias da antiga civilização deram cabo dos terrenos que cultivavam até ao abandono das cidades (também resultantes do extermínio mútuo entre cidades que não aprenderam a fazer com o homem ociental)...
O mamute norte-americano desapareceu com a chegada do Homo Sapiens ao continente americano. E o homem de Neanderthal idem, na Europa...
Para Copenhague, o principal obstáculo a um acordo é o montante que se pretende que os civilizados do norte paguem aos povos do Sul para que estes poupem o seu próprio ambiente.
Infelizmente receio que vá ser muito difícil que qualquer acordo nessa matéria, caso se consiga, venha a ser cumprido.

segunda-feira, outubro 19, 2009

A nova central solar do Santuário de Fátima - com correcção

Uma notícia de hoje dá conta da instalação, no telhado da Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, de uma central fotovoltaica com 100 kW de potência "de pico".
Ontem à tarde,"O padre Cristiano Saraiva, administrador do Santuário, acompanhou ...um grupo de jornalistas à instalação de energia. Trata-se de uma opção feita para colaborar no esforço global contra as alterações climáticas, mas também para tentar reduzir a factura energética do santuário, explicou".
Uma iniciativa destas pela Igreja Católica tem um alto valor simbólico e é, por isso, meritória. Penso que no futuro será de esperar um empenho crescente da Igreja nestas questões, sendo mesmo talvez de se lho reclamar, sabendo-se como as alterações climáticas antropogénicas derivam, no fundo, do excesso de população humana neste planeta finito e de como a Igreja se opõe à limitação da natalidade.
Áparte o valor simbólico da iniciativa, porém, a notícia que a acompanha contém, como infelizmente é usual, um enorme acervo de incorrecções técnicas que se inscrevem na retórica ecotópica do costume, e de que vou dissecar algumas. Não que pense que a Igreja tenha alguma responsabilidade nisto! Sinceramente, acredito que os clérigos envolvidos nesta decisão sejam inocentemente crédulos, quanto ao que ouvem a propaganda dizer sobre estas coisas...

O custo anunciado para esta Central é de meio milhão de €. Ou seja, 5000 € por kw de "pico".
Porém, como se tratam de painéis fixos instalados em telhado, incapazes de seguirem a deslocação do Sol ao longo do dia, a potência média desta Central nunca ultrapassará os 14 a 15 kw. Basicamente pela necessidade de amortizar o investimento, o custo de produção da energia assim produzida ficará pelos 44 ç/kwh, mais cara mais de 10 vezes do que se fosse produzida por uma central nuclear, quase 3 vezes o que o que o próprio consumidor paga à EDP! Só poderá ficar com um custo de produção inferior se as taxas de juros consideradas para o investimento forem subsidiadas...
Obviamente esta instalação só será rentável porque a energia por ela produzida é fortemente subsidiada. Como notei aqui, a EDP é obrigada a pagar 61,75 ç/kwh por esta produção, mas não será como remuneração pela venda de energia que a central solar de Fátima vai ser rentável; será, isso sim, pela captação dos subsídios de decisão política do Governo.
Entretanto, a notícia informa que a central produzirá 150 mil kw por ano (a eterna confusão entre potência - kw - e energia - kwh -...), o que é só um pequeno exagero, visto que a central poderá produzir de facto uns 130 mil kwh anuais (14.84% dos 100 kw de "pico" x 8760 horas que tem um ano). Naturalmente, produz muito mais nos dias longos e soalheiros de Verão do que nos nublados e curtos do Inverno, como se mostra na figura para uma instalação portuguesa típica similar.

Diz ainda a notícia que esta energia produzida pela central solar de Fátima "permitiria alimentar 500 casas". Mas trata-se evidentemente de um erro de zeros; o consumo doméstico médio em Portugal foi de 2611 kwh em 2007, e portanto 130 mil kwh dão para alimentar... 50 casas, e não 500! A 10 mil € de investimento por casa, note-se... se não se tivesse ainda de adicionar ao custo da Central o custo dos meios de armazenamento da energia, de modo a poder-se usufruí-la à noite, que é quando faz mais falta!

