quinta-feira, agosto 26, 2010

Umas contitas sobre a nova factura do caridoso amparo às eólicas

Como é do conhecimento público e eu dei notícia aqui, o lobby eólico conseguiu obter do Governo uma nova extorsão aos consumidores que pagará o custo de capital dos investimentos em estações de bombagem e centrais a gás natural que permitirão amparar as eólicas na sua incontrolável e imprevisível intermitência. Tratam-se, tecnicamente, dos sobrecustos sistémicos das renováveis intermitentes.
Segundo a imprensa, o novo sobrecusto a pagar só pelas centrais já existentes e que entrem em funcionamento até ao fim deste ano totalizará 522 M€ até 2021 e agravará em 1% a factura energética média paga pelos consumidores (o que quer dizer que será cerca de 1,5% da factura do consumidor de Baixa Tensão: as famílias, os restaurantes, etc). Mas estarão essas contas bem feitas?
Os termos remuneratórios previstos na portaria assinada por Carlos Zorrinho (e, curiosamente, só por ele...) , atribuem anualmente 20 €/kW à potência instalada nas centrais já existentes não abrangidas por CAE nem CMEC, mas para as ainda a construir é estipulada uma fórmula e dito que a DGEG tem 60 dias para a aplicar e fazer as contas.
Trata-se, obviamente, de uma forma capciosa de esconder dos portugueses o que se prepara, dado que toda a gente sabe que a DGEG tem apenas dois engenheiros electrotécnicos encarregues de TUDO e que, portanto, falha de recursos humanos e demais meios técnicos, a DGEG se limita a consultar as empresas de electricidade sobre o que elas querem e a dar-lhe depois forma de lei. O que o legislador está farto de saber...
Ora a referida portaria estipula uma remuneração de 28 €/kW para "índices de cobertura" até 1,1. O que é um "índice de cobertura" não é definido na portaria (mais uma peça legislativa mal feita...), mas a REN explica-nos tudo aqui neste documento de 2007 publicado... em Espanha!
O "índice de cobertura" é "a relação entre a capacidade disponível e a ponta de consumo, em situações críticas para a operação do sistema" e, garantidamente, as contas já foram feitas pela EDP e/ou pela REN.
Admitindo, no entanto, que o valor a pagar venha a ser em regra o de 28 €/kW instalado, então convém notar que a potência já instalada ou em instalação, em centrais de ciclo combinado e hídricas, não é nada comparada com a "potência instalada" prevista para os "reforços de potência" e as novas realizações hidroeléctricas que, como notei aqui, totalizará cerca de 4,64 Gw!...
A admitir a referida remuneração, essas futuras hidroeléctricas irão então honorar em mais 130 milhões de € anuais os consumidores, sensivelmente 2.5 a 3% do respectivo custo de investimento e que, somado aos ganhos da revenda da energia eólica armazenada, já permitirá uma remuneração razoável desse investimento.
Naturalmente, esses 130 M€ serão a somar aos 61 M€ já atribuídos às centrais novas existentes ou em construção e abrangidas por esta portaria (45 M€ para a EDP, segundo um comunicado da própria empresa), e que, a recaírem como habitualmente sobre os consumidores de Baixa Tensão, significarão só por si um acréscimo tarifário para estes consumidores de mais 3%, totalizando 4.5%...!
Teremos assim 1.5% já em 2011, e os restantes 3% à medida que as novas hidroeléctricas forem entrando em serviço...

6 comentários:

Anónimo disse...

Já sei que vai contrariar e atacar, como é hábito quando a si lhe apontam algo, mas parece-me que os seus pressupostos contêm um erro fundamental, sendo que as novas introduções de potencia no sistema, caso das hídricas e eventuais ciclos-combinados, farão baixar esse índice de cobertura. Dessa forma, como sabe, a fórmula reduz o valor podendo chegar até inclusivamente a 0, caso não exista necessidade de novas instalações.
Importa também referir, que este é um processo muito semelhante ao que já está implementado em Espanha, o que repõe a lealdade da concorrência num mercado único. Até aqui, a decisão entre construir uma central nova apontava sempre para a sua construção em território espanhol, perdendo Portugal todo o benefício, que embora centrado num curto espaço de tempo, podia ter na fase da sua construção.
Para quem tem trabalho seguro numa universidade é fácil optar por não dar apoios a estes e outros investimentos, não se vendo confrontado com o enorme número de desempregados que investimentos destes podem ajudar.

Pinto de Sá disse...

