quarta-feira, julho 27, 2011

China liga à rede eléctrica o seu primeiro reactor nuclear de neutrões rápidos

Enquanto alguns ecotópicos tentam fazer passar a ideia de que a energia nuclear é uma coisa do passado e fora de moda, a I&D nos reactores de 4ª geração, ou de neutrões rápidos, prossegue, nos países com os pés na terra e ambições de futuro.
Como em tempos expliquei, os reactores de neutrões rápidos "queimam" o urânio 238 e não o 235, assim como o plutónio resultante da desintegração de ambos. Assim, não só usam recursos centenas de vezes mais abundantes que o "combustível" das centrais nucleares actuais de neutrões lentos, como dão destino útil ao principal resíduo radioactivo destas centrais, e de maior longevidade, bem como ao imenso stock de Urânio 238 resultante do enriquecimento do "combustível" actual.
Um dos projectos futurísticos desta tecnologia é o reactor de ondas móveis da TerraPower e Bill Gates de que já dei notícia, mas há muito que se faz investigação experimental em reactores de 4ª geração - na verdade, os primeiros começaram a ser testados há mais de 50 anos!...
Vem isto a propósito de que há uma semana a China ligou à rede eléctrica, começando a gerar electricidade, o seu primeiro reactor de neutrões rápidos, de 4ª geração.
É um reactor experimental, produzindo apenas 20 MW de electricidade (65 MW de calor), mas os dois próximos, de 800 MW cada, começam a ser construídos no mês que vem, ao abrigo de um acordo de cooperação com a Rússia, e um outro de fabrico inteiramente chinês está já previsto, pela joint-venture Sanming Nuclear Power Co Ltd constituída em Abril de 2010.
Os dois reactores de 800 MW agora em construção são de concepção russa, os BN-800, e resultam do aperfeiçoamento dos BN-600 (na foto ao lado) de que há um (e único no mundo...) em exploração comercial em Beloyarks. Porém, a Índia terá também o seu, de 500 MW, em exploração no próximo ano...
É por estas e por outras que ontem mesmo o Público noticiava a contra-gosto (tanto que "contaminou" o mais que pôde a notícia...), que o Director da Agência Internacional de Energia Atómica da ONU afirmou que a produção de electricidade a partir da energia nuclear vai continuar a crescer no mundo, apesar do acidente de Fukushima (onde, recorde-se, ocorreram zero mortos e feridos). Alguns países, como a Alemanha, reviram a sua política em matéria de energia nuclear. Mas muitos outros pensam que precisam dos reactores nucleares, especialmente para lutar contra as emissões de gases com efeito de estufa e o aquecimento global”, argumentou o referido Director.
Vendo isto, talvez compreendamos melhor o vaticínio de Robert Fogel, prémio Nobel da economia em 1993, segundo quem em 2040 o nível de riqueza per capita dos países da Ásia Oriental e do Sudeste será muito superior ao dos actuais países desenvolvidos...

7 comentários:

Gonçalo Aguiarjavascript:void(0) disse...

Caro Professor:

Isto são óptimas notícias especialmente vindas de um país cujo mix de produção de electricidade recaí principalmente no carvão. Em termos comparativos, quão mais caro será um reactor destes de 800 MWe, quando comparando com um convencional para a mesma potência instalada?

Melhores cumprimentos,

Pinto de Sá disse...

Nesta fase, em que há problemas técnicos ainda em avaliação, o custo da energia duma central destas não é importante. Quando construídas em série, ficarão baratas.
O essencial é que com estas centrais haverá energia limpa e com recursos em combustível praticamente infinitos (mil anos é para o que dá o U238 já extraído e o plutónio residual das actuais centrais, de que estas novas usam o próprio resíduo radioactivo principal, o plutónio, como combustível, assim resolvendo, ao mesmo tempo, o referido problema dos resíduos).

Gonçalo Aguiar disse...

Caro Professor:

Aponta aqui como exemplo de boa política energética: a aposta da China em reactores nucleares de 4ª geração. No entanto este blogue parece ocultar a dimensão da verdadeira aposta que a China está a planear fazer nas próximas décadas em energias renováveis, e que já está a decorrer.
Por exemplo:

- Eólico: pretendem ter 100 GW de potência eólica instalada em 2020, cerca de 4 vezes o que têm agora.
- Solar: controlam 30% da produção mundial dos painéis PV com os custos mais reduzidos do mundo. Pretendem ter 20 GW de potência solar PV instalada em 2020.
- 1.5 trillion dollars de investimento nos próximos 5 anos, nomeadamente nos sectores de energias renováveis, eficiência energética, veículos elétricos e novos materiais.

Compreendo que o professor se queira distanciar da fraude para o contribuinte que é a política energética Portuguesa. No entanto há que reconhecer o esforço, neste caso da China, no desenho da sua estratégia energética de longo prazo. Enquanto que o mundo ocidental parece ter como estratégia para os próximos anos, esvaziar as reservas de petróleo, gás natural e carvão, já outros países reconhecem a insustentabilidade desta solução e preparam-se para transitar para outro paradigma...


Com os melhores cumprimentos,

Gonçalo Aguiar

Pinto de Sá disse...

Caro Aguiar,
Note que isto de a China "pretender" ter 100 GW de eólicas daqui a 10 anos (mesmo assim, proporcionalmente às populações, apenas 1/6 do que Portugal já tem), ou 20 GW de PV, em nada contradiz o que tenho mostrado que a China está a fazer AGORA.
Daqui a 10 anos talvez a eólica e a PV sejam competitivas q.b., algo a "ver vamos"; mas o facto é que no presente a China é o maior fabricante mundial de painéis solares, mas para exportação, e não para gastarem energia daí!
O que obviamente é uma política inteligente.
Codiais cumprimentos,

Gonçalo Aguiar disse...

Obrigado pelo esclarecimento.
Entretanto gostaria de partilhar esta notícia:

http://www.youtube.com/watch?v=FuAOcL4d04A&feature=feedu

Falam de reactores nucleares de Tório (Thorium).

Cumprimentos,

Gonçalo Aguiar

Pinto de Sá disse...

Aguiar, como a própria notícia informa, reactores a Tórium são a grande aposta da Índia, como em tempos informei aqui.
Veja isto: http://www.world-nuclear-news.org/newsarticle.aspx?id=26049&terms=Thorium

Fábio Oliveira disse...

Caro Professor Pinto de Sá,

Antes de mais deixe-me dar-lhe os parabéns pelo blog. É realmente muito fácil ler o que escreve e o texto é bastante informativo.
No entanto, leio nas suas entrelinhas que é um adepto da energia nuclear, parece-me por ser mais competitiva. A minha pergunta é:

Mesmo que todas as medidas de segurança sejam tomadas, caso haja um acidente, quanto vale a perda de uma vida humana para se obter um equilíbrio monetário, isto é, obter-se energia barata compensa qualquer situação de desastre ambiental, quando já possuímos mais que tecnologia suficiente para 'alimentar' energeticamente toda a espécie humana?

E a propósito de referir que não houve vítimas no desastre de Fukushima, todas as pessoas que foram expostas à radiação tanto civis, como pessoal técnico que trabalhou e trabalha na reparação não sofrerão problemas mais tarde que hoje não apresentam? E as alterações genéticas causadas aos outros seres vivos na área afectada?

Não pretende acusar nem ofender. Pretendo apenas arranjar argumentos novos que me façam rever a minha posição face à nuclear.

Não sei se fará diferença ou não na resposta que irá dar, mas de qualquer das formas informo que sou formado na área da energia.

Com os melhores cumprimentos,

Fábio Oliveira