terça-feira, fevereiro 09, 2010

A política europeia das batatas de energia.

Suponhamos, caros amigos, que sendo 27 de nós proprietários de terrenos, nos reuníamos e que eu, que jamais fora agricultor e que de batatas só sabia que se vendiam em sacos no hipermercado, mas a quem um vendedor de sementes tinha prometido uma "atenção" e a quem uma amiga devota das folhas de batata me prometera mimos, vos arengava: temos que produzir batatas, para garantir a nossa independência alimentar! Temos que atingir a produção de 1000 toneladas de batatas em dez anos, e para isso proponho que cada um de vós incremente a produção de batatas em 10 toneladas cada um, mais um tanto proporcional à vossa riqueza, que será de x, segundo as contas que fiz.
E vocês, que de batatas também só sabiam que as há nos hipermercados, aprovavam esta proposta por unanimidade e aclamação!
Voltavámos para as nossas propriedades e constatávamos que alguns de nós tínhamos uns excelentes terrenos agrícolas, planos e férteis, outros tinham uns terrenos pedregosos em montanhas, outros tinham pântanos bons para arrozais e alguns ainda apenas tinham um bocado de deserto. E punhamo-nos com entusiasmo, cada um isoladamente, a atentar atingir a quota de produção de batatas a que nos tínhamos comprometido!...
Ao fim de uns anos os que tinham bons terrenos tinham conseguido atingir a meta sem esforço e ainda lhes sobrava espaço para semear milho e alguns, até, tinham tido que deitar fora batatas por as terem em excesso, outros estavam assim-assim, alguns tinham atingido a meta mas à custa de abandonarem a agricultura de arroz para que tinham excelentes condições, e os que só tinham deserto tinham tido de construir umas estufas especiais, caríssimas, para plantar as batatas e estavam amargamente falidos.
Que vos parece a inteligência desta medida colectiva?
Pois foi isto que a União Europeia decidiu para si própria quanto às metas de energia renovável para 2020, na sua Directiva 2009/28/EC, e que levou na carteira como exemplo para o mundo em Copenhaga...
Não admira, pois, que haja algumas vozes em crescendo que vêm a criticar esta maneira de organizar a plantação de batatas e que defendem que se plantem batatas onde os terrenos são melhores para isso, em vez de se imporem quotas para todos que têm em conta tudo menos a adequação dos terrenos para o efeito. E mostram, estas vozes, que se os agricultores dali e dacolá, que têm óptimo terreno e gosto por batatas, plantassem batatas para todos, o custo de produzir as 1000 toneladas de batatas seria menor, no conjunto. Claro que esses amigos iriam ficar com batatas em excesso, e por isso seria necessário criar um sistema de trocas e de transportes que disseminassem as batatas dos agricultores favorecidos pela sorte pelos outros amigos. No conjunto todos pagariam menos e o esforço seria equilibrado e verdadeiramente proporcional às posses de cada um.
Os que defendem esta abordagem são os que defendem o desenvolvimento da Super-Rede eléctrica europeia, assim como Sarkozy e Madame Merkel que acordaram arrancar com isso na sua cimeira recente.
Agora imaginem que esta ideia acaba por ir para a frente, mas que alguns dos 27 com terrenos muito maus já plantaram a sua quota de batatas quando isso acontecer, enquanto outros estiveram a arrastar os pés e a ver em que davam as coisas; quando o tal sistema de transporte de batatas estiver pronto e se generalizarem as trocas, os que já se arruinaram a plantá-las em maus terrenos descobrirão que afinal poderão comprar batatas mais baratas que as suas aos vizinhos, e os que tiverem ficado à espera farão um bom negócio...
Que cenário acham que vos vai calhar?

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