terça-feira, julho 26, 2011

Este Verão os ecotópicos estão caladinhos.

No ano passado, em que o Verão foi quente, foi intensa a campanha mediática dos ecotópicos ao serviço do nacional-ecologismo alemão e dos seus representantes portugueses, culpando o "efeito estufa" causado pelo desmedido consumismo humano de ser a causa disso.
Dei nota disso aqui.
Este ano, porém, em que Julho está a ser o mês mais fresco dos últimos 27 anos, e que em Cuba até se vivem as temperaturas mais baixas dos últimos 50 anos, os ecotópicos estão caladinhos.
Claro que há Verões mais quentes e Verões menos quentes, como sempre houve, e como é normal dentro da variabilidade natural do clima. Nada se pode deduzir das temperaturas de um dado Verão, pese embora a tendência ancestral para nos culparmos dos males do clima e que os nossos ecotópicos acicatam.
Entretanto, neste mesmo hyperlink acima, dei conta, há meses, das investigações em curso no CERN sobre o papel das nuvens e dos raios cósmicos no comportamento do clima. Para os interessados, aponto aqui um excelente documentário (52 minutos) sobre esta teoria climática alternativa e que, por enquanto, está tanto sobre a mesa da ciência em aberto como a do efeito estufa de origem antropogénica.

10 comentários:

Gonçalo Aguiar disse...

Este verão aparentemente menos quente pode ter a ver com um decréscimo de intensidade solar face ao esperado. O Sol acabou de sair de um mínimo solar e todos os cientistas estavam à espera de um aumento significativo do número de manchas solares durante o ano corrente e nos próximos dois, mas isso não aconteceu. Se a tendência de 2011 continuar, podemos vir pela primeira vez em mais de 300 anos a deixar de observar manchas solares durante mais de 22 anos. A última vez que isso aconteceu, deram-lhe o nome de "Maunder Minimum" e, coincidência ou não, correspondeu com a "Little Ice Age": um período de 50 anos especialmente frio, chegando mesmo o rio Tamisa a congelar por completo.
Se nos próximos anos começarmos a observar de facto um decréscimo das temperaturas a nível global, então fica feita a prova dos nove quanto à influência dos raios cósmicos nas nuvens e por conseguinte no albedo do planeta terra, ou seja, na quantidade de radiação solar que é reflectida de volta para o espaço.

De qualquer forma isto não deixa de fora a possibilidade de que o homem possa ou não ter influência no clima.
Na minha opinião afirmar que o ser humano é "pequeno" de mais para influenciar o clima é uma atitude negligente. Basta tomar o exemplo dos CFC's que destruíram uma boa parte da camada do Ozono...

Cumprimentos

http://en.wikipedia.org/wiki/Little_ice_age

http://en.wikipedia.org/wiki/Maunder_minimum

http://en.wikipedia.org/wiki/River_Thames_frost_fairs

http://blogs.discovermagazine.com/badastronomy/2011/06/17/are-we-headed-for-a-new-ice-age/

double standards disse...

Meu caro, os ecotópicos estão caladinhos tal como deveriam estar em verões excepcionalmente quentes. O que se passa é que um ano não significa nada per se, em climatologia. Mas se quiser pegar em dados de 15, 20 anos, faça favor de conferir que as temperaturas estão a subir a um ritmo nunca conhecido na História pré-industrial.

Discutir se as políticas energéticas podem contribuir para acalmar o bicho já é outra história.

Gonçalo Aguiar disse...

Caro Professor:

Sempre o tomei como uma referência de bom senso e uma voz da ciência e da razão a respeitar. No entanto o documentário que partilhou neste post não corresponde ao seu registo. Em primeiro lugar é importante perceber qual é o público alvo deste tipo de documentários. Certamente que um cientista para se informar ou estudar sobre este assunto, recorre, em primeira instância, a artigos ou conferências, e não a documentários realizados para um leigo na matéria compreender a problemática.

