Um curioso artigo de opinião foi há dias publicado no NYT, descrevendo as tácticas das companhias promotoras de parques eólicos para conseguirem a anuência dos proprietários de terrenos à respectiva instalação, nos EUA. A história ali contada lembra as daqueles filmes que romanceiam conspirações de malévolas corporações para enganarem os cidadãos apenas por causa do lucro, e a que o autor do artigo chama de "forças das trevas mascaradas de cruzados ambientalistas" (parece que partilha o ponto de vista do meu manifesto anti-ecotópico)!...
E, no entanto, esta descrição de como os cidadãos do Midwest se vão dando conta com alguma impotência da instalação de torres nos seus quintais que lhes estragam a paisagem e que fazem um ruído insuportável para sempre, mostra que a opinião pública americana não é nada favorável à proliferação destas ventoinhas. Pelo menos no seu quintal...
Vale a pena e a propósito acrescentar que há outra tecnologia energética que está a fazer crescer as genuínas preocupações ambientais nos EUA: a da extracção do gás natural dos jazigos xistosos. Com efeito, essa tecnologia recente que mereceu a distinção pelo MIT, em 2009, da maior descoberta do ano em tecnologias energéticas, e que de repente multiplicou por uma ordem de grandeza as reservas mundiais de gás natural economicamente extraível, tem alguns senãos: baseia-se na injecção a alta pressão de uma mistura de água e de alguns produtos químicos que desfazem ("crackam") os xistos, libertando o gás. O problema, já detectado e que pode vir a tomar proporções alarmantes, é a contaminação dos veios de água subterrâneos por esses "químicos"...
Este estado de espírito popular soma-se à resistência do Congresso americano em fazer subir o custo da (barata) electricidade americana com subsídios às renováveis, a que se junta a escassez de crédito que, em conjunto, fizeram já cair a pique neste 2010 os investimentos americanos em eólicas, como noticiei aqui. Tanto mais que nos EUA a imposição governamental de tarifas para a produção de electricidade, tão praticada por cá, é proibida por lei...
E isto leva-me a deduzir que são precisamente estes sinais de uma possível catástrofe eminente para os biliões investidos pela EDP em eólicas nos EUA que explicam o extraordinário esforço de marketing português nos EUA nesta matéria - e que tem incluído desde a "encomenda" de artigos de opinião favoráveis à política energética portuguesa no NYT e ao próprio embaixador americano (no Público, em Agosto), ao curso de Manuel Pinho na Columbia University pago pela EDP, e finalmente à deslocação do próprio 1º Ministro de Portugal a Nova Iorque para uma sessão de marketing destes investimentos...
Oxalá me engane, mas suspeito que no próximo Verão não haverá vento!
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