Uma estimativa por alto mostra que se considerarmos este custo extra das barragens de armazenamento e o da rede necessária para levar para lá a energia e trazê-la de volta ao início da noite (custo pago por todos os consumidores), e que as perdas energéticas nesse processo reduzem a energia total remanescente à capaz de satisfazer já não as 50 mas apenas 40 casas (o rendimento da armazenagem nunca é melhor que 3/4), mesmo admitindo que 1/3 do consumo seja durante o dia, o custo total deste empreendimento ficaria por nunca menos de 15 mil € por cada uma das 40 casas alimentadas, e isto sem considerar o pagamento dos lucros dos intervenientes no negócio... mas, felizmente, não há só energia de origem solar na rede, e pode-se conceder que na verdade toda a energia solar desta central é consumida durante o dia, em parte da povoação de Fátima, e que à noite, pelas 20-21 horas, quando o consumo doméstico atinge o máximo, as centrais eléctricas convencionais cá estarão para servir os consumidores - incluindo a iluminação da Igreja.

Finalmente, a notícia diz que "A central já instalada permite poupar o equivalente a 31.390 litros de gasolina ou 160 barris de óleo". Em "óleo", devem querer dizer "oil", petróleo. Mas é difícil entender como foi estabelecida esta relação entre gasolina e petróleo, por um lado, e electricidade, que não é produzida a partir daqueles combustíveis. O que talvez se pudesse dizer é que esta instalação permitiria poupar a emissão de 125 toneladas de CO2 por ano (de centrais a carvão), mas só a partir do termo da primeira meia dúzia de anos, já que até lá o CO2 poupado apenas "pagaria" o que teve de ser gasto para a produção dos próprios painéis solares, uma fabricação que requer imensa energia...

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O leitor Fernando Marques comentou, com razão, que a tarifa remuneratória que eu mencionara de 61,75 ç/kwh só se aplica á microgeração (potências até 5 kw). De facto, dada a potência de 100 kw em causa, a tarifa remuneratória é definida de modo mais complexo, pelo Decreto-Lei nº 225/2007. Umas contas por alto mostram que sendo assim a tarifa que a EDP pagará pela energia produzida por esta central deverá andar á volta de 35 ç/kwh, o que efectivamente só pagará os custos de investimento do Santuário se este tiver conseguido condições de financiamento muito favoráveis (em taxas de juros) para o meio milhão de € investidos. Mas, ainda assim, esta tarifa será mais do dobro do que o consumidor médio paga pela energia eléctrica que compra, e o diferencial será pago pelo conjunto dos consumidores (senão pelos contribuintes, se um dia for o Estado que for chamado a saldar o défice das "eléctricas"), sem mencionar os custos de rede.

Diz ainda o leitor que de qualquer modo se trata de um "benefício para a sociedade". Nestes posts eu não tenho feito distinção entre quem lucra e quem perde nestes negócios em Portugal, porque todos constituímos"a sociedade". Interessa-me muito mais, precisamente, é discutir se "a sociedade" no seu conjunto beneficia destas políticas, e aí é que me parece óbvio que a "solução" solar como medida de combate ao aquecimento global é absolutamente insustentável para nós, para qualquer sociedade e para a Humanidade em geral, agora e nas próximas décadas, como já mostrei noutros posts.

sábado, outubro 10, 2009

A todo o gás!

