O Secretário de Estado não foi taxativo nesta afirmação, mas foi-o o próprio Ministro agora, numa entrevista publicada no Diário de Notícias. Cito: "O facto de termos tido nos últimos anos uma grande expansão da investigação nas empresas é, em grande parte, resultado do investimento público. Pode parecer contraditório, não é o investimento nas empresas, é o investimento público nas universidades. Foi o investimento público nas universidades ao longo de muitos anos que criou as condições de formação, de formação avançada, de internacionalização..."
Ora é difícil acreditar nesta relação.
O investimento público na I&D universitária - visto que não se trata do investimento no ensino - tem sido orientado para bolsas de doutoramento. Mas as empresas que mais "investem" em I&D, segundo as declarações fiscais que servem de base às estatísticas, não contratam doutorados, conforme já há cerca de ano e meio eu aqui contabilizara; recordo o que então compilei:
Apesar de se "produzirem" agora em Portugal 1400 doutorados por ano, com 815 em áreas científicas e 270 em Engenharia e Tecnologia, a I&D empresarial apenas empregava, ao todo... 360! Olhando para quem é que empregava esses 360 doutorados, verificava-se que:
- 63 estavam nas Indústrias Químicas e Farmacêutica. Viva a Hovione!
- 58 estavam na consultoria e nos serviços às empresas, provavelmente a maioria no Ambiente.
- 27 estavam nos Serviços de Informática, apesar deste sector ser o campeão em número de investigadores declarados (32%); a Novabase e o Carapuça devem ter boa parte...
- 22 estão na Banca e Serviços Financeiros, um número proporcional à % de investigadores declarados (7%), mas muito inferior ao peso na despesa deste sector;
- 37 estarão empregados pelo conjunto de toda a indústria, a somar aos da Química e das farmacêuticas;
- 1 ou 2, apenas, estavam nas Comunicações, apesar do peso deste sector na despesa de I&D;
- 7, apenas, estavam na Energia (e destes sei que pelo menos 3 foram dispensados depois de 2007, 2 deles por "necessidades de contenção orçamental"...);
Se são as empresas que são retrógradas e não percebem a utilidade dos doutorados, como acusam os universitários, ou se são os doutorados que pouco know-how têm com aplicação às necessidades reais das empresas, como acusam estas, é assunto para outra conversa. Para breve.
Entretanto, no recente documento laudatório recentemente publicado pelo Governo sobre "AS EMPRESAS E INSTITUIÇÕES HOSPITALARES COM MAIS DESPESA EM ACTIVIDADES DE I&D EM 2008", entre encumiásticas estatísticas sobre as despesas "declaradas" por essas empresas em I&D, há uma lista ordenada pelo número de doutorados que empregavam mais recentemente, em 2008; quantos?
114 ao todo! E, destes, só 32 são nas duas farmacêuticas de referência, a Hovione e a Bial (a indústria farmacêutica empregava 64 doutorados no inquérito anterior)!
Na Energia, a EFACEC tem um doutorado e a EDP, que declara ter gasto 88 milhões de € em I&D (!!!) e empregar 86 investigadores, agora tem nenhum doutorado!...
Ou seja, e como a minha própria observação empírica confirma: o número de doutorados empregados pelas empresas diminuiu, em vez de aumentar, nos últimos anos.
E portanto, que relação tem o "investimento" público em doutoramentos e a I&D empresarial em Portugal?
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