quarta-feira, setembro 16, 2009

O sonho da razão

Após iniciar este blog, há cerca de 2 meses, descobri, por alguns emails e comentários que recebi, a existência de dois partidos na blogosfera no que diz respeito às questões climáticas e energéticas, e que desconhecia completamente.
De um lado estão os ecotópicos, os fundamentalistas pós-modernos das renováveis, das "redes espertinhas" e outros combates contra "a grande conspiração do lobby petrolífero", sobre os quais já afirmei as minhas distâncias. Andarão pela ala esquerda do BE.
Do lado oposto estão os que não reconhecem sequer a existência de alterações climáticas antropogénicas e até que haja algum aquecimento global em curso, que raciocinam como os criacionistas e que combatem "a grande conspiração do lobby ecológico", que odeiam de morte Al Gore e que, por alusões ouvidas na TV, concluo terem a concordância ideológica do PNR.

Existe também outra luta extremada, no que respeita às opções energéticas e obviamente associadas a interesses económicos mas também de protagonismo.
De um lado estão os militantes das energias renováveis, desde há uns anos dominando o panorama nacional e até o europeu, e cujos excessos tenho procurado mostrar.
Do lado oposto estão os advogados da opção nuclear, sobre a qual ainda não me debrucei aqui mas que tenho em agenda para breve, quando concluir algumas recolhas de dados que tenho em curso. De momento não emito nenhum juízo de valor; apenas constato que o que defendem é inaceitável para os ecotópicos e dificilmente aceitável também pela maioria dos Governos da União Europeia.

Entre estas lutas de extremos de ideologia e de interesses, sinto-me por vezes na pele de Azaña entre a FAI e a Falange, nos anos 30, cujo "sonho da razão" foi ignorado por quase toda a gente, na altura, e que teve de esperar 40 anos e meio milhão de mortos numa guerra inútil para ver Espanha adoptá-lo...

Espanha na véspera da guerra civil, por Dali

Eu não pretendo ser um especialista em climatologia. E é precisamente por isso que confio nas posições da ONU nesta matéria, e do seu Painel Inter-Governamental para as Alterações Climáticas (IPCC). Em quem haveria de confiar? Além disso parece-me plausível que o tremendo crescimento da população humana sobre um planeta finito o afecte. Como os vírus, que são pequeníssimos mas podem multiplicar-se ao ponto de matar o hospedeiro... E é aliás essa a explicação principal do próprio IPCC, que atribui metade do Aquecimento Global ao crescimento da população. A outra metade atribui-a à melhoria de vida dessa população crescente.
E depois, não me venham dizer que nos últimos 15 anos o Árctico está a arrefecer e que as observações da NASA que Al Gore nos divulgou são "tretas", que também não tenho paciência para quem nega o darwinismo!

Que haverá enviesamento nos editores das revistas científicas que recusam publicar o que saia do que se torna "politicamente correcto" nesta matéria, acredito. Ainda há dias vi no canal Odisseia a história de como a demonstração experimental de que a variação periódica da radiação cósmica afectava a formação de nuvens e, com isso, a reflexão da radiação solar e da temperatura na Terra, só conseguiu ser publicada à 4ª revista tentada (embora depois o assunto tenha sido largamente investigado concluindo-se que o tal efeito não podia explicar o Aquecimento Global em curso).

Muitos investigadores têm a experiência de como descobertas científicas que se chocam com consensos estabelecidos nos comités decisórios das revistas são em regra rejeitadas, inicialmente. E também sabemos que o mundo dos cientistas não é puro e isento: tem todos os defeitos de qualquer comunidade de humanos e é sobretudo dependente de quem financia as investigações, que, no que respeita à Ciência sem aplicação comercial, ou seja, no que respeita a financiamentos públicos, geralmente escolhe o que financia em função das modas e das crenças dominantes...

Por outro lado, há evidentes lobbies económicos e políticos por detrás das posições científicas que têm repercussões políticas.

As grandes petrolíferas começaram por negar o Aquecimento global e por convencer Bush que ele não existia - embora depois tenham concluído do interesse em passarem para o lobby contrário, onde agora se encontram promovendo as renováveis (para os media) e até financiando-as (como a BP Solar). Os criacionistas são, em geral, propensos a acreditar que se Deus fez o mundo como ele é, não o ia depois deixar aquecer (embora o senador McCain já não alinhasse nessas visões à Bush).

Mas também lobbies das renováveis! E que cavalgam a onda ideológica "verde" para ganhar muito dinheiro à custa dos contribuintes!

Porém, e apesar de tudo isto e no que respeita à climatologia, acredito que é ainda dentro da sua comunidade científica que as visões divergentes têm de se confrontar. É assim que a Investigação científica funciona e sempre funcionou, mesmo quando os "good guys" são transitoriamente desprezados. Até Einstein, em 1927, se riu do jesuíta Lemaître e disse que o conhecimento de Física deste era "abominável", por ele lhe ter escrito a notar que da sua teoria da relatividade se deduzia ter havido um Big Bang e portanto uma origem do Universo, dois anos antes de Hubble constatar o desvio para o vermelho da luz das galáxias mais distantes...

Mas é curioso ver como ecotópicos e criacionistas se equivalem na psicologia e atitudes.

Os criacionistas negam o Aquecimento global e dizem que tudo o que se publica cientificamente sobre isso não passa de uma grande conspiração dos ecologistas e de interesses de lobbies industriais ligados às renováveis.

