Não estou convencido que a melhoria da eficiência energética possa constituir uma aposta estratégica eficaz mas, enquanto aposta táctica, para o curto prazo, é boa ideia.
Duvido da eficiência energética enquanto aposta estratégica para começar porque Portugal ainda tem um consumo energético per capita de apenas 2/3 do da média europeia e, se o país é bafejado pela sorte de um clima ameno que lhe reduz as necessidades de aquecimento nos edifícios relativamente à Europa do norte e do centro, o consumo residencial de energia, o das famílias, é em Portugal ainda menos de metade do da média da Europa dos 27 e tem-se vindo a reduzir desde 2008!
A estrutura de consumo energético nacional, não muito diferente do de Espanha, é sensivelmente de 40% nos transportes e de 30% na indústria e outro tanto nos edifícios (residenciais e de serviços). Nos EUA, um dos maiores consumidores per capita de energia e onde o desperdício é evidente (particularmente na climatização), a proporção de gastos em transportes e nos edifícios é praticamente a nossa invertida: lá os transportes gastam perto de 30% do total e são os edifícios que dispendem perto de 40%, com metade da factura energética doméstica dos americanos no ar condicionado e no aquecimento, enquanto cá o aquecimento só representa 1/4 dessa factura. Em Portugal todos os Invernos morrem muitos idosos de frio...
Na verdade a energia - tanto a eléctrica como a dos transportes - é em Portugal muito cara relativamente ao poder de compra da população, e isso é um factor determinante deste baixo consumo.
Muita gente que lê números com dificuldade argumenta que Portugal tem uma excessiva intensidade energética, que é o quociente da energia dispendida pelo Produto Interno Bruto. Deduzem daí que gastamos energia demais para o que produzimos, mas é o contrário que é verdade - produzimos é pouco, em Valor, para a energia que gastamos!...
A segunda razão porque estou pouco convencido da eficiência energética enquanto aposta estratégica é que os programas do Governo têm sido pouco mais que power-points recheados de frases ocas, criação de burocracias e de negócios para amigos - desde o fomento de empresas que visam exportular mais uns cobres aos cidadãos para lhes facultarem os agora obrigatórios "certificados energéticos", até à venda de painéis de aquecimento solar de águas, passando pela delirante recomendação de que os cidadãos troquem os electrodomésticos todos por outros mais eficientes...
Considero, no entanto, a aposta na eficiência energética boa ideia táctica, se ela começar por atacar o desperdício nos edifícios e transportes do Estado onde, ao contrário das casas dos cidadãos e das empresas, impera a irresponsabilidade orçamental! E depois, se ela for pedagógica para com os cidadãos e os procurar ensinar a poupar nesta época de crise, guiando de forma mais económica e apagando as luzes, e sobretudo os PC, os plamas e as TV telecomandadas, será sempre educativa.
A eficiência energética será ainda uma boa aposta táctica pelo sinal de preocupação política com a poupança que passará, nesta época de dificuldades, mas só se for antecedida pelo exemplo do Estado! Basta ver que, desde 1994, o consumo doméstico de electricidade manteve constante a sua quota de 27-29% do consumo total, mas o dos edifícios do Estado aumentou em 40%, de 4 para 5.6%, sobretudo desde 2002, e isso apesar do frio e do calor que ainda se sofre nas escolas...
Algum esforço voluntarista e moralizador de eficiência energética poderá adicionar alguns pontos percentuais à redução do consumo energético que a crise económica já trouxe e ainda vai trazer mais (tanto em electricidade como em combustíveis - embora quanto a este algo sobrevalorizado pelo contrabando de combustíveis espanhóis). Mas, se tivermos esperança de virmos um dia a atingir os níveis de vida da média europeia, a mais longo prazo o nosso consumo energético ainda tem muito que crescer - sobretudo o de electricidade!
A melhoria de fundo da eficiência energética é uma conquista progressiva e lenta da tecnologia e de políticas de fundo - normas internacionais para os electrodomésticos, regulamentos para a construção de edifícios, etc. Como se verificou com os automóveis desde o choque petrolífero de 1973.
Mas, a curto prazo, será difícil distinguir o aumento da eficiência energética da mera redução de consumos suscitada pela carência económica...
3 comentários:
Bom post sobre um tema tão em voga.
Pena que só quando começa a "apertar na carteira" é que se colocam os problemas do desperdício.
Só uma ressalva sobre a eficiência energética: por vezes pode sair mais caro desligar as luzes (lâmpadas de incandescência ou fluorescentes) e as televisões (as antigas de CRT) do que as manter ligadas e desperdiçar energia.
A verdade é que os Overheads na Factura de Energia eléctrica são tantos que qualquer redução no Consumo tem um efeito residual na conta. Não apetece poupar!
Portugal, na minha opinião não deveria como estratégia estar a discutir a eficiência energética, dado que na minha opinião os Portugueses são bastante comedidos nos consumos devido ao preço (excepto no sector Público/Empresarial.)
Deveria sim ser discutido o custo total das fontes de energia actuais e futuras, de forma a serem seleccionadas com base em critérios económicos e ambientais, que permitam o acesso a energia mais barata, a indústria e as famílias.
Digo isto sem ter conhecimento de quanto custa o kw/h de cada uma das fontes mas tenho sérias dúvidas que seja o gás,carvão ou a hídrica que provoque o aumento do preço.
Outra questão que tenho é na factura da edp é indicado um gráfico com um mix com as fontes de energia, existe algum sítio onde se possa obter informação sobre quanto pagam por kwh fornecido pela nuclear espanhola?
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