Os media de dia 24 de Junho noticiaram que o Japão estima em 147 biliões de € (biliões brasileiros, ou americanos) a reconstrução das infra-estruturas danificadas pelo terramoto e, sobretudo, pelo maremoto de 11 de Março passado. Ao mesmo tempo, foi anunciado que serão gastos 0,87 na monitorização dos 2 milhões de habitantes da região próxima de Fukushima nos próximos 30 anos...
Esta quantia é 0,6% da outra, mas mesmo assim os media falam dos gastos na reconstrução do Japão lembrando sempre que "não incluem a central nuclear de Fukushima".
Na verdade, o maior problema decorrente do efeito do sismo sobre as centrais nucleares japonesas é a falta de energia que assola o país, e que levou há dias o Ministro do Economia a reclamar o regresso ao serviço de todas as centrais nucleares em boas condições.
Naturalmente, o custo do desmantelamento da enorme central de Fuskushima-Dachai (6 reactores!...) não será pequeno: 8,7 biliões de € (12 biliões de USD) é o preço estimado pelo consórcio Hitachi-Toshiba-Areva para o fazer, ao longo de 15 anos. A TEPCO já pôs de parte 1,7 biliões de € para isso. É o custo de construção aproximado de uma central e meia daquela potência (esta já estava amortizada, dados os seus 40 anos de vida), 6,5% a incluir no custo geral de reconstrução do Japão pós-sismo, incluindo os 0,87 biliões de monitorização das populações...
Considerável, certamente, mas não o principal problema da reconstrução do Japão! E uma quantia que, se não fora antecipada por inclusão no preço de venda da energia dessa central, o devia ter sido, pelo menos parcialmente.
Entretanto, informação técnica detalhada e permanentemente actualizada sobre a situação em Fukushima-Dashai pode ser encontrada aqui.
Está fotograficamente documentado que os danos foram causados pelo maremoto de 14 metros que afogou as instalações e penetrou meio km naquela zona da ilha, e que só foi igualado por outro que ocorrera há mais de um milénio e de que só há relativamente poucos anos de adquirira toda a noção do impacto tido.
Naturalmente, isto ensina que é preciso prever o imprevisível, razão das "margens de segurança" que os engenheiros conhecem tão bem e que ali permite tirar uma conclusão geral que não era considerada na época do projecto daquela central: há incidentes que podem afectar simultaneamente todos os meios de controlo da temperatura da reacção nuclear numa central nuclear! Coisa que as novas de 3ª geração agora em projecto e construção já prevêm (como no projecto de aviões, em que se vai aprendendo com a experiência dos que caem, para o que existem as "caixas negras"), mas que ainda não sucede com muitas das existentes, projectadas há 40 anos e mais (como Fukushima)...!
No caso de Fukushima-Dashai, os quase 4 meses decorridos desde o acidente têm permitido clarificar a situação e a sua sequência. Depois das explosões de hidrogénio, poucos dias depois do tsunami, e que libertaram para a atmosfera cerca de 10% das emissões radioactivas verificadas em Chernobyl, a injecção de água de arrefecimento tem mantido as coisas sob controlo. É verdade que tudo indica haver fendas nas canalizações de água ou nos contentores dos reactores, mas isso só afecta a água de arrefecimento, que tem estado a verter dos circuitos fechados a que se devia limitar e a inundar caves com água altamente radioactiva. 110 mil toneladas dela!...
Mas é um problema localizado à central e em resolução. Foram instalados sistemas de limpeza da água (retenção do césio), que está já a ser reinjectada nos reactores, depois de limpa e dessalgada, e o nível da água nas caves estabilizou. O césio assim extraído é depois vitrificado, impregando a zeolite usada no processo.
Entretanto, os nossos media fizeram amplo eco da decisão do Governo alemão de fechar os seus reactores quando chegarem ao fim da vida (logo se verá, porém...), de igual decisão da Suíça e do referendo italiano que recusou o retorno da Itália à energia nuclear.
Porém, nenhuma notícia foi ouvida sobre a decisão do Governo inglês de renovação do seu parque de centrais nucleares, sobre a do regulador francês prolongar em mais 10 anos a vida da mais antiga central nuclear francesa, sobre o decreto saído hoje mesmo do Governo russo declarando a tecnologia nuclear como uma tecnologia prioritária para o país, ou sobre os progressos da Lituânia na encomenda dos seus novos reactores...
É que, sabem, ... não morreu ninguém no Japão, nem adoeceu, por causa do acidente em Fukushima-Daichi!
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29 de Agosto: um extra, para os preocupados:
10 comentários:
http://fiel-inimigo.blogspot.com/2011/07/novidades-de-fukushima-nenhum-morto.html
Chapelada.
http://economico.sapo.pt/noticias/evora-e-a-unica-cidade-inteligente-do-pais_122273.html
Para seu "agrado" os media já começam a propagandear as vantagens dos "contadores" inteligentes.
Já há algum tempo que acompanho o seu blog e apesar de frequentemente não concordar consigo gosto de ler o que escreve. Gosto de acompanhar vários pontos de vista diferentes esteja ou não de acordo com eles.
Pessoalmente, não concordo de maneira nenhuma com a actual energia nuclear por mais que leia que as centrais já são muito seguras ou que estão implantadas em locais de geologia estável ou qualquer outro argumento a favor. O meu interesse pelo nuclear resume-se a tecnologias futuras, por exemplo o projecto Terrapower já aqui abordado e do qual espero mais desenvolvimentos para formar opinião.
