Acabo de ler uma notícia no Público on-line que me deixou varado de espanto! De espanto por pertencer a um país cujo Primeiro-Ministro é capaz de dizer publicamente uma asneira como a que acabo de ler!
Transcrevo a notícia:
"José Sócrates lembrou os “progressos notáveis” dos últimos quatro anos, concretamente no caso da energia eólica, passando de cerca de 500 para três mil megawatts instalados. “Fizemos nestes quatro anos investimentos nas energias eólicas que significam duas ou três centrais nucleares em termos de produção de electricidade. E vamos fazer mais. E estamos hoje a apostar como nunca se apostou na construção de barragens”, afirmou".
É que, como já expliquei desenvolvidamente aqui, há uma fraca relação entre "megawatts instalados" e electricidade produzida, nas fontes renováveis. Em Portugal, como na maioria dos países, são precisos 4 Mw instalados de eólicas para se produzir em média 1 Mw de electricidade. Essa média é ao longo do ano - há mais vento à noite que de dia, mais no Inverno que no Verão, e em regra uma eólica passa metade do seu tempo a produzir menos de 5% da sua capacidade, embora haja algumas ocasiões em que produza acima de 90%. Em média, úma eólica produz em Portugal 25% da sua potência "instalada!
No final de Agosto, Portugal já tinha mais de três mil megawatts instalados; tinha 3430 MW. E, neste momento (Novembro), até já deve ter 3500 MW. A questão é: quanta electricidade produzem esses cerca de 200 parques eólicos e perto de 1900 aerogeradores?
Ao longo de um ano, produzem o equivalente à geração contínua de 1/4 disso, ou seja, 875 Mw (x as 8760 horas que tem um ano).
E quanto custaram os 3500 MW de potência instalada nos tais cerca de 200 parques eólicos? É fácil fazer um cálculo: o investimento das eólicas foi até ao ano passado de 1,1 milhões de € por MW instalado, estando agora mais caro por os aerogeradores terem subido de preço. Pelo que, no total, temos um investimento realizado de cerca de 3,8 biliões de € (milhares de milhões) só nas eólicas, das quais 70% para os aerogeradores e o resto para "outros custos", segundo a EWEA (a Organização Europeia das Indústrias Eólicas).
Ora precisamente por este preço podia-se ter construído uma central nuclear de 1650 MW, como se pode verificar pelos valores actuais estimados pela DOE, a Agência Americana para a Energia e que eu já citei aqui.
Em "potência instalada" tal nuclear teria menos de metade da das eólicas existentes por cá, mas com uma primeira enorme diferença: uma central nuclear funciona à sua potência nominal quase permanentemente! Descontadas as paragens para manutenção, em média uma nuclear funciona à sua potência instalada 91% do tempo. Portanto, uma nuclear de 1650 MW geraria em média anual o equivalente à produção contínua de 1500 MW, +70% de electricidade que os 200 parques eólicos já instalados em Portugal!
Uma segunda grande diferença é que o tempo de vida estimado para um aerogerador é de 20 anos, mas para uma nuclear é de 40 anos. Porém, como noticia hoje a Scientific American, nos EUA está-se a chegar à conclusão que as centrais nucleares lá instaladas podem de facto, depois de fazerem os 40 anos de idade como muitas já estão a fazer, fazer mais 50 com actualizações relativamente menores!
Ou seja, o tempo de vida de uma nuclear é incomparavelmente superior ao de uma éólica, na verdade semelhante ao de uma hidroeléctrica. Pelo que o seu custo, distribuído por todo esse tempo, acaba por produzir energia uma ordem de grandeza mais barata. Claro, há que contabilizar os 8% de custo extra para o urânio (presentemente em saldo no mercado mundial, proveniente das ogivas desmanteladas pelos acordos de desarmamento), mas tal custo extra também existe nas eólicas - em rendas pelos terrenos ocupados.
2 comentários:
Caro Prof. Pinto de Sá
Tem toda a razão, mas não sei como se espanta com o que diz o actual Primeiro Ministro...
Relativamente aos seus números, chamo-lhe a atenção para a imprensa do fim de semana que falava de um investimento da EDP no valor de 1200 milhões de Euros num parque eólico de 1000 MW nos EUA.
Estando muito próximo, mas ligeiramente acima, do valor médio que indicou (1,1 milhões de Euros/MW) este valor possivelmente já reflecte a subida de custos do investimento nesta forma de produção. Aliás, segundo colegas que trabalham no ramo, tenho ideia de que em Portugal andará já perto de 1,3 milhões de Euros/MW.
ESPANTO ??? Nesse país já nada me espanta . Tivemos um primeiro ministro engenheiro , sr.Guterres que não sabia fazer um simples cálculo matemático . Temos agora um primeiro ministro também engenheiro que nunca frequentou o curso , não saberá lógicamente fazer contas . Quanto ao futuro nuclear para a produção de energia limpa , e porque me encontro na Finlandia onde estamos a construir o primeiro reactor nuclear europeu de 3ªgeração Areva/Siemens , o segundo está a ser construido em Flamanville França , Tenho a dizer o seguinte: O custo inicial do reactor de 2500mil milhões de euros , já vai em 4500mil milhões e com mais de 3 anos de atraso . O projecto para armazenar os resíduos também não são nada baratos , e deveriam entrar também no cálculo dos custos . Aqui são galerias a 500metros de profundidade , tudo escavado na rocha .Quero agora felicita-lo pelo conteúdo dos seus assuntos publicados . Parabéns . Bem haja . C.Silva
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