segunda-feira, maio 30, 2011

Os danos para a saúde dos motores Diesel e as alternativas

Um dos paradoxos mais curiosos do terrorismo mediático é que, ao mesmo tempo que distorce desavergonhadamente as notícias sobre a radioactividade resultante de acidentes em centrais nucleares, guarda um silêncio de oiro sobre agentes que quotidianamente envenenam o ar que respiramos, como... os gases de escape dos motores Diesel que percorrem as nossas cidades!
Graças ao maior rendimento destes motores e à política fiscal europeia de penalização da gasolina relativamente ao gasóleo, os motores Diesel equipam já mais de 80% dos automóveis que se vendem na Europa, e em Portugal nomeadamente.
Nada tenho contra a eficiência dos motores Diesel nem contra esta preferência do mercado (embora pessoalmente o ruído dos automóveis a Diesel me seja muito desagradável), mas penso ser útil saber-se que os gases de escape desses motores consta na lista 2A dos prováveis agentes cancerígeneos definida pela IARC (Agência Internacional para a Investigação do Cancro), um organismo reconhecido pela OMS e pelas Nações Unidas. Alguns dos constituintes desses gases de escape, como o arsénio e o benzeno, são comprovadamente cancerígeneos.
Porém, a patologia mais importante atribuível aos gases de escape dos Diesel é o enfarte de miocárdio, de que estudos epidemiológicos em grande escala recentemente publicados lhe atribuem a responsabilidade por uma quota de 7.4%, superior às do esforço físico, alcool ou café. Um estudo de 2001 da Agência Ambiental Federal Alemã atribui aos escapes dos Diesel a responsabilidade por mais de 14 mil mortes naquele país, apenas em 2001!
Apesar do seu principal efeito ser aumentar os riscos cardíacos, os escapes dos Diesel são também responsabilizados por um acréscimo de 20 a 50% de risco de cancro pulmonar em profissões expostas aos escapes (motoristas profissionais) pelo menos tanto como o acréscimo de 30% provocado pelo fumo passivo (em cônjugues de fumadores)!
O paradoxo nisto é que enquanto o fumo passivo tem vindo a ser proibido em todo o lado (em Nova Iorque decidiu-se recentemente a proibição de fumar nas ruas), não se tem notado a menor preocupação com o efeito bem mais grave da inalação dos gases de escape dos Diesel!
Mas trago-vos uma boa notícia: até agora, todos os indícios apontam para que os malefícios para a saúde dos gases de escape dos motores Diesel a gasóleo são drasticamente reduzidos quando o gasóleo mineral é substituído por bioDiesel!
Ora a União Europeia manda na sua Directiva "20-20-20" que até 2020 10% de todo o combustível usado nos transportes rodoviários seja "bio" e isso, além da redução da dependência de petróleo islâmico, é bom para a saúde. E melhor ainda será outro futuro incontornável: a substituição do transporte rodoviário a longa distância de mercadorias em camiões Diesel por transporte eléctrico... ferroviário!

7 comentários:

Carlos Portugal disse...

Caro Pinto de Sá:
Só que o «biodiesel» é extremamente pouco eficiente; ou seja, queima mal por ter um poder calorífico muito inferior ao do gasóleo aditivado, resultando assim em mais fumo com partículas sólidas (vê-se isso nos autocarros), perda de potência, aumento de consumo e portanto mais poluição.
Isto para além do enorme crime que é desperdiçar boas terras de cultivo para produzir a mistela, quando há tanta fome no mundo...

Cumprimentos.

Pinto de Sá disse...

Caro Carlos Portugal,
Quanto ao "crime" de desperdiçar boas terras de cultivo, deixo essa discussão para outra oportunidade. O tema deste post não é sobre isso.
É sobre a nocividade do Diesel a gasóleo mineral.
Ora sobre isto, quando afirma que o biodisel é pouco eficiente e que PORTANTO emite mais poluição, concordo. Vai dar ao mesmo, como se pode ver aqui: http://www.nrel.gov/docs/fy03osti/33793.pdf.
Do ponto de vista da qualidade do ar, de facto, o importante é que os motores gastem menos, seja gasóleo, biodiesel ou gasolina.
Mas o que eu pretendia era falar da nocividade dos escapes dos carros, que não parecem preocupar ninguém apesar de serem pelo menos tão nocivos como o fumo passivo...

António Gaito disse...

Viva!
Compreendo o motivo do artigo, mas, além dos biocombustíveis, há outro ponto em que não posso concordar: a solução ferroviária para o transporte de mercadorias. Apercebi-me, nos últimos tempos, que para uma grande parte das empresas, o comboio não é solução! Principalmente pela diferença de bitola... E como me disse o director da maior fábrica portuguesa de material médico que, entre outros clientes, fornece todos os hospitais da Holanda, quando lhe perguntei porque motivo envia as cargas por camião e não por comboio: «os clientes não esperam!»
Com os melhores cumprimentos!
António Gaito

Carlos Portugal disse...

Caro Pinto de Sá:
Concordo plenamente! Mas há ainda um poluidor maior do que o automóvel: a aviação civil. Um Airbus A330 consome cerca de 40.000 litros de jetfuel por hora em velocidade de cruzeiro. Isto sem filtros ou catalisadores, como é evidente. Basta fazer as contas... E o mesmo - ou pior - se passa com a indústria pesada.

Cumprimentos.

Caro António Gaito:
O que descreve deve-se à destruição - intencional - efectuada no nosso País da rede ferroviária, principalmente da de transporte de mercadorias. O comboio é muitíssimo eficiente em termos energéticos, e não polui ou destrói os pavimentos das estradas ou provoca tantos acidentes quanto os milhares de camiões que entopem as nossas vias.
Tudo isto se evitaria com uma boa rede ferroviária, com ramais «capilares» e uma boa gestão. Mas não dá dinheiro às transportadoras...
Quanto ao problema das bitolas, julgo que é de fácil resolução. Até no Século XIX havia soluções para isso...

Cumprimentos.

Anónimo disse...

E os compostos benzénicos que são agora adicionados às gasolinas 95 em lugar do anterior Pb. Já se fizeram estudos sobre isso?

João Carvalho disse...

Boa noite Professor,

Quero desde já felicitá-lo por este blog que expõe de forma compreensível, aspectos que por vezes os engenheiros não conseguem transmitir da melhor maneira.

A minha pergunta é a seguinte (um pouco relacionada com a substituição de camiões diesel por transporte ferroviário): se trocarmos um camião diesel por um comboio, não estaríamos a emitir a mesma quantidade de C02 (supondo que estamos a falar de centrais térmicas), mas apenas em sítios diferentes? Devido às perdas nas linhas não estaríamos até a consumir mais e por conseguinte a emitir mais do que ter os camiões na estrada (isto porque o rendimento das térmicas e de um motor diesel parece-me ser parecido)?

Cumprimentos

vials disse...

Esse post nos convida a uma série de reflexões sobre esse assunto