Caro Anónimo,
Passando por cima das anónimas acusações "ad hominem", é certo que também notei que a fórmula da portaria reduz a remuneração conforme o índice de cobertura AUMENTE; será de 28€/kW até esse índice ser de 1,1. Infelizmente e como notei e qualquer pessoa pode verificar na portaria para que linkei, a mesma não DEFINE o que é isso de "índice de cobertura", e remete o seu cálculo para a DGEG.
No entanto, usando a definição dada pela REN no texto para que também linko, como a potência de ponta nacional anda pelos 9 GW, é evidente que dificilmente se terá um índice de cobertura superior a 1,1, o que requereria 10 GW de potência instalada disponível quando fosse preciso...
A menos que haja qualquer outra definição do conceito de "índice de cobertura" só conhecido nos corredores do poder...
Que o conceito é muito semelhante ao espanhol, concordo. Aliás, o facto dele ter sido discutido pela REN em 2007 em Espanha já mostra de onde vem a inspiração. Que face a essa disposição espanhola Portugal precisaria de uma lei equivalente para que as suas centrais de reserva girante não ficassem prejudicadas, também concordo.
Simplesmente, Espanha só é uma referência nisto porque Portugal e Espanha têm exactamente a mesma política desastrosa de subsidiação às renováveis! Além de que eu, pessoalmente, nunca votei para ser espanhol!!!
Mas Espanha, ao menos, tem uma sólida e já antiga indústria com know-próprio nessas indústrias de renováveis, enquanto nós nos contentamos com ser a "costa atlântica" espanhola, uma espécie de Galiza do Sul!

Anónimo disse...

Se a vida fosse justa a coisa funcionava assim: cada um escolhia a(s) fonte(s) da electricidade que consumia em casa.
Contas bem feitinhas (ou seja à antiga portuguesa, quando ainda não havia UNI’s, cursos ao Domingo, Novas Oportunidades, Magalhães para as criancinhas,…) incluindo amortizações ao longo da vida útil das infra-estruturas, estariam na base da tabela com o tarifário.
Ao seleccionar o que queria, o consumidor sabia o que o esperava daí em diante. Depois se quisesse alterar o seu «pacote» de energia, podia vender o que tinha escolhido antes (em parte ou no todo) e comprar uma nova; ou até não comprar nada, porque tinha optado por uma candeia de azeite ou um mais sofisticado gerador a pedais…
Informação colocada no cartão de Cidadão, e zás!... Havíamos de ver quem é que se voluntariava para pagar as eólicas, centrais solares e outras soluções eco-aristocráticas…
JM

p.Pintado disse...

Boa tarde. Ontem à noite enquanto via a Euronews na RTP2 a barragem do Alqueva apareceu no momento Hi-Tech, porque é que era Hi-Tech? Porque os geradores que utilizavam eram revertíveis, poderiam funcionar como motores durante a noite com a energia das eólicas que não era utilizada às tantas da manhã para bombear a água que está no depósito inferior para o superior. Pergunto-me, o consumidor vai pagar esta energia das eólicas para repor a água ou farão as coisas limpas sem mexer na nossa conta.
Cumprimentos

Luís Aleixo disse...

Na minha opinião, esta brincadeira de subsidiar, à grande, reservas girantes na rede vai acabar mal pois daqui a pouco compensa mais ser reserva que efectivamente vender a energia.
Lembro o grande apagão que aconteceu no inicio desta década nos USA, que segundo informacão veiculada na altura, resultou dos donos das centrais declararem capacidade de reserva girante que na realidade não tinham (pois estavam a vender a energia para a rede ao mesmo tempo). O obvio aconteceu quando foi preciso recorrer a essa energia e ela afinal....não existia (!!!!) levando ao colapso rápido da rede inteira de lado este (se não estou em erro).
Não discordo totalmente da politica de subsidiacão mas esta deve ser feita de modo a tapar apenas os custos fixos (ou parte deles) das instalacões envolvidas sem tornar a subsidiacão num grande negócio mas apenas numa remuneracão marginal do sistema.

Romão disse...

Ontem li umas coisas, que a serem verdade, fico bastante...aborrecido ! Vi os mapas dos ventos predominantes na Europa e reparo que Portugal e TODA a Peninsula Ibérica é a zona com menos vento da Europa (excepto numa zona entre Saragoça e Barcelona). para alem disso,fiz umas contas que me demonstraram que o factor de capacidade dos parques eolicos andará por volta de 0.240 e e o nº de horas equivalentes de funcionamento não excederia as 2200 horas/ano ( regra geral, tive acesso aos dados de um parque, os outros não andaram muito longe desta realidade). Se ainda nos lembrar-mos que o limite de Betz não excede os 0.593 e que no caso das turbinas reais o Cp não excedá os 0.45, concluo que andamos a financiar desperdicio e a mandar dinheiro á rua.
Mas não sou especialista e posso ter feito mal as contas(apenas utilizei alguns principios das turbo-maquinas)

Cumprimentos