Quanto ao documentário em si: observei apenas a 1ª parte e detectei duas inconsistências na apresentação dos dados que supostamente provam que a temperatura está directamente correlacionada com as nuvens.
Em 1º lugar no minuto 6:13 apresentam um gráfico que compara a actividade solar com a temperatura media global. Porque é que o eixo das abcissas pára no ano 1985? Deixou-se de coleccionar dados a partir de então? Parecendo que não desde 85 até hoje passou 25% de um século, a electrónica de instrumentação evoluiu significativamente e existem muito mais sondas e satélites a recolher dados. Porque é que um documentário com referências datadas de 2008 (ver site deles) não apresenta dados mais recentes?
No minuto 9:00 acontece o mesmo, mas desta vez com o gráfico que compara raios cósmicos e nuvens... A curva das nuvens miraculosamente (ou intencionalmente) pára no ano 1990...
Para além disso a forma como as curvas parecem coincidir sugere que houve muita engenharia de "escalamento" do eixo das ordenadas...

Mesmo se houvesse uma forte correlação entre as 4 variáveis que acabei de mencionar, não significa que haja uma relação de causa-efeito. As concentrações de CO2 na atmosfera estão também fortemente correlacionadas com a temperatura, não querendo isso dizer que uma quantia cause a outra. Porque é que o mesmo principio não se aplica neste contexto também?

"Correlation does not imply causation"

Na minha honesta e humilde opinião este documentário (pelo menos a primeira parte que partilhou), não é ciência, é apenas uma astuta manipulação de dados.

Com os melhores cumprimentos,

Pinto de Sá disse...

Caro Aguiar,
Surpreende-me a sua mudança de posição entre o seu 1º e o 2º comentários!
Talvez porque pense que este documentário é a 1ª coisa que surge sobre esta teoria. Mas não é. Se seguir o meu último hyperlink neste post, vai encontrar referências para esta teoria e para vários "papers" muito interessantes, de diversos cientistas e com diversos tipos de prova, sobre isto - assim como uma referência às investigações em curso no CERN.

Gonçalo Aguiar disse...

Caro professor

"Surpreende-me a sua mudança de posição entre o seu 1º e o 2º comentários!"

A minha posição é ainda, tal qual como o professor, de agnóstico e céptico. Existem falhas nas explicações de ambas as teorias: tanto a das nuvens como a do CO2, daí o meu cepticismo. Por estas razões mal posso esperar pelos dados do satélite que a NASA lançou este ano para estudar as nuvens e pelos dados de temperatura dos próximos anos. Se de facto o # de manchas solares reduzir significativamente, então não será apenas coincidência (como na Little Ice Age).

Melhores cumprimentos

Apache disse...

“De qualquer forma isto não deixa de fora a possibilidade de que o homem possa ou não ter influência no clima.
Na minha opinião afirmar que o ser humano é "pequeno" de mais para influenciar o clima é uma atitude negligente. Basta tomar o exemplo dos CFC's que destruíram uma boa parte da camada do Ozono...” [Gonçalo Aguiar]
Admitir possível uma teoria profundamente pateta dando como exemplo outra igualmente pateta, poderá considerar-se coerência?

Sérgio disse...

Aguardar pelo ano 2012 e veremos se o verão vai ser quente ou não.

Accustandard disse...

Muito interessante! Dá margem a muito estudos!

Gonçalo Aguiar disse...

Os "ecotópicos" não andam caladinhos, antes pelo contrário. Ainda a procissão ia no adro (O Verão ia a meio) quando escreveu este post. Parece que chegámos ao ponto onde normalmente o gelo ártico cobre menos superfície e este ano foi registado como 2º ano desde 1979 (desde que se começou a usar satélites para fazer estas medições) com menos área coberta por gelo, só ultrapassado pelo ano de 2007.

http://nsidc.org/arcticseaicenews/2011/091511.html

Para além dum mínimo de área coberta por gelo, este Verão bateu o recorde do mínimo de volume ocupado pelo gelo ártico.

http://psc.apl.washington.edu/wordpress/wp-content/uploads/schweiger/ice_volume/BPIOMASIceVolumeAnomalyCurrentV2_CY.png

Ainda a procissão ia no adro e falou-se precocemente. Ainda há dúvidas de um aquecimento à escala global, quer ele seja ou não de origem antropológica?

Cumprimentos

Anónimo disse...

Ser ou não ser de origem antropológica é o ponto fulcral para a adequação das respostas ao problema. Se não é, a insistência em respostas como se o fosse deixa de ser ecotópica para passar a ecoestúpida.
Mário J. Heleno