Até há muito pouco tempo, pouca gente ainda falava no carro eléctrico, e a grande visão do futuro era o carro a hidrogénio.
O Presidente Bush destinou 1.2 biliões de dólares em 2003 para esse projecto e houve até quem começasse a fantasiar sobre uma futura "economia do hidrogénio". Esta "grande visão" caiu de chofre no caixote do lixo da História quando o actual Secretário de Estado da Energia da Administração Obama e prémio Nobel, Chu, sugeriu ao Congresso uma redução em 100 milhões da quantia atribuída por Bush, argumentando que não seria nos próximos 20 anos que o carro a hidrogénio poderia ser produzido em massa.
Há quem pensasse que o hidrogénio, sendo o elemento mais abundante no Universo, deveria ser muito barato - uma ideia que muitos têm também quanto à àgua da hidroelectricidade e ao vento da energia eólica, esquecendo que na natureza tudo é à partida de borla (incluindo o petróleo que existe gratuitamente no sub-solo) mas que o problema é transformar isso em algo utilizável. Ora na verdade o hidrogénio que nos é acessível (excluindo, portanto, o que existe em estado livre mas... no espaço sideral) tem de ser extraído dos compostos onde ele realmente existe. E isso requer energia, e essa energia tem de provir de alguma outra fonte.
Por isso, e ao contrário do que muitos pensam, o hidrogénio não seria a fonte de energia, mas sim apenas um meio de a transportar. A fonte de energia seria a que extrairia o hidrogénio dos compostos onde ele existe (nomeadamente a água), energia essa que o hidrogénio devolveria de novo ao ser combustido nos motores do tal futuro carro.
E, para extrair o hidrogénio da água nas quantidades necessárias para alimentar as frotas de transporte mundiais, seriam sempre precisas fontes de energia colossais que, no actual estado da tecnologia, só poderiam ser centrais nucleares.
Ora convém notar que, enquanto forma de transporte de energia, o hidrogénio tem um concorrente experimentado: a electricidade!
Na verdade, tal como o hidrogénio, a energia eléctrica que usamos também não passa de uma forma de transporte de energia. A electricidade e as redes eléctricas que a sustentam são apenas, de facto, formas de transportar a energia gerada por outros meios (queima de carvão, queda de água em barragens, vento, cisão dos núcleos atómicos do Urânio-235) até aos locais e aparelhos onde a consumimos. A facilidade de transformação e o baixo custo relativo do transporte da electricidade são, precisamente, as razões por que se usa esta forma de energia como intermediária entre as fontes primárias de energia não-eléctrica das centrais e o seu consumo.
Ora nesta competição com a electricidade, o hidrogénio tem uma enorme desvantagem: ocupa volume. E muito volume, se se estiver a pensar na quantidade necessária para equivaler, por exemplo, à energia existente num depósito de gasolina de um carro. E esse problema não se vê como ultrapassar (claro que se pode comprimir o hidrogénio, claro que se pode pensar em incluí-lo em certos compostos, mas todas estas ideias têm problemas colaterais que se não sabe como ultrapassar).
A desistência da ideia do carro a hidrogénio deveria fazer pensar os decisores que estão agora a apostar noutra ideia cheia de problemas por resolver, a do carro eléctrico. Mas parece que a memória tecnológica desses decisores políticos e dos media é curta...
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