Sem pôr em causa os estudos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU, que sintetizam os resultados largamente consensuais da comunidade científica internacional, acho útil, entretanto, esclarecer que os referidos 85% exageram em muito o papel poluidor do uso dos combustíveis fósseis, como aliás eu já analisara aqui.
De facto, e segundo o próprio IPCC, de cujo relatório mais recente (2007) extraio a figura anexa, a estimativa de contribuição para os GEE dos combustíveis fósseis é pouco mais de metade. O resto vem sobretudo do uso dos solos, em última análise do enorme crescimento da população humana verificado sobretudo no último século, num planeta que é finito.
Note-se, entretanto, que este gráfico não pretende ilustrar um cálculo exacto.
Com efeito, o próprio IPCC explica, no seu sumário técnico do referido detalhado relatório de 2007, que relativamente aos valores de metano (CH4) e gases nitrosos (N2O), os dados apresentados têm incerteza de 30 a 50%, e que as emissões de CO2 da agricultura e desflorestação ainda sofrem de incertezas maiores!...
Mas, mesmo aceitando como suficientemente precisa a distribuição de parcelas de GEE ilustradas na figura anterior, também não é verdade que o CO2 resultante do uso de combustíveis fósseis resulte todo da produção de energia eléctrica e dos transportes, como se mostra na figura seguinte.
A indústria, particularmente as refinarias, as siderurgias e as cimenteiras, consomem directamente combustíveis que produzem mais CO2 que os transportes!
E, nos GEE de origem residencial inclui-se a queima de lenha para aquecimento.
Não pretendo com esta nota contestar a necessidade de energias renováveis e da "descarbonização" dos transportes! Apenas penso ser importante pôr as coisas na sua correcta perspectiva: será preciso muito mais do que adoptar automóveis eléctricos ou encher os telhados de painéis solares para salvar o mundo do Aquecimento Global, até porque mesmo nos transportes 1/4 dos GEE são emitidos pelos navios e aviões, e não pelo transporte rodoviário... e, sobretudo, será preciso que muito mais população mundial do que a que subscreveu Kyoto se envolva no processo!
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Como que de propósito justificando o intento do texto acabado de escrever, acaba de ser publicado mais um relatório do "Transatlantic trends 2009" promovido entre outras pela nossa FLAD e que, relativamente à apreciação sobre as alterações climáticas, diz que "Muito preocupados" com as alterações climáticas estarão 40% dos americanos e 48% dos europeus, e que, entre estes, na Europas Central e Oriental serão 37%, mas que os portugueses são os "mais ansiosos" com 62%!!!
A propaganda do Governo e dos ecotópicos faz mesmo efeito!
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