Há dias falei de um paper espanhol em que se fazia a contabilidade do número de empregos criados, em Espanha, pelas indústrias de energias renováveis, e dos destruídos pela subida de custos da energia que elas comportavam. A conclusão espanhola (da Universidade Juan Carlos, de Madrid), era a de que por cada emprego criado eram destruídos 2.2, mas eu verifiquei que o estudo subestimara os empregos criados, pelo que o seu resultado seria demasiado pessimista; o balanço real seria o de por cada emprego temporário criado pelas renováveis, ser destruído um duradouro.
Agora, entretanto, descobri que há um número razoável de estudos similares, mais abrangentes, feitos na Alemanha, que retiram a mesma conclusão. Podem também ver aqui e aqui.
Ou seja: a prazo, o efeito sobre o emprego das energias renováveis é mesmo negativo; são em maior número os destruídos duradouramente que os criados temporariamente.
O gráfico anexo mostra a estimativa da evolução bruta de emprego associada às renováveis. Inicialmente há criação de emprego, sobretudo durante a fase de investimento, mas depois a maior parte desse emprego desaparece e subsiste o efeito da subida de preços da energia causado por essas renováveis, com a retracção geral da economia. A redução de emprego é tanto maior quanto maior for a subsidiação das renováveis.
Estes estudos são globais. Porém, numa economia aberta como a europeia, é evidente que a repartição da criação de emprego e da do desemprego não se distribuiem homogeneamente pelos diversos países: a maioria da criação de emprego, sobretudo do mais tecnológico e bem pago, ocorre nos países fabricantes de equipamentos (Alemanha, que tem metade de todo o emprego criado pelas renováveis na Europa, e Dinamarca), enquanto a destruição de emprego recai mais sobre os países que são sobretudo compradores - como Portugal.
Tem também interesse avaliar o balanço de criação de emprego por tipo de energia renovável. Diversos estudos mostram que a energia renovável que cria mais empregos sustentáveis é a baseada na biomassa, com as suas fileiras agrícolas e florestais, e a que tem o balanço mais negativo é a eólica. Estas, uma vez instaladas, não precisam praticamente de gente.
Este aspecto ajuda a entender porque razão no norte da Europa é a biomassa a principal fonte de energia renovável (o caso da Finlândia é paradigmatíco). E a ênfase posta pelo Presidente Obama, ao anunciar hoje a construção da 1ª nova central nuclear nos EUA em 30 anos, de que ela iria cria "800 empregos permanentes e bem pagos".
É que nos EUA estas coisas discutem-se e não podem ser mistificadas como cá!...
5 comentários:
No meio de tantos economistas que todos os dias nos brindam com comentários reforçando a necessidade de diminuirmos os nossos salários para ganharmos competitividade não há nenhum que seja capaz de chamar atenção para este problema!?
Estive a fazer uma pequena incursão pelos meandros da teoria económica e o preço da energia é um dos factores mais relevantes para a riqueza de uma nação. Na maioria das vezes o preço da energia aparece muito relacionado ao preço do petróleo e daí que os problemas concretos da energia eléctrica não sejam alvo de muita atenção.
Mas num país sem grande especialização a nível de indústria (e portanto dependente do preço das matérias primas, energia e mão de obra) estas questões deveriam ser tratadas de forma mais séria. E também alvo de denúncia em mais meios.
Dado que este é o único local onde se aborda a questão felicito o autor.
Pois, na verdade a relação entre o preço da energia e o do petróleo só se verifica nos transportes, responsáveis por menos de 1/3 do consumo bruto de energia, em regra.
Curioso é que, há 60 anos, tenha havido em Portugal uma grande polémica entre os "ruralistas" e os "industrialistas" em que os primeiros argumentavam a impossibilidade de industrialização do país por falta de carvão, e os segundos, essencialmente Ferreira Dias, tenham mostrado que não era preciso carvão. Bastava cabecinha e trabalho, e com isso se fizeram as barragens e a rede eléctica (com incorporação nacional em quase tudo) que foi a base da nossa industrialização, na 2ª metade do sec. XX.
Outro dado interessante, em matéria de competividade, é que sendo agora os países a Leste os grandes competidores de Portugal na Europa, eles não só tenham mão de obra mais barata como também energia muito mais barata. Nuclear, porque quando a instalaram os comunistas lá não eram verdes mas sim vermelhos :-).
É curioso como até os comunistas se deixaram apanhar por esta ideologia da imagem "verde".
De facto basta falar numa coisa até à exaustão para muita gente a começar a repetir sem questionar.
Nos EUA já se está a avaliar o impacto que o "American Recovery and Reinvestment Act" teve nas renováveis.
Já concluíram que em termos gerais isso fez o mercado (das renováveis) crescer mas os postos de trabalho nas empresas não aumentaram tanto como o esperado, essencialmente devido às compras de material à China e Alemanha que podem beneficiado com (até) 75% das ajudas.
Mas os americanos, ao contrário de nós, já estão a pensar em como reverter essa situação.
Mais em:
http://www.technologyreview.com/energy/24633/?nlid=2762&a=f
Caro Professor,
O Obama já decidiu: temos nuclear. É engraçado verificar como esta notícia tem passado despercebida cá pela aldeia «tuga»...
Cumprimentos
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