sexta-feira, janeiro 07, 2011

Renováveis, Carvão e Gás Natural

Hoje em O SOL, o nosso estimado amigo Mira Amaral dá mais uma estocada no seu combate pela verdade e por Portugal. Aqui o transcrevo com gosto:

O Secretário de Estado Carlos Zorrinho, recém-chegado a estas complexas questões da energia, está em maus lençóis, entalado entre a herança de Manuel Pinho, centrada num exagerado voluntarismo, diria mesmo fundamentalismo, nas renováveis da moda, e os consumidores de electricidade, domésticos e empresariais, os quais começam agora a sentir na factura eléctrica os grandes sobrecustos dessa politica (?) energética.
No dia em que publicámos o Manifesto para uma Nova Política Energética (7 de Abril de 2010) tivemos a elegância de ir ao Secretário de Estado Zorrinho explicar as nossas preocupações, que os actuais aumentos dos preços da electricidade vêm agora confirmar!
O Senhor ignorou olimpicamente os nossos alertas e o Governo veio logo a seguir publicar a 20 de Maio o Decreto-Lei 51/2010, reforçando a aposta em nova produção eólica e permitindo que os actuais produtores aumentassem a potência instalada em 20%!
Já tínhamos previsto que era impossível, como tinha acontecido até agora através duma subsidiação cruzada, que os sobrecusto da Produção em Regime Especial (PRE), isto é a produção que beneficia de preços políticos fixados pelo Governo como a eólica, a fotovoltaica e a co-geração, ficasse confinada aos consumidores domésticos, as microempresas e a iluminação pública, poupando-se as empresas a as actividades de maior peso económico a tais sobrecustos. Os dramáticos aumentos agora anunciados para as empresas confirmam as nossas previsões!
De acordo com a ERSE, verifica-se que nos chamados Custos de Interesse Económico Geral (CIEG), o que aumentam de forma exponencial são os sobrecustos das PRE (eólica e co-geração), havendo também um aumento recente dos sobrecustos dos Contratos de Aquisição de Energia (CAE’s) e dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC’s), derivados do facto de as centrais térmicas, sujeitas aos CAE’s e CMEC’s, estarem a trabalhar hoje em dia menos horas do que estava previsto quando entraram em funcionamento. Com efeito, as renováveis têm preferência na entrada em rede, relegando as centrais térmicas para a função meramente de apoio às renováveis. Assim sendo, os CMEC’s e os sobrecustos dos CAE’s sobem justamente porque vão pagar aos produtores térmicos a diferença entre o que deveriam facturar quando estava previsto que funcionassem como centrais de base e o que facturam agora em regime suboptimo, só de apoio às renováveis. Poder-se-ia pensar que, uma vez que a sua produção dimimui na proporção inversa do crescimento da energia renovável, estas centrais térmicas se estariam a tornar dispensáveis e que a sua equilibragem contratual seria injustificada, tendendo no limite essas centrais  a desaparecerem, e com elas esses sobrecustos. Porém, tal não acontece porque o carácter intermitente das renováveis da moda exige a disponibilidade dessas centrais, as únicas capazes de suprirem a falta de vento e de chuva quando essa falta ocorre. Assim, quanto mais renovável na rede, mais sobem os CMEC’S e os sobrecustos dos CAE’s!
 (Milhões  euros)


2010
2011
Variação 2011/2010
Sobrecustos das PME’s
805
1210
50,3%
CMEC’s
305
427
40,0%
Sobrecusto das CAE’s
248
299
20,8%

Fonte: ERSE
 Na recente entrevista ao “SOL” o Secretário de Estado tenta escamotear o facto de que os aumentos dos CMEC’s e dos sobrecustos das CAE’s são decorrentes precisamente do aproveitamento suboptimo do parque térmico a carvão ou gás natural, consequência directa da intermitência a que são obrigados, pela prioridade absoluta dada às renováveis na entrada em rede. Assim, Carlos Zorrinho diz que quer renegociar os contratos com as térmicas (CMEC’s e CAE’s), esquecendo-se que o problema vem dum mix de produção desequilibrada devida ao excesso de renováveis da moda sendo pois esse sobrecusto imputável a elas! Mas nesses excessos não toca!
Carlos Zorrinho volta ainda a insistir noutra falácia, a de que as renováveis da moda que só produzem electricidade vão reduzir a importação de petróleo, o que não é verdade! Com efeito, nas nossas centrais já não se utiliza petróleo para produzir electricidade e ainda vai levar muito tempo até à massificação do automóvel eléctrico, situação em que a electricidade substituirá o petróleo. A única forma actual de reduzir as importações de petróleo era apostar nos biocombustíveis, fonte de energia renovável que tem sido completamente esquecida pelo governo!
Enfim, continuamos no irrealismo energético! Até quando?
Luís Mira Amaral
Engenheiro e Economista

7 comentários:

Anónimo disse...

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Prof Pinto de Sá;

1 - As Renovaveis não reduzem a importação de Petróleo mas reduzem a importação de Carvão e Gás Natural ...
Qual o problema/diferença?

2 - As tecnologias dos Biocombustiveis de segunda geração ( celulosicos ) ainda estão todas na fase de experimentação ( Planta-Piloto ) ...
Ou quer(em) agora ir apostar nos velhinhos/ultrapassados Biocombustiveis de primeira geração?


