sexta-feira, dezembro 24, 2010

Uma nota optimista neste Natal de 2010

Aos meus leitores que me pedem insistentemente novos contributos, peço desculpa pela inactividade, que se deve a uma acumulação de trabalho no final do ano que precisava de despachar. Sim, eu não estou ao serviço de nenhum lobby energético e tenho que trabalhar para pagar a luz e a gasolina!...
Além de que gosto do que faço, mas isso é outra conversa.
Hoje venho só trazer uma boa nova a todos, tentando esconjurar um pouco a depressão nacional que nos aflige.
Até para os fundamentalistas das renováveis a nova é boa, porque com a crise do crédito e a má-vontade generalizada em sustentar a sua subsídio-dependência, os ventos estão-lhes desencorajadores e vão ter que acabar por arranjar outro ofício, como muita gente. Embora seja óbvio que eles se vão opor à nova, mas já lá voltarei...

Lembram-se de como em tempos vos notei como a produção de electricidade a partir do gás natural tem um baixo custo de investimento e tempos curtos de construção de centrais (bom em épocas de dificuldade de crédito), e o seu preço depende essencialmente do do próprio gás? E de que para o mesmo kWh, as centrais a gás de ciclo combinado geram metade dos Gases de Efeito de Estufa das a carvão? E que, sendo capazes de uma resposta ágil às variações da potência na rede, são um complemento indispensável para colmatar a intermitência da produção de origem eólica e solar?
O problema maior do gás natural é que na Europa está quase esgotado, vindo o que cá se consome da Rússia, da Argélia e, no nosso caso, da África sub-sahariana por barco (liquefeito). Outro problema é que apesar de haver mais dele do que petróleo, também não é de uma abundância extraordinária, a prazo.

Ora no ano passado, 2009, dei aqui conta de uma invenção americana revolucionária que permite extrair rentavelmente o gás natural existente sob solos com xistos argilosos. Essa invenção foi considerada pelo MIT a maior nas tecnologias de Energia em 2009, e com ela as reservas em gás natural dos EUA passaram bruscamente para 90 anos, talvez mesmo 160 anos, segundo o MIT!
O certo é que esta tecnologia, com a "baixa inércia" típica dos americanos, redundou já numa corrida ao gás xistoso e, com isso, o seu preço caiu drasticamente nos EUA! De tal forma que, apesar do Congresso ter ratificado para 2010 e 2011 as ajudas à energia eólica, os investimentos nesta caíram 72% em 2010 e prevê-se uma queda adicional sobre o remanescente de 50% em 2011! E é por isso que os investimentos da EDP-Renováveis nos EUA procuaram agora um comprador chinês que os salve...
Bem, mas só há gás xistoso nos EUA? Não, há em todo o mundo, e por isso também o MIT considera sem dúvida que o gás natural reúne todas as condições para substituir o poluente carvão e ser a via de uma transição paulatina para um futuro descarbonizado.
E na Europa?
Pois, na Europa também há. Sobretudo na Polónia e Alemanha, mas enquanto na Alemanha os lobbies eólico-solar esforçam-se por assobiar para o ar e levantar objecções ambientalistas, a Polónia já se vê como a nova Noruega, dado que as estimativas mais recentes das suas reservas apontam para 200 anos! E daí também que os capitais activos nestas coisas tenham acabado de dar um passo para controlar esses recursos, nomeadamente a ENI italiana que tem uma relação tradicional com a nossa GALP.
Há, com efeito, uma corrida silenciosa neste momento ao controlo dos recursos europeus em gás xistoso. O silêncio advém por um lado de como o gás xistoso mata com um tiro fatal todo o movimento ecótópico e os seus interesses subsídio-dependentes, assim como os media cujo pensamento eles controlam, e advém também dos negócios fantásticos que se congeminam nos corredores.
E é aqui que entra a boa nova que vos trago: o mapa anexo. Portugal também tem uma grande reserva de gás xistoso, que começa por alturas de Fátima (Nossa Senhora de lá deu-nos esta prenda!) e se estende pela zona marítima exclusiva!

Razão tinha, portanto, quando há pouco mais de um ano eu dizia que a "aposta estratégica no mar" de Portugal, depois de termos deixado de ter frotas mercante e pesqueira e Ultramar sob bandeira nacional, só fazia sentido se houvesse lá petróleo. Só tinha um pequeno erro, este vaticínio: não é petróleo que temos, é GÁS XISTOSO!
A ver se não o deixamos cair em mãos alheias!...

12 comentários:

Jorgex disse...

Boas festas! :)

Anónimo disse...

E as emissões de C02?

Está bem que eventualmente o problema não é tão grave como quando originalmente anunciado. Os emails interceptados antes da conferência de Copenhaga assim o sugerem.

Mas 100~160 anos a emitir C02 para a atmosfera terão efeitos muito nocivos...

Qual a sua opinião sobre esta matéria?

Também me parece que com a crise económica não haverá nenhuma nação que irá optar por formas de produção de energia eléctrica mais cara...

Anónimo disse...

