Uma das facetas do voluntarismo messiânico dos ecotópicos (um "nick" para ecologistas utópicos) é a crença de que o seu desejo de novas tecnologias "verdes" se pode tornar realidade pela fé, por muito o quererem, e por para tal financiarem os cientistas. E, por acreditarem nesta capacidade de o desejo se tornar realidade pela simples "muita vontade", têm o hábito de programar o futuro a contar com tecnologias que não existem e de que nem se faz a menor ideia de quando, como e a que custo virão a existir.
Exemplos gritantes desta fé utópica no desenvolvimento tecnológico, que assenta muito na "cultura científica" do Media Market, Nokias de última geração e plasmas de Alta Definição, são o automóvel eléctrico e a energia solar. De facto, essa fé está patente até em planos de Estabilidade e Crescimento de Governos responsáveis por países europeus, como por exemplo Portugal!...
O automóvel eléctrico sofre do problema da curta vida e alto custo das melhores baterias que se conhecem, e o solar a mesma coisa quanto ao Silício. Mas os ecotópicos acreditam que tudo se vai resolver com a mesma facilidade com que vão aparecer os "plasmas 3D"...
Ora estas duas desejadas tecnologias sofrem, como já discuti por aqui, de obstáculos tecnológicos de que não se faz (ainda) ideia de como ultrapassar, e por isso nenhum organismo internacional sério, incluindo o Painel Climático Inter-Governamental da ONU, fazem projecções para elas a prazos inferiores a 20 anos, 10 na melhor hipótese!...
Mas será que se se "apostar em força" não se conseguirá resolver esses problemas tecnológicos, saltando etapas e chegando lá mais depressa?
É chegado a esta questão que assomam à minha memória já bastante vivida os vários grandes projectos tecnológicos da História recente em que se apostou com voluntarismo semelhante e que não deram em nada.
O que melhor ilustra o fiasco deste tipo de voluntarismo é o "projecto da 5ª geração de computadores", decidido pelo Governo japonês nos anos 80, e que iria dar ao Japão a supremacia na competição então travada com os EUA pelo domínio da tecnologia de computadores.
O projecto teve financiamentos colossais, reuniu numa "cidade científica" enormes recursos, com a participação de todas as grandes empresas japonesas do sector, da Hitachi à Toshiba, e tinha um núcleo selecto de 100 jovens génios, que se esperava que conseguissem realizar o tal computador. Este caracterizar-se-ia por entender a linguagem humana falada e assentar na Inteligência Artificial, que à época se esperava que em breve produzisse máquinas como a ilustrada no filme "War Games", para aplicações pacíficas corriqueiras.
Não deu em nada. O que apareceu foi algo que ninguém previra noutras regiões do mundo, os computadores pessoais. E a Inteligência Artificial, pela qual eu próprio me entusiasmei à época (e de que ainda conservo um secreto entusiasmo), também não deu em nada do que se esperava.
Passados uns anos já toda a gente desistira de ter computadores que entendessem a linguagem humana falada e se ficava contente com a ideia de máquinas com a inteligência de insectos mas cooperantes, como as formigas...
O Japão, de resto, tendo uma histórica tradição de fascínio pela tecnologia como o nosso Fernão Mendes Pinto comprovou, é rico em histórias destas. E são eles, que inventaram as baterias de iões de lítio para os telemóveis da Sony, os primeiros a dizer que não é tão cedo que haverá alternativa aos automóveis híbridos, pois os puramente eléctricos nem sequer estão no horizonte...
Mas não há mesmo casos de projectos de inovação tecnológica cuja programação tenha sido suficiente para garantir resultados?
Há. Alguns.
Mas tiveram todos uma característica comum: o custo do produto final não interessava, desde que a tecnologia funcionasse. Refiro-me, é claro, a um dos dois únicos ramos da tecnologia onde isso acontece, onde o preço não interessa desde que solução funcione: a militar!
O projecto mais emblemático de demonstração do voluntarismo tecnológico que obteve o resultado pretendido foi o projecto... Manhatan! O da bomba atómica! Para quem o ignore, os recursos investidos foram tais que, por exemplo, à época os EUA compraram quase toda a prata que havia à venda no mundo, entre outros ingredientes do projecto!...
O projecto de desenvolvimento da bomba atómica foi bem sucedido mas nem mesmo esse demonstra que todo e qualquer projecto de desenvolvimento de tecnologia militar consegue chegar aos resultados pretendidos!
Um exemplo de fracasso de um projecto destes (paralelo ao japonês dos computadores de 5ª geração) foi o da "guerra das estrelas" de Reagan.
O projecto da "guerra das estrelas" requeria várias inovações tecnológicas, desde canhões de laser montados em satélites a mísseis anti-mísseis de alta precisão, e algumas destas tecnologias vieram a ser conseguidas (nomeadamente a dos mísseis anti-mísseis), mas havia uma componente no sistema que nunca se conseguiu realizar: um software de gestão de batalha sem bugs! E por isso, 30 anos depois o projecto reduziu-se à modesta ambição de conseguir deter uma meia dúzia de mísseis balísticos iranianos, que é o que hoje resta dele...
Coisas que quem acredita que a fé pode mover montanhas, neste caso realizar automóveis eléctricos e painéis solares baratos e fiáveis em prazo previsível, e mete essa fé em programas de governação, devia ter em conta...!
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