Tal como para o petróleo, de que presentemente só se conseguem extrair 30% das reservas conhecidas e para o qual se espera a emergência de novas tecnologias capazes de extrairem muito mais, também para o gás natural a tecnologia vai alargando as reservas exploráveis.
Agora, foi a descoberta de um modo de extrair o gás embedido em rochas e que aumenta as reservas exploráveis no mínimo dos mínimos em 20%!
Anda tudo excitadíssimo, particularmente cá pela Europa!

quarta-feira, outubro 07, 2009

A explosão demográfica não é só responsável por 1/3 dos Gases de Efeito de Estufa

Um interessante artigo da Scientific American aborda vários aspectos relacionados com a explosão demográfica humana, além da causa directa que é, pelo uso dos solos, de 1/3 (a 1/2...) da emissão de Gases de Efeito de Estufa (GEE): há também a escassez de água, e a necessidade de aumentar mais ainda a produtividade da agricultura, particularmente na África sub-sahariana.

Uma das esperanças para este aumento da produtividade agrícola são as espécies geneticamente modificadas a que, no entanto, os ecotópicos se opõem.

O problema é que eles desejam um mundo como na primeira das figuras seguintes, quando ele de facto é sobretudo como na segunda figura...

terça-feira, outubro 06, 2009

Portugal positivo

Amanhã, quarta-feira 7, haverá um seminário no Tagusparque:

"Revoluções & Oportunidades -- Uma missão para a Universidade e algumas reflexões"
pelo Professor José Epifânio da Franca

Local: Sala 1.36 ("Sala de Formação")
Hora: 16h00 -- café e natas, 16h30 -- talk

Resumo:

A indústria de semicondutores, que tem pouco mais de 50 anos de existência, foi e continuará ser palco de revoluções tão silenciosas como profundos são os seus efeitos nas nossas vidas e no mundo.
Revoluções que rasgam enormes avenidas de oportunidades para que o conhecimento e o empreendedorismo construam novas aventuras e cimentem o desenvolvimento, a modernização e o progresso.

A “Mead & Conway Revolution” iniciou-se com a publicação do livro “Introduction to VLSI System Design” (Dezembro de 1979) que veio desmistificar e rapidamente massificar o que era conhecimento e tecnologia até então de exclusiva propriedade de algumas (ainda poucas) empresas de semicondutores.

Nos primórdios da indústria de semicondutores, quando os “chips” continham algumas centenas de transístores, o seu projecto era realizado quase exclusivamente em empresas e sempre próximo da sua fabricação. O conhecimento das técnicas e metodologias de projecto permanecia estanque nessas empresas, não sendo possível às Universidades proporcionar a formação de base necessária à preparação de profissionais qualificados.
A revolução de Mead & Conway consistiu em separar o projecto da fabricação de circuitos integrados, criando assim as condições fundamentais para que o acesso ao conhecimento dessa tecnologia passasse a ser universal, acessível a qualquer um e em qualquer lugar.

Esta revolução desencadeou uma outra revolução sem paralelo na história de qualquer outra indústria mundial. A revolução da desintegração da cadeia de valor que cria oportunidades, a qualquer um e em qualquer lugar, de participar na que porventura continuará a ser a indústria mais estratégica e global deste século.

Fundada em 1997 a partir de um grupo de investigação do IST, a Chipidea participou nesta revolução. Aproveitou a oportunidade para se tornar pioneira no desenvolvimento da indústria da propriedade intelectual dos circuitos e sistemas integrados analógicos (“Analog Semiconductor Intellectual Property”), tornou-se líder mundial em 2004 e é hoje parte da maior empresa mundial de EDA (Synopsys).