Cumprimentos
Vitor Monteiro
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Pinto de Sá disse...

"Vitor Monteiro":
1 - A óbvia diferença entre o petróleo e o Carvão/Gás natural, é que os transportes movem-se a petróleo e não a carvão/gás natural! Ou seja, do petróleo dependemos economicamente e não temos substituto para ele nos transportes, enquanto do carvão e go gás não. Além de que quanto a estes não há um problema de esgotamento próximo. Portanto, não têm nada a ver uns (petróleo) com os outros (carvão e gás).
2 - Sim, os "velhinhos/ultrapassados" biocombustíveis de 1ª geração estão longe de estarem velhinhos ou ultrapassados. Usma-se muito nos EUA e no Brasil. Aliás, a directiva europeia do 20-20-20 prevê que constituam 10% dos combustíveis consumidos em 2020...

Anónimo disse...

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Prof Pinto de Sá;

Não sei porque insiste em colocar o meu nome entre "aspas" ... mas também não há-de ser por aí que deixaremos de chegar a bom porto.

1 - Tanto o Petróleo como o Carvão como o Gás Natural são combustiveis fosseis, portanto, por si só, já não faz grande sentido essa separação entre eles.
Além disso, para a nossa economia é sempre bom diminuir importações, sejam elas de Petroleo, Gás Natural ou Carvão.

2 - Assim de repente, sou capaz de apostar consigo que nenhum País da UE irá instalar mais nenhuma "fábrica" de produção de biocombustiveis de primeira geração.
O unico que é competitivo é o bioetanol da cana-de-açucar, mas infelizmente a cultura não se dá nada bem na Europa.
O bioetanol a partir do amido ( milho ) é um processo de baixissima eficiência energética, assim como o biodiesel a partir das oleagenosas. Além disso, tratam-se de culturas alimentares, o que se torna num problema suplementar.

Está toda a gente à espera dos biocombustiveis de segunda geração ...
Porque quer ser diferente nesta questão?
Só para contrariar o Governo?

Nota - Não e não, não conheço absolutamente ninguém no Governo. Não e não, não tenho ligações a nenhum partido.
Sou apenas um cidadão anónimo interessado nestas matérias.


Cumprimentos
Vitor Monteiro
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Pinto de Sá disse...

"Victor Monteiro",
Ponho o seu nome entre aspas porque se apresenta como ANÓNIMO, e portanto não tenho nenhum indício de que o nome com que assina exista sequer.
Quanto à substância do que afirma:
1 - Precisamente, a ideia de juntar tudo em "combustíveis fósseis" é algo que nem o Governo tem a lata de fazer! Porque se tratam de duas perspectivas totalmente diferentes: uma é ECONÓMICA e "comprável" pelo povo, o da dependência do petróleo cujo alto preço toda a gente sente na bomba de gasolina; a outra é IDEOLÓGICA, a de que o consumo dos combustíveis fósseis contribui para um futuro acopalipse cujo exorcismo requer que nos sacrifiquemos. Sacrifício sem outro sentido que o dos antigos sacrifícios humanos das civilizações primitivas para esconjurar os desastres naturais que não entendiam, porque mesmo que uma relação entre queima de combustíveis fósseis, aquecimento global e decorrentes eventuais catástrofes exista, Portugal é irrelevante para esse destino.
2 - Não tenho tempo para discutir consigo os detalhes da economia de biocombustíveis. Mas: a) há quem defenda seriamente que o Alentejo do Alqueva teria aí uma boa aplicação; b) há quem ache que é algo em que se pode investir em regiões tropicais onde nada se produz hoje em dia, como os planaltos de Angola.
Cumprimentos.

Lura do Grilo disse...

Estão a fazer um razoável sucesso os pellets quando comprados a granel e acima de 1 tonelada: para lareira e mesmo para aquecimento central. São limpos, fáceis de transportar e existem recuperadores bastante sofisticados.

O Gasóleo de aquecimento subiu tanto que caldeiras instaladas há 5 anos ou mais anos encontram-se facilmente no mercado a preços baixos e quase novas.

Na minha zona os troços de eucaliptos já não se enterram quando se revolvem os terrenos. Vendem-se a fábricas dos tais pellets.

Regressamos às origens em alguns aspectos.

Pinto de Sá disse...

Mas Lura do Grilo, isso é exactamente a biomassa! Serve para gerar energia, dá emprego a quem a apanha, e limpa as matas, prevenindo os incêndios!

PJNS disse...

O SE Carlos Zorrinho, e um dos boys deste governo, eu gostava de saber de onde lhe vem a competencia para 'gerir" o plano tecnologico.

Discordo de Mira amaral, quando diz que para se diminuir a importacao de combustiveis e ir para os biocombustiveis. O primeiro passo, digo eu e fomentar o transporte publico, como faz a Alemanha, a Holanda, so dois exemplos.

segundo, fomentar a serio a energia da biomassa.

terceiro investir em R&D relacionada com a producao de "green energy" coisa que o MCES nao esta a fazer, a ver vamos se me dao a bolsa para estudar a producao de hidrogenio a partir da fotossintese :-)