sexta-feira, janeiro 07, 2011

Uma previsão optimista sobre o custo das baterias?

Uma notícia de hoje dá conta de uma notícia que excitou os ecotópicos: o Deutch Bank (logo por sinal um Banco com grandes investimentos na indústria alemã de energias renováveis) anuncia que reviu em baixa a sua previsão para o preço das baterias de iões de lítio dos automóveis eléctricos para 2020: 250 USD (190 €)/kWh, em vez dos 350 que previra anteriormente.
"Estimativas" destas, entusiastas e sem bases racionais, estamos todos fartos de ouvir acerca dos painéis fotovoltaicos, mas a questão que me traz aqui é o seguinte raciocínio:
- Presentemente, estas baterias estão a cerca de 625 €/kWh (810 USD), como se pode ver pelo Nissan Leaf, ou ainda pior nos outros. Por isso, dos 30000€ que custa de base o Leaf, o mesmo que custa, antes de impostos, um BMW da série 5, metade é para a bateria. Isto para um carro com que nunca se poderá fazer uma viagem de Lisboa ao Porto ou ao Algarve, porque a sua autonomia só dá para metade dessa distância...
Para que o Leaf seja efectivamente competivo em consumos com os automóveis actuais mais económicos, os híbridos a gasolina ou os Diesel (tendo em conta a semelhança de consumos em €), é preciso que custe antes de impostos a mesma ordem de grandeza, e que a sua autonomia seja também suficiente para, pelo menos, uma viagem Lisboa-Porto ou Lisboa-Faro. Ou seja, dupla!
Quer isto dizer que para se atingir essa situação de competitividade, é preciso que a bateria do Nissan tenha pelo menos o dobro da capacidade que tem agora, e que custe menos de metade do que custa agora. Ou seja, é preciso que o seu preço caia para menos de 1/4 do valor actual, portanto para uma ordem de grandeza de 160 €/kWh.
A previsão optimista do Deutch Bank prevê que em 2020 esse preço esteja pelos 190 €/kWh. Mais ou menos o tal valor necessário de 160 kWh para que sejam competitivas. Ok - confere basicamente com as nossas previsões.
Portanto, daqui a 10 anos (nesta hipótese optimista) o automóvel eléctrico poderá começar a ser competitivo, e a lograr por isso uma quota de mercado razoável. Se for de 25% desse mercado (ultra-optimista, já que continuará a ter muito menos autonomia que os seus competidores Diesel e/ou híbridos), tal significará em Portugal que se venderão então (2020) uns 50 mil por ano, e a esse ritmo serão precisos mais 10 anos para que constituam 1/8 do parque automóvel nacional.
Não está longe da nossa previsão, que portanto não pode ser acusada de "bota-abaixo". O automóvel eléctrico só começará a ter alguma expressão na redução das importações de petróleo no mínimo daqui a uns 20 anos...

5 comentários:

Lura do Grilo disse...

Há sem dúvida um longo caminho a decorrer.

Ainda assim poderão surgir inovações que aumentem a eficiência do carro de combustão interna empurrando por largos anos a possibilidade do carro eléctrico se tornar competitivo.

Suponho que conhece este artigo: http://spectrum.ieee.org/energywise/green-tech/advanced-cars/supercritical-fuel-combustion-could-drastically-improve-efficiency

Não sei se entretanto já vão testando protótipos.

Pinto de Sá disse...

Lura do Grilo,
Os Diesel e os híbridos já conseguem consumos de 4,5 l/100km. Poderão ainda melhorar algo, mas o que importa é que ESTES sejam adoptados generalizadamente.
Veja que nos EUA o consumo médio das banheiras deles é de 10 litros! Basta que por lá - e na Ásia - se adoptem estes motores já existentes, para que o consumo do petróleo mundial caia para quase metade, duplicando, portanto, a duração das reservas existentes.

Lura do Grilo disse...

"Os Diesel e os híbridos já conseguem consumos de 4,5 l/100km". Sem dúvida. Tenho um Diesel e no Verão, num percurso semi-urbano consigo 4.3 com muito cuidado na condução. 1 depósito até entrar na reserva dá para 1000 Km.

Deve ter a noção que o IEEE apadrinha muito as energias renováveis. Não esperava um apoio tão acrítico de uma sociedade de cientistas.

Gosto das análises que faz a estes problemas: umas contas em cima da mesa são o melhor argumento para quebrar ilusões.

Pinto de Sá disse...

Mas acho muito bem que o IEEE aparinhe as energias renováveis! O IEEE em regra apoia as tecnologias do futuro, e essas são tecnologias ainda com muito por desenvolver!
No entanto, no IEEE tem vindo a crescer a influência europeia, e esta tem uma grande polarização ideológica promovida pelo lobby da indústria alemã e pela força que tem o pensamento "green" nesse país, e que claramente domina a agenda da UE.
Mas se depois vir as agendas das Conferências do IEEE, verá que são relativamente equilibradas. O tempo permitirá decantar o que é espuma daquilo que é sustentável.

Anónimo disse...

Apoio a mudança de visual do "blog". Mais uma razão para continuar a lê-lo.