Mas mais que um negócio, foi uma missão que esteve na origem da criação da Chipidea. A missão de criar em Portugal uma actividade profissional que pudesse absorver o conhecimento que era criado na Universidade e que de outra forma seria irremediavelmente perdido, para sempre ou para o estrangeiro. A missão foi cumprida e o seu impacto é irreversível: existem já hoje em Portugal 5 empresas na árvore genealógica que a Chipidea plantou em 1997 e que continuará a crescer nos anos vindouros.
Pelo caminho, ficam algumas reflexões sobre o que continua a tolhar o nosso desenvolvimento, modernização e criação de riqueza.

segunda-feira, outubro 05, 2009

A prova final

Como é sabido, as classificações dos alunos do secundário nos exames de Matemática têm melhorado espectacularmente, nos últimos anos.
O Governo e em particular a Ministra da Educação têm justificado esta melhoria como uma prova do "Portugal positivo" que o Governo estaria a construir, e concretamente como um produto da reforma da educação que o Governo realizou, através do novo estatuto do aluno e da avaliação dos professores.
Pelo contrário, a Associação Portugesa de Matemática, de Nuno Crato, e outros especialistas providos de "pessimismo" e "espírito do bota-abaixo", dizem que esses melhores resultados são fruto de mero facilitismo nos exames e constituem um engano.

Quem terá razão?

Ora o Instituto Superior Técnico, com o apoio da Sociedade Portugesa de Matemática, realizou este ano uma prova de matemática a todos os alunos que lhe chegaram do secundário, para averiguar da sua preparação.
A última vez que uma tal prova fora realizada, fora há 7 anos.
Nessa prova realizada há 7 anos, tiveram positiva 80% dos alunos, e 2/3 tiveram mais de 15 valores.
Já na prova deste ano, tiveram positiva 45% dos alunos, e só 10% conseguiram mais de 13,3 valores.
Terá isto alguma coisa a ver com o facto de a Esolováquia (bastante mais pobre que a sua vizinha Checa) nos estar a ultrapassar em PIB por habitante?

domingo, outubro 04, 2009

O nosso contributo incendiário para o efeito de estufa - com nota extra

Este Verão terão ardido em Portugal 77 mil hectares de floresta.
Terá sido mais que nos 3 anos anteriores, mas muito menos que no ano record de 2003, em que ardeu quase 6 vezes mais.
Mesmo assim, os incêndios deste Verão terão emitido 1,3 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera, o que constituirá 1,6% do total de emissões portuguesas que, como habitualmente, não considera estas e outras emissões resultantes do uso do solo. Isto, considerando modelos desenvolvidos no Instituto de Agronomia de Lisboa em 2006.
Mas, só a Central a carvão de Sines, já bastante velha, emite em menos de 2 meses de funcionamento tanto CO2 como o total destes incêndios, o que tem sido justificado para a ir usando cada vez menos, em benefício das eólicas e das hidroléctricas de armazenagem que as servem e, sobretudo, das de ciclo combinado a gás natural.
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Incentivado por uma pergunta de um comentário, fiz uma busca que me permitiu descobrir que, além do cálculo feito no Instituto de Agronomia para 2003 e que citei na resposta a esse comentário, existe um amplo e sério trabalho feito continuadamente sobre o assunto na Universidade de Aveiro, sob a direcção dos Profs. Ana Miranda e Carlos Borrego.
Um trabalho deste grupo já com uns anos, estimava em 10% a contribuição dos fogos estivais para os GEE em Portugal: além do CO2, todos os outros gases estão presentes nesses fogos, do metano aos nitritos, alguns dos quais agentes muito piores do Efeito de Estufa!
Trabalhos mais recentes desse grupo de Aveiro e outros mostram duas coisas: a) que os fogos libertam também outros elementos nocivos e cuja concentração atmosférica nas grandes cidades portuguesas tem uma clara correlação com a ocorrência desses incêndios, como o Ozono e o mercúrio; b) que, tal como noutros países industrializados, se verifica uma tendência imparável para o aumento anual dos fogos. Na Coreia isso é correlacionado com as próprias práticas de reflorestação pós-incêndios.
Estes factos, pouco conhecidos, já os tinha aflorado aqui.