Mas há um outro domínio em que exactamente o mesmo comportamento se vê à esquerda, nos que afirmam teimosamente a existência de malefícios para a saúde pública resultantes das "radiações electromagnéticas" das linhas de Alta Tensão e que recusam terminantemente as posições da OMS (uma instituição tão da ONU como o IPCC) sobre o assunto, bem como toda a ciência que se publica sobre o assunto, acusando-a de estar vendida ao lobby das "eléctricas"...!

O Sonho da Razão é difícil de defender, neste mundo terreno de paixões...!

4 comentários:

Vasco Branco disse...

Boa Tarde,

Sou visitante regular do seu blog, no qual encontro informação útil e aparentemente fornecida com conhecimento de causa principalmente no que toca à energia.
Em relação a este post em particular queria referir que não temos que ser necessariamente criacionistas (sou aliás ateu e um acérrimo defensor do Darwinismo) para termos dúvidas quanto à problemática do aquecimento global; existem vários cientistas de renome que têm dúvidas plausíveis acerca das conclusões do IPCC - aliás os sucessivos relatórios do IPCC vão fornecendo cada vez previsões menos catastróficas. Recomendo a leitura de um documento intitulado "Nature, not human activity rules the climate" do Nongovernmental International Panel on Climate Change (NIPCC)bem como um blog de um climatologista português Rui Moura intitulado Mitos Climáticos.
A verdade é que tudo o que seja notícia que contradiga o actual pensamento acerca do AG tem dificuldade de aceitação nalgumas revistas e não passa nos media, e a ausência de debate em ciência é o pior que se pode esperar...
Quanto ao Al Gore, bom... aí recomendo um blog um pouco mais radical, o Ecotretas, que embora sendo um pouco demagógico tem alguns posts interessantes acerca desta personagem...

Continuação de bons posts, cumprimentos,
Vasco Branco

P.S. Aguardo o posto acerca da energia nuclear para que me clarifique algumas ideias.

Anónimo disse...

Fiquei chocado com este artigo!

Eu não vejo razões para acreditar no famoso aquecimento global e muito menos no aquecimento global antropogénico.

Ainda sou do tempo em que nos tentaram impingir o arrefecimento global, a nova idade do gêlo. Mais que a entrada na nova idade do gêlo já era irreversível devido aos nossos erros.

Agora estamos numa de aquecimento... mas como o aumento de temperatura parou há uns anos é natural que daqui a uns tempos voltemos ao pênico da idade do gêlo....

O que é preciso é assustar a malta.

Mas porque é que eu fiquei chocado com o artigo? Fiquei chocado pelas comparações... PNR???? Francamente!

O problema com o tal aquecimento global é que uma teoria mostra a sua validade fazendo previsões e depois, se estas previsões se verificarem a teoria provavelmente (sublinho o provavelmente pois amanhã poderá haver outra previsão, agora, falhada)) é correcta se não se verificar está errada ou, pelo menos, necessita de revisão.

E agora pergunto-lhe, qual a previsão feita pelos adeptos do aquecimento global antropogénico que se verificou?

Que eu saiba, nenhuma!

Pinto de Sá disse...

Não podia desejar melhor que estes emails para comprovar o que escrevi!
Outra das características que estes comentadores evidenciam, é a prática de usarem sempre os seus comentários para fazerem publicidade aos seus próprios blogs; de facto, não estão interessados em discurir nada, mas apenas em terem "tempo de antena".
E, no que diz respeito ao blog "Mitos climáticos", só lamento que o seu autor, o há muito reformado mas distinto antigo Engenheiro da "eléctrica nacional" sr. Engº Rui G. Moura, não tenha melhor em que passar o tempo do que nesta "guerra" sem quartel! Compreendo que aos 70 e tal anos seja difícil ver aparecer noções do mundo de que nunca se ouvira falar durante a vida (como esta "história" das alterações climáticas antropogénicas), mas juventude é saber-se estar sempre a aprender.
E, para se entreterem, recomendo aos dois comentadores que apreciem o seguinte web site da NASA:
http://climate.nasa.gov/

Anónimo disse...

Apesar da NASA não ser a detentora da verdade suprema dado ser controlada pelo governo do país que mais polui o planeta, aqui fica mais informação:

http://www.dailytech.com/NASA+Study+Acknowledges+Solar+Cycle+Not+Man+Responsible+for+Past+Warming/article15310.htm

Mais, do Prof. Corte Real, o decano dos climatologistas portuguesas, que em entrevista ao Expresso afirma sem rodeios: «Não estamos à beira de qualquer catástrofe».

E mais adiante afirma: (...)«O IPCC é formado por um conjunto de pessoas que vão traduzir o trabalho da comunidade científica. São pessoas credíveis, agora não podemos esquecer que o Painel é politicamente orientado, as suas conclusões não são puramente científicas. E são apresentadas em termos probabilísticos, porque o IPCC toma as suas precauções na forma como fala. Mas também reconheço que muitas das pessoas que, em Portugal e fora do país, estão ligadas a esta problemática das alterações climáticas não são cientistas do clima.»

http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/236897

Por fim, um pdf do texto da intervenção no workshop organizado pela UniversidadeTécnica de Lisboa em Junho de 2008 sobre "Cidades do Futuro" da autoria de J. J. Delgado Domingos, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico... http://ptmat.ptmat.fc.ul.pt/~jbuescu/ALTERACOES-CLIMATICAS-WKS-2008-F-1.pdf

E para além das questões climáticas:
http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&source=hp&q=EUA+disputam+P%C3%B3lo+Norte+com+R%C3%BAssia+e+Canad%C3%A1&btnG=Pesquisa+do+Google&meta=&aq=null&oq=


Cumprimentos
Ana Pereira