Quanto a este texto em particular surpreende-me uma exclamação como esta:
"É que, sabem, ... não morreu ninguém no Japão, nem adoeceu, por causa do acidente em Fukushima-Daichi!"
A ser verdade... ainda bem! Ainda bem que ninguém morreu nem mesmo adoeceu nestes 4 meses por causa deste desastre nuclear mas, infelizmente, receio que esta entusiástica exclamação não se mantenha verdadeira com o passar do tempo...
Já agora, se o "bilião" usado neste texto é o que aqui em Portugal alguns chamam de "bilião brasileiro" então, na minha modesta opinião, seria melhor que a grafia usada fosse também a correspondente grafia brasileira. Deste modo evitava-se a explicação de algo que é habitualmente tido como tendo uma interpretação ambígua mas que simplesmente está errado.
A ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escalas_curta_e_longa
Caro Umbertho,
Está no seu pleno direito de concordar ou não com a actual energia nuclear, e eu só pretendo é que as opiniões se fundamentem em verdades técnico-económicas. É para isso que escrevo aqui e que ensino, também.
Quanto às "vítimas" de Fukushima, a minha nota irónica visa os media a soldo de certos interesses ou impregnados de ideologias ecológicas utópicas, a que tenho chamado ecotópicas. Toda a gente informada sabe que os 22 mil mortos e desaparecidos no Japão o foram por causa do maremoto, e NENHUM por causa de Fukushima, pese embora a esmagadora propaganda ecotópica. Aliás, os únicos acidentes nucleares que causaram mortos até hoje foram Chernobyl, poucos (pode ver no meu blog alguma discussão sobre isso e links para os relatórios da OMS, ONU, etc), e em alguns centros médicos de radioterapia, incluindo Saragoça, aqui perto.
Quanto ao "bilião", sendo estudioso e também autor, na minha especialidade, de literatura científica quase toda publicada em revistas sediadas nos EUA, partilho as razões de Nuno Crato - e dos brasileiros - na preferência pelo "bilhão" americano. Tenho um link para isso num post do blog.
Acresce a isso uma razão pessoal:
No meu exame de admissão ao liceu, em 1962, esperava ter 20 a matemática, como tinha em regra, mas à saída do exame verifiquei, por confronto com outro miúdo filho de uma professora primária e também considerado "barra" em matemática, que tínhamos uma única resposta discordante, e que portanto um de nós não tinha 20 mas apenas 18,9: era na pergunta de quanto eram uns tantos biliões...
Eu ainda usava o bilião americano, mas ele já estava actualizado com a norma NP-108 que estabelecera a regra ainda vigente agora, e que fora publicada em 1960.
Foi para mim uma humilhação de que só muito mais tarde vim a perceber não ter tido inteira falta de razão... :-)
Caro professor,
Nuclear à parte - eu já aqui comentei que Portugal tudo teria a ganhar se tivesse uma ou duas centrais nucleares não só para ter outro meio de produção energética mas também por, neste momento, só ter as desvantagens de ter o nuclear aqui perto da froneira com Espanha! - gostaria de saber a sua opinião sobre a recente notícia do carro movido a ar comprimido. Vide, por exemplo,
http://www.arcombustivel.com
Segundo alguns experts na matéria parece que Fukushima é pior que Chernobyl:
http://www.independent.co.uk/news/world/asia/why-the-fukushima-disaster-is-worse-than-chernobyl-2345542.html
Anónimo, o referido artigo é puro lixo, e chamar-lhe "experts na matéria" só mesmo por adesão aprioristicamente polarizada!
A personagem principal citada no artigo, a médica Helen Caldicot, sabe tanto de energia nuclear como eu de medicina!... É completamente louca e conhecida como tal!
O "expert" deve ser o equivalente local a Boaventura Sousa Santos.
Hoje, tal como noticía a SIC, foram galardoados os funcionários da central nuclear de Fukushima-Daichi. No entanto a SIC também refere que "vários operários da central morreram e outros ficaram com feridas devido à central nuclear".
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/09/07/premio-principe-asturias-da-concordia-para-herois-de-fukushima
Afinal houve ou não houve fatalidades em Fukushima devido ao desastre na central? E o que acontecerá a estes funcionários?
Obrigado, Anónimo, pela chamda de atenção.
A notícia da SIC para que linkou, afirma efectivamente: "Vários operários da central morreram e outros ficaram feridas devido à radiação..."
Porém, trata-se de uma RELES MENTIRA, habitual nos serventuários portugueses dos verdes alemães, que promovem este estilo Goebbels que herdaram dos seus avós nazis!
Com efeito, pode informar-se em detalhe sobre Fukushima aqui: http://www.world-nuclear.org/info/fukushima_accident_inf129.html
Se o fizer, lerá no resumo inicial: "There have been no deaths or radiation sickness from the nuclear accident".
De facto, em Fukushima houve até ao momento as seguintes mortes:
- 3 trabalhadores que se encontravam numa cave da central e foram mortos pelo tsunami, como outros 28 mil japoneses;
- 1 trabalhador que teve uma indisposição durante o trabalho e que chegou já morto, de AVC, ao hospital. Normal, tendo em conta que trabalham ali uns 3500 técnicos.
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