sexta-feira, agosto 27, 2010

Ainda sobre as normas de segurança nos trabalhos em Alta Tensão

Recentemente sairam estatísticas do Ministério da Segurança Social sobre os acidentes de trabalho em Portugal.
Não é fácil encontrar os números, mas noutras publicações desse Ministério é possível verificar que o número de mortos anuais por acidentes nas empresas de energia tem sido, em média anual, de 2. O número de incapacitados é bem maior.
Como referi aqui, as normas de segurança existentes, copiadas caninamente das normas europeias pelo nosso Estado, estão erradas. Mandam ligar à terra as linhas susceptíveis de ficarem em tensão, durante os trabalhos de manutenção, o que é inútil.
O que se deve fazer está explicado na figura que aqui insiro, retirada de uma publicação americana que mostra também como por lá os textos são escritos para serem realmente entendidos pelos principais interessados, ou seja, as potenciais vítimas, os trabalhadores!
A "grounding bar around pole" justifica-se lá por os postes serem de madeira. Aqui bastaria ligar à armação férrea dos postes de cimento, que aliás têm pinos acessíveis para isso.
* Indo um pouco mais fundo na explicação técnica (hoje os leitores não técnicos poderão neste momento fechar a window), a questão é que a resistência eléctrica de uma vara enterrada no solo é muito aproximadamente ró/L, sendo "ró" a resistividade do solo e L o comprimento da vara. Como "ró" anda em média à volta de 150 ohm (mas pode ser muito mais) e L é de 2 metros no máximo, resulta que a tal resistência anda em torno de 75 ohm., pelo menos. A "impedância homopolar da rede" é em geral muito menor, pelo que em caso de colocação acidental em tensão a maior parte dessa tensão aparece aos terminais da vara e, portanto, da linha a que ela e o trabalhador estão ligados. O que significa que é como se a vara e sua ligação não estivessem lá, para efeitos práticos e de segurança do trabalhador.
Outro ponto que a figura acima ilustra é que dos 3 condutores de fase só deve descer um cabo. Os equipamentos franceses que cá se usam fazem descer 3, um por fase, e só se ligam no ponto comum que liga à vara (vd. figura ao lado). Assim, se as 3 fases forem acidentalmente postas em tensão, como será mais provável, existirá um curto-circuito trifásico que cria tremendas forças entre os cabos e os tendem a arrancar do ponto comum de ligação à vara.
Isto faz-se assim em toda a Europa ocidental há muitas décadas, mas nos EUA o assunto foi re-estudado e chegaram às conclusões óbvias que aqui mostro.
Óbvias depois de explicadas, claro...:-)
Não deixa de ser espantoso, entretanto, que em toda a Europa não seja conhecida uma única voz que tenha, até agora, questionado esta prática e a norma que a institucionaliza (norma CENELEC 50110-1, revista em 2004)!

1 comentário:

Lura do Grilo disse...

rho=150Ohm*m. 75Ohm? Pavoroso (depende do terreno mas não se pode garantir um bom terreno sempre)! De facto não pode funcionar