sábado, novembro 07, 2009

Um Físico português que dá cartas sobre a estranha gravidade do Universo

A matéria negra que permeia as galáxias é uma hipótese éxplicativa que até hoje ninguém conseguiu identificar.
O problema resulta de, observando a forma das galáxias, se constatar que ela é incompatível com a quantidade de massa visível nas mesmas. Resumidamente, as zonas mais distantes dos seus centros rodam a uma velocidade tal que mantém as galáxias como se fossem, no seu todo, um corpo relativamente rígido, o que significa que, para essas zonas mais periféricas, que rodam mais depressa que as interiores, existirá uma atracção gravitacional para o interior muito grande - de facto, muito maior que a explicável pela quantidade de massa existente nesse interior. Pelo menos da massa visível.
Feitas contas, calcula-se que o referido fenómeno só é possível se a massa existente no interior das órbitas dessas zonas periféricas for pelo menos 6 vezes maior que a observável (e até 20 vezes, se se considerarem efeitos mais afastados!). Mas, como tal massa não é observável, diz-se que provém de uma misteriosa matéria negra (há quem a diga "transparente").
Há muito que há quem suponha que essa massa seria constituída por neutrinos, mas a contagem destes tem-se mostrado elusiva.
Outra teoria, mais especulativa mas mais fascinante, considera a possibilidade de esse efeito gravitacional extra provir de universos paralelos, existentes nas outras dimensões que a teoria das membranas conjectura existirem, e que o campo gravítico seria capaz de "atravessar" a separação entre universos. Convém notar que essas dimensões extra da teoria das membranas (ou das cordas) são muito pequenas, pelo que tais Universos existiriam quase sobrepostos ao nosso, uma espécie de mundos de espíritos, onde poderão até estar o Céu e o Inferno...
Mas há outra hipótese explicativa para o referido efeito gravitacional.
Essa hipótese é a de que lei da atracção universal de Newton está incompleta. Faltam-lhe termos quadráticos e de ordem superior, mas com constantes tão pequenas que tais termos só se fazem sentir para distâncias muito grandes, precisamente as das ordens de grandeza das distâncias galácticas e inter-galácticas.
Ajustando valores nesses termos de ordem superior, consegue-se explicar quase tudo (mas não tudo) dos fenómenos observados que geralmente se atribuem à elusiva matéria negra.
Porém, se a lei da atracção universal contém de facto termos de ordem superior, então há outras teorias da Física que têm de ser revistas. E a principal delas é a teoria da relatividade.
Pedro Gil Ferreita é, talvez, o Físico mundial que melhor tem estudado esta questão - e isto não é uma opinião da propaganda do "Portugal positivo", mas sim da Scientific American. E, como a Scientific American reconhece, uma conlusão essencial do Pedro Ferreira é a de que é possível ajustar a teoria da relatividade para uma lei da atracção gravitacional diferente da de Newton, mas á custa da consideração, nessa teoria, de campos de forças... negros! Ou seja, de campos de forças adicionais aos que conhecemos, de uma natureza tão elusiva como a da matéria negra.
A Física tem acumulado nas últimas décadas uma grande quantidade de dados observados para os quais não existe explicação teórica satisfatória e muito menos comprovada.
Na última década, à estranha forma das galáxias que levou à ideia da matéria negra, juntou-se a constatação de que a expansão das galáxias, em vez de estar a desacelerar como era suposto, pelo efeito da atracção gravitacional, está a ...acelerar! O que é explicado pela existência de um campo de forças, ou energia... negra! Ou seja: pura e simplesmente não há explicação!
Se a História permite extrapolações, a Humanidade está á beira de um salto revolucionário na Física.
E, seja quem for o próximo Einstein, Pedro Ferreira terá sempre sido um contribuinte importante dessa revolução que se avizinha.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Professor,

