No post que escrevi há dias sobre Custos e preços da electricidade, renováveis, e os interesses instalados, notei que os CMEC, os "Custos de Manutenção dos Equilíbrios Contratuais", assim como os CAE, os "Contratos de Aquisição de Energia", constituíam "prémios" generosos para os respectivos produtores de energia, exemplificando com o caso dos CAE cuja produção é remunerada a 7,24 ç/kWh quando o respectivo custo de produção andaria pelos 5.6-6.0 ç/kWh, já incorporando este valor uma remuneração do capital fixo de 7.5%.
Porém, estes custos de produção, que eu calculara no mesmo post, pressupunham que os factores de utilização das centrais fossem respectivamente de 83% para as a carvão, e de 50% para as de ciclo combinado a gás natural, e que são valores típicos.
Estes factores de utilização são típicos internacionalmente, mas não são os que se observam agora em Portugal, devido à prioridade que os PRE ("Produtores em Regime Especial") têm no fornecimento da sua energia. De facto, os PRE têm reduzido a produção daquelas centrais tradicionais mas não a necessidade da sua disponibilidade, resultante do socorro que têm de prestar às quebras de vento na produção eólica. Por conseguinte, o custo de capital do kWh dessas centrais térmicas aumenta, e esse sobrecusto é inteiramente causado pela prioridade dada à produção eólica.
Veja-se, por exemplo, o caso das centrais a carvão: eu calculara que o seu custo de capital é de 2,1 ç/kWh, enquanto o custo final de produção será de uns 5,6 ç/kWh, para uma utilização anual de 83%. Se a utilização real da central se reduzir dos 83% para metade, como está aproximadamente a acontecer, os custos de capital e também dos encargos fixos de Operação e Manutenção (uns 0,5 ç) duplicam para os kWh, o que modifica o custo total destes de 2,1+0,5+3=5,6 para (2.1+0,5)*2+3=8.2 ç/kWh.
Poder-se-ia argumentar que este custo se poderia evitar se se pudesse simplesmente desmantelar metade das centrais a carvão e dizer que tinham deixado de ser necessárias, mas a intermitência eólica não o permite.
Para as centrais de ciclo combinado o impacto não será tão grande, dado o maior peso nelas do custo variável do combustível mas, em média, chegamos muito aproximadamente ao referido custo de 7,24 ç/kWh que os CAE e os CMEC asseguram - ainda que não seja certo que a divisão de compensações seja justa entre os dois tipos de centrais.
Pelo que, na verdade, os CAE e os CMEC das termoeléctricas, a maioria (ficam de fora as hidroeléctricas), podem ser considerados ainda sobrecustos das fontes renováveis intermitentes.
1 comentário:
Quid Est Demonstratum.
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