Só para situar melhor a estimativa apresentada no post anterior sobre os custos de produção da energia eléctrica em função do tipo de central usado, convém recordar que o preço no consumidor da electricidade é, presentemente, de cerca de 15,5 ç/kwh em média para o consumo doméstico e 10 ç/kwh para o industrial, sem IVA mas somando a parcela da "potência contratada".
São valores dentro da média europeia, mas quase duplos dos praticados na Turquia, Letónia ou nos EUA e muito superiores aos verificados nos países da Europa de Leste, e mesmo aos espanhóis.
Nos 15,5 ç pagos por nós, cerca de 6 ç correspondem ao custo (investimento e exploração) das redes de Transporte e Distribução que nos trazem a energia a casa, e cerca de 7,5 ç ao preço da energia fornecida pelas centrais. Os restantes 2 ç pagam diversos serviços e encargos da gestão do sistema eléctrico, e é de notar que dos cerca de 6 ç de custo das redes, mais de metade (uns 3,5 ç) são pagos como "potência contratada", antigamente mencionada com infelicidade como "aluguer do contador", parcela que na verdade paga o custo da rede, que tem de estar lá para que possamos consumir a energia quando a quisermos, consumamo-la ou não.
A diferença entre preço propriamente da energia, os cerca de 7,5 ç, e o valor médio do custo de produção das centrais existentes, e que andará quiçá pelos 6,5 ç, é o prémio (lucro) pago aos produtores. No entanto, como um comentador já me chamara a atenção, o preço pedido no mercado ibérico ultimamente, mercado dominado pelos produtores espanhóis mas onde estamos integrados, é de apenas cerca de... 4,0 ç/kwh!!!
Este preço não significa que os custos de produção espanhóis sejam esses, mas sim apenas os seus custos variáveis, ou seja, que há excesso de oferta. Uma vez satisfeitos os custos fixos (investimento, operação e manutenção), podem vender, se houver excesso de capacidade, ao custo variável (nulo nas eólicas) mais um pouco para acelerar a amortização ou em puro lucro...
Esta concorrência só não arruina completamente os produtores nacionais devido aos vários esquemas proteccionistas de que beneficiam, nomeadamente o estrangulamento da rede de interligação a Espanha, que tem 8 reactores nucleares. Aliás, defender tal liberalização em nome do em princípio saudável princípio da concorrência, equivale de facto a entregar a produção da nossa electricidade a Espanha, coisa que não sei se ocorre aos arautos dessa "maior concorrência".
Mas por aqui se pode avaliar o caminho que Portugal tem vindo a tomar em matéria energética, e a enormidade que constituem as propostas de centrais solares, com custos de produção acima dos 34 ç/kwh, ao mesmo tempo que temos de recorrer à importação!...
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