Antes de mais, boas festas. Essa é uma boa notícia. É bom saber que afinal temos alguma riqueza no nosso mar. O gás natural é uma das fontes energéticas mais importantes, a par do carvão e do petróleo. O resto são tretas dos ecologistas para apanharem subsídios.Para o anónimo que fala das emissões de co2, não se preocupe, pois este gás já cá anda há muitos anos a ajudar as plantinhas a fazerem a fotossíntese que produz oxigénio e alimento para os animais e seres humanos. Preocupante seria deixar de haver co2, o gás da vida que foi "promovido" a gás tóxico e poluente.

Anónimo disse...

Prof Pinto de Sá;

A Ciência não é neutra mas é intrinsecamente ISENTA, como tal, vive da Objectividade e do Rigor ...
Vamos começar por aquilo que me parece estarmos todos de acordo.
1)A concentração de CO2 na atmosfera aumentou bastante desde a Revolução Industrial.
2) A temperatura média também tem vindo a aumentar paulatinamente, os valores mais provaveis andarão na ordem de 0,7-0,8 ºC.
A que se deve esse aumento de temperaturas médias?

E é aqui que começam as divergências.
3) A tese dominante aponta os Gases de Estufa como principal ou até mesmo o unico factor a ter em conta.
4) Eu sou daqueles que pensam que o mais provavel é haver uma conjugação de vários factores, e que os gases de Estufa são um deles.
Assim sendo ...
Qual é o grau de influência do CO2 neste "imbróglio"?
SINCERAMENTE: acho que ninguém sabe ao certo!
5) As estimativas apontam para que por volta de 2050 a população mundial atinja os 10 mil milhões de pessoas ...
É MESMO MUITA GENTE!
Nessa altura a pressão sobre os recursos naturais do Planeta atingirão niveis criticos.
Só nos faltaria nessa altura verificar que os tais ecotretas até tinham alguma/muita razão, e que as alterações climáticas, incluindo as condições extremas, se tinham acentuado.

COM TANTA GENTE E COM CONDIÇÕES CLIMATÉRICAS ACENTUADAMENTE ADVERSAS SERIA O CAOS A TODOS OS NIVEIS.

6) Da conjugação dos pontos 4 e 5, parece-me ser boa ideia adoptarmos uma atitude prudente e pensarmos sériamente em reduzir de forma drástica as emissões de CO2.
7) Além disso, sob um ponto de vista mais economicista, Portugal está muito/totalmente dependente da importação de combustiveis, para inverter esta situação só vejo uma solução ...
UMA APOSTA FORTE NAS RENOVAVEIS!

A minha posição sobre este assunto não é fechada, mas neste momento estou claramente a favor das renovaveis ...
Em termos cientificos, consegue identificar erros no meu raciocinio que me "obriguem" a mudar de posição?
Cumps
Vitor Monteiro

Pinto de Sá disse...

Caro "Victor Monteiro":
1) Concordo consigo quanto ao peso eventual dos GEE no Aquecimento global em curso: ninguém sabe ao certo qual é, nem sequer quanto é esse Aquecimento. E condições extremas sempre houve, variando naturalmente de ano para ano e até de século para século.
2) Concordo, contudo, que é possível que haja um contributo dos GEE para esse talvez existente aquecimento global. É um risco, como o de sermos atingidos por um asteróide em 2050. Convém fazer alguma coisa quanto a esses riscos.
3) O que se deve fazer deve ser proporcional ao risco e considerar os custos das medidas a tomar. Tal como não vale a pena passarmos a viver em subterrâneos por causa do risco de um asteróide nos atingir, também não vale a pena passarmos a morrer de frio nos Invernos por termos encarecido demais a energia.
4) Sendo assim, acho que o melhor para já é estudar melhor o clima, assim como observar o espaço e rastrear os asteróides.
5) coisa bem diferente é o problema do futuro esgotamento do petróleo e outros combustíveis fósseis. Mas aí não será Portugal a determinar nada, e como há muitos anos pela frente até esse esgotamento ocorrer, há tempo. Tempo que deve ser aproveitado na investigação das medidas alternativas, das renováveis a outras formas de energia não-fósseis nem emissoras de GEE, sem discriminação apriorística.
6) Quanto à dependência actual da importação de combustíveis fósseis, ela não é economicamente mais grave que a dependência do crédito externo. Ah, e as renováveis não têm nada a ver com o petróleo (a electricidade não se produz com petróleo, mas sim, quanto a combustíveis fósseis, com gás natural e com carvão - e esses não estão para acabar tão cedo). Portanto, arcar com os sobrecustos das renováveis em nada reduz a dependência do petróleo nos transportes - não há relação.
Cumps

Anónimo disse...

.
Prof Pinto de Sá;

1) Bom, antes de mais temos que resolver uma questão Linguistica:
se um aumento de 0,7-0,8 ºC na média das temperaturas não é um Aquecimento Global ...
Então prefere chamar-lhe o quê?