sexta-feira, outubro 02, 2009

A competição pelo carvão limpo

O actual Secretário de Estado da Energia dos EUA, o prémio Nobel Steven Chu, avisou esta semana ao CO2 emitido pelas centrais a carvão: "We will bury you"!
Isto foi escrito num artigo na Science onde era explicada a decisão pelo Governo Obama de dedicar 3-4 biliões de dólares à I&D para a captura e enterramento do CO2 emitido por aquelas centrais.
Parece, pois, que a decisão política a que o EPRI apela e que aqui referi, foi tomada.
Naturalmente, isto de obter uma tecnologia que torne as centrais a carvão "limpas", tanto como as renováveis ou o nuclear, não é só uma questão de salvar o mundo: é também uma oportunidade estratégica de negócio!
Quem dominar essas tecnologias, dominará grandes e lucrativos mercados mundiais.
E é certamente por isso que a China iniciou a construção não de uma, mas de duas grandes instalações prototípicas, com duas tecnologias diferentes (a ensaiar), para a captura e enterramento do CO2 produzido pelo carvão.
Quem dos dois países, EUA e China, ganhará a corrida, é difícil prever. Ambos esse países são ricos em carvão e usam-no abundamentemente para a produção de electricidade, de que o carvão é lá a principal fonte primária, e é bom que ambos apostem no mesmo.
Quanto a nós, só temos que esperar para ver a quem vamos depois importar, chaves na mão, essa tecnologia de que não haveremos de perceber nada, entretidos que teremos andado a acompanhar vagamente projectos europeus de investigação fundamental, a fazer barragens para armazenar o excesso de energia gerada pelas turbinas eólicas que importámos e a investigar "redes espertinhas" que, da forma como as imaginamos hoje, nunca existirão.
Na figura: operários chineses numa mina de carvão, 2008

quinta-feira, outubro 01, 2009

Preço da energia daqui a 20 e a 40 anos

O EPRI ("Electrical Power Research Institute") é a entidade que supervisiona a maioria da Investigação & Desenvolvimento (I&D) em matéria de energia eléctrica na América. É suportado pelo conjunto das Empresas de Electricidade americanas e também conta com o apoio de empresas de 40 outros países, como a EDF francesa, de Universidades e consultores independentes.

Com largos recursos, o EPRI faz ele próprio I&D, mas também financia muita feita por terceiros, sob contrato. No entanto, a sua ligação às empresas e à economia real dá-lhe um pragmatismo económico e um bom senso social muitas vezes ausentes nos académicos.

Nos últimos anos, o EPRI tem procurado avaliar e prever as tecnologias que permitam reduzir as emissões de CO2, juntando-lhe as dimensões sócio-económicas, e realizou dois estudos de que publicou recentemente um relatório actualizado.
Infelizmente o relatório completo só é acessível às empresas sócias do EPRI, mas um resumo do mesmo pode ser consultado aqui.
Nesse relatório são projectados dois cenários de futuro para os EUA quanto às tecnologias energéticas desenvolvidas para a redução das emissões de CO2. Considera-se que se pretende uma redução das emissões de CO2 para 60% do seu valor recente dentro de 20 anos (2030), e para 20% vinte anos depois (2050).

No primeiro cenário, ou de opções limitadas, são excluídos o carvão com captura de carbono (CCC) e o desenvolvimento do nuclear, em consonância com os desejos dos ecotópicos.
No segundo cenário, ou de carteira completa de opções tecnológicas, todas as tecnologias são incluídas.

Em ambos os casos são previstas as melhores soluções, dentro das limitações assumidas.

A previsão da utilização das várias fontes energéticas ao longo das próximas décadas é ilustrado na figura seguinte, respectivamente para a opção de carteira limitada (sem nuclear nem carvão "limpo") e de carteira completa.

No primeiro cenário, em que se decide a exclusão do carvão limpo e do nuclear, verifica-se, a partir do presente (2010), um abandono progressivo do carvão e do nuclear (não instalação de novas centrais e desmantelamento das antigas à medida que atinjam o fim da sua vida útil), e um grande crescimento das energias renováveis, com a solar a fazer o seu aparecimento em força dentro de 20 anos. Porém, as medidas mais significativas serão a redução do consumo, em parte devido ao aumento da eficiência energética, e a curto prazo um grande aumento do consumo de gás natural, em substituição do carvão.

