Parece que, por fim, a preciosa liberdade de pensamento da democracia se faz sentir e o Expresso dá voz a uma posição realista e sensata sobre o problema climático: entrevista Bjor Lomborg.
Lomborg não nega o aquecimento global nem a sua origem antropogénica. O que faz é desdramatizá-lo, face aos muitos outros problemas com que a Humanidade no seu conjunto se defronta, e critica as políticas ecotópicas que pretendem lidar com o problema construindo um Admirável Mundo Novo, notando, nomeadamente, a necessidade de investir muito mais em Investigação e Desenvolvimento (I&D), e não tanto em políticas de corte das emissões.
Esta última questão, a da necessidade investigar soluções tecnológicas que ainda não existem, tem sido algo que tenho procurado mostrar com alguns casos concretos, como o da energia solar fotovoltaica e o do automóvel eléctrico e respectivas baterias. Para já não falar de outras componentes que nem se sabe se alguma vez existirão (a custos razoáveis), como o dos meios de armazenamento de energia necessários para regularizar a intermitência das fontes de energia renovável.
Uma política energética de corte de emissões de CO2 que tenha em conta estas realidades científicas e que seja guiada pela sensatez, isto é, pela preocupação em não esmagar os povos com custos exorbitantes, foi a estudada pelo EPRI norte-americano e que já aqui referi, e que aponta para a necessidade de apostar no nuclear a curto prazo, e na captura e sequestro do carbono das centrais a carvão a médio prazo.
Mas, mesmo tal política energética apenas resolverá 1/5 do problema global das emissões de Gases de Efeito de Estufa. Há toda uma indústria pesada que terá de ser reformulada nos seus processos energéticos e há os problemas do mau uso dos solos, do tratamento dos lixos e sobretudo o da desflorestação (esta responsável, só por si, por tantas emissões como a produção de energia eléctrica). Ora resolver esta parte do problema requer a colaboração de todos os povos pobres, e não se vê como tal seja possível sem um Império mundial.
Os povos de África, da Indonésia ou do Brasil que queimam as florestas não o fazem por serem pirómanos. Fazem-no porque desde sempre a conquista de terreno arável e habitável à floresta foi vista como uma coisa boa, exigida pelo mero crescimento demográfrico. A Humanidade, com efeito, tende simplesmente a ocupar todos os bocadinhos de terreno do planeta que possam ser habitáveis...
Ora como impedir tal coisa? Pagando? Pagando para que esses povos abandonem o seu modo de vida tradicional e de repente se industrializem e vivam em cidades limpas? Pagando para que as monstruosas favelas em que vivem, quando vivem em cidades, se transformem em bairros limpos como os de Copenhaga? Mas têm os ecotópicos nocão da escala que isso comporta? E do que desejam de facto essas populações? Não é por acaso que Hollywood deu este ano o Óscar de melhor filme a uma produção estrangeira, "slumdog millionaire" - de facto, poucos filmes nos mostram tão bem como este o que são, como vivem e o que desejam, os povos cujo desenvolvimento tanto assusta os ecotópicos...
É evidente que não há nenhuma política de subsídios que possa impedir sustentavelmente esses povos de se multiplicarem e desenvolverem. É uma realidade incontornável. E se com ela, se com o crescimento explosivo da população humana que o próprio sucesso da modernidade trouxe, o clima for alterado, não se vê que tal possa ser impedido a não ser com um Império mundial, eventualmente alicerçado na ONU, e que use, como sempre sucedeu na História, a guerra e a violência para se impor onde tal for necessário.
A única razão porque isso não vai acontecer é porque a Europa, a grande preocupada com isto, já não está, e estará cada vez menos à medida que o tempo passe, em condições de impor a sua antiga ordem colonial. E por isso toda a causa ecotópica não passa de um devaneio espúrio que usa slogans de estilo maoísta como o dos 20-20-20 (20% de redução de consumos, 20% de energia renovável, para 2020) e que de vez em quando sofre um duche frio de realidade, como aconteceu agora em Copenhaga.
Existe outra proposta imperial para o problema: Bernardino Soares, do PCP, alvitrou-a há dias num debate na SIC sobre Copenhaga: "É preciso mudar a ordem económica", disse. Acabar com a busca do lucro, presume-se, que será a fonte de todos os males e irracionalidades que afectam a Humanidade actual, e substituí-la por uma nova ordem, uma ordem guiada pela busca do bem comum protagonizado pela vanguarda histórica. Não pude deixar de me lembrar dos navios a seco no Mar de Aral que a antiga URSS matou, ou da tremenda ineficiência poluidora da sua indústria pesada. Mas compreende-se como a causa verde pode ter a convergência da actualmente despatriada causa vermelha: ambas querem um Mundo que nada tem a ver com a realidade existente, e ambas têm uma visão do Homem que não é a da Humanidade que existe. Mas ambas têm também uma falta semelhante: falta da força para forçar o advento desses amanhãs que cantam! Daquela força que, segundo um velho pensador, é "a parteira da História"...
Na falta de um Império que estabeleça a ordem mundial ambicionada pelos ecotópicos, a vida continuará a decorrer como sempre e o que vai mudar são os mercados de equipamentos, cheios de novas oportunidades para quem tiver unhas que toquem guitarras produtivas - ou seja, a China, a Índia, a Coreia, o Japão - a Ásia, em suma - e a Alemanha, a Dinamarca, a França (com as suas nucleares) e talvez até a Espanha! Quanto aos EUA, estão com um sarilho que talvez custe as próximas eleições ao Presidente Obama!...
E que acontece entretanto na Lusitânia?
O períódico que é talvez a melhor referência do jornalismo nacional anuncia em grandes parangonas que mais uma vez um português inventou a pólvora, revolucionando a partir de uma ideia que teve na Lourinhã o mundo da energia eólica, e a notícia bate o record de leituras on-line! Tamanha ignorância sobre tudo o que já foi investigado lá fora e que cá se desconhece sobre tecnologia de turbinas eólicas, a par de uma prosápia patrioteira patética, só tem par na notícia oficial segundo a qual Portugal aqueceu mais nos últimos anos que o resto do Mundo e na forma como o Primeiro-Ministro explicou que Portugal vai resolver o problema do seu desenvolvimento económico: investindo nas energias renováveis para garantir a independência energética nacional e nomeadamente do petróleo!... Como se petróleo e energias renováveis tivessem alguma coisa a ver um com as outras!!!...
Mais uma vez, a História está a passar ao largo de Portugal.
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