2) Esperando que me desculpe a impertinência: mas acho que a sua comparação dos GEE com os Asteroides não é realista ...
Os asteroides já por cá andavam antes da revolução industrial, nesse aspecto, o perigo em 2050 será exactamente igual ao perigo existente há 200 anos atrás.
Enquanto que os perigos dos GEE são da exclusiva responsabilidade humana e vão aumentando com o decorrer do tempo.

3) Mesmo que a questão tenha vindo a ser empolada, no minimo dos minimos, mesmo que pequeno, eu estou absolutamente convencido que existe um perigo real ...
Qual a verdadeira dimensão desse perigo?
Vamos ficar de braços cruzados enquanto não se conseguir descobrir a sua dimensão?
Depois não será tarde demais?

4) Até que valor considera aceitavel o acrescimo de preço das Renovaveis?
Até 50% mais do que o valor de mercado?


Cumps
Mesmo eu:
Vitor Monteiro
.

Pinto de Sá disse...

Caro "Victor Monteiro",
Vamos lá a ver se esta conversa tem alguma utilidade, já que tenho pouco tempo para conversas de surdos.
1) Não disse que 0.7-0.8ºC não são Aquecimento global. Mas: 1º) isso é controverso (que tenha havido esse Aquecimento, foras as variações periódicas que há sempre, associadas ao El Ninõ, às mudanças dos ventos no Norte, etc); 2º) é mais controverso ainda, e você por um lado diz que o admite, mas aqui parece que afinal já tem certezas, qual a % que terá nesse eventual Aquecimento a actividade humana.

2) Naturalmente não vamos ficar de braços cruzados. Mas uma coisa é querer á força impedir JÁ que se continue a comsumir combustíveis fósseis, com os elevados custos que isso possa ter, sobretudo se apenas se apostar nas energias renováveis e se descurarem todas as outras fontes de CO2 - tenho muita coisa sobre isso no blog que pode consultar - outra coisa é fazê-lo apostando numa acção consertada internacional em todas as vertentes.

3) Qual o sobrecusto que eu acho aceitável? Nenhum! Não há necessidade de sobrecusto, se as coisas forem feitas como disse - paulatinamente, com uma acção consertada em todas as vertentes e procurando as melhores soluções técnicas.

PJNS disse...

quais as fontes para o gas xistoso em Portugal?

Obrigado,Paulo

Pinto de Sá disse...

"fontes" paa o gás xistoso?
Não sei se percebo a pergunta.
O gás natural existe no sub-solo, e é de lá que é extraído.
Nos combustíveis fósseis, são contabilizadas como reservas as que se podem extrair com a tecnologia actual. Se houver um progresso na tecnologia, as reservas aumentam, neste conceito.
Acontece que em 2009 foi demonstrada nos EUA uma nova tecnologia capaz de extrair gás natural de subsolos xistosos ("shale gas"), o que de repente aumentou as reservas de gás natural nos EUA em algumas décadas, e levou ao seu embaretecimento e acelerada exploração.
Acontece que não é só nos EUA que há gás natural em subsolos xistosos. Na Europa também, e em Portugal em particular.
No caso português, isso é sabido há muito. É sabido mas não era considerado relevante, porque não se sabia extraí-lo.
Foi isso que mudou.
Mas falta, naturalmente, uma avaliação mais detalhada das condições desse gás há muito conhecido com as novas tecnologias. E é isso que vai ocorrer nos próximos anos.
Na Polónia e em Espanha (Pirinéus) essa prospecção está já em curso acelerado. Cá, se está não se sabe...

Anónimo disse...

Sobre o impacto ambiental da extracção do gás xistoso, ver:

http://en.wikipedia.org/wiki/Environmental_impact_of_the_oil_shale_industry

Parece que nem tudo são rosas...

Anónimo disse...

SOFIA | Sat Jan 14, 2012 8:00am EST

(Reuters) - Thousands of Bulgarians protested throughout the Balkan country on Saturday against exploration for shale gas, worried it would poison underground waters, trigger earthquakes and pose serious public health hazards.

Protesters rallied in more than six major Bulgarian cities calling for a moratorium on shale gas tests through hydraulic fracturing, known as fracking, and demanding a new law to ban unconventional drilling for gas in the southeastern European country.

"I am opposed because we do not know what chemicals they will put in the ground. Once they poison the water, what shall we drink?" said Olga Petrova, 24, a student who attended a protest in Sofia.

Anónimo disse...

(Reuters) - The city of Buffalo, New York, banned the natural gas drilling technique of hydraulic fracturing on Tuesday, a largely symbolic vote that demonstrates concern about potential harm to groundwater from mining an abundant energy source.

The city council voted 9-0 to prohibit natural gas extraction including the process known as "fracking" in which chemicals, sand and water are blasted deep into the earth to fracture shale formations and allow gas to escape.

The ordinance also bans storing, transferring, treating or disposing of fracking waste within the city.

No such drilling projects had been planned in Buffalo, located in New York state, though city officials were concerned that fracking waste water from nearby operations was reaching the city sewer system.

Backers of the measure hope it will help build pressure against fracking, which environmentalists say endangers groundwater as a result of leaking chemicals.

Pittsburgh, Pennsylvania, has enacted a similar ban.