Pois, penso bem.
Em Portugal a energia geotérmica tem um papel não desprezável na carteira de fontes renováveis, mas concentrada nos Açores, nomeadamente nas ilhas de S. Miguel (na figura) e, mais recentemente, da Terceira.
Há alguns anos a central geotérmica de S. Miguel assegurava metade do consumo nas horas de vazio da ilha, mas o seu potencial permitiria teoricamente satisfazer todo o consumo. Ultimamente tem-se pensado em reforçar esse uso.
Porém, há alguns óbices com esta forma de energia:
- Funciona a potência constante. Ou seja, tem um problema que, sendo o oposto do das fontes intermitentes, acaba por ter as mesmas consequências de incapacidade de seguir os consumos, mas de forma muito mais previsível. No entanto, é por isso que a geotérmica de S. Miguel só assegurava (parte da) base do diagrama de consumos. Isto é assim porque as longas tubagens que trazem o vapor até às turbinas não se dão nada bem com variações rápidas de pressão e temperatura.
- As suas centrais avariam com frequência. Principalmente nas caixas de velocidades que adaptam a baixa velocidade das turbinas à frequência necessária para a ligação à rede eléctrica. Estas caixas são particularmente vulneráveis a perturbações na rede e, como não se fabricam grandes quantidades delas, carecem de maturidade tecnológica.
- A extracção do vapor do sub-solo altera os equilíbrios de pressão no interior desse sub-solo, o que provoca tremores de terra e risco de terramotos. E este é o principal óbice ao uso generalizado da geotermia, que levou, nomeadamente, ao cancelamento do projecto de Basel, na Suiça, como se pode ler aqui....
3 comentários:
Ontem passou na TV2 um documentário muito interessante sobre energia geotérmica onde a questão dos tremores de terra foi abordada se bem que muito ao de leve (um tremor de terra de 3,7 na escala de Richter em Basileia levou ao encerramento deste projecto). Aparentemente existem algumas dúvidas sobre a capacidade da exploração geotérmica poder causar tremores de terra de grande amplitude mas ninguém quer arriscar.
Outro projecto interessante é de Soultz em França ( projecto Soultz) aí os problemas são de engenharia uma vez que não estão a conseguir que o vapor passe entre dois furos. Existe uma formação geológica entre os dois furos (têm poucos metros de afastamento entre eles) que impede a passagem do vapor.
Enfim, ainda existem muitos problemas a resolver com estas tecnologias. Sobretudo, quando estamos a falar em zonas não geologicamente activas (o caso dos Açores é diferente de Soultz e Basileia).
Ah.. outra coisa... O número de tremores de terra aumentou muito em Soultz após o inicio das escavações. No entanto, foram todos de intensidade baixa.
Pois bem, a extração de vapor pode provocar tremores de terra. Então e a procura de petroléo cada vez a maiores profundidades, utilizando sonares(?) de alta potência não poderá provocar também terramotos?
Não há nem nunca houve notícias de tremores de terra em instalações petrolíferas.
A razão do risco de tremores de terra em zonas de recursos geotérmicos é simples: é que esses recursos existem nesses lugares porque já lá há fissuras no sub-solo que permitiram á lava, que aquece a água subterrânea tornando-a em vapor, subir até cá acima. E por isso o risco dos tremores aí já existia antes da energia geotérmica; esta só os vai agravar.
Os Açores, onde há esses recursos e são explorados, é precisamente uma demonstração disto: é zona com frequentes tremores de terra e terramotos.
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