Fico satisfeito por saber que há portugueses que se distinguem no estrangeiro, no exercício de uma actividade profissional ligada à ciência.
Infelizmente não acredito que se possa estabelecer uma relação causa efeito, entre o ensino da ciência em Portugal (ou o ensino tout court) e o sucesso do Pedro Gil Ferreira.
Permito-me a chamar a atenção, para a autêntica pouca vergonha que são os «concursos públicos» para o preenchimento de lugares nas faculdades estatais. Há cursos onde - provavelmente – todo o corpo docente é constituído por professores nomeados por «urgente conveniência de serviço». Com tanta urgência, dá ideia que o Estado está a precisar de umas saquetas de UL para a regularização do trânsito intestinal… e que o tema seja mais, como diria o Eça, um assunto latrinário do que de ensino.
É aliás sintomático que o mesmo Governo que tanto se obstinou em avaliar os professores do ensino secundário, nunca tenha produzido uma linha sobre a avaliação dos professores universitários; que em boa verdade até seria muito simples de fazer: bastava por os ex-alunos a avaliá-los. Já agora, e sobre isto, não tenho dúvidas sobre a nota que o Professor do Técnico Mariano Gago daria ao Ministro Mariano Gago: chumbava-o.

Cordialmente,
CTA

Pinto de Sá disse...

Caro CTA,
Concordo em parte consigo, discordo também em parte.
Começando pela discordância: o ECDU (Estatuto da Carreire Docente Universitária) português sempre previu meios de avaliação dos professores, ao contrário do da outras carreiras docentes.
Um docente começa(va) por ser contratado como estagiário e, num prazo máximo de 12 anos, se não se doutorasse era despedido. Agora, com o novo ECDU de Mariano Gago, já só pode ser contratado com o doutoramento, embora o "novo" doutoramento bolonhês não valha mais, de facto, do que um Mestrado de há 25 anos.
Depois de contratado, o Prof (Auxiliar) é provido provisoriamente por cinco anos, e só passa a definitivo se a sua prestação for aprovada. E só passa ao quadro quando consegue o lugar de Professor Associado, por concurso e para um número limitado de vagas. Neste sentido, até, o sistema de avaliação proposto pelo Governo para o ensino secundário copia algumas ideias desde sempre existentes no Universitário, como o número limitado de vagas para professor titular.
A "conveniência urgente de serviço" não tem o significado que lhe atribui: é um mero expediente administrativo para que um docente contratado possa começar a receber logo o ordenado; sem isso, só poderia receber depois da contratação ser publicada em Diário da República, muitos meses depois.
Além destes critérios tradicionais de avaliação, está a entrar em vigor a aplicação de novos critérios, no contexto geral da avaliação da função pública. Isso está precisamente agora em discussão na Universidade.
Já concordo mais consigo quanto aos próprios critérios de avaliação. Mas, quanto a isso, penso que o problema central está no facto das universidades melhores serem todas públicas e, como tal, terem a lógica organizacional das burocracias. Neste contexto, só há duas opções: ou a auto-gestão com lógicas corporativistas, ou o controlo pelo Partido no Governo. Apear de tudo prefiro a primeira opção.
Mas, claro, preferiria que as Universidades tivessem um lógica mais empresarial - só que isso só não seria pervertido se o próprio país a tivesse. E não tem. A cultura dominante no país, incluindo empresas, é a da dependência do Estado. É assim desde D. João I e traduz-se numa tradição cortesã secular de que não tenho nenhuma esperança de mudança.

Anónimo disse...

Caro Professor,

A sua resposta é coerente com o espírito subjacente – penso eu – à iniciativa que o levou a abrir o blog; e sobre isto, aproveito para agradecer a partilha do conhecimento na área da energia, que tem feito com quem o lê. Admito que, baseado no mesmo espírito, seja coerente na forma como gere o seu Departamento no Técnico. Mas por favor, no País da cunha e do compadrio, não generalize a sua própria correcção e civilidade, mesmo no Técnico! Em 1980 a professora das aulas teóricas de Álgebra considerava que o 0 era um número positivo!... e fico-me pelas primeiras semanas do 1.º ano…

Cordialmente,

CTA

Pinto de Sá disse...

CTA:
Não tenho nenhuma função de gestão na Universidade. Nunca tive. Prefiro o contacto com a realidade fora da Universidade.

Anónimo disse...

Caro Professor,
Reconheço que hoje estou um bocado amargo. Deve ser um problema de gravações mal digerido. Isso e reconhecer que talvez esteja na altura de emigrar. Seja como for peço-lhe desculpa e a sua indulgência, mas às vezes é mesmo difícil suster o vómito...
Cordialmente,
CTA