É evidente que isto é o que está a acontecer na Europa, e em particular em Portugal, onde novas centrais de ciclo combinado estão a ser instaladas a um ritmo frenético, ao mesmo tempo que se reduz o uso do carvão. Estas centrais, note-se, funcionam a gás natural, e dizem-se de ciclo combinado por terem dois ciclos termodinâmicos combinados que lhes dão uma grande eficiência: uma turbina a gás (basicamente semelhante às dos motores a jacto dos aviões, mas muito maiores), e depois um ciclo de vapor em que a caldeira é aquecida pelos escapes dessa turbina, que ainda saem dela suficientemente quentes para isso. O gás natural tem o seu preço indexado ao do petróleo e as suas reservas no sub-solo são maiores que os deste, mas limitadas.

No segundo cenário o uso das renováveis é praticamente o mesmo (mas sem o caríssimo solar), o nuclear cresce paulatinamente nos próximos 20 anos mas não o do uso do gás natural (cuja queima emite CO2, recorde-se), o que permitirá uma redução mais suave do consumo do carvão (mais barato), até estar dominada a tecnologia da captura do CO2 das respectivas centrais, aqui prevista para dentro de 20 anos (como o solar). A partir daí o nuclear estabiliza e dá-se um forte retorno às centrais a carvão, agora "limpo", assim como a generalização dos automóveis eléctricos. A redução do consumo também dará um contributo essencial para a redução do CO2 emitido, mas não tão drástico como no cenário de opções limitadas (onde terá o papel principal), e porquê? O gráfico de previsão da evolução dos preços para ambos os cenários explica-o.

A previsão da evolução de preços da electricidade é que, seja como for, estes vão subir significativamente!

Mas, enquanto no cenário com todas as opções, os preços subirão para 180% nos próximos 30 anos, e depois estabilizarão, no cenário sem nuclear nem carvão limpo os preços dispararão até serem mais do triplo do que são hoje, em boa parte devido à subida dos preços do gás natural à medida que se aproximar o seu esgotamento e à necessidade de reduzir ainda mais o CO2 emitido, que passará a ter nas centrais de ciclo combinado a sua principal fonte, uma vez eliminado o carvão. E é essa mesma subida dos preços que conseguirá a redução adicional de consumos sobre o cenário com todas as opções - mas, com toda a probabilidade, essa redução de consumo não será equitativamente distribuída; serão os pobres quem deixarão de poder aceder à energia!

Como não tenho o relatório completo do EPRI, não conheço em detalhe os seus modelos. Porém, estou em crer que a evolução das coisas será muito mais rápida do que o que o EPRI prevê, quiçá em metade do tempo - o que ele prevê para 2030 talvez ocorra já em 2020, e o que prevê para 2050 ocorrerá provavelmente até 2030.

Por outro lado, convém notar que isto são previsões para a América, onde os preços da energia são 55% dos actuais na Europa; com o cenário de mais 80% nos preços da electricidade, a América terá atingido os preços que vigoram presentemente na Europa...! Quanto ao que acontecerá por cá...

Nota o EPRI: a decisão sobre qual dos dois cenários de futuro se materializará, é uma decisão política, e tem de ser tomada agora. A "limpeza do carvão" (captura do CO2 emitido e seu enterramento no sub-solo) é, neste contexto, o tema de I&D que mais necessita de uma decisão política, porque existem soluções técnicas mas falta testá-las em grande escala e aprender com isso, e tais testes requerem investimentos que ninguém fará se os "ventos" político-ideológicos estiverem contra. O mesmo se passa em grande medida com o nuclear, que se "desaprendeu" de fazer devido a esses "ventos". Pelo menos fora da Ásia.