A nova Ministra do Ambiente acaba de declarar que as 10 novas barragens do Plano Nacional do Governo irão poupar a Portugal a importação de 3,3 milhões de barris de petróleo para as centrais termoeléctricas.
Será que temos, pois, uma nova Ministra da Propaganda no Governo?
É que:
1º) - As centrais termoeléctricas em Portugal não funcionam a petróleo. Funcionam a carvão (Sines e Abrantes) e a gás natural (Tapada do Outeiro, Lares, etc).
2º) - A energia que as novas barragens vão produzir é zero, como já mostrei aqui. De facto, a pouca energia de origem hídrica que produzirão só chega, se chegar, para cobrir as perdas na bombagem necessária à armazenagem de energia de origem eólica que é o seu verdadeiro propósito.
E a propósito, a adicionar aos 3 mil milhões de € de custo de 8 destas novas barragens, a que se adicionam mais 1,85 mil milhões pelas outras 2 em construção e pelo reforço de potência de mais 6, para todas juntas produzirem nenhuma energia, o Governo prepara-se para concessionar mais duas: Pinhosão e Almourol! Diz o Governo que reduzirão o défice público, visto que os concessionados terão de pagar por elas, como pagaram 640 milhões pelas 8 já concessionada. Mas e quem vai pagar depois isso tudo na tarifa da electricidade?
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Sei que há quem fique incrédulo com os valores de energia de origem hídrica que tenho indicado como sendo a verdadeira produção destas novas barragens. No entanto, os dados estão todos na Memória Descritiva do Plano, acessível na net. Estão é em energia anual prevista, e não em potência, e por isso é preciso dividir essa energia pelo número de horas do ano, 8760, para pôr as duas coisas (potência instalada e energia produzível) na mesma base - em potências. Potência instalada e potência média. Uma conta que parece ninguém ter feito, com excepção do Prof. Joanaz de Melo da Universidade Nova.
Para que as minhas contas fiquem claras, aqui vão as potências médias anuais de origem hídrica obtidas assim para cada aproveitamento:
Girabolhos (Endesa): 11,3 MW;
Vigado (Iberdrola): 13,01 MW;
Daivões (Iberdrola): 16,89 MW;
Padroselo (Iberdrola): 11,64 MW;
Gouvães (Iberdrola): 17,47 MW;
Foz Tua (EDP): 31,39 MW;
Fridão (EDP): 34,1 MW;
Alvito (EDP): 7,1 MW;
E ainda:
Baixo Sabor (EDP): 26,23 MW;
Ribeiradio (EDP): 15,3 MW;
Quanto aos "reforços de potência" de Picote II, Bemposta II, Alqueva II, Venda Nova III, Salamonde I e Paradela II, pouco adicionam em energia: 3,54 MW médios no Alqueva, e mais uns 9 MW médios no resto. A recentemente inaugurada com grande pompa Venda Nova III, de origem hídrica propriamente só produzirá 2 MW; o resto é para bombagem!...
Total: 197 MW.
Como a potência média do consumo nacional é de 5930 MW (52 Thw / 8760 horas), esta produção só cobre 3,3% desse consumo, o aumento previsível de consumo nacional de apenas 1 ou 2 anos.
No entanto, a energia "bruta" prevista para fornecimento corresponde a mais 525 MW, mas de origem eólica. Como para fornecer estes 525 MW é preciso que as eólicas forneçam 700, temos que as perdas por bombagem serão 175 MW médios, ou 25%, nos quais, para que não me acusem de má vontade, já incluo os 2% de perdas na rede eléctrica que transportará a energia das eólicas até às barragens. Praticamente a produção de origem propriamente hídrica.
Balanço final do contributo energético destas barragens para Portugal e dos €4,85 mil milhões de € que teremos de pagar, mais os juros do seu financiamento e mais os custos de expansão da rede da REN: quase zero!
1 comentário:
A ministra provavelmente saberá tanto sobre a forma como é obtida a electricidade que consome como de lagares de azeite. Contudo, tem sido recorrente justificar o aumento dos preços da electricidade com o preço do petróleo, partindo do princípio de que os portugueses são todos ignorantes e não fazem ideia de onde vem a electricidade. Esta gentalha é mais burra do que parece.
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